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Israel admite uso de contraceptivos em imigrantes judeus da Etiópia

Governo pede que médicos não prescrevam anticoncepcional em caso de dúvida das pacientes. Há denúncias de tratamentos forçados

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No início de dezembro, uma edição do programa Vácuo, transmitido pelo canal estatal israelense IETV provocou choque em Israel. Segundo a denúncia, diversas mulheres etíopes de origem judaica teriam sido submetidas, à revelia, a tratamentos contraceptivos que serviriam como pré-requisito para entrar no país. Inicialmente, o governo negou conhecimento ou incentivo à prática de forma veemente. Neste domingo 27, no entanto, o jornal Haaretz revelou que, pela primeira vez, um membro do governo israelense admitiu a possibilidade de que essas mulheres tenham passado pelo tratamento sem consentimento.

De acordo com o Haaretz, a admissão foi feita por Ron Gamzu, diretor-geral do Ministério da Saúde. Gamzu enviou a todas as organizações de saúde de Israel um carta instruindo todos os ginecologistas a “não renovar prescrições de Depo-Provera [o remédio contraceptivo] a mulheres de origem etíope se por qualquer razão houver preocupação de que elas possam não entender as ramificações do tratamento”. Gamzu orientou os médicos, ainda segundo o Haaretz, a procurar a ajuda de tradutores caso achem isso necessário.

Há cinco anos existem denúncias a respeito de tratamentos forçados, mas a edição de dezembro do programa Vácuo, que tentava descobrir por que a natalidade na comunidade etíope de Israel caiu 50% nos últimos dez anos, aprofundou a questão.

Diversas mulheres etíopes entrevistadas pelo programa disseram ter sido avisadas que, para emigrar para Israel, precisariam tomar as injeções a cada três meses, antes da viagem e depois da chegada ao país. A prática teria sido iniciada em campos de refugiados da região de Gondar, continuado em um campo transitório em Adis Abeba, capital da Etiópia, e em Israel. Muitas afirmaram não saber que o Depo-Provera era um contraceptivo forte, mas sim algum tipo de vacina. De acordo com o relato do programa feito pelo jornal The Times of Israel, muitos tratamentos teriam continuado em Israel mesmo com as mulheres apresentando efeitos colaterais, como dores de cabeça severas e dores abdominais, e osteoporose, condição que torna perigoso o uso do Depo-Provera.

De acordo com o mesmo jornal, uma câmera escondida em uma clínica mostrou uma enfermeira dizendo a uma mulher etíope que as injeções de Depo-Provera era dadas “primariamente às mulheres etíopes porque elas esquecem, não entendem, é difícil explicar para elas, então é melhor que tomem logo a injeção a cada três meses… basicamente elas não entendem nada”.

Em depoimento, Rachel Mangoli, diretora da Organização Feminina Sionista Internacional na cidade de Pardes Hanna, disse que, em 2006, criou um programa de acolhimento para crianças etíopes. Naquele ano, Rachel percebeu que nenhum bebê etíope nascera no centro. Segundo Rachel, um diretor de uma clínica local informou que as mulheres daquele abrigo receberam as injeções de contraceptivo pois não era possível confiar que elas tomariam as pílulas anticoncepcionais todos os dias.

Como ocorre em outros lugares do mundo, as mulheres da comunidade etíope poderiam estar mais preocupadas com a carreira do que com ter filhos ou ter entendido que é mais fácil criar uma família menor, mas o material mostrado pelo programa indica a existência de um ato orquestrado. Ainda em dezembro, o parlamentar Ilan Gilon pediu à procuradoria-geral israelense que inicie uma investigação sobre o caso.

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