Política

Em meio a onda de intolerância, militância do PT faz vigília por Marisa

Grupo está em frente ao hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para prestar solidariedade ao ex-presidente Lula

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“Marisa, presente!”. Foi com essa expressão que militantes do PT homenagearam a ex-primeira-dama Marisa Letícia no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O grupo, formado por cerca de 20 pessoas, também fez orações e colocou flores em frente ao hospital.

Segundo boletim médico divulgado nesta quinta-feira 2, um exame identificou a ausência de fluxo cerebral na mulher do ex-presidente Lula e, diante do resultado, a família autorizou a doação dos órgãos.

“Estamos aqui para dar carinho e conforto ao Lula, o nosso líder”, disse João de Oliveira, filiado ao PT desde a década de 80 e ex-secretário-geral da CUT São Paulo. “A dona Marisa fez parte da construção do Partido dos Trabalhadores. Não aceitamos desrespeito em momento algum, principalmente em um momento como este. Provocadores estiveram aqui na semana passada, é inaceitável”, disse.

Marisa Letícia foi internada no último dia 24, quando sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico. No dia seguinte, um pequeno grupo de mulheres foi até o Sírio pedir a prisão do ex-presidente. Nos cartazes que elas carregavam, a imagem de um boneco de Lula como presidiário e os dizeres “vá para o SUS” e “cadê os médicos cubanos?”. Nas redes sociais, o ódio e a intolerância foram ainda mais fortes.

Com a proposta de evitar qualquer desrespeito à família de Lula em um momento delicado, a militância do PT ocupou a entrada do hospital. “Estou muito brava, muito chateada. Acho que o Brasil é um País doente. As pessoas que comemoraram a morte de dona Marisa não são mais humanas, estão em outra fase. Elas já passaram da loucura”, disse a professora Leonor Mata da Silva, filiada ao PT há mais de 30 anos.

“Estamos aqui para prestar nossa solidariedade de forma silenciosa. Isso não é uma manifestação”, completou o jornalista Aparecido Araújo Lima, um dos fundadores do PT.

Ao contrário do que foi disseminado nas redes sociais, não houve buzinaço em frente ao hospital nesta quinta-feira. Uma confusão foi registrada, no entanto, por volta das 16h30, quando os militantes expulsaram uma senhora não identificada. Após gritos, tapas e empurrões, ela foi escoltada para dentro do hospital por seguranças da instituição.

“Ela disse a um colega nosso que estava aqui para comemorar a morte da dona Marisa. Ele pediu que ela se retirasse, mas ela se recusou. Ele então nos chamou, e deu no que deu”, disse a autônoma Renata Rodrigues, recém-filiada ao PT.

“Neste momento, isso é inaceitável para nós. Quando morreu a dona Ruth (Cardoso), quando morreu o filho do (Geraldo) Alckmin, alguém viu qualquer manifestação de ódio contra eles? Não”, continuou Rodrigues.

Em 2008, o então presidente Lula prestou condolências ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) pela morte de dona Ruth. Nesta quinta-feira, FHC retribuiu o gesto e visitou Lula no Sírio-Libanês. O tucano estava acompanhado do ex-ministro José Gregori e foi recebido por Lula e pelo também ex-ministro Celso Amorim.

Também estiveram no hospital os senadores petistas Lindbergh Farias, Gleisi Hoffmann e Humberto Costa e o vereador e ex-senador Eduardo Suplicy, também do PT.

Biografia
De humilde família de sitiantes, que migraram da Itália para o Brasil, Marisa Letícia nasceu em 7 de abril de 1950 em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Aos nove anos, começou a trabalhar como babá na casa de um sobrinho do pintor Cândido Portinari.

Quatro anos mais tarde, tornou-se operária de uma fábrica de chocolates. Casou-se pela primeira vez com o motorista Marcos Cláudio da Silva, com quem teve um filho. O garoto não chegou a conhecer o pai, assassinado enquanto dirigia o táxi da família. A jovem mãe perdeu o marido enquanto estava no quarto mês de gestação.

Marisa conheceu Lula em 1973, ao ir para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo carimbar documentos da pensão que recebia. O ex-presidente costuma contar que, quando soube que a esbelta mulher de 23 anos era viúva, fez questão de deixar cair um documento que mostrava que ele também era viúvo. O episódio serviu de justificativa para iniciar a conversa, que não tardou a evoluir para um longevo relacionamento.

Os frutos da união de mais de 40 anos são os três filhos do casal: Fábio, Sandro e Luís Cláudio. O ex-presidente também adotou o primeiro filho de Marisa Letícia, Marcos Lula, que tinha apenas dois anos quando o então líder sindical a conheceu.

Inicialmente avessa à política, Marisa preocupava-se com a segurança de Lula quando eclodiram as greves do ABC Paulista. Em 1980, chegou a liderar uma passeata das mulheres em apoio aos sindicalistas presos no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), que integrava o aparato repressivo da ditadura. Nesse mesmo ano, participou de um curso de Introdução à Política Brasileira, promovido pela Pastoral Operária de São Bernardo, e filou-se ao recém-criado Partido dos Trabalhadores

Dedicada à família, Marisa teve uma atuação discreta nas primeiras disputas eleitorais de Lula. Em 2002, com os filhos já adultos, pôde se dedicar com mais afinco à campanha presidencial do marido. Em 1º de janeiro de 2003, tornou-se primeira-dama do Brasil.

Nos últimos meses, Marisa vinha sofrendo ao lado de Lula a pressão das investigações da Operação Lava Jato. Em dezembro, também ao lado do ex-presidente, foi convertida em ré pelo juiz federal Sergio Moro, sob a acusação de lavagem de dinheiro. De acordo com a denúncia, o casal adquiriu um imóvel vizinho ao apartamento do ex-presidente, em São Bernardo, com recursos da empreiteira Odebrecht. A acusação é negada com veemência pela defesa de Lula, que diz que imóvel é alugado.

“A pressão e a tensão fazem as pessoas chegarem ao ponto que a Marisa chegou. Mas isso não vai fazer eu ficar chorando pelos cantos. Vai ficar apenas batendo na minha cabeça, como mais uma razão para que a luta continue”, desabafou Lula na segunda-feira 30, durante um encontro com representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens. Foi a primeira aparição pública do ex-presidente após a mulher sofrer o AVC.

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