Política

Eleição paulistana traz de volta o voto messiânico

As opções da eleição paulistana mantêm as características do “eu resolvo” e as injunções políticas são as mais esdrúxulas possíveis, com inimigos declarados de décadas em pose de “melhores amigos”

Uma sequência de governos personalistas e messiânicos não produziu um plano de futuro para São Paulo, diretrizes que tracem um rumo de qualidade de vida e não de aprofundamento das desigualdades. Foto: Antônio Milena/ABr
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Mais uma vez a cidade que movimenta o terceiro orçamento do País chega às urnas sem convicção de que modelo de desenvolvimento deseja. A polarização entre situação e oposição chegou a um ponto em que a maioria dos eleitores parece ter abandonado a vontade de avaliar propostas e pensar em como São Paulo pode vir a ser uma cidade mais humana, acolhedora, menos fechada em grades e muros, com mobilidade tranquila e serviços públicos de qualidade.

A escolha do próximo prefeito parece que vai seguir uma rota menos elaborada, menos propensa a reflexões, mais focada em um personalismo inconsistente, com discursos e propostas que cabem em 140 caracteres. Faz muitos anos que a cidade caminha através de sua própria institucionalidade, sem a liderança de um projeto de desenvolvimento, sem a normativa de um plano diretor, ou sem a qualidade de uma gestão menos focada em seu próprio umbigo.

As ideias de um prefeito de São Paulo não deveriam ser simplistas a ponto de caber em posts de redes sociais e uns parcos minutos de tevê.  A capital paulista é uma cidade complexa, com demandas proporcionais à sua grandeza metropolitana e soluções que envolvem uma enorme multiplicidade de saberes. Mas estas coisas não estão em jogo no diálogo (ou seria monólogo) com os eleitores.

Os esquetes mostrados na tevê e as falas dos candidatos a vereador mostram uma realidade que já deveria ter sido esquecida em um tempo em que os eleitores elegiam “Cacareco”, um hipopótamos do zoológico paulistano que foi o candidato a vereador mais votado em seu tempo. O messianismo ou a crítica escarrada ao cenário político destoa com a firmeza com que a cidade enfrentou momentos críticos da história política, como a Revolução Constitucionalista, que exigia do governos federal uma Constituição e eleições livres, ou durante os 27 anos de regime militar, que entre outras manifestações teve de enfrentar mais de um milhão de paulistanos e brasileiros em comícios que exigiram eleições direta no Brasil.

Últimos artigos de Dal Marcondes:

São Paulo é um dos importantes centros da mídia brasileira, discute o país, mas é incapaz de olhar para seus bairros, para sua periferia e para seu centro, abandonado a ruínas, tráficos de toda espécie, contrabandos e escravidão em oficinas clandestinas que produzem a felicidade de sacoleiros de todo o país.

Uma cidade não pode simplesmente ser um repositório de fracassos e contentar-se em ser apenas isso.  Pesquisa realizada em parceria entre a Rede Nossa São Paulo e o IBOPE, no início de 2012, apontou que 56% dos moradores de São Paulo abandonariam a cidade e iriam viver em outro lugar se pudessem. Ou seja, mais da metade das pessoas que moram em São Paulo já estariam longe se pudessem. No quesito qualidade de vida a cidade teve média de 4,9 em uma escala que vai o zero a dez. A cidade mais rica do país não consegue transformar dinheiro em qualidade de vida.

Algumas notas que os paulistanos deram à cidade:

Honestidade e Participação Política – 3,5

Transporte público e mobilidade – 4,3

Segurança – 4,4

Habitação – 4,5

Educação – 5,0

Saúde – 5,1

Nenhuma nota conseguiu ultrapassar a metade da escala, mas o que os paulistanos pensam de seus políticos é ainda pior. Apenas 17% acreditam que o desempenho da Prefeitura é ótimo ou bom, enquanto só 11% diz que a Câmara dos Vereadores  tem um desempenho ótimo ou bom. Essa pesquisa foi divulgada pouco antes de 25 de janeiro, aniversário da cidade.

Este é o cenário que serve como pano de fundo para as eleições municipais de 2012 na cidade de São Paulo. Uma sequência de governos personalistas e messiânicos não produziu um plano de futuro para São Paulo, diretrizes que tracem um rumo de qualidade de vida e não de aprofundamento das desigualdades.

As opções postas para esta eleição mantém as características do “eu resolvo” e as injunções políticas são as mais esdrúxulas possíveis, com inimigos declarados de décadas em pose de “melhores amigos”, antagonismos sem nexo de modelos muito parecidos de governar e soluções na linha do “prendo e arrebento”, no melhor estilo militarista do século passado.

Uma forma de arrancar a cidade dessa caminhada rumo a mais quatro anos de abandono é fortalecer a Câmara Municipal. Mas isso não vai acontecer se elegermos novos cacarecos. Não importa quem vencerá a eleição majoritária, São Paulo precisa de vereadores bem preparados e comprometidos com o desenvolvimento sustentável da cidade.

