Política

Aracaju: ‘O PT não sabe governar’, diz o candidato João Alves Filho (DEM)

Candidato de oposição é líder nas pesquisas e quer tirar o domínio de 10 anos do PT na prefeitura da capital

Os petistas "são ótimos no discurso, mas péssimos administradores", diz João Alves Filho (DEM).
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Em Aracaju

A disputa pela prefeitura de Aracaju (SE) tem um cenário diferente da maioria das outras capitais do Nordeste. Enquanto em Recife, Fortaleza e outras a base aliada do governo Dilma Rousseff dilui-se em candidaturas próprias do PT, PCdoB e PSB, na capital sergipana toda ela se concentra no jovem Valadares Filho (PSB), de 31 anos. Ele disputa o cargo contra o ex-prefeito e ex-governador João Alves Filho (DEM), líder nas pesquisas.

CartaCapital conversou com os dois principais candidatos. você lê a entrevista com Valadares Filho. Abaixo, a conversa com o candidato do DEM.

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João Alves Filho é um velho conhecido da política sergipana. Engenheiro de formação, iniciou a vida pública nos 1970, ao ser nomeado prefeito de Aracaju pela ditadura. Teve três mandatos de governador e foi ministro do Interior do ex-presidente José Sarney. Por quatro décadas, se revezou no poder com a família Franco. Também disputou as últimas quatro eleições ao governo do estado e venceu uma (2002).

Tamanho recall político o faz, segundo os seus adversários, liderar as pesquisas em Aracaju. Na avaliação do próprio candidato, trata-se de um reconhecimento do seu trabalho e da insatisfação da população com a aliança de esquerda que governa a capital desde 2000 e o estado há seis, tendo o governador Marcelo Déda (PT) como principal expoente.  “São ótimos no discurso, mas péssimos administradores”, diz Alves Filho. Confira a seguir os principais trechos da entrevista concedida a CartaCapital.

CartaCapital: Seu principal adversário, Valadares Filho (PSB), é o representante do bloco governista que administra Aracaju desde 2000. Como o senhor avalia a gestão desse grupo?


João Alves Filho:
Não gosto de fazer críticas aos adversários em época de campanha. Mas posso dizer uma coisa. O PT e seus liderados são excelentes no discurso, brilhantes até. Eles sabem falar bem, mas não são vocacionados para a administração. Governar exige habilidade para fazer os projetos saírem do papel, e isso eles não fazem. Transformar em realidade uma ideia, um sonho, é imprescindível. Déda é uma figura carismática, que representava a síntese de todas as esperanças de mudança que a população queria. Mudança virou uma palavra mágica, que contagiou o eleitorado. Só que as pessoas imaginavam que a mudança era para melhor, e não foi isso o que ocorreu. Todas as pesquisas qualitativas revelam que a população está insatisfeita.

CC: Quais são os principais problemas de Aracaju?

JAF: Fui prefeito de Aracaju há 37 anos. Era empresário, não tinha experiência de gestão pública. Mas fui convidado (pelo então governador José Rollemberg Leite, durante a ditadura) para resolver dois problemas que os engenheiros da época consideravam insolúveis. O primeiro deles é que Aracaju foi planejada na era das carroças pelo engenheiro Sebastião Pirro, que concebeu a cidade em um formado de tabuleiro de xadrez (no fim do século XIX). É um desenho bonito, mas ele não podia imaginar que, no futuro, os automóveis iriam surgir e aquelas ruas estreitas, com um cruzamento a cada 100 metros, seriam incompatíveis para o trânsito moderno. Na década de 70, isso virou um problema grave. Além disso, na medida em que a cidade cresceu, surgiram bairros isolados. Para ir de uma localidade para outra, era preciso passar pelo centro de Aracaju. A cidade tinha poucas avenidas e estava impedida de crescer.

CC: A mobilidade já era um problema 40 anos atrás…


JAF:
Sim, mas havia outro ainda mais grave. Aracaju cresceu sobre uma vila de pescadores, avançando sobre os mangues. Na época não existia uma preocupação com o meio ambiente, os resíduos eram lançados diretamente nas águas, sem tratamento. Na década de 70, a situação tornou-se inviável. Todos os bairros da periferia e parte do centro da cidade inundavam a cada chuva. Os engenheiros mais antigos diziam que não tinha solução. Eu me formei em 1965, e sai da faculdade com a convicção de que era possível resolver a situação. Rollemberg conhecia minhas ideias. Depois de ser nomeado governador pelos militares, ele me chamou para administrar a cidade, com a missão de resolver os problemas urbanos de Aracaju. E foi o que fiz.

