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‘Voto de latinos, mulheres e negros derrotará republicanos’

Reitor da Universidade de NY diz a CartaCapital que sede do Tea Party contra imigração e aborto também prejudicou imagem de Romney

Obama tem 49% das intenções de voto entre as mulheres. Foto: ©AFP / Brendan Smialowski
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Recentes pesquisas mostram Barack Obama à frente de Mitt Romney na corrida pela presidência dos EUA, ainda que os resultados da economia norte-americana não estejam dentro do desejado pela população e que suas promessas eleitorais mais efusivas venham sendo sabotadas desde 2010 pela maioria republicana no Congresso. Então, o que explicaria o cenário promissor aos democratas nas eleição de novembro?

A resposta seriam as duras ações republicanas em temas como imigração e aborto, defende Rogan Kersh, reitor da Universidade de Nova York para Assuntos Acadêmicos e Ph.D em Ciências Políticas pela conceituada Universidade de Yale, em entrevista por telefone a CartaCapital.

Em meio à linha-dura dos republicanos contra imigrantes ilegais, o presidente dos EUA aparece com ampla vantagem em um importante segmento eleitoral: os latinos, que há quatro anos destinaram 67% de seus votos ao democrata, e representam cerca de 9% do eleitorado do país.

Em 2010, o estado do Arizona aprovou uma lei a criminalizar pela primeira vez a imigração ilegal e a determinar que a polícia estatal detenha suspeitos sem documentos em ordem. A iniciativa foi seguida por Carolina do Sul, Utah e Alabama, mas a Suprema Corte analisa a partir desta quarta-feira 25 a validade da ação. “Quando a administração Obama decidiu processar o Arizona alegando a inconstitucionalidade da lei, a eleição pode ter sido decidida. Foi um movimento muito popular entre os latinos”, afirma Kersh.

O ato do governo, mesmo sem adotar posições em favor da imigração ou trazer soluções para o problema, funcionou tão bem que a decisão da corte importa pouco. “Se a lei for rejeitada, a administração vai poder dizer que derrubou uma medida odiada pela comunidade latina. Caso se decida pela validade, veremos eleitores latinos irritados indo em massa às urnas em novembro para se opor a essa decisão”, argumenta o professor. E o candidato óbvio aos votos é Obama.

Segundo o reitor, os republicanos adotam uma linha de ação “tola” e nada estrategista sobre o tema. “Isso fez com que a administração democrata parecesse ótima em contraste. Essa postura tem sido um fator decisivo a trazer esse público para Obama, que está à frente [entre os latinos] por mais de 48 pontos na maioria das pesquisas, algo quase impossível de reverter.”

Mas para ter chances reais de superar Obama em novembro, Romney teria que equilibrar essa relação e obter entre 45% e 50% do apoio latino, diz o professor. O provável candidato do Tea Party às eleições deste ano, no entanto, se prejudicou profundamente pela própria disputa interna para se firmar como a escolha do partido. “Ele demorou muito para abrir vantagem, os republicanos decidem os candidatos no início das primárias. Romney levou até o meio de abril para uma vitória decisiva, isso significa que gastou mais dinheiro, além de ter que seguir um discurso excessivamente de direita a fim de garantir seu espaço.”

Aproximar-se mais ao extremo da direita nas prévias republicanas, ou da esquerda entre os democratas, é comum para se conquistar o apoio homogêneo dos partidários. No entanto, quanto mais o tempo passa para confirmar a candidatura, mais difícil fica retornar ao centro nas eleições gerais e se apresentar como um candidato viável aos setores mais importantes da sociedade. Um problema enfrentado por Romney. “Creio que seja um pouco tarde para ele fazer esse movimento, porque os eleitores percebem essa ação. Romney precisa do apoio latino, mas nas prévias foi forçado a adotar uma linha dura contra a imigração, uma imagem difícil de desfazer.”

“Ele pode ter danificado suas chances dramaticamente pelas primárias estendidas e não pode recuar, porque já tem uma reputação de inconsistente”, completa.

Mesmo tendo faturado cinco estados nas prévias republicanas na terça-feira 24, Romney ainda enfrenta problemas entre as mulheres, muito em decorrência de ações republicanas em temas como o aborto.

