Cultura

Salman Rushdie, um gigante literário ainda cercado por preconceitos

O aclamado autor, que vai publicar uma muito esperada memória sobre a década que passou escondido da fatwa assassina, sofre mais uma vez a ameaça de fanáticos por causa dos Versos Satânicos

O aclamado autor, que vai publicar uma muito esperada memória sobre a década que passou escondido da fatwa assassina, sofre mais uma vez a ameaça de fanáticos por causa dos Versos Satânicos. Foto:Shaun Curry/AFP
Apoie Siga-nos no

Por Andrew Anthony

Depois de vários dias de rumores, foi confirmado na semana passada que Salman Rushdie cancelou sua participação no Festival de Literatura de Jaipur, na Índia, o maior e mais prestigioso encontro literário da Ásia. Rushdie explicou sua decisão no Twitter: “Disseram-me que a máfia de Mumbai enviou armas para dois atiradores me ‘eliminarem’. Então farei um vídeo-link.”

Quem pode culpá-lo? Não há nada como ser alvo de uma trama de assassinato para fazer um vídeo-link parecer a opção mais prudente. Quando se mencionou que Rushdie estaria presente em Jaipur, o Darul Uloom Deoband, um influente seminário islâmico fundamentalista no estado vizinho de Uttar Pradesh, pediu que seu visto fosse cancelado. Mas Rushdie nasceu na Índia, como ele mesmo notou secamente, e não precisaria de visto.

Como a abordagem “diplomática” para afastá-lo havia falhado, alguns de seus adversários religiosos recorreram a um meio de censura mais confiável: a ameaça de morte. O fato deprimente é que quase 23 anos depois que o aiatolá Khomeini emitiu sua fatwa (espécie de resposta a um questionamento nas leis do Islã) ordenando a morte de Rushdie, e 13 anos depois que o governo iraniano prometeu parar de apoiar seu assassinato, o romancista ainda é alvo de ordens de execução sumária.

Mas seria errado ver este último exemplo de intimidação como apenas mais um caso de exagerada sensibilidade religiosa ao livro Os Versos Satânicos. Afinal, alguns religiosos estão em estado permanente de fúria assassina, mas isso não impediu que Rushdie fizesse várias visitas à Índia na última década, incluindo uma participação em Jaipur em 2007.

Assim como os protestos britânicos originais contra Os Versos Satânicos em 1988 foram criação da política provinciana na Índia, esse último furor foi fabricado para conquistar vantagem local. Uma eleição logo deverá ocorrer em Uttar Pradesh, onde quase 20% dos eleitores são muçulmanos. Com os grupos religiosos ameaçando mobilizar esse tipo de bloco eleitoral, o partido governista no Congresso claramente decidiu que era hora de mostrar determinação.

“Rushdie feriu os sentimentos de muitos indianos”, anunciou Chandrabhan Singh, chefe do Partido do Congresso no Rajastão, estado onde se situa Jaipur. “Ele não deve ter permissão para entrar na Índia.”

Rushdie não era mais bem-vindo. O romancista Hari Kunzru, que deveria aparecer com o escritor mais velho em Jaipur, considerou a ausência de Rushdie “uma mancha para a reputação internacional da Índia”. Não havia qualquer plano de discutir Os Versos Satânicos, mas, para provar o absurdo dessa comoção, Kunzru decidiu “desafiar os preconceituosos e os atiradores de sapatos”, assim como os organizadores do evento, fazendo uma leitura daquele texto absurdamente incompreendido. Era mais que uma mera resistência literária simbólica, porque Os Versos Satânicos ainda são proibidos na Índia, que goza da duvidosa honra de ter sido o primeiro país a banir o livro.

Essa pequena saga em Jaipur salienta o fato de que pouco mudou nas últimas três décadas. O cinismo político ainda usa as roupas da sensibilidade multicultural e a postura da tolerância continua ajoelhada diante da intolerância.

A ironia é que Rushdie dificilmente é um rebelde hoje em dia. Se antes ele foi um cronista destemido e irreverente das crescentes dores do subcontinente indiano, há tempo seus romances deixaram de lidar abertamente com temas polêmicos. Mesmo sua reação ao caso de Jaipur foi comedida e discreta, como se ele temesse tornar-se o tema de mais uma disputa fabricada.

A fatwa, e a década que ele viveu sob proteção policial em uma série de locais secretos, inevitavelmente deixaram sua marca em Rushdie e em sua ficção. Raramente a energia criativa de um escritor teve de suportar um choque tão devastador. Fora a pressão de viver sob uma sentença de morte, Rushdie também teve de enfrentar o afastamento da Índia, a realidade pujante que dava a sua imaginação um propósito tão vívido.

