Política

“A aliança programática era necessária”

Ex-tucano, prefeito eleito de Curitiba fala da aproximação com o PT, economiza elogios a Lula e evita ‘lançar’ Gleisi Hoffmann para 2014

Fruet em comício no segundo turno com Gleisi Hoffmann e outros ministros de Dilma Roussef. Foto: Divulgação
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por René Ruschel

 

O ex-deputado federal Gustavo Fruet (PDT) foi eleito no domingo 28 prefeito de Curitiba com 60,65% dos votos válidos contra 39,35% de Ratinho Junior (PSC).

Foi a maior diferença obtida por um candidato numa disputa de segundo turno na capital paranaense. Terceiro lugar nas pesquisas durante boa parte da campanha, ele superou na reta final o prefeito Luciano Ducci (PSB), apoiado pelo governador Beto Richa (PSDB), seu ex-correligionário e hoje desafeto, por 4,4 mil votos.

Filho do ex-deputado e ex-prefeito Mauricio Fruet, Gustavo deixou o PSDB por falta de espaço e se filiou se ao PDT a convite do ex-senador Osmar Dias. Foi a porta de entrada para receber o apoio polêmico do ex-rival PT seis anos após se destacar como sub-relator da CPI dos Correios, que investigou o “mensalão” “Era necessário criar essa aliança programática”, afirma.

O prefeito eleito conversou com exclusividade com o site de CartaCapital. Confira a entrevista:

CartaCapital: O PSDB negou legenda à sua candidatura e apoiou a reeleição de Luciano Ducci, do PSB. A vitória contra seu ex-partido tem um sabor especial?

Gustavo Fruet: Meu questionamento em relação ao PSDB foi sempre contra o método, a falta de diálogo do partido. Houve um veto para que eu assumisse a comissão provisória da capital. A votação obtida na eleição de 2010, quando disputei o Senado, me credenciava para isso. Fui vetado pelo presidente da Câmara Municipal de Curitiba, João Claudio Derosso. Um ano depois ele saiu do PSDB e teve seu mandato cassado como vereador. Quando a gente vence tem que ter a humildade e sabedoria de agradecer e entender todo o processo. Aprendi com o meu pai, Mauricio Fruet, a nunca ter o “rei na barriga”, porque depois que seu mandato acaba você volta para casa. Então não é por causa de um mandato que a pessoa fica acima do bem ou do mal.Minha passagem pelo PSDB foi positiva. Fui eleito duas vezes deputado federal, tive uma votação expressiva na disputa ao Senado. Ajudei a eleger o atual governador do Paraná. Mas deixo claro que nunca pedi ou exigi ser candidato a prefeito de Curitiba. Pedi apenas para assumir a comissão provisória da capital, o que foi vetado. Não adianta ficar remoendo isso.

CC: A derrota em Curitiba trouxe um enorme desgaste ao PSDB e a sua principal liderança no estado, o governador Beto Richa. Como o senhor analisa o futuro do PSDB no Paraná?

GF: É claro que a eleição dá alguns indicativos a todos. Há dois anos quem poderia imaginar que o PSDB não tivesse candidatos em Curitiba e nas principais cidades do Paraná? Agora resta aos articuladores do governador definir quais serão os caminhos porque o resultado das eleições não pode ser desconsiderado. Mas é também é muito prematuro fazer qualquer previsão sobre as eleições de 2014. A disputa deste ano em Curitiba confirma isso.

CC: Além dos seus adversários, setores do PT o criticaram por ter sido duro durante a CPI dos Correios e agora buscar uma aliança com o partido. Como foi sua convivência com a militância petista durante a campanha?

GF: Sempre fui muito bem recebido nas plenárias, nas caminhadas que realizamos. Tivemos apoio não só da militância, mas também das grandes lideranças do PT em Curitiba e no estado com a presença de deputados e dos ministros Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo. Quanto à aliança com o PT, o partido realizou uma convenção e, por maioria, decidiu o apoio à minha candidatura indicando inclusive a advogada Mirian Gonçalves como vice. A decisão na convenção legitimou essa união.

CC: Como o senhor vê o ex-presidente Lula hoje?

GF: Sem dúvida é uma grande liderança e sempre tem de ser considerado. O ex-presidente teve grande humildade quando assumiu a administração do País e manteve e ampliou políticas sociais e econômicas estabelecidas por Fernando Henrique Cardoso. Cada um em seu tempo teve grande importância.

