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Porque os EUA continuarão usando drones

Os ataques provocam mortes de civis e geram tensão, mas a prática, que ajuda o governo a provar que está agindo, está consolidada na política antiterror norte-americana

Foto: Força Aérea dos EU&A/Sargento Brian Ferguson
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Barack Obama assumiu a presidência dos Estados Unidos em 2009 e, desde então, o uso de drones (aviões não tripulados capazes de realizar ataques militares por controle remoto) ganhou destaque na política externa americana como ferramenta para eliminar militantes terroristas fora dos EUA. Neste contexto, a visão do governo sobre a ferramenta se resume à fala de John Brennan, conselheiro da Casa Branca em contraterrorismo, para quem o equipamento possui “precisão cirúrgica” para “eliminar o tumor cancerígeno chamado al-Qaeda, enquanto se limitam os danos ao redor”. Essa ação “médica”, no entanto, tem provocado a ira das populações dos países atingidos pelas operações, como o Iêmen. Lá, as constantes mortes de civis provocaram um aumento na simpatia por militantes ligados a al-Qaeda e tem levado membros de tribos a se juntar a redes terroristas, segundo reportagem do diário estadunidense Washington Post.

O uso dos drones é uma via de mão dupla para os EUA. Se por um lado elimina terroristas, por outro tem apresentado alta letalidade de civis. O WP revelou recentemente que mais de 2 mil pessoas, entre militantes e civis, foram mortos em bombardeios no Paquistão, Iêmen e Afeganistão e outras regiões desde o início da administração Obama. Em meio a esse número, a organização Bureau of Investigative Journalism identificou o nome de 170 militantes terroristas mortos pela CIA, contra 317 de civis apenas no Paquistão.

O alto número de vítimas civis não parece ser um fator crucial para os EUA interromperem a utilização da arma. Nem sua questionável eficácia. O equipamento está consolidado na estratégia de defesa americana, conforme aponta Cristina Soreanu Pecequilo, doutora em Ciência Política, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e especialista em política externa dos EUA. “O país tem um postura pelo ataque quando acredita que isso é de seu interesse”, diz. “Além disso, os drones possibilitam dizer que se está atacando terroristas sem necessariamente ser verdade”, afirma. Uma das mortes de membros da al-Qaeda com maior repercussão recentemente foi a de Anwar al-Awlaki, clérigo nascido nos EUA, mas que servia como ideólogo do braço da rede terrorista no Iêmen. Em 30 de setembro de 2011, al-Awlaki foi morto por um drone americano.

Os ataques com drones provocam um cenário incomum, em que os EUA realizam operações militares no território de países contra os quais não está oficialmente em guerra, como Paquistão e Somália. Isso gera uma percepção de ilegalidade no posicionamento norte-americano e evidencia a quebra do conceito de soberânia nacional por potências, sem a justificativa oficial de um conflito. “Todos sabem que esses aviões vêm de outro país, o que caracteriza invasão de um território soberano para ações de combate. E isso é altamente problemático no direito internacional e também no âmbito político”, afirma Kai Enno Lehman, PhD em Relações Internacionais e professor da Universidade de São Paulo. Um argumento apoiado por Tatyana Scheila Friedrich, doutora em direito e professora de Direito Internacional da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Segundo ela, o uso dos drones é uma violação à soberania mesmo se o ataque for realizado contra grupos terroristas e não um Estado. “Se esse grupo está dentro de um país, cabe ao mesmo lidar com ele, ou permitir que os EUA ajam em seu território, mas sem coação.”

No Iêmen, o governo local e os EUA alegam que os ataques mataram apenas suspeitos de ligação com a al-Qaeda, mas integrantes de tribos locais e ativistas do direitos humanos dizem o contrário. O WP, destacou o caso do empresário Salim al-Barakani, que teve dois irmãos mortos em uma ação americana em março: um deles era professor e o outro arrumava celulares. Mesmo com casos iguais a estes, o país recebeu 21 ataques de drones desde janeiro.

O Paquistão também mostrou insatisfação com os drones norte-americanos, classificando-os como “inaceitáveis” em seu território, embora autorizasse há anos os EUA a atacar os talebans e a al-Qaeda em suas fronteiras. A mudança na relação dos países ocorreu após Obama admitir oficialmente o uso dos aviões não tripulados em janeiro deste ano e da morte de 24 militares paquistaneses em um ataque estadunidense no final de 2011 – sem mencionar o plano unilateral dos EUA para matar o líder da al-Qaeda, Osama bin Laden, em território paquistanês. As ações foram vistas como ataques à soberania do país asiático e resultaram no fechamento das fronteiras e do cancelamento do fornecimento de apoio às tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Por isso, em meio às tensões geradas pelos drones, Lehman argumenta que o equipamento pode realizar o objetivo imediato de eliminar terroristas, mas as consequências políticas a longo prazo são “problemáticas e imprevisíveis”. Pecequilo vai além: os aviões geram instabilidade, sem solucionar problemas militares ou políticos. “Alegam que são operações cirúrgicas, mas não possuem tamanha eficiência, até porque nem todas as ações são acompanhadas também por solo”, diz. Para a Casa Branca, entretanto, a publicidade gerada pela morte de uma figura como Anwar al-Awlaki serve para “comprovar” que o governo está agindo. “Na lógica dos EUA, os ataques com drones fazem sentido mesmo sem resultados políticos ou estratégicos”, diz Pecequilo.

