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Candidatos republicanos usam família para ostentar valores

Uma prole grande e fotogênica parece ser vital na batalha contra Barack Obama pela presidência

Uma prole grande e fotogênica parece ser vital na batalha contra Barack Obama pela presidência. Foto: Gage Skidmore
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Por Paul Harris

Quando Rick Santorum se levantou diante de um auditório lotado na pequena cidade de Northfield, em New Hampshire, na semana passada, a plateia deu sonoras boas-vindas ao conservador cristão que hoje é a novidade mais quente na corrida pela nomeação do candidato republicano.

Santorum falou principalmente sobre as questões econômicas que os Estados Unidos enfrentam. Mas a atenção de parte do público pode ter se desviado para um enorme cartaz que mostrava o candidato radiante ao lado de sua mulher e sua prole de sete filhos. O retrato familiar estava tão cheio de rebentos que o ex-senador da Pensilvânia carregava um bebê nos ombros. “Turnê da fé, família e liberdade”, dizia o slogan do cartaz.

Na batalha republicana pelo direito de disputar a Casa Branca com o presidente Barack Obama, parece que o papel das famílias dos candidatos nunca foi tão importante.

O ex-governador de Utah Jon Huntsman também tem sete filhos, enquanto o candidato melhor colocado, Mitt Romney, e sua mulher têm cinco. O libertário do Texas Ron Paul também tem cinco filhos, assim como a congressista de Minnesota Michelle Bachmann, que muitas vezes melhorou sua posição mencionando seus 23 filhos adotivos.

Apesar de ela já ter desistido da campanha, a influência de Bachmann ainda poderá pairar quando se trata de táticas familiares. “Ela falava repetidamente sobre adotar tantos filhos como uma maneira de abordar as preocupações sociais. Era estranho”, disse o professor Bruce Gronbeck, um cientista político da Universidade de Iowa e especialista em questões de uso da personalidade na política. Em comparação com o restante da formação republicana, o governador do Texas, Rick Perry, e o ex-presidente da Câmara dos Deputados Newt Gingrich — com apenas dois filhos cada — têm famílias pequenas.

As respectivas proles receberam uma atenção especial das campanhas concorrentes. Em um comício em Peterborough, New Hampshire, Huntsman fez questão de mostrar à multidão na prefeitura local que três de suas filhas estavam assistindo do balcão. Enquanto a multidão olhava para cima, elas apropriadamente riram e acenaram de volta.

Conhecidas como “as meninas Huntsman”, as três jovens — a professora de piano Mary Anne, a especialista em relações públicas Abby e a candidata a estilista Liddy — fizeram ativa campanha por seu pai, usando especialmente a mídia social. Todas são bonitas e gravaram vídeos zombando dos outros pré-candidatos. Estes incluíram uma caricatura de Herman Cain, em que elas desenharam bigodes em si mesmas para imitar o chefe da campanha de Cain e cantaram uma paródia de “SexyBack” de Justin Timberlake que sugeria os planos econômicos do candidato. No Twitter as meninas Huntsman reuniram mais de 20 mil seguidores, dando um raro destaque a uma campanha que antes lutava para atrair a atenção da mídia. Elas ganharam até um perfil na intelectualizada revista New Yorker e conduziram um bate-papo ao vivo na web com leitores do Boston Herald.

Mas é o clã Romney que realmente ganhou manchetes e usou seus filhos com o máximo de efeito. Enquanto seu pai fazia campanha em Iowa e New Hampshire, quatro dos rapazes Romney — Josh, Tagg, Matt e Craig — fizeram frequentes aparições em eventos e diante das câmeras de TV, ajudados pela boa aparência que compartilham com os pais.

É claro que, como as meninas Huntsman, é o visual coletivo de astros do cinema que se nota, especialmente por jornalistas que parecem fascinados. “Os filhos de Romney são muito bonitos. Estou só dizendo”, publicou recentemente no Twitter a produtora da CNN Danielle Dellorto. Scott Stossel, subeditor da revista Atlantic, foi um passo além e brincou em seu Twitter: “As filhas de Huntsman e os filhos de Romney deveriam se juntar e criar uma super-raça de mórmons incrivelmente belos.”

Em outra parte da corrida, a filha de Santorum, Elizabeth, trabalha na equipe de campanha de seu pai em tempo parcial. Vários filhos de Ron Paul atuam como “substitutos” na campanha, dando entrevistas à mídia em nome do pai. O mais proeminente é o senador Rand Paul, que é uma figura importante no poderoso movimento Tea Party.

Especialistas dizem que colocar membros da família sob o olhar do público, especialmente um grande número de filhos bem apessoados, envia uma clara mensagem política, especialmente para os republicanos. Faz uma promessa velada de que a vida privada feliz e fértil em exibição vai se traduzir em um período virtuoso no governo.

“É o tema das virtudes privadas que se tornam públicas. Eles estão enviando a mensagem de que a base do sistema político e da sociedade é um lar feliz”, disse Gronbeck. Com Romney, Huntsman e Santorum, também é uma firme expressão de suas convicções religiosas, pois todos são mórmons ou católicos devotos cuja fé dá ênfase às grandes famílias.