No último ano, destaca Kersh, medidas como a tentativa de cancelar um programa de paternidade programada do sistema de saúde, sob a alegação de que os contribuintes estariam financiando abortos, criaram a impressão da adoção de políticas contra mulheres. “Antes dos últimos problemas em fevereiro, 47% das mulheres abaixo de 50 anos, parcela desejada por votar em grandes grupos, apoiava Obama. Agora são mais de 60% e Romney não conseguirá se eleger presidente com os votos nacionais de apenas 40% das mulheres.”

Entre os eleitores negros, o cenário é dominado por Obama e quase impenetrável aos republicanos. “Todos acreditam que Obama vai voltar a obter mais de 90% desses votos, mas o problema é se eles [negros] vão aparecer nas urnas em altos números como em 2008, uma vez que não viram a gestão de Obama como muito positivo em sua defesa.”

Com o apoio de latinos, negros e mulheres, Obama não deve se esforçar para atrair o voto dos conservadores, acredita Kersh. “Creio que a esperança da campanha democrata é que os conservadores não compareçam às urnas em grande número, pois não estão muito animados com Romney, mesmo que ele tenha se colocado mais à direita nas prévias poucos o veem como um conservador de verdade.”

Por outro lado, o republicano tem um grande quebra-cabeça em mãos. “Romney precisa parecer atrativo à base republicana, construir credibilidade com os conservadores, buscar os eleitores independentes, latinos, mulheres, homens e indecisos. É muito difícil criar uma mensagem com apelo simultâneo a todo esse público. Talvez a sua única esperança seja o declínio da economia americana. Nada mais pode ajudá-lo.”

Abaixo outro trecho da entrevista:

CartaCapital – O senhor acredita que os republicanos podem ter comprometido sua eleição devido à maneira como lidaram com políticas locais?

Rogan Kersh – O que acontece localmente, como problemas de imigração e femininos, pode manchar a imagem do partido. Mas os principais nomes do partido, representantes no Congresso e os pré-candidatos não repudiaram esses temas, até os acolheram. Romney disse que ia se livrar de um programa de gravidez planejada. Essa combinação de políticas locais e o apoio a medidas contra mulheres e latinos em nível nacional ajudaram a fazer a diferença. Se um governador em um estado faz algo estranho e o partido protesta, temos uma história diferente. Além disso, as prévias obrigaram Romney a repudiar assuntos de interesse feminino e imigração, o que o coloca em uma posição difícil.

Recentes pesquisas mostram Barack Obama à frente de Mitt Romney na corrida pela presidência dos EUA, ainda que os resultados da economia norte-americana não estejam dentro do desejado pela população e que suas promessas eleitorais mais efusivas venham sendo sabotadas desde 2010 pela maioria republicana no Congresso. Então, o que explicaria o cenário promissor aos democratas nas eleição de novembro?

A resposta seriam as duras ações republicanas em temas como imigração e aborto, defende Rogan Kersh, reitor da Universidade de Nova York para Assuntos Acadêmicos e Ph.D em Ciências Políticas pela conceituada Universidade de Yale, em entrevista por telefone a CartaCapital.

Em meio à linha-dura dos republicanos contra imigrantes ilegais, o presidente dos EUA aparece com ampla vantagem em um importante segmento eleitoral: os latinos, que há quatro anos destinaram 67% de seus votos ao democrata, e representam cerca de 9% do eleitorado do país.

Em 2010, o estado do Arizona aprovou uma lei a criminalizar pela primeira vez a imigração ilegal e a determinar que a polícia estatal detenha suspeitos sem documentos em ordem. A iniciativa foi seguida por Carolina do Sul, Utah e Alabama, mas a Suprema Corte analisa a partir desta quarta-feira 25 a validade da ação. “Quando a administração Obama decidiu processar o Arizona alegando a inconstitucionalidade da lei, a eleição pode ter sido decidida. Foi um movimento muito popular entre os latinos”, afirma Kersh.

O ato do governo, mesmo sem adotar posições em favor da imigração ou trazer soluções para o problema, funcionou tão bem que a decisão da corte importa pouco. “Se a lei for rejeitada, a administração vai poder dizer que derrubou uma medida odiada pela comunidade latina. Caso se decida pela validade, veremos eleitores latinos irritados indo em massa às urnas em novembro para se opor a essa decisão”, argumenta o professor. E o candidato óbvio aos votos é Obama.

