Política

‘Minha atuação era pautada mais pelos homens que por Deus’

Senador nega acusações, diz estar em depressão, sem amigos e cita forças divinas para se defender no Conselho de Ética

O senador Demóstenes Torres apresenta sua defesa na reunião do Conselho de Ética do Senado. Demóstenes é suspeito de envolvimento com o empresário e contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Foto: Agência Brasil
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*Matéria atualizada às 15h

 

O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) se defendeu das acusações de ligações com o esquema criminoso do bicheiro Carlinhos Cachoeira em depoimento no Conselho de Ética no Senado Federal nesta terça-feira 29.

Em mais de duas horas, Demóstenes negou ter qualquer relação com os jogos de azar no estado de Goiás. Segundo ele, isso estaria presente nos documentos entregues à comissão pela Procuradoria e pela Polícia Federal.

“Os procuradores, senhores delegados, o procurador-geral da República e a  subprocuradora podem até brigar, mas em um ponto eles convergem: eu jamais tive participação em qualquer esquema de jogos ilegais”, diz o senador.

Demóstenes também falou das suas ligações com a empresa Delta Construções. “Se tem algum sócio oculto da Delta, não sou eu.”

“Como é que eu posso ser sócio de alguém que eu não conheço?”, disse ele citando entrevista do diretor da empresa, Fernando Cavendish, dada à Folha de S. Paulo em que ele nega conhecê-lo.

O senador admitiu ter usado aviões de empresários goianos em viagens. “Já usei aviões de empresários e amigos de Goiás. Meu estado é grande”, diz. Segundo Demóstenes, isso não constitui quebra de decoro parlamentar.

O senador ainda negou ter viajado em avião pago por Cachoeira para encontrar o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, em abril de 2011 na cidade de Praga, República Tcheca. “Cachoeira não estava conosco em Berlim e o avião era de São Paulo pra cá e eu usei sozinho o avião e não o ministro”, diz Demóstenes.

No inicio do depoimento, Demóstenes disse viver o pior momento da sua vida

“Vivo o pior momento da minha vida, um momento que eu nunca imaginava passar”, disse ele antes de rebater as acusações.

O senador afirmou ter cogitado renunciar ao mandato e relatou passar por um momento de depressão, tomando remédios para dormir e que não fazem mais efeito. Ele disse ainda sentir a “fuga” dos seus amigos.

O senador também disse ter “reencontrado Deus” com a ajuda do episódio. “Parece que um fato pequeno, mas acho que minha atuação era pautada mais pelos homens que por Deus”.

Ainda não há uma data para as votações acontecerem. Após ser ouvido no Conselho de Ética, Demóstenes será ouvido na CPI do Cachoeira na quinta-feira 31.

Cachoeira e o Nextel. Após apresentar sua defesa, Demóstenes respondeu às perguntas dos senadores. Ele foi questionado pelo relator do processo, senador Humberto Costa (PT-PE), sobre a veracidade dos grampos em que aparece. Segundo Demóstenes, parte das conversas teriam sido editadas, montadas e tiradas de contexto. Ele pediu para que seja realizada uma perícia nas gravações.

Demóstenes não soube precisar quando conheceu Carlinhos Cachoeira. Ele se resumiu a dizer que isso aconteceu quando ele era secretário de segurança de Goiás, entre 1999 e 2002.

O senador também admitiu que Cachoeira pagava as contas de seu celular Nextel. Segundo Demóstenes, elas não ultrapassavam R$ 50 por mês. Ele também disse que os fogos de artifício utilizados na formatura de sua mulher foram pagas pelo bicheiro.

Ao ser questionado pelo senador Fernando Collor (PTB-AL) sobre a atuação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, Demóstenes disse que ele pode ter incorrido no crime de prevaricação, tendo retardado uma denúncia para satisfazer o interesse de alguém. Gurgel não denunciou o grupo de Carlinhos Cachoeira em 2009, quando recebeu o primeiro inquérito com informações sobre a atuação da quadrilha.

Já o senador Mário Couto (PSDB-PA) aproveitou seu tempo na comissão para externar sua insatisfação com Demóstenes, ao dizer que teve “uma das maiores decepções” da sua vida.

