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Silêncio dos EUA sobre míssil indiano faz parte de xadrez geopolítico

Analistas defendem que o apoio norte-americano à candidatura indiana ao Conselho de Segurança da ONU e o silêncio sobre os testes de mísseis visam enfrentar avanço geopolítico chinês

Lançamento do míssil de longo alcance Agni V. Foto: ©AFP / Indian Defence Ministry
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A Índia realizou com sucesso, na quinta-feira 19, o lançamento de um novo míssil de longo alcance intercontinental com capacidade nuclear. O teste se deu poucos dias depois da crise diplomática provocada por uma operação similar da Coreia do Norte, mas – ao contrário do ocorrido com relação a Pyongyang – o lançamento indiano foi acompanhado de um silêncio incomum por parte do governo dos Estados Unidos. Não é difícil explicar a contradição. Ela é parte da política externa de Washington.

O silêncio norte-americano indica um apoio velado à militarização indiana. “A Índia é um ator com tecnologia nuclear, que possui rivalidades históricas com a China, e que os EUA querem trazer para o seu lado” afirma Alexandre Ratsuo Uehara, analista de integração econômica asiática do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP). Segundo Uehara, a expansão geopolítica e o crescimento do orçamento militar chinês preocupam os EUA. E a Índia desempenha papel estratégico para conter Pequim. “Os EUA apoiam a candidatura da Índia para o Conselho de Segurança da ONU, mesmo ela sendo um país com armas atômicas, e fecha os olhos para testes como esse com o intuito de limitar a expansão geopolítica chinesa”, diz.

A região da Ásia-Pacífico se tornou elemento central para o novo jogo geopolítico traçado pelo Pentágono. Segundo uma estimativa do instituto americano de pesquisa IHS, realizada em fevereiro, o orçamento de Defesa chinês duplicará até 2015 e superará todos os gastos militares somados das grandes potências da região Ásia-Pacífico. Com isso, os gastos militares chineses em 2015 alcançarão 238,2 bilhões de dólares, cerca de 32% do investimento norte-americano na área. Contudo, projeções da revista The Economist indicam que, com a afirmação da China como maior potência econômica já em 2016, os EUA perderão o posto de maiores investidores do setor de Defesa para o gigante asiático até 2025.

Guerra-Fria moderna


Com o objetivo de impedir a hegemonia militar chinesa na região do Pacífico, Índico e da Ásia, o governo de Barack Obama anunciou, no início do ano, novas bases militares na Austrália e nas Filipinas. Foi um claro aviso a Pequim. “Esse movimento norte-americano é semelhante à política externa adotada na Guerra Fria. Com o intuito de criar um cordão de isolamento, os Estados Unidos patrocinam ou fomentam parcerias comerciais e diplomáticas com países vizinhos da China para limitar sua atuação”, diz Uehara.

Atualmente, os principais aliados dos EUA na região são Japão, Coreia do Sul, Filipinas e Austrália – do lado oriental do território chinês. Já do lado oeste, o cordão de isolamento conta com o apoio da Europa, Afeganistão e Índia. A tensão entre EUA e China também afeta o Oriente Médio. As divergências entre os dois países a respeito do que fazer com a respeito do levante na Síria e do programa nuclear do Irã são influenciadas por uma disputa aos recursos naturais da região.

Corrida armamentista


Classificado como “um avanço maiúsculo no programa de mísseis da Índia” pelo ministro da Defesa, A.K. Anthony, o míssil Agni V – de 50 toneladas e 17 metros de altura – faz parte de uma corrida armamentista travada no Extremo Oriente, segundo Evaldo Alves, professor de negócios internacionais e comércio exterior da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Com o Agni V, a Índia se insere no seleto grupo de países com mísseis balísticos intercontinentais, formado por China, Rússia, França, Estados Unidos e Reino Unido. “Esse é apenas mais um passo indiano e que faz parte de um conjunto de medidas iniciado há anos para desenvolver uma defesa forte e moderna”, afirma Alves. Hoje, a Índia possui o terceiro maior exército do mundo em efetivo – atrás apenas da China e dos EUA – e está entre os dez países que mais investem em Defesa.

Para Alves, a Índia nunca deixou de se desenvolver belicamente. “Utilizando o argumento de se proteger do vizinho Paquistão, a Índia desenvolveu sua bomba atômica e permanece não signatária do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP).” Esse argumento foi repetido agora. O governo da Índia diz que o novo armamento serve para garantir a paz. O porta-voz da agência responsável pelo desenvolvimento de tecnologias militares (DRDO), Ravi Gupta, diz que o míssil tem “um efeito dissuasivo para evitar as guerras e não foi desenvolvido contra nenhum país em particular”.

Evaldo Alves enxerga o investimento bélico indiano como algo normal. “A expansão econômica é inevitavelmente acompanhada por uma expansão militar”, afirma. Até mesmo o Brasil, diz ele, conhecido por pregar um discurso diplomático pacifista, desenvolve de forma lenta seu programa atômico. “O jeitinho brasileiro é lento, mas não há como esconder que possuímos um programa atômico. O desenvolvimento de um submarino atômico com tecnologia nacional e os acordos em torno da base de lançamento de Alcântara revelam isso”, diz. Ao contrário da Índia, entretanto, o Brasil possui uma série de dispositivos legais que impedem a transformação de um programa nuclear civil, como o atual, em uma empreitada com fins militares. Além de ser signatário do TNP, o Brasil é impedido por sua própria Constituição de realizar atividades nucleares que não tenham “fins pacíficos”.

