Política

Candidatura e aventura

A entrada de Eduardo Campos na disputa pela Presidência, em 2014, além de erro político, seria de alto risco à sua liderança

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O governador pernambucano Eduardo Campos (PSB) tem o direito e o caminho aberto para disputar a Presidência da República, em 2014. Tem, também, um partido em fase de crescimento, tem pressões internas e externas para romper, apoio da mídia para se projetar, simpatia de empresários preocupados com o PT, de políticos órfãos, e uma relação de conflitos com o governo capaz de produzir a crise necessária para explicar o rompimento com a candidatura à reeleição da presidenta Dilma Rousseff.

Campos, no entanto, hesita. Está tomado por dúvidas pessoais e políticas. Negaceia. Faz que vai, mas até agora não foi, e assim se expõe às ironias como, por exemplo, a do senador Aécio Neves, virtual presidenciável do PSDB, para quem Eduardo Campos precisa de um divã para saber se é de oposição ou governista.

Nesse momento, ele tornou-se um exemplo que permite perceber a diferença entre uma aventura eleitoral e uma candidatura efetiva, vigorosa, possível de ser vitoriosa. No primeiro caso, o caminho é largo, mas ilusório. No outro, a passagem é estreita e com possibilidades de consequências danosas. Talvez irreversíveis.

Eduardo Campos, 47 anos, neto de Miguel Arraes, tem o sangue do avô nas veias, mas não tem o mesmo compromisso político. É uma “cara nova” atrás da qual todos andam, em nome de suspeita renovação.  Ele tem uma expectativa natural de superar Arraes, político dos anos 1960, com liderança nacional e eleitorado restrito a Pernambuco. Esse é o dilema que persegue Campos. Seria a hora de romper com essa amarra? As circunstâncias não são favoráveis.

Campos terá de juntar-se à estratégia da oposição de tradição conservadora para derrotar um governo de natureza progressista e rachar o partido.

Como candidato, integrará o “mutirão de candidatos” possíveis na tentativa de levar a eleição para o segundo turno. Neste caso, a candidatura dele se somaria à de Aécio Neves (PSDB), Fernando Gabeira (PV), Marina Silva (sem partido formalizado) e o candidato do PSOL, cujo objetivo é marcar posição.

Nas últimas semanas, o governador de Pernambuco tem feito críticas a alguns pontos da administração de Dilma. Marca posição e pode se valer dela para, eventualmente, explicar no futuro o afastamento de um governo que apoiou e elogiou ao longo do tempo. O PT vestiu essa “saia-justa” na campanha para a eleição municipal de 2012, em Belo Horizonte.

Há informações de que alguns empresários estariam dispostos a “oxigenar” a campanha de Campos. Os recursos são importantes. Mas onde ele arranjaria espaço-tempo suficiente para montar um bom programa no horário eleitoral? O PSB tem 1 minuto e 40 segundos. Aliança? Só com partidos nanicos, que dispõem de 20 segundos ou pouco mais?

Em 2010, Dilma, com nove aliados, contou com 10 minutos. O tucano José Serra, com cinco aliados, obteve pouco mais de 7 minutos. Houve cinco candidatos dos nanicos, afora Marina, do PV, que viraram fenômeno e arrastaram quase 20 milhões de votos. Campos fará acordo com uma oposição sem programa?

Por enquanto, à direita, só há esperança. Ela espera o aumento da inflação, da taxa de juros, do desemprego, da inadimplência, da falta de investimentos e, por consequência, de um crescimento medíocre do País. Sem esse cenário, em 2014, as chances de qualquer opositor a Dilma são nulas. Isso mostra que no fundo do peito de cada candidato da oposição o coração bate em tom sinistro: quanto melhor pior.

Andante mosso


Impeachment de Gurgel I


Ganhará vida, nos próximos dias, ação de impeachment do procurador-geral Roberto Gurgel.

Aderson de Carvalho Lago Filho, primo do ex-governador Jackson Lago, protocolará o pedido no Senado, com o relato de três ações contra a governadora Roseana Sarney,


do Maranhão.

Sobre elas Gurgel sentou-se com o seu volumoso peso.

