Cultura

Em meio a uma polêmica sobre impostos, Depardieu quer ser belga

O ator francês buscaria um exílio fiscal; mas a estrela de Cyrano de Bergerac diz que governo pune o ‘sucesso’

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Em qualquer café francês o assunto a causar grande polêmica envolvia, nesta segunda-feira 17, Gérard Depardieu. O ator vai morar na Bélgica porque em 2013 não quer mais pagar os altos impostos estabelecidos  pelo presidente socialista François Hollande, eleito seis meses atrás.

Ou pelo menos é isso que alega o governo.

Desde outubro, quem tem uma renda superior a 1 milhão de euros ao ano deve pagar 75% da soma arrecadada ao fisco. Isso nos próximos dois anos. Esta é uma das medidas adotadas pelos socialistas para lidar com a crise.

No entanto, a estrela de Cyrano de Bergerac deixa a França porque o governo, diz, considera que o “sucesso, a criação e o talento” merecem punição.

A polêmica do exílio fiscal e o subsequente entrevero de Depardieu com o governo foi alimentada pelo semanário conservador Journal du Dimanche, que publicou uma carta aberta de Depardieu na qual ele diz se sentir “insultado” porque chamado de “patético” pelo premier Jean-Marc Ayrault.

Por essas e outras, o ator pretende devolver seu passaporte francês e seguro social, que diz nunca ter usado. E, consta, está querendo se naturalizar belga.

Escreveu Depardieu na carta aberta publicada pelo Journal du Dimanche: “Quem é o senhor para me julgar assim, senhor Ayrault, primeiro-ministro do senhor Hollande, eu lhe pergunto: quem é o senhor?”

Ele é “apenas” o primeiro-ministro da França, retrucou na segunda-feira, não sem ironia, Renaud Lecadre, do diário esquerdista Libération.

O tema, de fato, parece dividir a esquerda e a direita. Durante a campanha, o Partido Socialista, vale recapitular, prometeu uma tributação mais elevada para os ricos.

Na contenda com Depardieu, a ministra da Cultura, é evidente, deu razão ao premier, que considera o gesto do ator pouco patriótico. Disse a ministra: “Depardieu deserta o terreno em plena guerra contra a crise”.

Em uma emissão da rádio Europe 1, o ministro do Trabalho, Michel Sapin, se pronunciou assim: “Eu o encontrei com frequência, é um homem de extravagâncias, de exageros”.

Por sua vez, Édouard Courtial, deputado da legenda conservadora União por um Movimento Popular (UMP), disse ao semanário Le Point estar “chocado pelo tratamento midiático reservado a Depardieu por parte do governo”.

Courtial concluiu: “Paris tem seu obelisco, a França tem de respeitar seu Obelix”. O deputado se referia ao filme em cartaz no qual Depardieu volta a interpretar o parceiro de Asterix.

Nos cafés, onde, diante de expressos e croissants, direita, centro e esquerda se mesclam pelas manhãs, a briga não é partidária. O consenso, pelo menos em um café no centro de Paris onde este que escreve esteve presente, é este: Depardieu foi maltratado pelo governo.

E foi mesmo.

Como o próprio Depardieu argumenta na sua carta aberta, vários empresários deixaram a França quando Hollande foi eleito. No entanto, nenhum deles foi “insultado”.

É claro, Depardieu não é nenhum santo – e era a isso que o ministro do Trabalho, este, parece, um bom samaritano, queria exprimir.

Recentemente, Depardieu foi pego embriagado pela polícia dirigindo seu scooter. No ano passado, levantou-se de sua poltrona em um avião e urinou em uma garrafa diante de outros passageiros.

Na sua carta ao primeiro-ministro, contudo, Depardieu diz que não joga pedra no telhado de quem tem hipertensão, colesterol elevado, diabetes, exagera na bebida, ou adormece no scooter.

“Eu sou um deles como a mídia gosta tanto de reportar.”

Mas ele lembra que nunca matou ninguém.

Portanto, Depardieu poderia também indagar: e quem é o ministro do Trabalho para julgá-lo?

E eis a questão-mor: o imposto de 75% aplicável àqueles com renda superior a 1 milhão de euros por ano é idiotice dos socialistas. Com os empresários que já foram, em grande parte, para o Reino Unido, vão-se empregos.

Aos 63 anos, em 45 anos o ator já fez quase 200 filmes, e pagou, segundo seus cálculos, 145 milhões de euros em tributos. Em 2012 diz ter tido de contribuir 85% sobre sua renda anual.

Depardieu lembrou na carta ao premier que começou a trabalhar aos 14 anos em uma gráfica, depois foi agente de manutenção. Finalmente revelou-se um talentoso ator.

E assim ficou milionário. Hoje é dono de restaurantes e vinhedos na Europa e na Argentina. Seu palacete de 1.800 metros quadrados no badalado bairro de Saint-Germain-des-Prés, em Paris, está à venda por 50 milhões de euros.

Em época de crise, os franceses detestam ainda mais os ricos. Mesmo aqueles que fizeram fortuna por mero talento. Para o governo, o fato de Depardieu, um dos melhores atores do país e do mundo, estar disposto a queimar seu passaporte francês, é, antes de tudo, uma derrota simbólica.

