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Troika e Chipre firmam acordo às pressas para plano de resgate financeiro
Acordo prevê um regaste de 10 bilhões de euros, o confisco de depósitos acima de 100 mil euros e a liquidação do segundo maior banco da ilha que serve como paraíso fiscal europeu
BRUXELAS (AFP) – A Eurozona e Chipre chegaram a um acordo de última hora na madrugada desta segunda-feira 25 para conseguir um plano de resgate para ilha de 10 bilhões de euros. O acordo firmado com a troika (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), no entanto, exige como contrapartida a liquidação do segundo banco cipriota e um confisco de 30% em todos os depósitos bancários acima de 100 mil euros na ilha, que servia como paraíso fiscal. A principal diferença entre o acordo desta segunda e as propostas anteriores foi a decisão de manter intocáveis os depósitos bancários inferiores a 100 mil euros, que, caso fossem taxados, representariam uma medida altamente impopular.
“O acordo acaba com a incerteza em Chipre e na zona do euro”, afirmou o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, após as complexas negociações. “Evitamos o desastre e a saída do país da zona do euro”, afirmou o ministro das Finanças cipriota, Michalis Sarris.
O novo acordo prevê o fechamento e liquidação do Banco Laiki, o segundo maior do país, que se dividirá em um banco bom e um banco ruim. Já o Banco de Chipre (Bank of Cyprus), o maior do país em volume, permanecerá em funcionamento, em troca de um confisco, que alcançará 30% nos depósitos superiores a 100 mil euros no Bank of Cyprus.
No final da semana passada, o Banco Central Europeu (BCE) havia ameaçado interromper as medidas para fornecer liquidez aos bancos cipriotas caso um acordo não fosse concluído até segunda-feira.
A negociação às pressas, porém, deixa algumas pontas soltas: nem os dirigentes europeus nem as autoridades cipriotas especificaram quando os bancos do país serão reabertos. Além disso, a partir de agora, os bancos da ilha estão submetidos à lei de restrição de movimento de capitais.
“Temos que encontrar um equilíbrio entre prudência e estabilidade. Vamos decidir o mais rápido possível o dia exato de reabertura dos bancos”, disse o ministro de finanças cipriota, sem garantir que a reabertura aconteceria nesta terça-feira 26, conforme era prevista.
Para alcançar um acordo, o presidente cipriota, Nicos Anastasiadis, esteve reunido durante várias horas com os presidentes do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, e da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, além da diretora geral do FMI, Christine Lagarde, do presidente do BCE, Mario Draghi, do presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, e com o vice-presidente do bloco europeu, Olli Rehn.
A ideia inicial de impor uma taxa excepcional aos depósitos bancários provocou revolta na opinião pública e culminou na rejeição da proposta pelo Parlamento cipriota na terça-feira da semana passada. Isso obrigou o governo do país a entrar em uma corrida contra o tempo em busca de outras alternativas.
Como evitar o colapso
Chipre se comprometeu com Bruxelas a arrecadar sete bilhões de euros (mais de um terço de seu PIB) em troca do resgate de 10 bilhões de euros concedido pela zona do euro e o FMI, valor que financiará o país durante os próximos três anos.
Diante das ameaças à economia do país, os deputados cipriotas adotaram na noite de sexta-feira as primeiras medidas: reestruturação do setor bancário, criação de um fundo de solidariedade e restrição do movimento de capitais.
Os países da Eurozona queriam uma solução no caso do Chipre para evitar um contágio na Grécia, Espanha e Itália, os países mais afetados do bloco.
Na ilha, onde os bancos permanecem fechados há uma semana, o pânico e a revolta dos correntistas, temerosos de perder suas economias ou fundos de pensões, é cada vez maior. O sindicato dos bancários do país ameaça fazer uma greve, caso não sejam apresentadas garantias para os fundos de pensões.
Com o acordo, a troika de credores (FMI, BCE e UE) espera desmantelar o hipertrofiado setor financeiro cipriota.
Muito expostos ao setor imobiliário e à dívida grega, os bancos cipriotas ofereciam juros muito altos e impostos reduzidos, um grande atrativo para os milionários russos, muitos deles ligados à máfia.
Como resultado, o país tinha um setor bancário seis maior que o tamanho de sua economia. Desde o início das negociações, Chipre tentou limitar o impacto aos grandes correntistas de seus bancos, a maioria não residentes na ilha. O FMI não queria o aumento da dívida do país após o acordo, o que a tornaria insustentável.
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