Em 18 de fevereiro, Aderson encaminhou ao próprio Gurgel uma representação “por crime de responsabilidade” contra o procurador-geral. Ele anexou espelhos da “movimentação processual”. Melhor traduzindo, “paralisação processual”.

Gurgel, por exemplo, abafa notícia-crime contra Roseana desde julho de 2010.

Impeachment de Gurgel II


Há uma aberração nessa história onde se pede a cassação de Roseana.

O relator foi o advogado Arnaldo Versiani. Gurgel segurou o processo até a conclusão do mandato de Versiani. Após isso, redistribuiu o caso, que “caiu” no colo da ministra Luciana Lóssio.

Luciana foi advogada de Sarney por oito longos anos.

O ex-presidente da República, gentil homem, compareceu à posse dela no dia 26 de fevereiro.

Impeachment de Gurgel III


Outro caso expressivo dessa, digamos, malemolência de Gurgel é o recurso, de novembro de 2011, contra a “expedição de diploma” de posse a Roseana.

A relatoria coube à vice-procuradora Sandra Cureau.

Sandra já tinha a decisão quase pronta. Foi surpreendida, porém, pela redistribuição do caso que, por coincidência, passou às mãos do procurador-geral. E assim já se passaram quase dois anos.

Quase novo


Na difícil procura de “cara nova” para as fileiras do partido, o PSDB achou uma saída para a campanha presidencial de 2014.

Quem cuidou disso foi Marcelo Cunha Araújo, craque da escola do imortal Ivo Pitanguy.

O cirurgião trabalhou algumas horas no rosto do paciente:


fez blefaroplastia (retirada da bolsa sob os olhos) e um ligeiro rejuvenescimento com gotas de Botox, aqui e ali, além da supressão de rugas mais marcantes.

Ao sair da clínica, o senador Aécio Neves era outro. Ou melhor, quase outro.

Falta mudar a foto principal


no Facebook.

Lula errou


Do ex-presidente Lula: “Neste país, cada um fala o que quer e responde pelo que fala (…) Acho que FHC deveria, no mínimo, ficar quieto”.

John Kerry, secretário de Estado dos EUA, sobre a liberdade de expressão: “Você tem o direito de ser estúpido”.

Trunfo de Pezão?


Circula o nome do secretário de Segurança, José Beltrame, na bolsa política do Rio de Janeiro. Desta vez como opção para vice de Luiz Fernando Pezão (PMDB), candidato a governador em 2014.

De bom trânsito no interior do estado, onde surgiu, Pezão é desconhecido na capital e na Baixada Fluminense, onde se concentra cerca de 70% do eleitorado.

Beltrame pode abrir esse caminho. É um trunfo eleitoral pelo sucesso no combate à violência.

Perguntado sobre isso, Pezão abre o sorriso e diz: “Ele só precisa assinar a ficha partidária e transferir o título”.

Políticos: Involução da espécie


Macaé é exemplo insuperável de município rico que aplica mal os ganhos do petróleo, descoberto na Bacia de Campos (RJ) a partir de 1974. A cidade cresceu e multiplicou-se sem nenhum planejamento. O projeto da prefeitura é de Oscar Niemeyer. Os miseráveis projetam os barracos das favelas. Em meio à balbúrdia, alguns políticos se regalam.

Após administrar Macaé de 2004 a 2012, Riverton Mussi (PMDB) deixou a prefeitura. Antes, porém, abriu concurso para “técnico de esportes”. Ele inscreveu-se e foi aprovado.

Já como técnico de esportes, em janeiro de 2013, com vencimento de 3 mil reais, recebeu mais 8,5 mil reais de incorporação como ex-prefeito. Isso equivale a 50% da remuneração do cargo que ocupou. O benefício foi sancionado pelo novo prefeito, Aluizio Junior, conforme portaria publicada em 18 de janeiro e logo revogada pela repercussão negativa.

Em Macaé, Charles Darwin, em viagem no Beagle, em 1832, capturou e catalogou espécies de insetos e répteis que serviram de base para o livro a Origem das Espécies, de 1859.

Riverton parece espécie nova. Seria classificado por Darwin em que categoria?

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