Política

Em Bauru, todos têm o celular do prefeito

Reeleito aos 34 anos com 82% dos votos, o mochileiro Rodrigo Agostinho vira estrela e presença obrigatória até em aniversário de criança

Ambientalista e mochileiro, o prefeito de Bauro, Rodrigo Agostinho, foi reeleito com mais de 80% dos votos. Foto: Denise Guimarães
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Cristina Camargo

“Fui tratado como governador”, comemora o prefeito de Bauru, Rodrigo Agostinho (PMDB), ao descrever sua última viagem a Brasília, cidade que visita rotineiramente desde o início de seu primeiro mandato, sempre em busca de recursos. A última viagem foi feita após a reeleição para a prefeitura. Ele chegou à capital federal como fenômeno político. Aos 34 anos, ele conquistou 82% dos votos na cidade do noroeste paulista, já no primeiro turno. Até os adversários admitem: foi um massacre.

Os números da eleição – 153.788 votos contra 23.093 do segundo colocado, 9.977 da terceira e apenas 677 do quarto – podem levar a crer que Bauru vive um período sem grandes problemas para resolver. Não é verdade. Durante a campanha, por exemplo, Agostinho enfrentou questionamentos sobre assuntos como a falta de água em parte da cidade, uma greve no transporte coletivo e a dificuldades na saúde pública.

O que explica, então, a enorme popularidade que o leva a ser tratado como celebridade política?

“Se você é sincero com a população, ela sabe entender”, afirma.

Ele mesmo se espantou ao percorrer alguns bairros que receberam poucos investimentos nos últimos anos. Ao mesmo tempo em que era cobrado pela população, era tratado como celebridade: a cobrança era seguida de sessões de fotografia e assédio. Foi assim em toda a sua administração. Homens, mulheres e crianças se comportam como fãs diante do peemedebista.

Um dos segredos do jovem prefeito é ser acessível o tempo todo. A cidade inteira tem o número do celular dele. Agostinho tem orgulho de mostrar as mensagens que recebe diariamente.

No gabinete, guarda uma pilha de cartas com elogios, pedidos, cobranças e desejos de boa sorte. Uma fã escreveu para o “prefeito Rodriguinho” e mandou no envelope uma imagem de Jesus. Loiro e dono de olhos azuis. O prefeito recebe também cantadas.

Em situações complicadas, como a greve que parou todos os ônibus da cidade na semana da eleição, ele prefere ser protagonista. Em sete dias, foi duas vezes para Campinas negociar no TRT (Tribunal Regional do Trabalho).

Mantém as portas do gabinete abertas e não é exagero dizer que ali entra quem quiser.

“Tem gente que vem aqui e tem solução para tudo”, conta o chefe de gabinete, Giasone Candia.  Outros querem emprego mesmo. Ou até pagamentos de contas de energia elétrica, dívidas…. Nesses casos, o prefeito garante dizer sempre “não”. “No fundo, o que as pessoas mais querem é atenção”, afirma. “E eu gosto de governar assim. Hoje em dia as pessoas conseguem falar direto com o prefeito”, orgulha-se.

Rodrigo também chama a atenção por quase não recusar convites. Frequenta desde a Parada Gay de Bauru até festas juninas. Durante a campanha, participou do aniversário de uma criança que o conhecia da televisão.  A família insistiu, ligou várias vezes para o celular dele e conseguiu a presença ilustre. Também já visitou idosos em estado terminal.

Apesar da pouca idade, o político disputou neste ano a sua sexta eleição. Já foi vereador duas vezes e candidato a deputado federal. Antes de chegar à prefeitura, foi secretário municipal do Meio Ambiente.  Tem facilidade para memorizar dados e gosta de andar pela cidade, muitas vezes sozinho, de botina e mochila nas costas, figurino habitual. Domina os dados sobre o município e circula sem aparato algum.

“Não há mais espaço na vida pública para amadorismo”, costuma dizer sobre o gosto pela leitura administrativa e a decisão de se manter atualizado.

Ao mesmo tempo, às vezes parece improvisar. Sua agenda do dia fica num papel amassado dentro do bolso. Não é raro encontrá-lo descabelado. Gostava de escrever os próprios textos para os programas políticos da tevê. Na relação com os vereadores, costuma ser criticado por causa dos projetos enviados com imperfeições.

Antes da política, Agostinho ficou conhecido como ambientalista. Na infância, se interessou pelo assunto e enlouqueceu a família com a militância radical. Foi ainda adolescente para a Rio 92, frequentava reuniões no Brasil e fora, gostava de entrar no mato para pesquisar e fotografar. É um dos fundadores do Instituto Ambiental Vidágua e idealizador do projeto Click Árvore, abraçado pelo SOS Mata Atlântica.