A própria Câmara Municipal deveria ter como meta recuperar a credibilidade diante da população, dando transparência a seu trabalho e propondo mais do que mudar nomes de ruas.

(Envolverde)

Mais uma vez a cidade que movimenta o terceiro orçamento do País chega às urnas sem convicção de que modelo de desenvolvimento deseja. A polarização entre situação e oposição chegou a um ponto em que a maioria dos eleitores parece ter abandonado a vontade de avaliar propostas e pensar em como São Paulo pode vir a ser uma cidade mais humana, acolhedora, menos fechada em grades e muros, com mobilidade tranquila e serviços públicos de qualidade.

A escolha do próximo prefeito parece que vai seguir uma rota menos elaborada, menos propensa a reflexões, mais focada em um personalismo inconsistente, com discursos e propostas que cabem em 140 caracteres. Faz muitos anos que a cidade caminha através de sua própria institucionalidade, sem a liderança de um projeto de desenvolvimento, sem a normativa de um plano diretor, ou sem a qualidade de uma gestão menos focada em seu próprio umbigo.

As ideias de um prefeito de São Paulo não deveriam ser simplistas a ponto de caber em posts de redes sociais e uns parcos minutos de tevê.  A capital paulista é uma cidade complexa, com demandas proporcionais à sua grandeza metropolitana e soluções que envolvem uma enorme multiplicidade de saberes. Mas estas coisas não estão em jogo no diálogo (ou seria monólogo) com os eleitores.

Os esquetes mostrados na tevê e as falas dos candidatos a vereador mostram uma realidade que já deveria ter sido esquecida em um tempo em que os eleitores elegiam “Cacareco”, um hipopótamos do zoológico paulistano que foi o candidato a vereador mais votado em seu tempo. O messianismo ou a crítica escarrada ao cenário político destoa com a firmeza com que a cidade enfrentou momentos críticos da história política, como a Revolução Constitucionalista, que exigia do governos federal uma Constituição e eleições livres, ou durante os 27 anos de regime militar, que entre outras manifestações teve de enfrentar mais de um milhão de paulistanos e brasileiros em comícios que exigiram eleições direta no Brasil.

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São Paulo é um dos importantes centros da mídia brasileira, discute o país, mas é incapaz de olhar para seus bairros, para sua periferia e para seu centro, abandonado a ruínas, tráficos de toda espécie, contrabandos e escravidão em oficinas clandestinas que produzem a felicidade de sacoleiros de todo o país.

Uma cidade não pode simplesmente ser um repositório de fracassos e contentar-se em ser apenas isso.  Pesquisa realizada em parceria entre a Rede Nossa São Paulo e o IBOPE, no início de 2012, apontou que 56% dos moradores de São Paulo abandonariam a cidade e iriam viver em outro lugar se pudessem. Ou seja, mais da metade das pessoas que moram em São Paulo já estariam longe se pudessem. No quesito qualidade de vida a cidade teve média de 4,9 em uma escala que vai o zero a dez. A cidade mais rica do país não consegue transformar dinheiro em qualidade de vida.

Algumas notas que os paulistanos deram à cidade:

Honestidade e Participação Política – 3,5

Transporte público e mobilidade – 4,3

Segurança – 4,4

Habitação – 4,5

Educação – 5,0

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Nenhuma nota conseguiu ultrapassar a metade da escala, mas o que os paulistanos pensam de seus políticos é ainda pior. Apenas 17% acreditam que o desempenho da Prefeitura é ótimo ou bom, enquanto só 11% diz que a Câmara dos Vereadores  tem um desempenho ótimo ou bom. Essa pesquisa foi divulgada pouco antes de 25 de janeiro, aniversário da cidade.

Este é o cenário que serve como pano de fundo para as eleições municipais de 2012 na cidade de São Paulo. Uma sequência de governos personalistas e messiânicos não produziu um plano de futuro para São Paulo, diretrizes que tracem um rumo de qualidade de vida e não de aprofundamento das desigualdades.

As opções postas para esta eleição mantém as características do “eu resolvo” e as injunções políticas são as mais esdrúxulas possíveis, com inimigos declarados de décadas em pose de “melhores amigos”, antagonismos sem nexo de modelos muito parecidos de governar e soluções na linha do “prendo e arrebento”, no melhor estilo militarista do século passado.

Uma forma de arrancar a cidade dessa caminhada rumo a mais quatro anos de abandono é fortalecer a Câmara Municipal. Mas isso não vai acontecer se elegermos novos cacarecos. Não importa quem vencerá a eleição majoritária, São Paulo precisa de vereadores bem preparados e comprometidos com o desenvolvimento sustentável da cidade.

A própria Câmara Municipal deveria ter como meta recuperar a credibilidade diante da população, dando transparência a seu trabalho e propondo mais do que mudar nomes de ruas.

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