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Eleições nos EUA: será o Facebook o verdadeiro estado decisivo?

Barack Obama pode capitalizar seu predomínio online sobre Mitt Romney, ou a rede é acadêmica quando tantos eleitores já estão decididos?

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Por John Naughton*

Está bem, eis a advertência de saúde obrigatória: durante muito, muito tempo as pessoas vêm dizendo que a próxima eleição presidencial nos Estados Unidos seria a “eleição da internet”. E até agora todas essas previsões se revelaram erradas, pelo menos se as interpretarmos como afirmações de que o resultado da eleição é efetivamente determinado pela atividade online.

A inspiração para toda essa especulação sobre o impacto político da rede é uma tecnologia de comunicação mais antiga: a televisão. Na década de 1950, as pessoas especulavam infinitamente sobre o impacto dessa mídia na política, mas foi só em 1960, com os famosos debates televisivos entre John F. Kennedy e Richard Nixon, que a especulação se confirmou em certeza: a TV era o fator chave na política presidencial.

E esse foi o senso comum durante as três décadas seguintes, até que a web transformou a internet em algo que as pessoas “comuns” começaram a usar.

Durante pelo menos uma década desde então, as pessoas têm procurado um ponto de virada análogo para a mídia online. Alguns argumentaram que a maestria de Obama nas redes sociais em 2008 foi crítica para garantir sua eleição. Os céticos retrucaram com a opinião de que o impacto da mídia online empalideceu e se tornou insignificante, comparado com os danos que os republicanos infligiram a si próprios ao nomear Sarah Palin companheira de chapa de John McCain e aspirante a vice-presidente.

  

Então a eleição de 2012 irá fornecer o ponto de virada, o momento em que a internet joga um papel decisivo ao influenciar como as pessoas votam? Diante da penetração da rede na vida diária, é obviamente implausível afirmar que não está tendo um impacto na política. A imensa lacuna que existia nos anos 1990 entre ciberespaço (onde as pessoas fazem “rede social”) e “carnespaço” (onde elas vão aos centros eleitorais e votam) claramente encolheu. Mas quanto?

A julgar pela atual atividade online, se a internet decidisse o resultado, Obama ganharia de longe. Sua página no Facebook, por exemplo, tem mais de 28 milhões de “curtir” e teve mais de 1,7 milhão de pessoas “falando” sobre ela na última vez em que verifiquei. A página de Romney tem meros 5,5 milhões de “curtir” (mas mais de 2 milhões de pessoas estavam “falando” sobre ela). No Twitter, Obama está bem à frente pelas medições significativas: seguidores (19 milhões, contra 954 mil de Romney); número de seguidores acrescentados nas últimas 24 horas (46 mil x 13 mil); menções (59 mil x 29 mil); retuítes (25 mil x 6.600); retuiteiros (22 mil x 5 mil). Eu poderia continuar, mas você já entendeu.

Na semana passada também se viu um contraste revelador entre o dois lados. A turma de Romney colocou tudo em um “rebranding” de seu candidato no estilo dos anos 1980, com muito texto, usando todos os velhos truques cansados de “Mad Men” e da velha mídia. Obama, em comparação, apenas apareceu no Reddit.com e fez uma sessão de AMA (sigla em inglês para “pergunte-me qualquer coisa”), que quase derrubou o site. Se você não conhece o Reddit, sugiro que dê uma olhada; depois pergunte a si mesmo quantos políticos britânicos contemporâneos ousariam fazer uma sessão de AMA ali. (Minha resposta: um – John Prescott.)

A grande pergunta é se a predominância online de Obama fará muita diferença. Meu palpite é que não fará. Não porque a internet não seja importante, mas por causa da natureza peculiar desta eleição. Segundo uma pesquisa recente, a maioria dos eleitores já se decidiu e apenas cerca de 6% continuam indecisos sobre em quem votarão em novembro. Um analista, Paul Begala, um ex-assessor de Bill Clinton, acha que a eleição será decidida por apenas 4% dos eleitores, em seis estados — Virgínia, Flórida, Ohio, Iowa, Novo México e Colorado. São 916.643 pessoas, ou “menos da metade das que pagaram para assistir a um jogo dos Houston Astros no ano passado”.

A maioria dos “indecisos” não se interessa por política. Mas quase certamente estão entre os 164 milhões atualmente inscritos no Facebook, e por isso um comentarista, David Talbot, chamou o site de “o verdadeiro estado decisivo presidencial”. O negócio do Facebook é que muitos usuários revelam informação detalhada sobre si mesmos — cidade onde nasceram, idade, educação, preferências, amigos. As pessoas que se interessam por política provavelmente não serão influenciadas por mensagens abertamente “políticas”, mas poderiam se interessar por mensagens de seus contatos no Facebook. Por isso, eleitores em estados indecisos como Ohio ou Flórida que “curtiram” uma página do Facebook que descreve Romney como um “abutre capitalista” poderiam de repente receber mensagens de “amigos” lembrando-lhes que eles compram na papelaria Staples, uma empresa bem-sucedida na qual Romney investiu.

