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Violência política agrava a crise no Egito

Partidários da Irmandade Muçulmana e da oposição secular entram em confronto no Cairo. A sociedade egípcia está fraturada

Manifestante anti-Morsi é protegido pela polícia após briga com partidários da Irmandade Muçulmana. Foto: Mahmoud Khaled / AFP
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Nesta quarta-feira 5 o Egito registrou o avanço mais preocupante de sua vida política desde que o ditador Hosni Mubarak foi derrubado, em fevereiro de 2011. A violência registrada em frente ao palácio presidencial, no Cairo, não foi tão grande como em outros episódios do passado recente, mas chocou. Em vez de manifestantes pró-democracia combatendo tropas de choque, o confronto colocou frente a frente dois grupos diversos de egípcios comuns, marcando com sangue as diferenças políticas entre os partidários da Irmandade Muçulmana e a oposição secular.

Os conflitos desta quarta, em grande parte, podem ser atribuídos à Irmandade Muçulmana. Na terça-feira 4, milhares de manifestantes cercaram o palácio presidencial para protestar contra duas atitudes recentes do presidente Mohamed Morsi (ligado à Irmandade): o decreto constitucional pelo qual se e a para aprovar a nova Constituição, considerada ilegítima pela oposição. Na terça, a administração da crise por parte do governo foi correta: Morsi deixou o palácio, um antigo hotel de luxo transformado em escritório, e a polícia não rechaçou os manifestantes. Nesta quarta, a reação da Irmandade foi um desastre.

O grupo, ao lado de seus aliados salafitas (islamitas radicais), convocou uma marcha “em apoio ao presidente eleito” na frente do palácio ocupado pelos manifestantes anti-Morsi. Em represália, a Corrente Popular, um grupo esquerdista liderado por Hamdeen Sabbahi, terceiro colocado nas eleições presidenciais, pediu a seus partidários que rumassem para o palácio. Não era preciso ser uma gênio para perceber que as convocações provocariam violência.

Quando os dois grupos se encontraram, os confrontos foram violentos e confusos. Os governistas teriam tentado remover à força as tendas montadas pelos manifestantes anti-Morsi, que reagiram. Houve acusações de ambos os lados, que teriam usado pedras, paus, bombas de gás lacrimogêneo e incendiárias e armas contra seus rivais. Há relatos, ainda não confirmados, de que duas pessoas teriam sido assassinadas. A confusão só arrefeceu quando a polícia, geralmente a causadora dos distúrbios, se postou entre os dois lados.

Entenda a crise no Egito:

A atual crise política abriu uma fratura na sociedade egípcia. Em entrevista coletiva, os principais líderes da oposição secular, reunidos na chamada Frente de Salvação Nacional, confirmaram sua união contra Morsi e a Irmandade Muçulmana. O ex-chefe da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA), Mohamed El-Baradei, é o novo líder oposicionista. Seus principais apoiadores são Sabbahi e Amr Moussa, ex-secretário-geral da Liga Árabe. Em sua fala, Baradei atribuiu a violência a Morsi. Disse estar disposto a dialogar com o governo, mas condicionou as negociações à revogação do decreto constitucional e ao adiamento do referendo. Antes, o governo, por meio do vice-presidente, Mahmoud Mekki, prometeu manter as decisões e culpou os opositores pela violência. Morsi, de forma canhestra e semelhante ao que fazia Mubarak, se mantém calado.

Além dos confrontos nas ruas, é preocupante a retórica inflamada e intransigente de governistas e opositores. Sabbahi falou em “resistência” até o fim contra Morsi. El-Baradei classifica o presidente eleito como chefe de um “regime”, mesmo termo usado para designar o governo Mubarak. Os governistas, por sua vez, dizem que aliados de Mubarak é que estão nas ruas, desprezando o óbvio clamor popular. No momento mais agudo da crise política pela qual o Egito passa desde o fim da ditadura, as figuras que ascenderam ao poder por conta de uma revolução democrática agem da forma como a imensa maioria dos líderes árabes agiu por séculos: rejeitando o diálogo democrático e usando as massas para fazer avançar sua política. Não era essa a promessa da Primavera Árabe.