Barack Obama assumiu a presidência dos Estados Unidos em 2009 e, desde então, o uso de drones (aviões não tripulados capazes de realizar ataques militares por controle remoto) ganhou destaque na política externa americana como ferramenta para eliminar militantes terroristas fora dos EUA. Neste contexto, a visão do governo sobre a ferramenta se resume à fala de John Brennan, conselheiro da Casa Branca em contraterrorismo, para quem o equipamento possui “precisão cirúrgica” para “eliminar o tumor cancerígeno chamado al-Qaeda, enquanto se limitam os danos ao redor”. Essa ação “médica”, no entanto, tem provocado a ira das populações dos países atingidos pelas operações, como o Iêmen. Lá, as constantes mortes de civis provocaram um aumento na simpatia por militantes ligados a al-Qaeda e tem levado membros de tribos a se juntar a redes terroristas, segundo reportagem do diário estadunidense Washington Post.

O uso dos drones é uma via de mão dupla para os EUA. Se por um lado elimina terroristas, por outro tem apresentado alta letalidade de civis. O WP revelou recentemente que mais de 2 mil pessoas, entre militantes e civis, foram mortos em bombardeios no Paquistão, Iêmen e Afeganistão e outras regiões desde o início da administração Obama. Em meio a esse número, a organização Bureau of Investigative Journalism identificou o nome de 170 militantes terroristas mortos pela CIA, contra 317 de civis apenas no Paquistão.

O alto número de vítimas civis não parece ser um fator crucial para os EUA interromperem a utilização da arma. Nem sua questionável eficácia. O equipamento está consolidado na estratégia de defesa americana, conforme aponta Cristina Soreanu Pecequilo, doutora em Ciência Política, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e especialista em política externa dos EUA. “O país tem um postura pelo ataque quando acredita que isso é de seu interesse”, diz. “Além disso, os drones possibilitam dizer que se está atacando terroristas sem necessariamente ser verdade”, afirma. Uma das mortes de membros da al-Qaeda com maior repercussão recentemente foi a de Anwar al-Awlaki, clérigo nascido nos EUA, mas que servia como ideólogo do braço da rede terrorista no Iêmen. Em 30 de setembro de 2011, al-Awlaki foi morto por um drone americano.

Os ataques com drones provocam um cenário incomum, em que os EUA realizam operações militares no território de países contra os quais não está oficialmente em guerra, como Paquistão e Somália. Isso gera uma percepção de ilegalidade no posicionamento norte-americano e evidencia a quebra do conceito de soberânia nacional por potências, sem a justificativa oficial de um conflito. “Todos sabem que esses aviões vêm de outro país, o que caracteriza invasão de um território soberano para ações de combate. E isso é altamente problemático no direito internacional e também no âmbito político”, afirma Kai Enno Lehman, PhD em Relações Internacionais e professor da Universidade de São Paulo. Um argumento apoiado por Tatyana Scheila Friedrich, doutora em direito e professora de Direito Internacional da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Segundo ela, o uso dos drones é uma violação à soberania mesmo se o ataque for realizado contra grupos terroristas e não um Estado. “Se esse grupo está dentro de um país, cabe ao mesmo lidar com ele, ou permitir que os EUA ajam em seu território, mas sem coação.”

No Iêmen, o governo local e os EUA alegam que os ataques mataram apenas suspeitos de ligação com a al-Qaeda, mas integrantes de tribos locais e ativistas do direitos humanos dizem o contrário. O WP, destacou o caso do empresário Salim al-Barakani, que teve dois irmãos mortos em uma ação americana em março: um deles era professor e o outro arrumava celulares. Mesmo com casos iguais a estes, o país recebeu 21 ataques de drones desde janeiro.

O Paquistão também mostrou insatisfação com os drones norte-americanos, classificando-os como “inaceitáveis” em seu território, embora autorizasse há anos os EUA a atacar os talebans e a al-Qaeda em suas fronteiras. A mudança na relação dos países ocorreu após Obama admitir oficialmente o uso dos aviões não tripulados em janeiro deste ano e da morte de 24 militares paquistaneses em um ataque estadunidense no final de 2011 – sem mencionar o plano unilateral dos EUA para matar o líder da al-Qaeda, Osama bin Laden, em território paquistanês. As ações foram vistas como ataques à soberania do país asiático e resultaram no fechamento das fronteiras e do cancelamento do fornecimento de apoio às tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Por isso, em meio às tensões geradas pelos drones, Lehman argumenta que o equipamento pode realizar o objetivo imediato de eliminar terroristas, mas as consequências políticas a longo prazo são “problemáticas e imprevisíveis”. Pecequilo vai além: os aviões geram instabilidade, sem solucionar problemas militares ou políticos. “Alegam que são operações cirúrgicas, mas não possuem tamanha eficiência, até porque nem todas as ações são acompanhadas também por solo”, diz. Para a Casa Branca, entretanto, a publicidade gerada pela morte de uma figura como Anwar al-Awlaki serve para “comprovar” que o governo está agindo. “Na lógica dos EUA, os ataques com drones fazem sentido mesmo sem resultados políticos ou estratégicos”, diz Pecequilo.

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