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O Brasil deve agir para buscar solução para a crise na Síria

Num momento em que a comunidade internacional mostra sua incapacidade, o Brasil pode ganhar espaço se mostrar liderança

Nesta quarta-feira, mulher abraça garoto em ambulância da Cruz Vermelha em Wadi Khaled, no Líbano. Eles são dois dos 24 mil sírios que buscaram refúgio no Líbano desde março do ano passado. Foto: AFP
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Na terça-feira, quando uma série de países anunciaram a expulsão coordenada dos embaixadores da Síria, em protesto contra o massacre de Houla, realizado na sexta-feira passada, o Brasil não aderiu. Enquanto muitas nações rompem de vez as relações com o governo do ditador Bashar al-Assad, a embaixada brasileira em Damasco continua funcionando normalmente, assim como a representação síria em Brasília. Esta posição levanta diversos questionamentos quanto à posição do Brasil. Na mais ruidosa crítica, feita em fevereiro por Catherine Ashton, a representante da União Europeia para assuntos externos, a diplomata disse que o Brasil deveria escolher entre Assad e o povo da Síria. O Brasil rejeita este maniqueísmo da União Europeia, mas até agora aposta suas fichas em uma solução mediada pela ONU que tem tudo para entrar para a história como um fracasso retumbante da diplomacia internacional.

Nesta quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, concedeu entrevista ao jornal francês Le Monde na qual reafirma o apoio brasileiro ao plano de paz liderado por Kofi Annan, enviado especial da ONU e da Liga Árabe para a Síria. Segundo Patriota, a “melhor aposta neste momento” é o plano de Annan. “É imperativo que o governo coloque um fim aos movimentos de tropas sírios nas áreas urbanas e pare de usar armas pesadas contra elas”, disse Patriota. “Isso vai desencadear um processo político aberto, liderado por sírios, capaz de estabilizar o país e se adequar às legítimas preocupações e aspirações da população”.

Entre os rebeldes sírios, as frases de Patriota devem soar como catastróficas. Em primeiro lugar, o massacre de Houla, no qual 108 pessoas foram mortas, entre elas 49 crianças, foi apenas em parte causado pelas armas pesadas do Exército sírio. Segundo os observadores da ONU que estão na Síria, a maioria das vítimas foi executada, com facas ou armas de fogo. Os principais suspeitos são milicianos pró-Assad. Em segundo lugar, o otimismo de Patriota com o plano da ONU é marcado pela ingenuidade. Hoje, o ditador Bashar al-Assad, encorajado por seus apoiadores dentro da Síria e por Rússia e China no Conselho de Segurança da ONU, não tem motivos para cessar a violência. O massacre de Houla mostrou que os observadores da ONU presentes na Síria se tornaram meros coveiros ou legistas. A presença deles não inibe nem impede matanças generalizadas. Assim, não é possível condenar quem entenda o apoio ao plano de paz como uma neutralidade que estimula a violência por parte de Assad.

A iminência do fracasso e o horror de Houla fez críticas surgirem também nos Estados Unidos. Nesta quarta-feira, o jornal The Washington Post publicou editorial no qual clama para que o presidente Barack Obama exerça sua liderança e pare de “se esconder” atrás de Annan na busca por uma solução para a crise na Síria. De fato, os EUA não fazem nada de produtivo para a paz na Síria. A retirada dos embaixadores é completamente inócua. O que o governo americano tem feito é dar apoio logístico para que governos árabes rivais de Assad entreguem armas aos rebeldes. Assim como o plano de Annan, o papel secundário ao qual Obama relegou os Estados Unidos no caso da Síria revela a fragilidade e a ineficiência do sistema de tomada de decisões da comunidade internacional.

Neste contexto, o Brasil precisa agir e mostrar que está agindo, até mesmo para evitar as críticas de “conivência com Assad”. O Brasil deve, em público e em privado, trabalhar para romper o apoio da Rússia e da China a Assad e se engajar ainda mais diretamente na busca de alternativas ao plano de Annan. Novas ideias urgem, e o Brasil tem motivos de sobra para apresentá-las. Do ponto de vista humanitário, uma bandeira cara para a diplomacia nacional, é preciso acabar logo com o conflito na Síria antes que este se torne uma guerra civil. Do ponto de vista pragmático, o Brasil, que tanto deseja uma vaga no Conselho de Segurança, tem a chance de demonstrar sua capacidade de liderança. Não há um evento mais adequado para fazer isso do que uma crise que expõe de forma clara a incapacidade da comunidade internacional para resolver crises.

