Política

A eleição e a Copa do Mundo

O Mundial pode tornar monotemático a disputa presidencial de 2014. Um vexame nos gramados terá menos elevância
que falhas na organização.

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Salvo em condições excepcionais, as eleições nunca são dominadas por um só assunto. É o que torna inútil a procura do “tema” da eleição, a que se dedica parte da mídia toda vez que nos aproximamos de uma.

Como os eleitores não são homogêneos, vivem vidas diferentes e pensam de forma diferente. Imaginar que suas preocupações e expectativas são iguais não faz sentido.

As eleições municipais, como as que teremos neste ano, acontecem em 5,6 mil lugares distintos, cada um com problemas específicos aos olhos de seus moradores. Pouco importa aos eleitores de duas cidades vizinhas se, em ambas, a principal preocupação é a saúde pública. O que lhes interessa é o que acontece onde vivem, a feição particular que a questão assume ali.

Pensam corretamente. Se a escolha que o eleitor tem de fazer é a respeito de quem vai chefiar a administração local (ou integrar a Câmara de Vereadores), que importância teria o fato de a cidade ao lado atravessar problemas parecidos?

Questões nacionais produzem efeitos que dependem das características e peculiaridades de cada lugar. Por isso, não afetam de maneira uniforme a escolha dos ocupantes de cargos nos estados e municípios.

É na eleição de presidente da República – a única em que todos votam para o mesmo cargo – que faria sentido buscar a convergência dos sentimentos e da agenda dos eleitores do País. Mesmo nelas, porém, não se vai longe nesse esforço. Normalmente, apenas coisas triviais são comuns a pessoas tão variadas quanto os brasileiros.

Há exceções. Se algo muito significativo atingir o conjunto do eleitorado, a eleição passa a girar em torno dele. Torna-se focada, e qualquer outro tema perde relevância. Por mais que alguns candidatos tentem, não conseguem fazer com que a maioria dos eleitores se desligue daquele assunto.

A eleição de 2014 pode se tornar uma dessas.

A Copa do Mundo de futebol talvez faça com que nossas próximas eleições presidenciais sejam monotemáticas. Ela pode ser a grande – possivelmente, a única – coisa que discutiremos.

Em outubro de 2014, a Copa já terá terminado e o que menos importará para nossa discussão será o desempenho da Seleção Brasileira. Poderemos ser hexacampeões do mundo ou ter apresentado uma performance abaixo da expectativa, que a eleição pouco será afetada. Apesar do fato de o Mundial ser realizado depois de muitos anos no Brasil.

Nesse quesito, ela será igual a todas as outras, que tiveram impacto eleitoral insignificante, apesar de sempre se especular que as vitórias são benéficas para o governo e as derrotas para as oposições (sem que se explique o por que, pois é tosco o argumento de que “povo aborrecido vota na oposição” e “povo satisfeito vota no governo”).

O que importará em 2014 será outra copa, na qual estará em jogo a competência nacional para sediar o evento. Sair-se bem nela contará mais, para muita gente, que o resultado esportivo. Um vexame nos gramados será mais facilmente esquecido do que uma Copa com falhas de organização.

Faltando pouco mais de dois anos para o seu início, o panorama não é tranquilizador. São reais os riscos de que alguma coisa não dê certo, das inúmeras que podem acontecer.

Se houver problemas, os culpados não serão os governos estaduais e as prefeituras. Nem os serviços públicos de segurança e saúde. Nem a CBF e a Fifa. Nem as empresas responsáveis pelas obras nos estádios, nos aeroportos, nas telecomunicações e nos transportes. Nem a infraestrutura hoteleira e a turística.

A responsabilidade será do governo federal e da presidenta. Qualquer coisa negativa que ocorrer será debitada na sua conta.

E podemos apostar que nossa mídia fará seu máximo para que a culpa caia no colo de Dilma. Que, dois meses depois, disputará sua reeleição ou estará no palanque do candidato do PT.

Se já houve eleições “temáticas”, a de 2014 pode superar todas na centralidade de um assunto. A Copa tem, no entanto, grande chance de ser um sucesso. Isso não resolverá a eleição em favor da continuidade. Mas vai ajudar (e muito). Por via das dúvidas, bem faria o governo federal se a tratasse como prioridade absoluta.