CC: Qual a importância do apoio de nomes como Osmar Dias e Gleisi Hoffmann nesta campanha?

GF: São duas forças significativas e de grande representatividade. Por restrições legais, o senador Osmar Dias não pode participar diretamente da campanha nas ruas. Sua função no Banco do Brasil o impedia de fazer isso. Mas ajudou muito na articulação política. A ministra Gleisi foi uma das nossas grandes companheiras de campanha. Sempre que pode, veio a Curitiba e me acompanhou nas ruas.

CC: Ela é a candidata natural ao governo do Paraná em 2014? Terá o apoio do PDT?

GH: Tudo o que foi discutido foi em relação à eleição de 2012. Era necessário criar essa aliança programática com o PT e o PV. Não se administra uma cidade como Curitiba sozinho, é preciso de apoio para a sua gestão. Repito mais uma vez o que tenho dito: é um erro toda vez que termina uma eleição já se pensar na próxima. Não vou especular sobre isso até porque estaria colocando a ministra em uma situação de pré-candidata. Ela jamais confirmou isso.

CC: Qual foi o recado das urnas em 2012?

GF: A população deixou um recado muito forte nesta eleição, que quer mudança. Mas uma mudança com responsabilidade, na qual as promessas sejam cumpridas. O recado de uma administração voltada a resolver os problemas que diretamente afligem a população como os problemas nas áreas de segurança, com o combate e prevenção a violência, saúde com melhor atendimento e respeito aos usuários, educação com mais investimentos e destinação correta desse dinheiro. A população quer essa mudança e também demonstra que está atenta e vai cobrar por resultados. Por isso aumenta e muito a minha responsabilidade.

CC: O que explica a discrepância entre as pesquisas, que o deixavam fora do segundo turno, e os resultados das urnas?

GF: Nunca questionei a má fé dos institutos. Por alguma razão de metodologia, alguns destes institutos não estão conseguindo captar a tendência do eleitorado. Isso é grave e precisa ser revisto. Pesquisa se tornou instrumento de comunicação no Brasil e isso é prejudicial à democracia.


CC: Qual será a marca da sua gestão?


GF: Educação. Estou me propondo a fazer uma obra que não é material. O investimento em educação é uma obra imaterial, uma obra de transformação. É claro que não se resolve todos os problemas da área em apenas uma gestão. Mas se iniciarmos e garantirmos 30% do orçamento para destinar à área e isso tiver continuidade num médio e longo prazo, isso servirá na qualidade da aplicação do recurso, na capacitação, na valorização e também na inclusão, como vagas de creche. Tem um fator de transformação excepcional. Em uma geração podemos dar um grande salto.

CC: O senhor pretende realizar auditorias nas contas do município?

GF: É uma atitude normal em uma mudança de governo. Mas o Tribunal de Contas e outros órgãos de controle já fazem essa auditoria. Não se trata de caça as bruxas. Mas é preciso dar mais transparência.

CC: Segundo uma recente pesquisa, os dois temas que os brasileiros mais criticam são saúde e segurança. Como minimizar essas mazelas em Curitiba?

GF: Com investimento e gestão. Temos várias propostas para essas duas áreas que, juntamente com educação e mobilidade urbana, serão prioridades na administração. Na saúde, o principal será recuperar a credibilidade do sistema junto ao usuário, principalmente no atendimento básico. Priorizar a atenção básica, ampliando a cobertura de atendimento a mais de 50% da população. Com ajuda dos recursos do governo federal, vamos aumentar as equipes de atendentes domiciliares e da saúde da família e também dos agentes comunitários. Também vamos fortalecer as unidades básicas de saúde, definindo quais ficarão abertas no terceiro turno. Em outra etapa, acontecerá a construção dos centros de atendimento 24 horas. Valorização e contratação de profissionais para a saúde, mas ressalto aqui que isso não se faz em curto prazo. Na segurança, vamos implantar a gestão integrada com todas as secretarias e com forte investimento na prevenção. A Guarda Municipal será fortalecida com a contratação de 1,5 mil guardas e com a adoção da Academia da Guarda Municipal que será responsável pela formação, voltada para a transformação da GM na verdadeira polícia cidadã. Não queremos uma GM miniatura da PM. Também será investido no videomonitoramento.

Mas o grande fator de prevenção da violência na capital será a melhora da educação. Por isso faremos o maior investimento da história de Curitiba com um aumento anual de 100 milhões de reais no orçamento da área. Teremos a criação dos Portais do Futuro em cada regional da cidade, com atividades de cultura, lazer e esporte, além de formação profissional, dando opções de contraturno aos jovens, isso tudo para não perdê-los para o crime e as drogas.