CC: Mas por que estamos falando da Aracaju dos anos 1970?


JAF: Falo sobre esse período porque tem relação com os problemas atuais. Na época, contratamos o urbanista Jaime Lerner, que não era tão conhecido como é hoje, para fazer o planejamento estratégico de Aracaju. Com a explosão demográfica, ele planejou a cidade para resolver os problemas daquele momento, mas com olhos no futuro. Essa é a diferença entre uma cidade que cresce e outra que incha.

CC: Na sua avaliação, Aracaju atualmente é uma cidade que incha e não cresce?


JAF:
Não existe projeto milagroso, mas este que fizemos nos anos 1970 foi tão bem feito que suportou o crescimento da cidade por mais de 20 anos. Quando fui prefeito de Aracaju, a cidade tinha menos de 200 mil habitantes. Hoje, são 580 mil. Quase triplicou. E temos cidades literalmente ligadas a Aracaju, como São Cristóvão, Nossa Senhora do Socorro e Barra dos Coqueiros. Se somar a população dessas cidades, temos 840 mil habitantes. Aracaju é o grande pólo, concentra as indústrias, o comércio, os melhores colégios e hospitais. Toda essa população transita pela capital. Portanto, o prefeito de Aracaju, hoje, governa para uma população quatro vezes maior que a da capital que eu governei nos anos 70. Mas eu deixei Aracaju sem uma única poça de água. Cerca de 60% do orçamento da cidade na época eu investi em projetos de drenagem, para evitar alagamentos. Nós fizemos 14 avenidas. Em três décadas, os demais prefeitos não fizeram nem um terço disso. Como não houve mais nenhum planejamento urbano, a cidade inchou. Hoje, Aracaju não cresce. Ela incha.

CC: Esse é o grande problema então? Falta de planejamento?


JAF:
De uns tempos para cá, os marqueteiros passaram a ter muita influência sobre as campanhas políticas. Dizem para o candidato o que a população quer ouvir de proposta. Mas um líder verdadeiro faz aquilo que é necessário, mesmo que possa contrariar a vontade imediata da população. É por isso que os prefeitos investem pouco nas obras debaixo do chão, como esgoto, drenagem, abastecimento de água. São obras que não dão voto, porque ninguém vê. A Organização Mundial da Saúde diz que para cada dólar investido em saneamento básico, economiza-se quatro dólares em saúde pública. Mas quem dá ouvidos? Desde que deixei a prefeitura, não vi um único grande projeto de drenagem de Aracaju, e a cidade voltou a sofrer com enchentes ou inundações. Muitas ruas daqui tem o melhor tipo de pavimentação, mas não tem tecnologia de drenagem.

CC: E o que o senhor propõe para resolver o problema?


JAF:
Recentemente, fui dar uma palestra aos profissionais da área imobiliária. Eles reclamavam porque a zona sul, hoje chamada de “zona de expansão”, a única para onde Aracaju pode crescer, está embargada na Justiça. Há dois ou três anos, o Ministério Público barrou novos empreendimentos na região. Eu não tenho como enfrentar os promotores. Embora discorde de uma ou outra decisão deles, em relação a isso eles estão certos. Como vão permitir novas construções em uma área que tem constantes alagamentos? Mas essa é a área de expansão natural da capital. Antes de brigar com o Ministério Público, precisamos fazer a nossa parte: drenar aquela área e fazer um plano estratégico para a criação de um bairro modelo. Como ocorreu com o bairro Coroa do Meio, que era uma área completamente abandonada. Urbanizei toda aquela região.

CC: Quais são os outros desafios da capital?