Segundo o reitor, os republicanos adotam uma linha de ação “tola” e nada estrategista sobre o tema. “Isso fez com que a administração democrata parecesse ótima em contraste. Essa postura tem sido um fator decisivo a trazer esse público para Obama, que está à frente [entre os latinos] por mais de 48 pontos na maioria das pesquisas, algo quase impossível de reverter.”

Mas para ter chances reais de superar Obama em novembro, Romney teria que equilibrar essa relação e obter entre 45% e 50% do apoio latino, diz o professor. O provável candidato do Tea Party às eleições deste ano, no entanto, se prejudicou profundamente pela própria disputa interna para se firmar como a escolha do partido. “Ele demorou muito para abrir vantagem, os republicanos decidem os candidatos no início das primárias. Romney levou até o meio de abril para uma vitória decisiva, isso significa que gastou mais dinheiro, além de ter que seguir um discurso excessivamente de direita a fim de garantir seu espaço.”

Aproximar-se mais ao extremo da direita nas prévias republicanas, ou da esquerda entre os democratas, é comum para se conquistar o apoio homogêneo dos partidários. No entanto, quanto mais o tempo passa para confirmar a candidatura, mais difícil fica retornar ao centro nas eleições gerais e se apresentar como um candidato viável aos setores mais importantes da sociedade. Um problema enfrentado por Romney. “Creio que seja um pouco tarde para ele fazer esse movimento, porque os eleitores percebem essa ação. Romney precisa do apoio latino, mas nas prévias foi forçado a adotar uma linha dura contra a imigração, uma imagem difícil de desfazer.”

“Ele pode ter danificado suas chances dramaticamente pelas primárias estendidas e não pode recuar, porque já tem uma reputação de inconsistente”, completa.

Mesmo tendo faturado cinco estados nas prévias republicanas na terça-feira 24, Romney ainda enfrenta problemas entre as mulheres, muito em decorrência de ações republicanas em temas como o aborto.

No último ano, destaca Kersh, medidas como a tentativa de cancelar um programa de paternidade programada do sistema de saúde, sob a alegação de que os contribuintes estariam financiando abortos, criaram a impressão da adoção de políticas contra mulheres. “Antes dos últimos problemas em fevereiro, 47% das mulheres abaixo de 50 anos, parcela desejada por votar em grandes grupos, apoiava Obama. Agora são mais de 60% e Romney não conseguirá se eleger presidente com os votos nacionais de apenas 40% das mulheres.”

Entre os eleitores negros, o cenário é dominado por Obama e quase impenetrável aos republicanos. “Todos acreditam que Obama vai voltar a obter mais de 90% desses votos, mas o problema é se eles [negros] vão aparecer nas urnas em altos números como em 2008, uma vez que não viram a gestão de Obama como muito positivo em sua defesa.”

Com o apoio de latinos, negros e mulheres, Obama não deve se esforçar para atrair o voto dos conservadores, acredita Kersh. “Creio que a esperança da campanha democrata é que os conservadores não compareçam às urnas em grande número, pois não estão muito animados com Romney, mesmo que ele tenha se colocado mais à direita nas prévias poucos o veem como um conservador de verdade.”

Por outro lado, o republicano tem um grande quebra-cabeça em mãos. “Romney precisa parecer atrativo à base republicana, construir credibilidade com os conservadores, buscar os eleitores independentes, latinos, mulheres, homens e indecisos. É muito difícil criar uma mensagem com apelo simultâneo a todo esse público. Talvez a sua única esperança seja o declínio da economia americana. Nada mais pode ajudá-lo.”

Abaixo outro trecho da entrevista:

CartaCapital – O senhor acredita que os republicanos podem ter comprometido sua eleição devido à maneira como lidaram com políticas locais?

Rogan Kersh – O que acontece localmente, como problemas de imigração e femininos, pode manchar a imagem do partido. Mas os principais nomes do partido, representantes no Congresso e os pré-candidatos não repudiaram esses temas, até os acolheram. Romney disse que ia se livrar de um programa de gravidez planejada. Essa combinação de políticas locais e o apoio a medidas contra mulheres e latinos em nível nacional ajudaram a fazer a diferença. Se um governador em um estado faz algo estranho e o partido protesta, temos uma história diferente. Além disso, as prévias obrigaram Romney a repudiar assuntos de interesse feminino e imigração, o que o coloca em uma posição difícil.

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