Nascido e criado em Mumbai, Rushdie foi o filho único de um empresário têxtil bem-sucedido que insistiu em mandá-lo à Inglaterra para frequentar a escola de rúgbi. Afastado do frenesi e das cores do grande porto indiano, ele foi “muito infeliz” vivendo no campo inglês.

Depois se formar em história em Cambridge, e de um período como redator de publicidade — teria inventado o slogan “Feios, mas bons” para bolos de creme –, ele publicou seu primeiro romance, Grimus, aos 28 anos. Não foi um triunfo, mas seis anos depois Os Filhos da Meia-Noite ganhou o prêmio Booker e inaugurou uma era de literatura intercontinental pós-colonial. Ele foi seguido por Vergonha, que foi indicado ao Booker, e depois Os Versos Satânicos.

Não que Rushdie tenha se escondido dos problemas depois disso, pois ele foi claro em sua condenação do fundamentalismo religioso e do relativismo cultural que o desculpa, mas seus instintos ficcionais pareceram se tornar menos antagônicos e mais elípticos. Novelas como O Último Suspiro do Mouro e Shalimar, o Equilibrista, embora ousadas e complexas, não têm a vitalidade de sua obra anterior. E, não desejando ser definido pelo decreto de Khomeini, e sem dúvida ansioso por não prolongar sua situação, ele também tendeu a evitar falar sobre a fatwa em entrevistas.

“Sempre fui um escritor interessado por política”, disse em 2008, “e então acho que tive uma dose excessiva dela. Tome cuidado com o que você deseja. E uma das consequências disso para minha sensibilidade é me fazer recuar do discurso público. Eu quero ficar apenas em casa, escrever histórias e publicá-las com intervalo de alguns anos. É por isso que entrei no jogo, não para ser um importante porta-voz público sobre questões políticas.”

Mas no final deste ano Rushdie vai publicar uma memória sobre a década perdida na qual ele quase sofreu uma overdose política e pela primeira vez vai explorar sua experiência da fatwa. Ele levou quase um quarto de século para tanto, porque “precisava ter uma distância verdadeira do material, para que pudesse abordá-lo como um projeto literário, e não como uma confissão para a Oprah. Eu não queria que fosse uma espécie de desabafo.”

O Times já a chamou de “a mais importante memória literária do século 21”. Quer isso se comprove ou não, certamente é o livro mais ansiosamente esperado desde Experience, de seu amigo Martin Amis, em 2000. Por mais bizarra que a mensagem de ódio de Khomeini no Dia de São Valentim tenha parecido na época, a fatwa marcou um dos grandes movimentos tectônicos na paisagem cultural do século 20, cujas reverberações continuam a ser sentidas em todo o mundo.

O falecido amigo de Rushdie Christopher Hitchens afirmou que ele imediatamente reconheceu a fatwa como a salva inicial de uma nova guerra, que seria confirmada de forma mais drástica em 11 de setembro de 2001. Será interessante ver o que Rushdie realmente sentiu dentro do claustrofóbico ventre da história.

Muitos assassinatos e tentativas foram inspirados pela fatwa, mas a primeira baixa foi o casamento de Rushdie com a romancista Marianne Wiggins. O casal se separou alguns meses depois que ele foi obrigado a se esconder, e embora nunca tenha entrado em detalhes Rushdie deixou claro que a separação não foi amigável. A memória deverá levantar o véu sobre aquelas dolorosas semanas de reclusão comum.

Wiggins foi a segunda esposa de Rushdie, e ele acrescentou outras duas a lista e um segundo filho, Milan — o mais velho, Zafar, é do primeiro casamento com a falecida Clarissa Luard. Apesar de a ruptura com Wiggins obviamente ter doído, a união mais injuriosa de Rushdie, pelo menos em termos de exposição ao público, foi seu casamento de três anos com a atriz e modelo indiano-americana Padma Lakshmi.

Vinte e três anos mais jovem, com uma acentuada fraqueza pela vida de celebridade, Lakshmi conheceu Rushdie na festa de lançamento em Manhattan da malfadada revista Talk, um título adequado nesse caso. As pessoas falaram, mas pelo menos Lakshmi desviou a imagem pública de Rushdie para longe da de uma vítima da tirania religiosa. Infelizmente, foi para a de uma vítima da loucura romântica. Uma consequência disso é que os relacionamentos de Rushdie desde então atraíram mais atenção que seus livros.

A memória da fatwa deverá corrigir esse erro. É um tema extremamente amplo, mas profundamente íntimo, muito adequado para um escritor cujo melhor trabalho sempre combinou amplidão histórica com profundidade psicológica. “Nossas vidas nos ensinam quem somos”, escreveu Rushdie.