JAF:
Temos quatro prioridades. Uma delas é o desenvolvimento urbano, que abarca transporte coletivo, obras para melhorar o trânsito, cada vez mais parecido com o de São Paulo, e criação de áreas verdes e de lazer. Outro ponto crucial é a segurança. Com a intensificação do combate ao crime organizado em regiões metropolitanas como a de São Paulo e Rio de Janeiro, os bandidos estão migrando para outras capitais e para o interior. Para isso, é fundamental que a prefeitura abandone a ideia de que segurança é um problema do estado. Não, a cidade pode ajudar. A guarda municipal deve contribuir com esse esforço. Além disso, temos a saúde, que está absolutamente sucateada e a educação. Hoje, temos a pior avaliação do Ideb entre as capitais nordestinas. E eu vou investir pesado para melhorar a qualidade de ensino.

CC: Como melhorar a qualidade de ensino?


JAF:
Os países que tiveram maior êxito em qualidade de ensino destacam a importância de uma sólida formação na primeira série do ensino fundamental. Porque é nesse período que o aluno é alfabetizado, aprende a fazer as quatro operações fundamentais da matemática. Quando fui governador, melhorei muito o quadro da educação fechando parcerias com três consultorias da iniciativa privada. Uma delas era o Instituto Alfa e Beto, que tinha um programa especial para o primeiro ano da escola. Trata-se de um projeto de padrão internacional, que garante que o aluno será devidamente alfabetizado e aprenderá a somar, subtrair, dividir e multiplicar. Até porque se o aluno não faz isso no primeiro ano, terá dificuldade de aprendizagem nos anos seguintes.

Outra parceria foi feita com o Instituto Ayrton Senna, que desenvolveu um programa de aceleração de aprendizado para os alunos que estavam com defasagem de série devido a reprovações. Em um ano, o programa recuperava até três anos de aprendizagem. Esses estudantes depois eram testados por uma consultoria independente e, por vezes, demonstrava-se que aprendiam em um ano mais do que os que cursaram os três anos regulares. Por fim, nos aliamos também com o Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG) para a qualificação dos professores e gestores da área educacional.

CC: E trouxe resultados?


JAF: Para você ter uma ideia, em 2003, quando assumi o governo do estado, apenas 25 dos 16 mil estudantes da rede estadual eram aprovados no vestibular da Universidade Federal do Sergipe. Quando terminamos o mandato, 1.250 alunos da rede conseguiam entrar na universidade pública. Por isso sou contra o sistema de cotas. Não precisa, basta melhorar a qualidade de ensino.

CC: O senhor falou longamente sobre os problemas urbanos da capital, mas se manifestou contra a licitação das empresas de ônibus, a primeira da história de Aracaju, e a aprovação do Plano Diretor, principal instrumento de planejamento…


JAF:
Eu não sou contra o Plano Diretor. Mas isso é uma coisa de alta complexidade, que precisa de profissionais qualificados, não pode ser feito por amadores. O grupo que administra Aracaju está há 12 anos no poder. Somente agora, no último ano de mandato, no apagar das luzes do governo, querem aprovar a toque de caixa um Plano Diretor? O mesmo diz respeito à licitação do transporte coletivo. Por que não fizeram antes? Deixem essa responsabilidade para o próximo prefeito. Essas serão as primeiras providências que vou tomar se for eleito.

CC: Os seus adversários costumam destacar os vários processos dos quais o senhor foi alvo, como a Operação Navalha, na qual foi acusado de superfaturar as obras de uma adutora.


JAF: Em 37 anos de vida pública, é natural ser alvo de processos. Mas não tem uma única conta de gestão minha que não tenha sido aprovada. Nunca fui condenado nem tive gestões reprovadas no Tribunal de Contas, tanto o do estado como o da União, porque também fui ministro. A vida toda eu ocupei cargos executivos. É muito bonito você virar e dizer: “não tenho nenhum processo contra mim”. Ora, nunca administrou nada. Quando você comanda uma cidade, um estado, sempre tem um gaiato para te acusar de alguma coisa. Nunca fui condenado. Se algum adversário me chamar de desonesto, eu processo na hora.

CC: O senhor lidera as pesquisas com mais de 55% das intenções de voto, mas enfrenta um adversário que tem o apoio do governador e do prefeito. O senhor acredita esta que será uma disputa tão fácil como indicam as pesquisas?