Nesta quarta-feira 5 o Egito registrou o avanço mais preocupante de sua vida política desde que o ditador Hosni Mubarak foi derrubado, em fevereiro de 2011. A violência registrada em frente ao palácio presidencial, no Cairo, não foi tão grande como em outros episódios do passado recente, mas chocou. Em vez de manifestantes pró-democracia combatendo tropas de choque, o confronto colocou frente a frente dois grupos diversos de egípcios comuns, marcando com sangue as diferenças políticas entre os partidários da Irmandade Muçulmana e a oposição secular.

Os conflitos desta quarta, em grande parte, podem ser atribuídos à Irmandade Muçulmana. Na terça-feira 4, milhares de manifestantes cercaram o palácio presidencial para protestar contra duas atitudes recentes do presidente Mohamed Morsi (ligado à Irmandade): o decreto constitucional pelo qual se e a para aprovar a nova Constituição, considerada ilegítima pela oposição. Na terça, a administração da crise por parte do governo foi correta: Morsi deixou o palácio, um antigo hotel de luxo transformado em escritório, e a polícia não rechaçou os manifestantes. Nesta quarta, a reação da Irmandade foi um desastre.

O grupo, ao lado de seus aliados salafitas (islamitas radicais), convocou uma marcha “em apoio ao presidente eleito” na frente do palácio ocupado pelos manifestantes anti-Morsi. Em represália, a Corrente Popular, um grupo esquerdista liderado por Hamdeen Sabbahi, terceiro colocado nas eleições presidenciais, pediu a seus partidários que rumassem para o palácio. Não era preciso ser uma gênio para perceber que as convocações provocariam violência.

Quando os dois grupos se encontraram, os confrontos foram violentos e confusos. Os governistas teriam tentado remover à força as tendas montadas pelos manifestantes anti-Morsi, que reagiram. Houve acusações de ambos os lados, que teriam usado pedras, paus, bombas de gás lacrimogêneo e incendiárias e armas contra seus rivais. Há relatos, ainda não confirmados, de que duas pessoas teriam sido assassinadas. A confusão só arrefeceu quando a polícia, geralmente a causadora dos distúrbios, se postou entre os dois lados.

Entenda a crise no Egito:

A atual crise política abriu uma fratura na sociedade egípcia. Em entrevista coletiva, os principais líderes da oposição secular, reunidos na chamada Frente de Salvação Nacional, confirmaram sua união contra Morsi e a Irmandade Muçulmana. O ex-chefe da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA), Mohamed El-Baradei, é o novo líder oposicionista. Seus principais apoiadores são Sabbahi e Amr Moussa, ex-secretário-geral da Liga Árabe. Em sua fala, Baradei atribuiu a violência a Morsi. Disse estar disposto a dialogar com o governo, mas condicionou as negociações à revogação do decreto constitucional e ao adiamento do referendo. Antes, o governo, por meio do vice-presidente, Mahmoud Mekki, prometeu manter as decisões e culpou os opositores pela violência. Morsi, de forma canhestra e semelhante ao que fazia Mubarak, se mantém calado.

Além dos confrontos nas ruas, é preocupante a retórica inflamada e intransigente de governistas e opositores. Sabbahi falou em “resistência” até o fim contra Morsi. El-Baradei classifica o presidente eleito como chefe de um “regime”, mesmo termo usado para designar o governo Mubarak. Os governistas, por sua vez, dizem que aliados de Mubarak é que estão nas ruas, desprezando o óbvio clamor popular. No momento mais agudo da crise política pela qual o Egito passa desde o fim da ditadura, as figuras que ascenderam ao poder por conta de uma revolução democrática agem da forma como a imensa maioria dos líderes árabes agiu por séculos: rejeitando o diálogo democrático e usando as massas para fazer avançar sua política. Não era essa a promessa da Primavera Árabe.

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