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Unasul não é base para um bloco econômico da América do Sul, diz Samuel Pinheiro Guimarães

Em relatório ao Conselho de Ministros, brasilero defende Mercosul como caminho para desenvolvimento do continente

Imagem: Reprodução
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Apesar de sua importância política, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) não “pode ser a pedra fundamental para a construção do bloco econômico da América do Sul”, que terá de ser formado a partir da expansão gradual do Mercosul. Essa é uma das conclusões do relatório ao Conselho de Ministros do Mercosul elaborado pelo brasileiro Samuel Pinheiro Guimarães, que renunciou na quinta-feira 27 ao posto de Alto Representante Geral do Mercosul por falta de apoio políticos a seus projetos. O documento, ao qual CartaCapital teve acesso, aponta uma série de problemas do bloco, na visão de Guimarães, e propõe soluções para o avanço da integração regional, incluindo a adesão da Venezuela e o ingresso de Equador, Bolívia, Suriname e Guiana ao mercado comum sul-americano.

A consolidação do Mercosul é colocada como prioritária no documento. Apresentado na 43ª Reunião do Conselho de Mercado Comum e Cúpula de Presidentes do Mercosul, que termina nesta sexta-feira 29 em Mendonza, na Argentina, o relatório reforça que em um mundo “multipolar” onde negociações internacionais são importantes para definir normas da atividade econômica dentro e entre os países a  construção de um bloco sul-americano é vital. E isso ocorreria para se defender de negociações impulsionadas por países desenvolvidos que desejam conquistar mercados para suas exportações e proteger suas patentes.

Para construir esse bloco, no entanto, é preciso aumentar as relações de cooperação econômica e política com os países da América do Sul a fim de favorecer a eventual integração destas nações no bloco. Enquanto isso, ações mais imediatas e específicas poderiam ser tomadas. Entre elas, Guimarães defende condições especiais para o ingresso de Equador, Bolívia, Suriname e Guiana no Mercosul devido ao nível de desenvolvimento destes países e seus interesses políticos individuais para a adesão ao mercado comum.

Essa expansão geográfica enfrenta, porém, interesses diversos de países de fora do grupo. O documento crítica Chile, a Colômbia e o Peru, por adotarem estratégias de inserção internacional que levaram à utilização “de certas normas comerciais, de investimentos, de capital estrangeiro, de propriedade intelectual que dificultam e até impossibilitam a construção de políticas regionais de promoção do desenvolvimento.” O interesse limitado destes países no comércio com a América do Sul pode ser evidenciado com dados da Organização Mundial do Comercio (OMC). Os seus maiores parceiros comerciais são, em geral, Estados Unidos, União Europeia e China. Os maiores compradores de produtos do Chile são China, União Europeia, Japão e EUA. O Brasil é apenas o quinto colocado. Nas importações, o cenário é semelhante: Argentina e Brasil aparecem apenas em quarto e quinto lugares, respectivamente. O cenário das trocas com Peru, onde sequer há um país latino americano entre os cinco maiores destinos de exportação de seus produtos, e Colômbia é semelhante.

Deficiências estruturais no Mercosul

Os investimentos em infraestrutura são fundamentais para uma integração completa. E o relatório aponta que as deficiências em transporte, energia, saneamento e comunicações nos países do bloco prejudicam a expansão da atividade produtiva e comercial, fundamentais para a “formação de mercados internos nacionais e regional mais dinâmicos, capazes de absorver a mão-de-obra, de agregar valor e elevar o nível de renda e de desenvolvimento humano”, diz o documento. Em meio a isso, a industrialização também é apresentada como quesito chave para a evolução dos países do Mercosul. Segundo o texto, há elevado grau de urbanização nos sociedades do bloco e “baixa capacidade de absorção de mão-de-obra da agricultura de grande escala e da mineração”. Logo, o desenvolvimento do setor industrial geraria empregos e reduziria a pobreza, levando ao progresso social.

A influência negativa nos integrantes do Mercosul das políticas adotadas por países ricos para sair da crise é criticada por Guimarães. Segundo ele, essas medidas aumentam a oferta de dólares e euros nos mercados cambiais, valorizando as moedas dos países do Mercosul. Isso faz com que essas nações percam competitividade com as exportações, pois seus produtos ficam mais caros. Além disso, a concorrência enfrentada pela indústria local com importações baratas leva a desindustrialização das economias do bloco. “A facilidade de importar e a alta demanda por minérios e produtos agrícolas desestimula novos investimentos na indústria e atrair maiores investimentos na mineração e agropecuária. Isso prejudica o desenvolvimento do Mercosul e seus membros”, ressalta o relatório.

Guimarães ainda chama atenção para o desconhecimento dos Estados e das sociedades sobre o Mercosul, o que também prejudica a aceleração da integração do bloco. Por isso, indica o documento, seria necessário destacar programas já desenvolvidos, como o Focem (Fundo para Convergência Estrutural do Mercosul), o acordo de previdência social e o acordo sobre visto de residência.