 

por René Ruschel

 

O ex-deputado federal Gustavo Fruet (PDT) foi eleito no domingo 28 prefeito de Curitiba com 60,65% dos votos válidos contra 39,35% de Ratinho Junior (PSC).

Foi a maior diferença obtida por um candidato numa disputa de segundo turno na capital paranaense. Terceiro lugar nas pesquisas durante boa parte da campanha, ele superou na reta final o prefeito Luciano Ducci (PSB), apoiado pelo governador Beto Richa (PSDB), seu ex-correligionário e hoje desafeto, por 4,4 mil votos.

Filho do ex-deputado e ex-prefeito Mauricio Fruet, Gustavo deixou o PSDB por falta de espaço e se filiou se ao PDT a convite do ex-senador Osmar Dias. Foi a porta de entrada para receber o apoio polêmico do ex-rival PT seis anos após se destacar como sub-relator da CPI dos Correios, que investigou o “mensalão” “Era necessário criar essa aliança programática”, afirma.

O prefeito eleito conversou com exclusividade com o site de CartaCapital. Confira a entrevista:

CartaCapital: O PSDB negou legenda à sua candidatura e apoiou a reeleição de Luciano Ducci, do PSB. A vitória contra seu ex-partido tem um sabor especial?

Gustavo Fruet: Meu questionamento em relação ao PSDB foi sempre contra o método, a falta de diálogo do partido. Houve um veto para que eu assumisse a comissão provisória da capital. A votação obtida na eleição de 2010, quando disputei o Senado, me credenciava para isso. Fui vetado pelo presidente da Câmara Municipal de Curitiba, João Claudio Derosso. Um ano depois ele saiu do PSDB e teve seu mandato cassado como vereador. Quando a gente vence tem que ter a humildade e sabedoria de agradecer e entender todo o processo. Aprendi com o meu pai, Mauricio Fruet, a nunca ter o “rei na barriga”, porque depois que seu mandato acaba você volta para casa. Então não é por causa de um mandato que a pessoa fica acima do bem ou do mal.Minha passagem pelo PSDB foi positiva. Fui eleito duas vezes deputado federal, tive uma votação expressiva na disputa ao Senado. Ajudei a eleger o atual governador do Paraná. Mas deixo claro que nunca pedi ou exigi ser candidato a prefeito de Curitiba. Pedi apenas para assumir a comissão provisória da capital, o que foi vetado. Não adianta ficar remoendo isso.

CC: A derrota em Curitiba trouxe um enorme desgaste ao PSDB e a sua principal liderança no estado, o governador Beto Richa. Como o senhor analisa o futuro do PSDB no Paraná?

GF: É claro que a eleição dá alguns indicativos a todos. Há dois anos quem poderia imaginar que o PSDB não tivesse candidatos em Curitiba e nas principais cidades do Paraná? Agora resta aos articuladores do governador definir quais serão os caminhos porque o resultado das eleições não pode ser desconsiderado. Mas é também é muito prematuro fazer qualquer previsão sobre as eleições de 2014. A disputa deste ano em Curitiba confirma isso.

CC: Além dos seus adversários, setores do PT o criticaram por ter sido duro durante a CPI dos Correios e agora buscar uma aliança com o partido. Como foi sua convivência com a militância petista durante a campanha?

GF: Sempre fui muito bem recebido nas plenárias, nas caminhadas que realizamos. Tivemos apoio não só da militância, mas também das grandes lideranças do PT em Curitiba e no estado com a presença de deputados e dos ministros Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo. Quanto à aliança com o PT, o partido realizou uma convenção e, por maioria, decidiu o apoio à minha candidatura indicando inclusive a advogada Mirian Gonçalves como vice. A decisão na convenção legitimou essa união.

CC: Como o senhor vê o ex-presidente Lula hoje?

GF: Sem dúvida é uma grande liderança e sempre tem de ser considerado. O ex-presidente teve grande humildade quando assumiu a administração do País e manteve e ampliou políticas sociais e econômicas estabelecidas por Fernando Henrique Cardoso. Cada um em seu tempo teve grande importância.

CC: Qual a importância do apoio de nomes como Osmar Dias e Gleisi Hoffmann nesta campanha?