JAF:
Já enfrentei campanhas dificílimas e muito fáceis. Para mim, não muda nada. O que ganha eleição é ter trabalho para mostrar e gastar sola de sapato. Para mim não faz a menor diferença se meu adversário é forte ou fraco.

Em Aracaju

A disputa pela prefeitura de Aracaju (SE) tem um cenário diferente da maioria das outras capitais do Nordeste. Enquanto em Recife, Fortaleza e outras a base aliada do governo Dilma Rousseff dilui-se em candidaturas próprias do PT, PCdoB e PSB, na capital sergipana toda ela se concentra no jovem Valadares Filho (PSB), de 31 anos. Ele disputa o cargo contra o ex-prefeito e ex-governador João Alves Filho (DEM), líder nas pesquisas.

CartaCapital conversou com os dois principais candidatos. você lê a entrevista com Valadares Filho. Abaixo, a conversa com o candidato do DEM.

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João Alves Filho é um velho conhecido da política sergipana. Engenheiro de formação, iniciou a vida pública nos 1970, ao ser nomeado prefeito de Aracaju pela ditadura. Teve três mandatos de governador e foi ministro do Interior do ex-presidente José Sarney. Por quatro décadas, se revezou no poder com a família Franco. Também disputou as últimas quatro eleições ao governo do estado e venceu uma (2002).

Tamanho recall político o faz, segundo os seus adversários, liderar as pesquisas em Aracaju. Na avaliação do próprio candidato, trata-se de um reconhecimento do seu trabalho e da insatisfação da população com a aliança de esquerda que governa a capital desde 2000 e o estado há seis, tendo o governador Marcelo Déda (PT) como principal expoente.  “São ótimos no discurso, mas péssimos administradores”, diz Alves Filho. Confira a seguir os principais trechos da entrevista concedida a CartaCapital.

CartaCapital: Seu principal adversário, Valadares Filho (PSB), é o representante do bloco governista que administra Aracaju desde 2000. Como o senhor avalia a gestão desse grupo?


João Alves Filho:
Não gosto de fazer críticas aos adversários em época de campanha. Mas posso dizer uma coisa. O PT e seus liderados são excelentes no discurso, brilhantes até. Eles sabem falar bem, mas não são vocacionados para a administração. Governar exige habilidade para fazer os projetos saírem do papel, e isso eles não fazem. Transformar em realidade uma ideia, um sonho, é imprescindível. Déda é uma figura carismática, que representava a síntese de todas as esperanças de mudança que a população queria. Mudança virou uma palavra mágica, que contagiou o eleitorado. Só que as pessoas imaginavam que a mudança era para melhor, e não foi isso o que ocorreu. Todas as pesquisas qualitativas revelam que a população está insatisfeita.

CC: Quais são os principais problemas de Aracaju?

JAF: Fui prefeito de Aracaju há 37 anos. Era empresário, não tinha experiência de gestão pública. Mas fui convidado (pelo então governador José Rollemberg Leite, durante a ditadura) para resolver dois problemas que os engenheiros da época consideravam insolúveis. O primeiro deles é que Aracaju foi planejada na era das carroças pelo engenheiro Sebastião Pirro, que concebeu a cidade em um formado de tabuleiro de xadrez (no fim do século XIX). É um desenho bonito, mas ele não podia imaginar que, no futuro, os automóveis iriam surgir e aquelas ruas estreitas, com um cruzamento a cada 100 metros, seriam incompatíveis para o trânsito moderno. Na década de 70, isso virou um problema grave. Além disso, na medida em que a cidade cresceu, surgiram bairros isolados. Para ir de uma localidade para outra, era preciso passar pelo centro de Aracaju. A cidade tinha poucas avenidas e estava impedida de crescer.

CC: A mobilidade já era um problema 40 anos atrás…


JAF:
Sim, mas havia outro ainda mais grave. Aracaju cresceu sobre uma vila de pescadores, avançando sobre os mangues. Na época não existia uma preocupação com o meio ambiente, os resíduos eram lançados diretamente nas águas, sem tratamento. Na década de 70, a situação tornou-se inviável. Todos os bairros da periferia e parte do centro da cidade inundavam a cada chuva. Os engenheiros mais antigos diziam que não tinha solução. Eu me formei em 1965, e sai da faculdade com a convicção de que era possível resolver a situação. Rollemberg conhecia minhas ideias. Depois de ser nomeado governador pelos militares, ele me chamou para administrar a cidade, com a missão de resolver os problemas urbanos de Aracaju. E foi o que fiz.