*Com informações da Agência France Press

A Índia realizou com sucesso, na quinta-feira 19, o lançamento de um novo míssil de longo alcance intercontinental com capacidade nuclear. O teste se deu poucos dias depois da crise diplomática provocada por uma operação similar da Coreia do Norte, mas – ao contrário do ocorrido com relação a Pyongyang – o lançamento indiano foi acompanhado de um silêncio incomum por parte do governo dos Estados Unidos. Não é difícil explicar a contradição. Ela é parte da política externa de Washington.

O silêncio norte-americano indica um apoio velado à militarização indiana. “A Índia é um ator com tecnologia nuclear, que possui rivalidades históricas com a China, e que os EUA querem trazer para o seu lado” afirma Alexandre Ratsuo Uehara, analista de integração econômica asiática do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP). Segundo Uehara, a expansão geopolítica e o crescimento do orçamento militar chinês preocupam os EUA. E a Índia desempenha papel estratégico para conter Pequim. “Os EUA apoiam a candidatura da Índia para o Conselho de Segurança da ONU, mesmo ela sendo um país com armas atômicas, e fecha os olhos para testes como esse com o intuito de limitar a expansão geopolítica chinesa”, diz.

A região da Ásia-Pacífico se tornou elemento central para o novo jogo geopolítico traçado pelo Pentágono. Segundo uma estimativa do instituto americano de pesquisa IHS, realizada em fevereiro, o orçamento de Defesa chinês duplicará até 2015 e superará todos os gastos militares somados das grandes potências da região Ásia-Pacífico. Com isso, os gastos militares chineses em 2015 alcançarão 238,2 bilhões de dólares, cerca de 32% do investimento norte-americano na área. Contudo, projeções da revista The Economist indicam que, com a afirmação da China como maior potência econômica já em 2016, os EUA perderão o posto de maiores investidores do setor de Defesa para o gigante asiático até 2025.

Guerra-Fria moderna


Com o objetivo de impedir a hegemonia militar chinesa na região do Pacífico, Índico e da Ásia, o governo de Barack Obama anunciou, no início do ano, novas bases militares na Austrália e nas Filipinas. Foi um claro aviso a Pequim. “Esse movimento norte-americano é semelhante à política externa adotada na Guerra Fria. Com o intuito de criar um cordão de isolamento, os Estados Unidos patrocinam ou fomentam parcerias comerciais e diplomáticas com países vizinhos da China para limitar sua atuação”, diz Uehara.

Atualmente, os principais aliados dos EUA na região são Japão, Coreia do Sul, Filipinas e Austrália – do lado oriental do território chinês. Já do lado oeste, o cordão de isolamento conta com o apoio da Europa, Afeganistão e Índia. A tensão entre EUA e China também afeta o Oriente Médio. As divergências entre os dois países a respeito do que fazer com a respeito do levante na Síria e do programa nuclear do Irã são influenciadas por uma disputa aos recursos naturais da região.

Corrida armamentista


Classificado como “um avanço maiúsculo no programa de mísseis da Índia” pelo ministro da Defesa, A.K. Anthony, o míssil Agni V – de 50 toneladas e 17 metros de altura – faz parte de uma corrida armamentista travada no Extremo Oriente, segundo Evaldo Alves, professor de negócios internacionais e comércio exterior da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Com o Agni V, a Índia se insere no seleto grupo de países com mísseis balísticos intercontinentais, formado por China, Rússia, França, Estados Unidos e Reino Unido. “Esse é apenas mais um passo indiano e que faz parte de um conjunto de medidas iniciado há anos para desenvolver uma defesa forte e moderna”, afirma Alves. Hoje, a Índia possui o terceiro maior exército do mundo em efetivo – atrás apenas da China e dos EUA – e está entre os dez países que mais investem em Defesa.

Para Alves, a Índia nunca deixou de se desenvolver belicamente. “Utilizando o argumento de se proteger do vizinho Paquistão, a Índia desenvolveu sua bomba atômica e permanece não signatária do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP).” Esse argumento foi repetido agora. O governo da Índia diz que o novo armamento serve para garantir a paz. O porta-voz da agência responsável pelo desenvolvimento de tecnologias militares (DRDO), Ravi Gupta, diz que o míssil tem “um efeito dissuasivo para evitar as guerras e não foi desenvolvido contra nenhum país em particular”.

Evaldo Alves enxerga o investimento bélico indiano como algo normal. “A expansão econômica é inevitavelmente acompanhada por uma expansão militar”, afirma. Até mesmo o Brasil, diz ele, conhecido por pregar um discurso diplomático pacifista, desenvolve de forma lenta seu programa atômico. “O jeitinho brasileiro é lento, mas não há como esconder que possuímos um programa atômico. O desenvolvimento de um submarino atômico com tecnologia nacional e os acordos em torno da base de lançamento de Alcântara revelam isso”, diz. Ao contrário da Índia, entretanto, o Brasil possui uma série de dispositivos legais que impedem a transformação de um programa nuclear civil, como o atual, em uma empreitada com fins militares. Além de ser signatário do TNP, o Brasil é impedido por sua própria Constituição de realizar atividades nucleares que não tenham “fins pacíficos”.

*Com informações da Agência France Press

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