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Polícia mata o assassino de Toulouse

Franco-argelino responsável pelo massacre de Toulouse e extremista norueguês são farinha do mesmo saco

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Mohamed Merah, o assassino confesso de um rabino e três crianças em uma escola judaica e mais três soldados na região de Tolouse, no sudoeste da França, foi morto nesta quinta-feira 22 por agentes da unidade de elite da polícia francesa. Eles entraram no apartamento do francês de ascendência argelina após uma intensa troca de tiros. Merah, de 24 anos, “tentou, empunhando uma Kalashnikov, fugir, mas foi então que o mataram”, informou um repórter da rede de tevê LCI.


Cercado em um prédio, Mohamed Merah, cidadão francês de origem argelina de 24 anos, disse a policiais que ficou feliz em ter “colocado a França de joelhos”. Foto: Remy Gabalda/AF


 

Merah se dizia integrante da Al-Qaeda. Elencou em telefonema a uma jornalista da tevê francesa France 24 os motivos de seus ataques: a lei a banir o véu para muçulmanas, em vigor desde abril de 2011; a participação de soldados franceses nas operações da OTAN no Afeganistão; e o assassinato de “nossos irmãos” na Palestina por “judeus”.

Quem era esse psicopata?

Segundo as autoridades francesas, em 2008 ele fugiu de uma prisão em Kandahar, onde esteve preso com um grupo de integrantes do Talibã. Merah havia sido condenado a três anos de cadeia por ter tentado bombardear a cidade afegã. No entanto, as autoridades afegãs disseram ao diário britânico The Guardian que Merah foi deportado de Kandahar para a França, mas jamais foi preso.

Há anos Merah era seguido pelos serviços de inteligência do ministério francês do Interior (DCRI, na sigla em francês) devido às suas viagens ao Paquistão e Afeganistão. Na França, era conhecido pela polícia por ter cometido dezenas de crimes, alguns a envolver violência.

Mas ninguém do DCRI parecia prever que Merah pudesse assassinar judeus e soldados.

O jornalista italiano Ernesto Galli dela Loggia, do diário Corriere della Sera, defende a tese de que o Estado-Nação, hoje sem soberania, era o “único que poderia fazer prevalecer a democracia”. Por conta dessa ausência do Estado-Nação predomina o “autogoverno dos povos”. E, por tabela, de desequilibrados como Merah.

Mais realista, Barbara Spinelli, do diário também italiano, o La Repubblica, rebate: “O Estado-Nação produziu a democracia moderna, mas também males indizíveis: nacionalismos, fobias no que toca as impurezas étnico-religiosas, guerras”.

E é aí que mora o eterno problema: os benditos ódios raciais.

Mas o que os provoca? Deixemos as inúmeras respostas para os sociólogos, mas transparente é isto: os ódios se mesclam. Merah odiava os judeus, mas também os seus conterrâneos franceses, como os três paraquedistas que matou antes de pôr fim na vida do rabino e das três crianças. Sejam eles de origem árabe ou não, por que, indagava-se Merah, participaram de uma intervenção no Afeganistão?

Qualquer que seja o alvo de desequilibrados, o sociólogo e historiador francês Pierre-André Taguieff tem razão: a judeofobia cresce na França. E Merah cometeu o maior ataque antissemita na França desde o atentado a bomba do restaurante parisiense de gastronomia judaica de Jo Goldenberg, em 1982.Segundo uma pesquisa realizada pela Anti-Defamation League, publicada na terça, o nível de antissemitismo da população aumentou em 24% em relação a 20%, em 2009. Para 45% dos franceses entrevistados, os judeus são mais leais a Israel do que à França. Mais: 35% acha que os judeus têm demasiado poder sobre os mercados internacionais financeiros. E 35% crê que os judeus falam demais sobre o Holocausto.

Parece um paradoxo, mas Merah era semelhante a Andres Breivik Behring.  O ultranacionalista, racista e antifeminista norueguês foi o autor dos ataques que mataram 77 pessoas em julho, na Noruega. Massacrou jovens compatriotas de olhos claros como os seus, mas culpados, segundo o terrorista acreditava, por pertencerem a uma agremiação esquerdista em prol da integração social dos estrangeiros, principalmente dos muçulmanos.

Merah e Breivik Behring são extremistas intolerantes e violentos. Matam o “outro”.