Apesar de sua importância política, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) não “pode ser a pedra fundamental para a construção do bloco econômico da América do Sul”, que terá de ser formado a partir da expansão gradual do Mercosul. Essa é uma das conclusões do relatório ao Conselho de Ministros do Mercosul elaborado pelo brasileiro Samuel Pinheiro Guimarães, que renunciou na quinta-feira 27 ao posto de Alto Representante Geral do Mercosul por falta de apoio políticos a seus projetos. O documento, ao qual CartaCapital teve acesso, aponta uma série de problemas do bloco, na visão de Guimarães, e propõe soluções para o avanço da integração regional, incluindo a adesão da Venezuela e o ingresso de Equador, Bolívia, Suriname e Guiana ao mercado comum sul-americano.

A consolidação do Mercosul é colocada como prioritária no documento. Apresentado na 43ª Reunião do Conselho de Mercado Comum e Cúpula de Presidentes do Mercosul, que termina nesta sexta-feira 29 em Mendonza, na Argentina, o relatório reforça que em um mundo “multipolar” onde negociações internacionais são importantes para definir normas da atividade econômica dentro e entre os países a  construção de um bloco sul-americano é vital. E isso ocorreria para se defender de negociações impulsionadas por países desenvolvidos que desejam conquistar mercados para suas exportações e proteger suas patentes.

Para construir esse bloco, no entanto, é preciso aumentar as relações de cooperação econômica e política com os países da América do Sul a fim de favorecer a eventual integração destas nações no bloco. Enquanto isso, ações mais imediatas e específicas poderiam ser tomadas. Entre elas, Guimarães defende condições especiais para o ingresso de Equador, Bolívia, Suriname e Guiana no Mercosul devido ao nível de desenvolvimento destes países e seus interesses políticos individuais para a adesão ao mercado comum.

Essa expansão geográfica enfrenta, porém, interesses diversos de países de fora do grupo. O documento crítica Chile, a Colômbia e o Peru, por adotarem estratégias de inserção internacional que levaram à utilização “de certas normas comerciais, de investimentos, de capital estrangeiro, de propriedade intelectual que dificultam e até impossibilitam a construção de políticas regionais de promoção do desenvolvimento.” O interesse limitado destes países no comércio com a América do Sul pode ser evidenciado com dados da Organização Mundial do Comercio (OMC). Os seus maiores parceiros comerciais são, em geral, Estados Unidos, União Europeia e China. Os maiores compradores de produtos do Chile são China, União Europeia, Japão e EUA. O Brasil é apenas o quinto colocado. Nas importações, o cenário é semelhante: Argentina e Brasil aparecem apenas em quarto e quinto lugares, respectivamente. O cenário das trocas com Peru, onde sequer há um país latino americano entre os cinco maiores destinos de exportação de seus produtos, e Colômbia é semelhante.

Deficiências estruturais no Mercosul

Os investimentos em infraestrutura são fundamentais para uma integração completa. E o relatório aponta que as deficiências em transporte, energia, saneamento e comunicações nos países do bloco prejudicam a expansão da atividade produtiva e comercial, fundamentais para a “formação de mercados internos nacionais e regional mais dinâmicos, capazes de absorver a mão-de-obra, de agregar valor e elevar o nível de renda e de desenvolvimento humano”, diz o documento. Em meio a isso, a industrialização também é apresentada como quesito chave para a evolução dos países do Mercosul. Segundo o texto, há elevado grau de urbanização nos sociedades do bloco e “baixa capacidade de absorção de mão-de-obra da agricultura de grande escala e da mineração”. Logo, o desenvolvimento do setor industrial geraria empregos e reduziria a pobreza, levando ao progresso social.

A influência negativa nos integrantes do Mercosul das políticas adotadas por países ricos para sair da crise é criticada por Guimarães. Segundo ele, essas medidas aumentam a oferta de dólares e euros nos mercados cambiais, valorizando as moedas dos países do Mercosul. Isso faz com que essas nações percam competitividade com as exportações, pois seus produtos ficam mais caros. Além disso, a concorrência enfrentada pela indústria local com importações baratas leva a desindustrialização das economias do bloco. “A facilidade de importar e a alta demanda por minérios e produtos agrícolas desestimula novos investimentos na indústria e atrair maiores investimentos na mineração e agropecuária. Isso prejudica o desenvolvimento do Mercosul e seus membros”, ressalta o relatório.

Guimarães ainda chama atenção para o desconhecimento dos Estados e das sociedades sobre o Mercosul, o que também prejudica a aceleração da integração do bloco. Por isso, indica o documento, seria necessário destacar programas já desenvolvidos, como o Focem (Fundo para Convergência Estrutural do Mercosul), o acordo de previdência social e o acordo sobre visto de residência.

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