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Trump e o populismo de direita na Alemanha

AfD manifestou entusiasmo após eleição do novo presidente dos EUA, de quem se vê como aliada natural

Petry: ela lidera a extrema-direita alemã
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Por Kay-Alexander Scholz

O partido populista Alternativa para a Alemanha (AfD) foi um dos primeiros a cumprimentar o republicano Donald Trump pela vitória na eleição presidencial dos Estados Unidos. Num telegrama de felicitações enviado no dia da eleição, os presidentes do partido, Frauke Petry e Jörg Meuthen, disseram que a AfD é uma aliada natural de Trump. O gesto foi seguido por declarações semelhantes de outros membros da agremiação.

Não existem pesquisas sobre o tema, mas é presumível que boa parte da base do partido também esteja entusiasmada com a eleição de Trump. Quem circula por eventos da AfD ouve com frequência o conceito “Populista Internacional”. O principal objetivo desse movimento seria derrubar as elites políticas, e a eleição de Trump é vista como um importante passo nesse sentido.

Para o cientista político Hendrik Träger, AfD e Trump se vangloriam de “ouvir a voz do povo”. Além disso, ambos defendem posições nacionalistas. Já o cientista político Werner J. Patzelt afirma que tanto Trump como os populistas alemães preenchem uma lacuna de representatividade. “Uma parte significativa da população não se sente representada pela classe político-midiática e agora encontrou uma válvula de escape.”

Segundo Patzelt, Trump cria na AfD a expectativa de, finalmente, a Casa Branca ser ocupada por um político “como ele deveria ser”, por alguém que “não só fala, mas também faz”. Afinal, quem precisa de negociações modorrentas se basta assinar um decreto presidencial?

Trump é bem diferente da AfD

As similaridades, porém, acabam por aí, garantem os dois especialistas. Um fenômeno como Trump dificilmente aconteceria na Alemanha, onde há partidos políticos com uma forte hierarquia interna e um sistema de governo parlamentarista. Além disso, não há um multimilionário na cúpula da AfD, alguém capaz de tomar o partido de assalto.

Träger chama a atenção para mais uma diferença. “Trump é um one man show, já a AfD é um partido heterogêneo.” Segundo ele, trata-se de “uma salada de frutas sem um denominador comum e que, até agora, conseguiu empurrar as divergências para debaixo do tapete”. Um dos efeitos do fenômeno Trump pode justamente ser fomentar o potencial de divisão interna do partido. Para Träger, as aventuras de Trump podem ter um efeito inibidor. Em consequência, as alas internas podem se afastar ainda mais.

Patzelt também considera possível um efeito inibidor. Para ele, os ventos favoráveis só vão soprar até ficar claro que “esse homem vai conduzir seu país para o buraco”. Aí também a AfD vai dizer: “Salve-se quem puder, e por favor não nos associem a Trump”.

Patzelt avalia que Trump pode ensinar mais uma coisa aos simpatizantes da AfD. “Uma política nacionalista inconsequente gera mais prejuízos do que ganhos”, e isso pode elevar a percepção de que “uma potência como a Alemanha, com sua posição central complexa, está mais bem servida com um multilateralismo cauteloso”, afirma.

 

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