Na terça-feira, quando uma série de países anunciaram a expulsão coordenada dos embaixadores da Síria, em protesto contra o massacre de Houla, realizado na sexta-feira passada, o Brasil não aderiu. Enquanto muitas nações rompem de vez as relações com o governo do ditador Bashar al-Assad, a embaixada brasileira em Damasco continua funcionando normalmente, assim como a representação síria em Brasília. Esta posição levanta diversos questionamentos quanto à posição do Brasil. Na mais ruidosa crítica, feita em fevereiro por Catherine Ashton, a representante da União Europeia para assuntos externos, a diplomata disse que o Brasil deveria escolher entre Assad e o povo da Síria. O Brasil rejeita este maniqueísmo da União Europeia, mas até agora aposta suas fichas em uma solução mediada pela ONU que tem tudo para entrar para a história como um fracasso retumbante da diplomacia internacional.

Nesta quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, concedeu entrevista ao jornal francês Le Monde na qual reafirma o apoio brasileiro ao plano de paz liderado por Kofi Annan, enviado especial da ONU e da Liga Árabe para a Síria. Segundo Patriota, a “melhor aposta neste momento” é o plano de Annan. “É imperativo que o governo coloque um fim aos movimentos de tropas sírios nas áreas urbanas e pare de usar armas pesadas contra elas”, disse Patriota. “Isso vai desencadear um processo político aberto, liderado por sírios, capaz de estabilizar o país e se adequar às legítimas preocupações e aspirações da população”.

Entre os rebeldes sírios, as frases de Patriota devem soar como catastróficas. Em primeiro lugar, o massacre de Houla, no qual 108 pessoas foram mortas, entre elas 49 crianças, foi apenas em parte causado pelas armas pesadas do Exército sírio. Segundo os observadores da ONU que estão na Síria, a maioria das vítimas foi executada, com facas ou armas de fogo. Os principais suspeitos são milicianos pró-Assad. Em segundo lugar, o otimismo de Patriota com o plano da ONU é marcado pela ingenuidade. Hoje, o ditador Bashar al-Assad, encorajado por seus apoiadores dentro da Síria e por Rússia e China no Conselho de Segurança da ONU, não tem motivos para cessar a violência. O massacre de Houla mostrou que os observadores da ONU presentes na Síria se tornaram meros coveiros ou legistas. A presença deles não inibe nem impede matanças generalizadas. Assim, não é possível condenar quem entenda o apoio ao plano de paz como uma neutralidade que estimula a violência por parte de Assad.

A iminência do fracasso e o horror de Houla fez críticas surgirem também nos Estados Unidos. Nesta quarta-feira, o jornal The Washington Post publicou editorial no qual clama para que o presidente Barack Obama exerça sua liderança e pare de “se esconder” atrás de Annan na busca por uma solução para a crise na Síria. De fato, os EUA não fazem nada de produtivo para a paz na Síria. A retirada dos embaixadores é completamente inócua. O que o governo americano tem feito é dar apoio logístico para que governos árabes rivais de Assad entreguem armas aos rebeldes. Assim como o plano de Annan, o papel secundário ao qual Obama relegou os Estados Unidos no caso da Síria revela a fragilidade e a ineficiência do sistema de tomada de decisões da comunidade internacional.

Neste contexto, o Brasil precisa agir e mostrar que está agindo, até mesmo para evitar as críticas de “conivência com Assad”. O Brasil deve, em público e em privado, trabalhar para romper o apoio da Rússia e da China a Assad e se engajar ainda mais diretamente na busca de alternativas ao plano de Annan. Novas ideias urgem, e o Brasil tem motivos de sobra para apresentá-las. Do ponto de vista humanitário, uma bandeira cara para a diplomacia nacional, é preciso acabar logo com o conflito na Síria antes que este se torne uma guerra civil. Do ponto de vista pragmático, o Brasil, que tanto deseja uma vaga no Conselho de Segurança, tem a chance de demonstrar sua capacidade de liderança. Não há um evento mais adequado para fazer isso do que uma crise que expõe de forma clara a incapacidade da comunidade internacional para resolver crises.

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