O processo contra Demóstenes no Conselho de Ética pode resultar na perda do mandato do senador caso os integrantes do Conselho e, posteriormente, o plenário do Senado entendam que houve falta de decoro ao negar relações com o bicheiro – algo captado pelas investigações da Polícia Federal.

*Matéria atualizada às 15h

 

O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) se defendeu das acusações de ligações com o esquema criminoso do bicheiro Carlinhos Cachoeira em depoimento no Conselho de Ética no Senado Federal nesta terça-feira 29.

Em mais de duas horas, Demóstenes negou ter qualquer relação com os jogos de azar no estado de Goiás. Segundo ele, isso estaria presente nos documentos entregues à comissão pela Procuradoria e pela Polícia Federal.

“Os procuradores, senhores delegados, o procurador-geral da República e a  subprocuradora podem até brigar, mas em um ponto eles convergem: eu jamais tive participação em qualquer esquema de jogos ilegais”, diz o senador.

Demóstenes também falou das suas ligações com a empresa Delta Construções. “Se tem algum sócio oculto da Delta, não sou eu.”

“Como é que eu posso ser sócio de alguém que eu não conheço?”, disse ele citando entrevista do diretor da empresa, Fernando Cavendish, dada à Folha de S. Paulo em que ele nega conhecê-lo.

O senador admitiu ter usado aviões de empresários goianos em viagens. “Já usei aviões de empresários e amigos de Goiás. Meu estado é grande”, diz. Segundo Demóstenes, isso não constitui quebra de decoro parlamentar.

O senador ainda negou ter viajado em avião pago por Cachoeira para encontrar o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, em abril de 2011 na cidade de Praga, República Tcheca. “Cachoeira não estava conosco em Berlim e o avião era de São Paulo pra cá e eu usei sozinho o avião e não o ministro”, diz Demóstenes.

No inicio do depoimento, Demóstenes disse viver o pior momento da sua vida

“Vivo o pior momento da minha vida, um momento que eu nunca imaginava passar”, disse ele antes de rebater as acusações.

O senador afirmou ter cogitado renunciar ao mandato e relatou passar por um momento de depressão, tomando remédios para dormir e que não fazem mais efeito. Ele disse ainda sentir a “fuga” dos seus amigos.

O senador também disse ter “reencontrado Deus” com a ajuda do episódio. “Parece que um fato pequeno, mas acho que minha atuação era pautada mais pelos homens que por Deus”.

Ainda não há uma data para as votações acontecerem. Após ser ouvido no Conselho de Ética, Demóstenes será ouvido na CPI do Cachoeira na quinta-feira 31.

Cachoeira e o Nextel. Após apresentar sua defesa, Demóstenes respondeu às perguntas dos senadores. Ele foi questionado pelo relator do processo, senador Humberto Costa (PT-PE), sobre a veracidade dos grampos em que aparece. Segundo Demóstenes, parte das conversas teriam sido editadas, montadas e tiradas de contexto. Ele pediu para que seja realizada uma perícia nas gravações.

Demóstenes não soube precisar quando conheceu Carlinhos Cachoeira. Ele se resumiu a dizer que isso aconteceu quando ele era secretário de segurança de Goiás, entre 1999 e 2002.

O senador também admitiu que Cachoeira pagava as contas de seu celular Nextel. Segundo Demóstenes, elas não ultrapassavam R$ 50 por mês. Ele também disse que os fogos de artifício utilizados na formatura de sua mulher foram pagas pelo bicheiro.

Ao ser questionado pelo senador Fernando Collor (PTB-AL) sobre a atuação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, Demóstenes disse que ele pode ter incorrido no crime de prevaricação, tendo retardado uma denúncia para satisfazer o interesse de alguém. Gurgel não denunciou o grupo de Carlinhos Cachoeira em 2009, quando recebeu o primeiro inquérito com informações sobre a atuação da quadrilha.

Já o senador Mário Couto (PSDB-PA) aproveitou seu tempo na comissão para externar sua insatisfação com Demóstenes, ao dizer que teve “uma das maiores decepções” da sua vida.

O processo contra Demóstenes no Conselho de Ética pode resultar na perda do mandato do senador caso os integrantes do Conselho e, posteriormente, o plenário do Senado entendam que houve falta de decoro ao negar relações com o bicheiro – algo captado pelas investigações da Polícia Federal.

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