Já prefeito, ganhou capas de jornais por causa das atitudes inusitadas: pulou de pára-quedas, fez o número de engolir fogo numa festa ao ar livre e, ao encontrar um cavalo caído num buraco, tentou retirar o animal com as próprias mãos antes de chamar ajuda especializada.

A primeira vitória eleitoral para a Prefeitura de Bauru, em 2008, surpreendeu os políticos tradicionais. Na época, o candidato favorito era o empresário Caio Coube (PSDB), um dos antigos proprietários da Tilibra, fabricante de cadernos. Sem dinheiro para a campanha, Agostinho apostou no corpo a corpo. Percorreu todos os bairros, de porta em porta.

A vitória surpreendente teve consequências sentidas até hoje pelo PSDB. Apesar de Bauru ser a cidade do presidente do partido no estado de São Paulo, o deputado estadual Pedro Tobias, os tucanos nem sequer lançaram candidato próprio à prefeitura. Elegeram apenas dois vereadores – e um deles não esconde a proximidade com o prefeito.

Desde a primeira eleição, a vice de Rodrigo é Estela Almagro, uma militante do PT com trânsito livre na cúpula do partido. A petista conseguiu, por exemplo, uma longa gravação de apoio do ex-presidente Lula. Rodrigo e a vice têm personalidades contrastantes. Ele é conciliador e pouco ligado aos aliados políticos. Ela é briguenta e fiel aos companheiros de militância.

“Soubemos nos respeitar”, resume o prefeito.

A vice participa ativamente da administração. É ela quem cuida dos convênios habitacionais. O programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, é um dos trunfos da dupla. Em quatro anos, Bauru conseguiu seis mil unidades.

Outro avanço, que ajuda a justificar a popularidade, é a pavimentação de ruas, velho problema local. Foram 1.350 quadras asfaltadas e mais 2.000 recapeadas. Na saúde, o saldo é a construção de quatro UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento Infantil). O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, é figura frequente ao lado de Agostinho.

Popular, o prefeito atrai outras lideranças políticas. O peemedebista Gabriel Chalita, por exemplo, gravou em Bauru um de seus programas eleitorais para a campanha a prefeito de São Paulo. Escolheu como cenário uma das UPAs. Na reta final da disputa, o empresário Paulo Skaf subiu no palanque ao lado do prefeito. O vice-presidente Michel Temer (PMDB) também fez campanha na cidade.

“Quando você fala, a gente sente que é com o coração. Seus olhos brilham”, derramou-se Skaf num comício. No mesmo dia, Agostino chorou ao discursar.

“Com os 82% dos votos, o que muda é que terei força política maior para reivindicar”, analisa.

Ele prefere não dar detalhes sobre o que planeja para o futuro político. Afirma que vai depender do desempenho no segundo mandato. Com a experiência, uma coisa parece certa: não está na prefeitura para brincar.

Cristina Camargo

“Fui tratado como governador”, comemora o prefeito de Bauru, Rodrigo Agostinho (PMDB), ao descrever sua última viagem a Brasília, cidade que visita rotineiramente desde o início de seu primeiro mandato, sempre em busca de recursos. A última viagem foi feita após a reeleição para a prefeitura. Ele chegou à capital federal como fenômeno político. Aos 34 anos, ele conquistou 82% dos votos na cidade do noroeste paulista, já no primeiro turno. Até os adversários admitem: foi um massacre.

Os números da eleição – 153.788 votos contra 23.093 do segundo colocado, 9.977 da terceira e apenas 677 do quarto – podem levar a crer que Bauru vive um período sem grandes problemas para resolver. Não é verdade. Durante a campanha, por exemplo, Agostinho enfrentou questionamentos sobre assuntos como a falta de água em parte da cidade, uma greve no transporte coletivo e a dificuldades na saúde pública.

O que explica, então, a enorme popularidade que o leva a ser tratado como celebridade política?

“Se você é sincero com a população, ela sabe entender”, afirma.

Ele mesmo se espantou ao percorrer alguns bairros que receberam poucos investimentos nos últimos anos. Ao mesmo tempo em que era cobrado pela população, era tratado como celebridade: a cobrança era seguida de sessões de fotografia e assédio. Foi assim em toda a sua administração. Homens, mulheres e crianças se comportam como fãs diante do peemedebista.

Um dos segredos do jovem prefeito é ser acessível o tempo todo. A cidade inteira tem o número do celular dele. Agostinho tem orgulho de mostrar as mensagens que recebe diariamente.

No gabinete, guarda uma pilha de cartas com elogios, pedidos, cobranças e desejos de boa sorte. Uma fã escreveu para o “prefeito Rodriguinho” e mandou no envelope uma imagem de Jesus. Loiro e dono de olhos azuis. O prefeito recebe também cantadas.

Em situações complicadas, como a greve que parou todos os ônibus da cidade na semana da eleição, ele prefere ser protagonista. Em sete dias, foi duas vezes para Campinas negociar no TRT (Tribunal Regional do Trabalho).