Salvo em condições excepcionais, as eleições nunca são dominadas por um só assunto. É o que torna inútil a procura do “tema” da eleição, a que se dedica parte da mídia toda vez que nos aproximamos de uma.

Como os eleitores não são homogêneos, vivem vidas diferentes e pensam de forma diferente. Imaginar que suas preocupações e expectativas são iguais não faz sentido.

As eleições municipais, como as que teremos neste ano, acontecem em 5,6 mil lugares distintos, cada um com problemas específicos aos olhos de seus moradores. Pouco importa aos eleitores de duas cidades vizinhas se, em ambas, a principal preocupação é a saúde pública. O que lhes interessa é o que acontece onde vivem, a feição particular que a questão assume ali.

Pensam corretamente. Se a escolha que o eleitor tem de fazer é a respeito de quem vai chefiar a administração local (ou integrar a Câmara de Vereadores), que importância teria o fato de a cidade ao lado atravessar problemas parecidos?

Questões nacionais produzem efeitos que dependem das características e peculiaridades de cada lugar. Por isso, não afetam de maneira uniforme a escolha dos ocupantes de cargos nos estados e municípios.

É na eleição de presidente da República – a única em que todos votam para o mesmo cargo – que faria sentido buscar a convergência dos sentimentos e da agenda dos eleitores do País. Mesmo nelas, porém, não se vai longe nesse esforço. Normalmente, apenas coisas triviais são comuns a pessoas tão variadas quanto os brasileiros.

Há exceções. Se algo muito significativo atingir o conjunto do eleitorado, a eleição passa a girar em torno dele. Torna-se focada, e qualquer outro tema perde relevância. Por mais que alguns candidatos tentem, não conseguem fazer com que a maioria dos eleitores se desligue daquele assunto.

A eleição de 2014 pode se tornar uma dessas.

A Copa do Mundo de futebol talvez faça com que nossas próximas eleições presidenciais sejam monotemáticas. Ela pode ser a grande – possivelmente, a única – coisa que discutiremos.

Em outubro de 2014, a Copa já terá terminado e o que menos importará para nossa discussão será o desempenho da Seleção Brasileira. Poderemos ser hexacampeões do mundo ou ter apresentado uma performance abaixo da expectativa, que a eleição pouco será afetada. Apesar do fato de o Mundial ser realizado depois de muitos anos no Brasil.

Nesse quesito, ela será igual a todas as outras, que tiveram impacto eleitoral insignificante, apesar de sempre se especular que as vitórias são benéficas para o governo e as derrotas para as oposições (sem que se explique o por que, pois é tosco o argumento de que “povo aborrecido vota na oposição” e “povo satisfeito vota no governo”).

O que importará em 2014 será outra copa, na qual estará em jogo a competência nacional para sediar o evento. Sair-se bem nela contará mais, para muita gente, que o resultado esportivo. Um vexame nos gramados será mais facilmente esquecido do que uma Copa com falhas de organização.

Faltando pouco mais de dois anos para o seu início, o panorama não é tranquilizador. São reais os riscos de que alguma coisa não dê certo, das inúmeras que podem acontecer.

Se houver problemas, os culpados não serão os governos estaduais e as prefeituras. Nem os serviços públicos de segurança e saúde. Nem a CBF e a Fifa. Nem as empresas responsáveis pelas obras nos estádios, nos aeroportos, nas telecomunicações e nos transportes. Nem a infraestrutura hoteleira e a turística.

A responsabilidade será do governo federal e da presidenta. Qualquer coisa negativa que ocorrer será debitada na sua conta.

E podemos apostar que nossa mídia fará seu máximo para que a culpa caia no colo de Dilma. Que, dois meses depois, disputará sua reeleição ou estará no palanque do candidato do PT.

Se já houve eleições “temáticas”, a de 2014 pode superar todas na centralidade de um assunto. A Copa tem, no entanto, grande chance de ser um sucesso. Isso não resolverá a eleição em favor da continuidade. Mas vai ajudar (e muito). Por via das dúvidas, bem faria o governo federal se a tratasse como prioridade absoluta.

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