Nesse mundo a atravessar uma crise econômica global, ambos se sentiam desenraizados, e assim, dependendo das circunstâncias assassinariam judeus e muçulmanos da mesma forma. São farinha do mesmo saco.

Mohamed Merah, o assassino confesso de um rabino e três crianças em uma escola judaica e mais três soldados na região de Tolouse, no sudoeste da França, foi morto nesta quinta-feira 22 por agentes da unidade de elite da polícia francesa. Eles entraram no apartamento do francês de ascendência argelina após uma intensa troca de tiros. Merah, de 24 anos, “tentou, empunhando uma Kalashnikov, fugir, mas foi então que o mataram”, informou um repórter da rede de tevê LCI.


Cercado em um prédio, Mohamed Merah, cidadão francês de origem argelina de 24 anos, disse a policiais que ficou feliz em ter “colocado a França de joelhos”. Foto: Remy Gabalda/AF


 

Merah se dizia integrante da Al-Qaeda. Elencou em telefonema a uma jornalista da tevê francesa France 24 os motivos de seus ataques: a lei a banir o véu para muçulmanas, em vigor desde abril de 2011; a participação de soldados franceses nas operações da OTAN no Afeganistão; e o assassinato de “nossos irmãos” na Palestina por “judeus”.

Quem era esse psicopata?

Segundo as autoridades francesas, em 2008 ele fugiu de uma prisão em Kandahar, onde esteve preso com um grupo de integrantes do Talibã. Merah havia sido condenado a três anos de cadeia por ter tentado bombardear a cidade afegã. No entanto, as autoridades afegãs disseram ao diário britânico The Guardian que Merah foi deportado de Kandahar para a França, mas jamais foi preso.

Há anos Merah era seguido pelos serviços de inteligência do ministério francês do Interior (DCRI, na sigla em francês) devido às suas viagens ao Paquistão e Afeganistão. Na França, era conhecido pela polícia por ter cometido dezenas de crimes, alguns a envolver violência.

Mas ninguém do DCRI parecia prever que Merah pudesse assassinar judeus e soldados.

O jornalista italiano Ernesto Galli dela Loggia, do diário Corriere della Sera, defende a tese de que o Estado-Nação, hoje sem soberania, era o “único que poderia fazer prevalecer a democracia”. Por conta dessa ausência do Estado-Nação predomina o “autogoverno dos povos”. E, por tabela, de desequilibrados como Merah.

Mais realista, Barbara Spinelli, do diário também italiano, o La Repubblica, rebate: “O Estado-Nação produziu a democracia moderna, mas também males indizíveis: nacionalismos, fobias no que toca as impurezas étnico-religiosas, guerras”.

E é aí que mora o eterno problema: os benditos ódios raciais.

Mas o que os provoca? Deixemos as inúmeras respostas para os sociólogos, mas transparente é isto: os ódios se mesclam. Merah odiava os judeus, mas também os seus conterrâneos franceses, como os três paraquedistas que matou antes de pôr fim na vida do rabino e das três crianças. Sejam eles de origem árabe ou não, por que, indagava-se Merah, participaram de uma intervenção no Afeganistão?

Qualquer que seja o alvo de desequilibrados, o sociólogo e historiador francês Pierre-André Taguieff tem razão: a judeofobia cresce na França. E Merah cometeu o maior ataque antissemita na França desde o atentado a bomba do restaurante parisiense de gastronomia judaica de Jo Goldenberg, em 1982.Segundo uma pesquisa realizada pela Anti-Defamation League, publicada na terça, o nível de antissemitismo da população aumentou em 24% em relação a 20%, em 2009. Para 45% dos franceses entrevistados, os judeus são mais leais a Israel do que à França. Mais: 35% acha que os judeus têm demasiado poder sobre os mercados internacionais financeiros. E 35% crê que os judeus falam demais sobre o Holocausto.

Parece um paradoxo, mas Merah era semelhante a Andres Breivik Behring.  O ultranacionalista, racista e antifeminista norueguês foi o autor dos ataques que mataram 77 pessoas em julho, na Noruega. Massacrou jovens compatriotas de olhos claros como os seus, mas culpados, segundo o terrorista acreditava, por pertencerem a uma agremiação esquerdista em prol da integração social dos estrangeiros, principalmente dos muçulmanos.

Merah e Breivik Behring são extremistas intolerantes e violentos. Matam o “outro”.

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