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Com Brics, africanos deixam de ser ‘coitados’

Com ideia de ‘cooperação’, ajuda de países do grupo, que se reúne na Índia, cresce em ritmo dez vezes maior do que auxílio do G7 para a região

A presidenta Dilma Rousseff é recebida à moda indiana, em Nova Delhi, cidade que cedia a quarta Cúpula dos Brics. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
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Com a ajuda dos Brics, grupo das nações emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, os países pobres do continente africano se transformaram em parceiros estratégicos e numa rota de oportunidades. Saem de cena os “pobres coitados” e entram os potenciais consumidores.

É o que mostra um relatório da Global Health Strategies initiatives (GHSi) divulgado às vésperas da quarta cúpula dos Brics, em Nova Delhi (Índia). O documento mostra, entre outros pontos, que, entre 2005 e 2010, a ajuda do grupo emergente aos países africanos aumentou em um ritmo dez vezes maior do que as ações de socorro do G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá).

O ritmo tem mudado a relação de dependência dos países africanos em relação à elite financeira do planeta.

Em entrevista a CartaCapital, Oliver Stuenkel, professor da FGV-SP, explica que a ajuda dos Brics colocaram a África no mapa do mundo novamente. “O continente deixou de ser visto como uma região de pobres coitados que precisam de ajuda. Depois dos Brics, a África é vista como uma grande oportunidade, como um parceiro com grande potencial de consumidores.”

Segundo o relatório da GHSi, estima-se que os gastos do Brasil com ajuda externa tenham ficado entre 400 milhões e 1,2 bilhão de dólares em 2010. A Rússia teria desembolsado cerca de US$ 500 milhões no mesmo ano, enquanto a Índia teria gastado US$ 680 milhões, a China, US$ 3,9 bilhões, e a África do Sul, US$ 150 milhões.

Apesar da ajuda econômica dos países desenvolvidos ainda é maior, segundo Stuenkel , a introdução dos Brics no continente africano representa um reequilíbrio de poder na região. Isso é visível, por exemplo, quando se compara o número de embaixadas brasileiras com as britânicas na África. “O Brasil já possui 37 embaixadas no continente africano, mais do que o Reino Unido. Isso é prova de que o Brasil encara a África como uma prioridade e oportunidade”, ressalta o professor.

De acordo com a análise, os Brics misturam motivações altruístas com interesses políticos e econômicos e têm uma abordagem menos paternalista do que os países ricos. As potências emergentes não apostam em ajuda, mas sim, em cooperação.  Por conta disso,  são vistos como atores menos arrogantes na região.

De acordo com Stuenkel, os Brics compartilham conhecimento e transferem tecnologia com os países africanos sem exigir contrapartidas que interfiram na soberania dos países.

“Pela própria história de Brasil e Índia, que foram receptores de crédito do FMI, esses países operam com mais cuidado”, diz.

O professor relembra que, na época, os créditos cedidos ao Brasil eram acompanhados de imposições de reformas que limitavam a soberania do país. “Essa lembrança ainda está muito viva, por isso, a relutância em se exigir isso”.

Atuação recente


Por outro lado, a boa reputação dos Brics está relacionada com a presença recente do grupo no continente. Com o tempo, a tendência é que essa relação sofra desgastes. “Uma vez que o Brasil se torna mais presente em Moçambique e em Angola, maiores as chances dessa visão positiva mudar”.

Esse comportamento já é verificado, por exemplo, em reação à forte presença chinesa no continente. “Hoje, alguns países africanos já se sente atropelados, principalmente, pela China, em muitas áreas”, conta Stuenkel.

Nos Brics estão 42% da população do planeta e 30% dos seus territórios. Espera-se que, em 2015, o PIB dos Brics chegue a 22% do PIB mundial.

 

Com a ajuda dos Brics, grupo das nações emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, os países pobres do continente africano se transformaram em parceiros estratégicos e numa rota de oportunidades. Saem de cena os “pobres coitados” e entram os potenciais consumidores.

É o que mostra um relatório da Global Health Strategies initiatives (GHSi) divulgado às vésperas da quarta cúpula dos Brics, em Nova Delhi (Índia). O documento mostra, entre outros pontos, que, entre 2005 e 2010, a ajuda do grupo emergente aos países africanos aumentou em um ritmo dez vezes maior do que as ações de socorro do G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá).

O ritmo tem mudado a relação de dependência dos países africanos em relação à elite financeira do planeta.

Em entrevista a CartaCapital, Oliver Stuenkel, professor da FGV-SP, explica que a ajuda dos Brics colocaram a África no mapa do mundo novamente. “O continente deixou de ser visto como uma região de pobres coitados que precisam de ajuda. Depois dos Brics, a África é vista como uma grande oportunidade, como um parceiro com grande potencial de consumidores.”

Segundo o relatório da GHSi, estima-se que os gastos do Brasil com ajuda externa tenham ficado entre 400 milhões e 1,2 bilhão de dólares em 2010. A Rússia teria desembolsado cerca de US$ 500 milhões no mesmo ano, enquanto a Índia teria gastado US$ 680 milhões, a China, US$ 3,9 bilhões, e a África do Sul, US$ 150 milhões.

Apesar da ajuda econômica dos países desenvolvidos ainda é maior, segundo Stuenkel , a introdução dos Brics no continente africano representa um reequilíbrio de poder na região. Isso é visível, por exemplo, quando se compara o número de embaixadas brasileiras com as britânicas na África. “O Brasil já possui 37 embaixadas no continente africano, mais do que o Reino Unido. Isso é prova de que o Brasil encara a África como uma prioridade e oportunidade”, ressalta o professor.

De acordo com a análise, os Brics misturam motivações altruístas com interesses políticos e econômicos e têm uma abordagem menos paternalista do que os países ricos. As potências emergentes não apostam em ajuda, mas sim, em cooperação.  Por conta disso,  são vistos como atores menos arrogantes na região.

De acordo com Stuenkel, os Brics compartilham conhecimento e transferem tecnologia com os países africanos sem exigir contrapartidas que interfiram na soberania dos países.

“Pela própria história de Brasil e Índia, que foram receptores de crédito do FMI, esses países operam com mais cuidado”, diz.

O professor relembra que, na época, os créditos cedidos ao Brasil eram acompanhados de imposições de reformas que limitavam a soberania do país. “Essa lembrança ainda está muito viva, por isso, a relutância em se exigir isso”.

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Por outro lado, a boa reputação dos Brics está relacionada com a presença recente do grupo no continente. Com o tempo, a tendência é que essa relação sofra desgastes. “Uma vez que o Brasil se torna mais presente em Moçambique e em Angola, maiores as chances dessa visão positiva mudar”.

Esse comportamento já é verificado, por exemplo, em reação à forte presença chinesa no continente. “Hoje, alguns países africanos já se sente atropelados, principalmente, pela China, em muitas áreas”, conta Stuenkel.

Nos Brics estão 42% da população do planeta e 30% dos seus territórios. Espera-se que, em 2015, o PIB dos Brics chegue a 22% do PIB mundial.

 

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