GF: São duas forças significativas e de grande representatividade. Por restrições legais, o senador Osmar Dias não pode participar diretamente da campanha nas ruas. Sua função no Banco do Brasil o impedia de fazer isso. Mas ajudou muito na articulação política. A ministra Gleisi foi uma das nossas grandes companheiras de campanha. Sempre que pode, veio a Curitiba e me acompanhou nas ruas.

CC: Ela é a candidata natural ao governo do Paraná em 2014? Terá o apoio do PDT?

GH: Tudo o que foi discutido foi em relação à eleição de 2012. Era necessário criar essa aliança programática com o PT e o PV. Não se administra uma cidade como Curitiba sozinho, é preciso de apoio para a sua gestão. Repito mais uma vez o que tenho dito: é um erro toda vez que termina uma eleição já se pensar na próxima. Não vou especular sobre isso até porque estaria colocando a ministra em uma situação de pré-candidata. Ela jamais confirmou isso.

CC: Qual foi o recado das urnas em 2012?

GF: A população deixou um recado muito forte nesta eleição, que quer mudança. Mas uma mudança com responsabilidade, na qual as promessas sejam cumpridas. O recado de uma administração voltada a resolver os problemas que diretamente afligem a população como os problemas nas áreas de segurança, com o combate e prevenção a violência, saúde com melhor atendimento e respeito aos usuários, educação com mais investimentos e destinação correta desse dinheiro. A população quer essa mudança e também demonstra que está atenta e vai cobrar por resultados. Por isso aumenta e muito a minha responsabilidade.

CC: O que explica a discrepância entre as pesquisas, que o deixavam fora do segundo turno, e os resultados das urnas?

GF: Nunca questionei a má fé dos institutos. Por alguma razão de metodologia, alguns destes institutos não estão conseguindo captar a tendência do eleitorado. Isso é grave e precisa ser revisto. Pesquisa se tornou instrumento de comunicação no Brasil e isso é prejudicial à democracia.


CC: Qual será a marca da sua gestão?


GF: Educação. Estou me propondo a fazer uma obra que não é material. O investimento em educação é uma obra imaterial, uma obra de transformação. É claro que não se resolve todos os problemas da área em apenas uma gestão. Mas se iniciarmos e garantirmos 30% do orçamento para destinar à área e isso tiver continuidade num médio e longo prazo, isso servirá na qualidade da aplicação do recurso, na capacitação, na valorização e também na inclusão, como vagas de creche. Tem um fator de transformação excepcional. Em uma geração podemos dar um grande salto.

CC: O senhor pretende realizar auditorias nas contas do município?

GF: É uma atitude normal em uma mudança de governo. Mas o Tribunal de Contas e outros órgãos de controle já fazem essa auditoria. Não se trata de caça as bruxas. Mas é preciso dar mais transparência.

CC: Segundo uma recente pesquisa, os dois temas que os brasileiros mais criticam são saúde e segurança. Como minimizar essas mazelas em Curitiba?

GF: Com investimento e gestão. Temos várias propostas para essas duas áreas que, juntamente com educação e mobilidade urbana, serão prioridades na administração. Na saúde, o principal será recuperar a credibilidade do sistema junto ao usuário, principalmente no atendimento básico. Priorizar a atenção básica, ampliando a cobertura de atendimento a mais de 50% da população. Com ajuda dos recursos do governo federal, vamos aumentar as equipes de atendentes domiciliares e da saúde da família e também dos agentes comunitários. Também vamos fortalecer as unidades básicas de saúde, definindo quais ficarão abertas no terceiro turno. Em outra etapa, acontecerá a construção dos centros de atendimento 24 horas. Valorização e contratação de profissionais para a saúde, mas ressalto aqui que isso não se faz em curto prazo. Na segurança, vamos implantar a gestão integrada com todas as secretarias e com forte investimento na prevenção. A Guarda Municipal será fortalecida com a contratação de 1,5 mil guardas e com a adoção da Academia da Guarda Municipal que será responsável pela formação, voltada para a transformação da GM na verdadeira polícia cidadã. Não queremos uma GM miniatura da PM. Também será investido no videomonitoramento.

Mas o grande fator de prevenção da violência na capital será a melhora da educação. Por isso faremos o maior investimento da história de Curitiba com um aumento anual de 100 milhões de reais no orçamento da área. Teremos a criação dos Portais do Futuro em cada regional da cidade, com atividades de cultura, lazer e esporte, além de formação profissional, dando opções de contraturno aos jovens, isso tudo para não perdê-los para o crime e as drogas.

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