Das muitas lições que a história de sua vida pode oferecer, a mais importante é a que as autoridades indianas decidiram não aprender: ceda aos gângsteres e eles sempre exigirão mais.

Por Andrew Anthony

Depois de vários dias de rumores, foi confirmado na semana passada que Salman Rushdie cancelou sua participação no Festival de Literatura de Jaipur, na Índia, o maior e mais prestigioso encontro literário da Ásia. Rushdie explicou sua decisão no Twitter: “Disseram-me que a máfia de Mumbai enviou armas para dois atiradores me ‘eliminarem’. Então farei um vídeo-link.”

Quem pode culpá-lo? Não há nada como ser alvo de uma trama de assassinato para fazer um vídeo-link parecer a opção mais prudente. Quando se mencionou que Rushdie estaria presente em Jaipur, o Darul Uloom Deoband, um influente seminário islâmico fundamentalista no estado vizinho de Uttar Pradesh, pediu que seu visto fosse cancelado. Mas Rushdie nasceu na Índia, como ele mesmo notou secamente, e não precisaria de visto.

Como a abordagem “diplomática” para afastá-lo havia falhado, alguns de seus adversários religiosos recorreram a um meio de censura mais confiável: a ameaça de morte. O fato deprimente é que quase 23 anos depois que o aiatolá Khomeini emitiu sua fatwa (espécie de resposta a um questionamento nas leis do Islã) ordenando a morte de Rushdie, e 13 anos depois que o governo iraniano prometeu parar de apoiar seu assassinato, o romancista ainda é alvo de ordens de execução sumária.

Mas seria errado ver este último exemplo de intimidação como apenas mais um caso de exagerada sensibilidade religiosa ao livro Os Versos Satânicos. Afinal, alguns religiosos estão em estado permanente de fúria assassina, mas isso não impediu que Rushdie fizesse várias visitas à Índia na última década, incluindo uma participação em Jaipur em 2007.

Assim como os protestos britânicos originais contra Os Versos Satânicos em 1988 foram criação da política provinciana na Índia, esse último furor foi fabricado para conquistar vantagem local. Uma eleição logo deverá ocorrer em Uttar Pradesh, onde quase 20% dos eleitores são muçulmanos. Com os grupos religiosos ameaçando mobilizar esse tipo de bloco eleitoral, o partido governista no Congresso claramente decidiu que era hora de mostrar determinação.

“Rushdie feriu os sentimentos de muitos indianos”, anunciou Chandrabhan Singh, chefe do Partido do Congresso no Rajastão, estado onde se situa Jaipur. “Ele não deve ter permissão para entrar na Índia.”

Rushdie não era mais bem-vindo. O romancista Hari Kunzru, que deveria aparecer com o escritor mais velho em Jaipur, considerou a ausência de Rushdie “uma mancha para a reputação internacional da Índia”. Não havia qualquer plano de discutir Os Versos Satânicos, mas, para provar o absurdo dessa comoção, Kunzru decidiu “desafiar os preconceituosos e os atiradores de sapatos”, assim como os organizadores do evento, fazendo uma leitura daquele texto absurdamente incompreendido. Era mais que uma mera resistência literária simbólica, porque Os Versos Satânicos ainda são proibidos na Índia, que goza da duvidosa honra de ter sido o primeiro país a banir o livro.

Essa pequena saga em Jaipur salienta o fato de que pouco mudou nas últimas três décadas. O cinismo político ainda usa as roupas da sensibilidade multicultural e a postura da tolerância continua ajoelhada diante da intolerância.

A ironia é que Rushdie dificilmente é um rebelde hoje em dia. Se antes ele foi um cronista destemido e irreverente das crescentes dores do subcontinente indiano, há tempo seus romances deixaram de lidar abertamente com temas polêmicos. Mesmo sua reação ao caso de Jaipur foi comedida e discreta, como se ele temesse tornar-se o tema de mais uma disputa fabricada.

A fatwa, e a década que ele viveu sob proteção policial em uma série de locais secretos, inevitavelmente deixaram sua marca em Rushdie e em sua ficção. Raramente a energia criativa de um escritor teve de suportar um choque tão devastador. Fora a pressão de viver sob uma sentença de morte, Rushdie também teve de enfrentar o afastamento da Índia, a realidade pujante que dava a sua imaginação um propósito tão vívido.

Nascido e criado em Mumbai, Rushdie foi o filho único de um empresário têxtil bem-sucedido que insistiu em mandá-lo à Inglaterra para frequentar a escola de rúgbi. Afastado do frenesi e das cores do grande porto indiano, ele foi “muito infeliz” vivendo no campo inglês.