CC: Mas por que estamos falando da Aracaju dos anos 1970?


JAF: Falo sobre esse período porque tem relação com os problemas atuais. Na época, contratamos o urbanista Jaime Lerner, que não era tão conhecido como é hoje, para fazer o planejamento estratégico de Aracaju. Com a explosão demográfica, ele planejou a cidade para resolver os problemas daquele momento, mas com olhos no futuro. Essa é a diferença entre uma cidade que cresce e outra que incha.

CC: Na sua avaliação, Aracaju atualmente é uma cidade que incha e não cresce?


JAF:
Não existe projeto milagroso, mas este que fizemos nos anos 1970 foi tão bem feito que suportou o crescimento da cidade por mais de 20 anos. Quando fui prefeito de Aracaju, a cidade tinha menos de 200 mil habitantes. Hoje, são 580 mil. Quase triplicou. E temos cidades literalmente ligadas a Aracaju, como São Cristóvão, Nossa Senhora do Socorro e Barra dos Coqueiros. Se somar a população dessas cidades, temos 840 mil habitantes. Aracaju é o grande pólo, concentra as indústrias, o comércio, os melhores colégios e hospitais. Toda essa população transita pela capital. Portanto, o prefeito de Aracaju, hoje, governa para uma população quatro vezes maior que a da capital que eu governei nos anos 70. Mas eu deixei Aracaju sem uma única poça de água. Cerca de 60% do orçamento da cidade na época eu investi em projetos de drenagem, para evitar alagamentos. Nós fizemos 14 avenidas. Em três décadas, os demais prefeitos não fizeram nem um terço disso. Como não houve mais nenhum planejamento urbano, a cidade inchou. Hoje, Aracaju não cresce. Ela incha.

CC: Esse é o grande problema então? Falta de planejamento?


JAF:
De uns tempos para cá, os marqueteiros passaram a ter muita influência sobre as campanhas políticas. Dizem para o candidato o que a população quer ouvir de proposta. Mas um líder verdadeiro faz aquilo que é necessário, mesmo que possa contrariar a vontade imediata da população. É por isso que os prefeitos investem pouco nas obras debaixo do chão, como esgoto, drenagem, abastecimento de água. São obras que não dão voto, porque ninguém vê. A Organização Mundial da Saúde diz que para cada dólar investido em saneamento básico, economiza-se quatro dólares em saúde pública. Mas quem dá ouvidos? Desde que deixei a prefeitura, não vi um único grande projeto de drenagem de Aracaju, e a cidade voltou a sofrer com enchentes ou inundações. Muitas ruas daqui tem o melhor tipo de pavimentação, mas não tem tecnologia de drenagem.

CC: E o que o senhor propõe para resolver o problema?


JAF:
Recentemente, fui dar uma palestra aos profissionais da área imobiliária. Eles reclamavam porque a zona sul, hoje chamada de “zona de expansão”, a única para onde Aracaju pode crescer, está embargada na Justiça. Há dois ou três anos, o Ministério Público barrou novos empreendimentos na região. Eu não tenho como enfrentar os promotores. Embora discorde de uma ou outra decisão deles, em relação a isso eles estão certos. Como vão permitir novas construções em uma área que tem constantes alagamentos? Mas essa é a área de expansão natural da capital. Antes de brigar com o Ministério Público, precisamos fazer a nossa parte: drenar aquela área e fazer um plano estratégico para a criação de um bairro modelo. Como ocorreu com o bairro Coroa do Meio, que era uma área completamente abandonada. Urbanizei toda aquela região.

CC: Quais são os outros desafios da capital?


JAF:
Temos quatro prioridades. Uma delas é o desenvolvimento urbano, que abarca transporte coletivo, obras para melhorar o trânsito, cada vez mais parecido com o de São Paulo, e criação de áreas verdes e de lazer. Outro ponto crucial é a segurança. Com a intensificação do combate ao crime organizado em regiões metropolitanas como a de São Paulo e Rio de Janeiro, os bandidos estão migrando para outras capitais e para o interior. Para isso, é fundamental que a prefeitura abandone a ideia de que segurança é um problema do estado. Não, a cidade pode ajudar. A guarda municipal deve contribuir com esse esforço. Além disso, temos a saúde, que está absolutamente sucateada e a educação. Hoje, temos a pior avaliação do Ideb entre as capitais nordestinas. E eu vou investir pesado para melhorar a qualidade de ensino.

CC: Como melhorar a qualidade de ensino?


JAF:
Os países que tiveram maior êxito em qualidade de ensino destacam a importância de uma sólida formação na primeira série do ensino fundamental. Porque é nesse período que o aluno é alfabetizado, aprende a fazer as quatro operações fundamentais da matemática. Quando fui governador, melhorei muito o quadro da educação fechando parcerias com três consultorias da iniciativa privada. Uma delas era o Instituto Alfa e Beto, que tinha um programa especial para o primeiro ano da escola. Trata-se de um projeto de padrão internacional, que garante que o aluno será devidamente alfabetizado e aprenderá a somar, subtrair, dividir e multiplicar. Até porque se o aluno não faz isso no primeiro ano, terá dificuldade de aprendizagem nos anos seguintes.

Outra parceria foi feita com o Instituto Ayrton Senna, que desenvolveu um programa de aceleração de aprendizado para os alunos que estavam com defasagem de série devido a reprovações. Em um ano, o programa recuperava até três anos de aprendizagem. Esses estudantes depois eram testados por uma consultoria independente e, por vezes, demonstrava-se que aprendiam em um ano mais do que os que cursaram os três anos regulares. Por fim, nos aliamos também com o Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG) para a qualificação dos professores e gestores da área educacional.

CC: E trouxe resultados?


JAF: Para você ter uma ideia, em 2003, quando assumi o governo do estado, apenas 25 dos 16 mil estudantes da rede estadual eram aprovados no vestibular da Universidade Federal do Sergipe. Quando terminamos o mandato, 1.250 alunos da rede conseguiam entrar na universidade pública. Por isso sou contra o sistema de cotas. Não precisa, basta melhorar a qualidade de ensino.

CC: O senhor falou longamente sobre os problemas urbanos da capital, mas se manifestou contra a licitação das empresas de ônibus, a primeira da história de Aracaju, e a aprovação do Plano Diretor, principal instrumento de planejamento…


JAF:
Eu não sou contra o Plano Diretor. Mas isso é uma coisa de alta complexidade, que precisa de profissionais qualificados, não pode ser feito por amadores. O grupo que administra Aracaju está há 12 anos no poder. Somente agora, no último ano de mandato, no apagar das luzes do governo, querem aprovar a toque de caixa um Plano Diretor? O mesmo diz respeito à licitação do transporte coletivo. Por que não fizeram antes? Deixem essa responsabilidade para o próximo prefeito. Essas serão as primeiras providências que vou tomar se for eleito.

CC: Os seus adversários costumam destacar os vários processos dos quais o senhor foi alvo, como a Operação Navalha, na qual foi acusado de superfaturar as obras de uma adutora.


JAF: Em 37 anos de vida pública, é natural ser alvo de processos. Mas não tem uma única conta de gestão minha que não tenha sido aprovada. Nunca fui condenado nem tive gestões reprovadas no Tribunal de Contas, tanto o do estado como o da União, porque também fui ministro. A vida toda eu ocupei cargos executivos. É muito bonito você virar e dizer: “não tenho nenhum processo contra mim”. Ora, nunca administrou nada. Quando você comanda uma cidade, um estado, sempre tem um gaiato para te acusar de alguma coisa. Nunca fui condenado. Se algum adversário me chamar de desonesto, eu processo na hora.

CC: O senhor lidera as pesquisas com mais de 55% das intenções de voto, mas enfrenta um adversário que tem o apoio do governador e do prefeito. O senhor acredita esta que será uma disputa tão fácil como indicam as pesquisas?


JAF:
Já enfrentei campanhas dificílimas e muito fáceis. Para mim, não muda nada. O que ganha eleição é ter trabalho para mostrar e gastar sola de sapato. Para mim não faz a menor diferença se meu adversário é forte ou fraco.

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