Taxar 75% sobre arrecadações elevadas (e não 50%, por exemplo) é no mínimo um erro grave.

Basta frequentar cafés e ouvir os debates sobre Depardieu.

Em qualquer café francês o assunto a causar grande polêmica envolvia, nesta segunda-feira 17, Gérard Depardieu. O ator vai morar na Bélgica porque em 2013 não quer mais pagar os altos impostos estabelecidos  pelo presidente socialista François Hollande, eleito seis meses atrás.

Ou pelo menos é isso que alega o governo.

Desde outubro, quem tem uma renda superior a 1 milhão de euros ao ano deve pagar 75% da soma arrecadada ao fisco. Isso nos próximos dois anos. Esta é uma das medidas adotadas pelos socialistas para lidar com a crise.

No entanto, a estrela de Cyrano de Bergerac deixa a França porque o governo, diz, considera que o “sucesso, a criação e o talento” merecem punição.

A polêmica do exílio fiscal e o subsequente entrevero de Depardieu com o governo foi alimentada pelo semanário conservador Journal du Dimanche, que publicou uma carta aberta de Depardieu na qual ele diz se sentir “insultado” porque chamado de “patético” pelo premier Jean-Marc Ayrault.

Por essas e outras, o ator pretende devolver seu passaporte francês e seguro social, que diz nunca ter usado. E, consta, está querendo se naturalizar belga.

Escreveu Depardieu na carta aberta publicada pelo Journal du Dimanche: “Quem é o senhor para me julgar assim, senhor Ayrault, primeiro-ministro do senhor Hollande, eu lhe pergunto: quem é o senhor?”

Ele é “apenas” o primeiro-ministro da França, retrucou na segunda-feira, não sem ironia, Renaud Lecadre, do diário esquerdista Libération.

O tema, de fato, parece dividir a esquerda e a direita. Durante a campanha, o Partido Socialista, vale recapitular, prometeu uma tributação mais elevada para os ricos.

Na contenda com Depardieu, a ministra da Cultura, é evidente, deu razão ao premier, que considera o gesto do ator pouco patriótico. Disse a ministra: “Depardieu deserta o terreno em plena guerra contra a crise”.

Em uma emissão da rádio Europe 1, o ministro do Trabalho, Michel Sapin, se pronunciou assim: “Eu o encontrei com frequência, é um homem de extravagâncias, de exageros”.

Por sua vez, Édouard Courtial, deputado da legenda conservadora União por um Movimento Popular (UMP), disse ao semanário Le Point estar “chocado pelo tratamento midiático reservado a Depardieu por parte do governo”.

Courtial concluiu: “Paris tem seu obelisco, a França tem de respeitar seu Obelix”. O deputado se referia ao filme em cartaz no qual Depardieu volta a interpretar o parceiro de Asterix.

Nos cafés, onde, diante de expressos e croissants, direita, centro e esquerda se mesclam pelas manhãs, a briga não é partidária. O consenso, pelo menos em um café no centro de Paris onde este que escreve esteve presente, é este: Depardieu foi maltratado pelo governo.

E foi mesmo.

Como o próprio Depardieu argumenta na sua carta aberta, vários empresários deixaram a França quando Hollande foi eleito. No entanto, nenhum deles foi “insultado”.

É claro, Depardieu não é nenhum santo – e era a isso que o ministro do Trabalho, este, parece, um bom samaritano, queria exprimir.

Recentemente, Depardieu foi pego embriagado pela polícia dirigindo seu scooter. No ano passado, levantou-se de sua poltrona em um avião e urinou em uma garrafa diante de outros passageiros.

Na sua carta ao primeiro-ministro, contudo, Depardieu diz que não joga pedra no telhado de quem tem hipertensão, colesterol elevado, diabetes, exagera na bebida, ou adormece no scooter.

“Eu sou um deles como a mídia gosta tanto de reportar.”

Mas ele lembra que nunca matou ninguém.

Portanto, Depardieu poderia também indagar: e quem é o ministro do Trabalho para julgá-lo?

E eis a questão-mor: o imposto de 75% aplicável àqueles com renda superior a 1 milhão de euros por ano é idiotice dos socialistas. Com os empresários que já foram, em grande parte, para o Reino Unido, vão-se empregos.

Aos 63 anos, em 45 anos o ator já fez quase 200 filmes, e pagou, segundo seus cálculos, 145 milhões de euros em tributos. Em 2012 diz ter tido de contribuir 85% sobre sua renda anual.

Depardieu lembrou na carta ao premier que começou a trabalhar aos 14 anos em uma gráfica, depois foi agente de manutenção. Finalmente revelou-se um talentoso ator.

E assim ficou milionário. Hoje é dono de restaurantes e vinhedos na Europa e na Argentina. Seu palacete de 1.800 metros quadrados no badalado bairro de Saint-Germain-des-Prés, em Paris, está à venda por 50 milhões de euros.

Em época de crise, os franceses detestam ainda mais os ricos. Mesmo aqueles que fizeram fortuna por mero talento. Para o governo, o fato de Depardieu, um dos melhores atores do país e do mundo, estar disposto a queimar seu passaporte francês, é, antes de tudo, uma derrota simbólica.

Taxar 75% sobre arrecadações elevadas (e não 50%, por exemplo) é no mínimo um erro grave.

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