Depois se formar em história em Cambridge, e de um período como redator de publicidade — teria inventado o slogan “Feios, mas bons” para bolos de creme –, ele publicou seu primeiro romance, Grimus, aos 28 anos. Não foi um triunfo, mas seis anos depois Os Filhos da Meia-Noite ganhou o prêmio Booker e inaugurou uma era de literatura intercontinental pós-colonial. Ele foi seguido por Vergonha, que foi indicado ao Booker, e depois Os Versos Satânicos.

Não que Rushdie tenha se escondido dos problemas depois disso, pois ele foi claro em sua condenação do fundamentalismo religioso e do relativismo cultural que o desculpa, mas seus instintos ficcionais pareceram se tornar menos antagônicos e mais elípticos. Novelas como O Último Suspiro do Mouro e Shalimar, o Equilibrista, embora ousadas e complexas, não têm a vitalidade de sua obra anterior. E, não desejando ser definido pelo decreto de Khomeini, e sem dúvida ansioso por não prolongar sua situação, ele também tendeu a evitar falar sobre a fatwa em entrevistas.

“Sempre fui um escritor interessado por política”, disse em 2008, “e então acho que tive uma dose excessiva dela. Tome cuidado com o que você deseja. E uma das consequências disso para minha sensibilidade é me fazer recuar do discurso público. Eu quero ficar apenas em casa, escrever histórias e publicá-las com intervalo de alguns anos. É por isso que entrei no jogo, não para ser um importante porta-voz público sobre questões políticas.”

Mas no final deste ano Rushdie vai publicar uma memória sobre a década perdida na qual ele quase sofreu uma overdose política e pela primeira vez vai explorar sua experiência da fatwa. Ele levou quase um quarto de século para tanto, porque “precisava ter uma distância verdadeira do material, para que pudesse abordá-lo como um projeto literário, e não como uma confissão para a Oprah. Eu não queria que fosse uma espécie de desabafo.”

O Times já a chamou de “a mais importante memória literária do século 21”. Quer isso se comprove ou não, certamente é o livro mais ansiosamente esperado desde Experience, de seu amigo Martin Amis, em 2000. Por mais bizarra que a mensagem de ódio de Khomeini no Dia de São Valentim tenha parecido na época, a fatwa marcou um dos grandes movimentos tectônicos na paisagem cultural do século 20, cujas reverberações continuam a ser sentidas em todo o mundo.

O falecido amigo de Rushdie Christopher Hitchens afirmou que ele imediatamente reconheceu a fatwa como a salva inicial de uma nova guerra, que seria confirmada de forma mais drástica em 11 de setembro de 2001. Será interessante ver o que Rushdie realmente sentiu dentro do claustrofóbico ventre da história.

Muitos assassinatos e tentativas foram inspirados pela fatwa, mas a primeira baixa foi o casamento de Rushdie com a romancista Marianne Wiggins. O casal se separou alguns meses depois que ele foi obrigado a se esconder, e embora nunca tenha entrado em detalhes Rushdie deixou claro que a separação não foi amigável. A memória deverá levantar o véu sobre aquelas dolorosas semanas de reclusão comum.

Wiggins foi a segunda esposa de Rushdie, e ele acrescentou outras duas a lista e um segundo filho, Milan — o mais velho, Zafar, é do primeiro casamento com a falecida Clarissa Luard. Apesar de a ruptura com Wiggins obviamente ter doído, a união mais injuriosa de Rushdie, pelo menos em termos de exposição ao público, foi seu casamento de três anos com a atriz e modelo indiano-americana Padma Lakshmi.

Vinte e três anos mais jovem, com uma acentuada fraqueza pela vida de celebridade, Lakshmi conheceu Rushdie na festa de lançamento em Manhattan da malfadada revista Talk, um título adequado nesse caso. As pessoas falaram, mas pelo menos Lakshmi desviou a imagem pública de Rushdie para longe da de uma vítima da tirania religiosa. Infelizmente, foi para a de uma vítima da loucura romântica. Uma consequência disso é que os relacionamentos de Rushdie desde então atraíram mais atenção que seus livros.

A memória da fatwa deverá corrigir esse erro. É um tema extremamente amplo, mas profundamente íntimo, muito adequado para um escritor cujo melhor trabalho sempre combinou amplidão histórica com profundidade psicológica. “Nossas vidas nos ensinam quem somos”, escreveu Rushdie.

Das muitas lições que a história de sua vida pode oferecer, a mais importante é a que as autoridades indianas decidiram não aprender: ceda aos gângsteres e eles sempre exigirão mais.

ENTENDA MAIS SOBRE: ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo