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Em documentário, ex-espiões criticam a política de segurança israelense

Em “The Gatekeepers”, indicado ao Oscar, ex-chefes do Shin Bet criticam até mesmo os assassinatos de líderes palestinos

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Ex-funcionários do serviço de inteligência de Israel, o Shin Bet, nunca haviam falado tão abertamente sobre seu trabalho como no documentário Töte zuerst (Mate primeiro, em tradução livre). Em depoimento ao diretor israelense Dror Moreh, todos os seis ex-chefes ainda vivos da organização criticaram abertamente a política de segurança de Israel, incluindo os assassinatos de líderes palestinos.

Com o título em inglês The Gatekeepers, o filme já ganhou vários prêmios de crítica e está entre os cinco indicados ao Oscar 2013 na categoria documentário. Trata-se de uma coprodução da emissora pública alemã NDR e das televisões israelense IBA e francesa Arte France.

 

 

Em entrevista à DW, a jornalista e diretora do setor de Comunicação e Cultura da NDR, Patrícia Schlesinger, fala sobre o processo de produção do documentário.

Deutsche Welle: Como surgiu a ideia para o documentário?


Patricia Schlesinger: Ela surgiu em 2008, do ator e diretor Dror Moreh. Ele nos trouxe entrevistas gravadas com ex-chefes do Schin Bet, também chamado de “defensores invisíveis”. Essas pessoas quase nunca falam em frente das câmeras ou dão declarações críticas. Moreh veio com essas gravações e disse: “estes são os dois primeiros, eu quero todos os outros diante da câmera”. Nós dissemos: “se ele conseguir, estamos dentro”.

DW: O que motivou os ex-chefes do serviço de inteligência a fazerem críticas tão abertamente?


PS: Essa é uma pergunta crucial. A única resposta que eu posso dar é que esses homens lançam um olhar preocupado sobre o futuro de Israel. Eles temem que Israel esteja em um impasse político. Será preciso falar, em algum momento, que Israel ganha todas as batalhas, mas perde a guerra? Os israelenses, como eles mesmos dizem, se tornaram cruéis: não só com os palestinos, mas com eles próprios. E os jovens têm consciência disso. O novo e chocante no nosso filme é que as figuras do centro do poder, que sabem mais sobre a política de segurança do que qualquer outro, também compartilham dessa visão crítica.

DW: Por que a NDR, uma emissora pública alemã, decidiu coproduzir o documentário?


PS: O conflito no Oriente Médio certamente nos acompanhará ao longo das próximas gerações. Eu acredito que tudo o que contribui para que esse conflito venha a público e se torne mais claro pode fazer com que ambos os lados repensem a situação. Isso é importante para nós.

DW: O que torna o filme interessante para o público internacional?


PS: O interessante é que os ex-chefes do serviço secreto falam abertamente sobre assassinatos de líderes palestinos, bombardeios em Gaza e também sobre o terror propagado pelos judeus ultraortodoxos. O lema do Shin Bet é “se alguém vem para lhe matar, levante-se e mate-o primeiro”. Assim surgiu o título do documentário. E falar sobre o funcionamento do aparato de segurança de Israel não interessa apenas ao público alemão. O fato de termos contado com parceiros internacionais para a coprodução é prova disso.

DW: O documentário causou reação no público israelense?


PS: O filme entrou em cartaz nos cinemas israelenses no último fim de semana. Havia longas filas. As pessoas ficaram realmente chocadas. Todos os jornais falaram sobre as duras críticas à política do próprio país vindas do centro do poder. Esse tipo de crítica costuma vir da oposição. É difícil ignorar a crítica dos ex-chefes do serviço de informação.

DW: O que significou para você, como coprodutora alemã, a indicação ao Oscar?


PS: É a primeira vez que um documentário alemão é indicado ao Oscar. E justamente com um tema tão controverso. É preciso se deixar envolver pelo filme, ele não é fácil de se consumir. Sua mensagem é chocante. Com o sucesso do filme, nos sentimos fortalecidos para fazer mais documentários como esse e não temer temas delicados.

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