Mesmo em um mundo em rede, toda política afinal vem a ser política local.

Leia mais em guardian.co.uk

Por John Naughton*

Está bem, eis a advertência de saúde obrigatória: durante muito, muito tempo as pessoas vêm dizendo que a próxima eleição presidencial nos Estados Unidos seria a “eleição da internet”. E até agora todas essas previsões se revelaram erradas, pelo menos se as interpretarmos como afirmações de que o resultado da eleição é efetivamente determinado pela atividade online.

A inspiração para toda essa especulação sobre o impacto político da rede é uma tecnologia de comunicação mais antiga: a televisão. Na década de 1950, as pessoas especulavam infinitamente sobre o impacto dessa mídia na política, mas foi só em 1960, com os famosos debates televisivos entre John F. Kennedy e Richard Nixon, que a especulação se confirmou em certeza: a TV era o fator chave na política presidencial.

E esse foi o senso comum durante as três décadas seguintes, até que a web transformou a internet em algo que as pessoas “comuns” começaram a usar.

Durante pelo menos uma década desde então, as pessoas têm procurado um ponto de virada análogo para a mídia online. Alguns argumentaram que a maestria de Obama nas redes sociais em 2008 foi crítica para garantir sua eleição. Os céticos retrucaram com a opinião de que o impacto da mídia online empalideceu e se tornou insignificante, comparado com os danos que os republicanos infligiram a si próprios ao nomear Sarah Palin companheira de chapa de John McCain e aspirante a vice-presidente.

  

Então a eleição de 2012 irá fornecer o ponto de virada, o momento em que a internet joga um papel decisivo ao influenciar como as pessoas votam? Diante da penetração da rede na vida diária, é obviamente implausível afirmar que não está tendo um impacto na política. A imensa lacuna que existia nos anos 1990 entre ciberespaço (onde as pessoas fazem “rede social”) e “carnespaço” (onde elas vão aos centros eleitorais e votam) claramente encolheu. Mas quanto?

A julgar pela atual atividade online, se a internet decidisse o resultado, Obama ganharia de longe. Sua página no Facebook, por exemplo, tem mais de 28 milhões de “curtir” e teve mais de 1,7 milhão de pessoas “falando” sobre ela na última vez em que verifiquei. A página de Romney tem meros 5,5 milhões de “curtir” (mas mais de 2 milhões de pessoas estavam “falando” sobre ela). No Twitter, Obama está bem à frente pelas medições significativas: seguidores (19 milhões, contra 954 mil de Romney); número de seguidores acrescentados nas últimas 24 horas (46 mil x 13 mil); menções (59 mil x 29 mil); retuítes (25 mil x 6.600); retuiteiros (22 mil x 5 mil). Eu poderia continuar, mas você já entendeu.

Na semana passada também se viu um contraste revelador entre o dois lados. A turma de Romney colocou tudo em um “rebranding” de seu candidato no estilo dos anos 1980, com muito texto, usando todos os velhos truques cansados de “Mad Men” e da velha mídia. Obama, em comparação, apenas apareceu no Reddit.com e fez uma sessão de AMA (sigla em inglês para “pergunte-me qualquer coisa”), que quase derrubou o site. Se você não conhece o Reddit, sugiro que dê uma olhada; depois pergunte a si mesmo quantos políticos britânicos contemporâneos ousariam fazer uma sessão de AMA ali. (Minha resposta: um – John Prescott.)

A grande pergunta é se a predominância online de Obama fará muita diferença. Meu palpite é que não fará. Não porque a internet não seja importante, mas por causa da natureza peculiar desta eleição. Segundo uma pesquisa recente, a maioria dos eleitores já se decidiu e apenas cerca de 6% continuam indecisos sobre em quem votarão em novembro. Um analista, Paul Begala, um ex-assessor de Bill Clinton, acha que a eleição será decidida por apenas 4% dos eleitores, em seis estados — Virgínia, Flórida, Ohio, Iowa, Novo México e Colorado. São 916.643 pessoas, ou “menos da metade das que pagaram para assistir a um jogo dos Houston Astros no ano passado”.

A maioria dos “indecisos” não se interessa por política. Mas quase certamente estão entre os 164 milhões atualmente inscritos no Facebook, e por isso um comentarista, David Talbot, chamou o site de “o verdadeiro estado decisivo presidencial”. O negócio do Facebook é que muitos usuários revelam informação detalhada sobre si mesmos — cidade onde nasceram, idade, educação, preferências, amigos. As pessoas que se interessam por política provavelmente não serão influenciadas por mensagens abertamente “políticas”, mas poderiam se interessar por mensagens de seus contatos no Facebook. Por isso, eleitores em estados indecisos como Ohio ou Flórida que “curtiram” uma página do Facebook que descreve Romney como um “abutre capitalista” poderiam de repente receber mensagens de “amigos” lembrando-lhes que eles compram na papelaria Staples, uma empresa bem-sucedida na qual Romney investiu.

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