Mantém as portas do gabinete abertas e não é exagero dizer que ali entra quem quiser.

“Tem gente que vem aqui e tem solução para tudo”, conta o chefe de gabinete, Giasone Candia.  Outros querem emprego mesmo. Ou até pagamentos de contas de energia elétrica, dívidas…. Nesses casos, o prefeito garante dizer sempre “não”. “No fundo, o que as pessoas mais querem é atenção”, afirma. “E eu gosto de governar assim. Hoje em dia as pessoas conseguem falar direto com o prefeito”, orgulha-se.

Rodrigo também chama a atenção por quase não recusar convites. Frequenta desde a Parada Gay de Bauru até festas juninas. Durante a campanha, participou do aniversário de uma criança que o conhecia da televisão.  A família insistiu, ligou várias vezes para o celular dele e conseguiu a presença ilustre. Também já visitou idosos em estado terminal.

Apesar da pouca idade, o político disputou neste ano a sua sexta eleição. Já foi vereador duas vezes e candidato a deputado federal. Antes de chegar à prefeitura, foi secretário municipal do Meio Ambiente.  Tem facilidade para memorizar dados e gosta de andar pela cidade, muitas vezes sozinho, de botina e mochila nas costas, figurino habitual. Domina os dados sobre o município e circula sem aparato algum.

“Não há mais espaço na vida pública para amadorismo”, costuma dizer sobre o gosto pela leitura administrativa e a decisão de se manter atualizado.

Ao mesmo tempo, às vezes parece improvisar. Sua agenda do dia fica num papel amassado dentro do bolso. Não é raro encontrá-lo descabelado. Gostava de escrever os próprios textos para os programas políticos da tevê. Na relação com os vereadores, costuma ser criticado por causa dos projetos enviados com imperfeições.

Antes da política, Agostinho ficou conhecido como ambientalista. Na infância, se interessou pelo assunto e enlouqueceu a família com a militância radical. Foi ainda adolescente para a Rio 92, frequentava reuniões no Brasil e fora, gostava de entrar no mato para pesquisar e fotografar. É um dos fundadores do Instituto Ambiental Vidágua e idealizador do projeto Click Árvore, abraçado pelo SOS Mata Atlântica.

Já prefeito, ganhou capas de jornais por causa das atitudes inusitadas: pulou de pára-quedas, fez o número de engolir fogo numa festa ao ar livre e, ao encontrar um cavalo caído num buraco, tentou retirar o animal com as próprias mãos antes de chamar ajuda especializada.

A primeira vitória eleitoral para a Prefeitura de Bauru, em 2008, surpreendeu os políticos tradicionais. Na época, o candidato favorito era o empresário Caio Coube (PSDB), um dos antigos proprietários da Tilibra, fabricante de cadernos. Sem dinheiro para a campanha, Agostinho apostou no corpo a corpo. Percorreu todos os bairros, de porta em porta.

A vitória surpreendente teve consequências sentidas até hoje pelo PSDB. Apesar de Bauru ser a cidade do presidente do partido no estado de São Paulo, o deputado estadual Pedro Tobias, os tucanos nem sequer lançaram candidato próprio à prefeitura. Elegeram apenas dois vereadores – e um deles não esconde a proximidade com o prefeito.

Desde a primeira eleição, a vice de Rodrigo é Estela Almagro, uma militante do PT com trânsito livre na cúpula do partido. A petista conseguiu, por exemplo, uma longa gravação de apoio do ex-presidente Lula. Rodrigo e a vice têm personalidades contrastantes. Ele é conciliador e pouco ligado aos aliados políticos. Ela é briguenta e fiel aos companheiros de militância.

“Soubemos nos respeitar”, resume o prefeito.

A vice participa ativamente da administração. É ela quem cuida dos convênios habitacionais. O programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, é um dos trunfos da dupla. Em quatro anos, Bauru conseguiu seis mil unidades.

Outro avanço, que ajuda a justificar a popularidade, é a pavimentação de ruas, velho problema local. Foram 1.350 quadras asfaltadas e mais 2.000 recapeadas. Na saúde, o saldo é a construção de quatro UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento Infantil). O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, é figura frequente ao lado de Agostinho.

Popular, o prefeito atrai outras lideranças políticas. O peemedebista Gabriel Chalita, por exemplo, gravou em Bauru um de seus programas eleitorais para a campanha a prefeito de São Paulo. Escolheu como cenário uma das UPAs. Na reta final da disputa, o empresário Paulo Skaf subiu no palanque ao lado do prefeito. O vice-presidente Michel Temer (PMDB) também fez campanha na cidade.

“Quando você fala, a gente sente que é com o coração. Seus olhos brilham”, derramou-se Skaf num comício. No mesmo dia, Agostino chorou ao discursar.

“Com os 82% dos votos, o que muda é que terei força política maior para reivindicar”, analisa.

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