Salientar a existência de uma família feliz também marca ponto com um elemento chave da base republicana, os conservadores sociais, que muitas vezes foram deixados de fora da conversa política americana no rastro da Grande Recessão que começou em 2007. Como as questões econômicas dominaram o debate desde então, os chamados “eleitores de valores” às vezes se sentiram marginalizados. Mas cada campanha sabe que uma exibição pública da família por um candidato pode ajudar a conquistar um grupo que ainda é uma parte vital da base ativista do Partido Republicano.

“Você precisa ser visto participando de coisas relacionadas à família. É o lado de beijar bebês da campanha”, disse Gronbeck.

É claro que colocar os filhos na trilha de campanha também pode causar problemas, especialmente quando se usa a mídia social, que muitas vezes pode ser descuidada por assessores de campanha exaustos. As meninas Huntsman claramente têm um problema com bigodes. Elas teriam irritado membros da equipe do pai com algumas de suas mensagens no Twitter, incluindo uma que zombava do assessor de Obama David Axelrod por ter bigode. Outra caricaturava a falta de experiência em política externa de Romney, dizendo que comer no Panda Express — uma rede de fast food chinesa dos EUA — “não vale”.

Os filhos de Romney também mandaram mensagens indesejáveis, como quando fizeram uma piada ambígua sobre a veracidade da certidão de nascimento de Obama. Houve um rápido pedido de desculpas. Nesta corrida, os filhos também precisam ser politicamente perspicazes.

Dificuldades relativas

Enquanto os atuais republicanos se ocuparam exibindo um grande número de filhos na campanha, outros políticos acharam que a família pode ter suas desvantagens.

Roger Clinton

O presidente Bill Clinton teve problemas suficientes em seu mandato com suas próprias falhas morais. Mas seu meio-irmão, Roger Clinton, os aumentou como um músico de vida dura. Ele passou um ano na prisão por posse de cocaína, foi detido por beber embriagado e desafiar um porteiro de boate para uma briga.

Neil Bush

O clã Bush sempre foi muito consciente de sua imagem, produzindo dois presidentes chamados George e um governador da Flórida na forma de Jeb. Mas Neil, um irmão de George W. e Jeb, ganhou manchetes por seu divórcio. Em uma amarga disputa jurídica, surgiram detalhes de que Neil usou acompanhantes de luxo na Tailândia e em Hong Kong. Como poderia dizer Rick Perry: “Oops”.

Billy Carter

O irmão mais moço do presidente Jimmy Carter, Billy, era um pouco diferente de seu irmão humilde e devoto. Ele se comprazia com a imagem de um beberrão sulista e até promoveu uma marca de cerveja. Foi diagnosticado com câncer do pâncreas em 1987 e morreu um ano depois.

Leia mais em guardian.co.uk

Por Paul Harris

Quando Rick Santorum se levantou diante de um auditório lotado na pequena cidade de Northfield, em New Hampshire, na semana passada, a plateia deu sonoras boas-vindas ao conservador cristão que hoje é a novidade mais quente na corrida pela nomeação do candidato republicano.

Santorum falou principalmente sobre as questões econômicas que os Estados Unidos enfrentam. Mas a atenção de parte do público pode ter se desviado para um enorme cartaz que mostrava o candidato radiante ao lado de sua mulher e sua prole de sete filhos. O retrato familiar estava tão cheio de rebentos que o ex-senador da Pensilvânia carregava um bebê nos ombros. “Turnê da fé, família e liberdade”, dizia o slogan do cartaz.

Na batalha republicana pelo direito de disputar a Casa Branca com o presidente Barack Obama, parece que o papel das famílias dos candidatos nunca foi tão importante.

O ex-governador de Utah Jon Huntsman também tem sete filhos, enquanto o candidato melhor colocado, Mitt Romney, e sua mulher têm cinco. O libertário do Texas Ron Paul também tem cinco filhos, assim como a congressista de Minnesota Michelle Bachmann, que muitas vezes melhorou sua posição mencionando seus 23 filhos adotivos.

Apesar de ela já ter desistido da campanha, a influência de Bachmann ainda poderá pairar quando se trata de táticas familiares. “Ela falava repetidamente sobre adotar tantos filhos como uma maneira de abordar as preocupações sociais. Era estranho”, disse o professor Bruce Gronbeck, um cientista político da Universidade de Iowa e especialista em questões de uso da personalidade na política. Em comparação com o restante da formação republicana, o governador do Texas, Rick Perry, e o ex-presidente da Câmara dos Deputados Newt Gingrich — com apenas dois filhos cada — têm famílias pequenas.

As respectivas proles receberam uma atenção especial das campanhas concorrentes. Em um comício em Peterborough, New Hampshire, Huntsman fez questão de mostrar à multidão na prefeitura local que três de suas filhas estavam assistindo do balcão. Enquanto a multidão olhava para cima, elas apropriadamente riram e acenaram de volta.

Conhecidas como “as meninas Huntsman”, as três jovens — a professora de piano Mary Anne, a especialista em relações públicas Abby e a candidata a estilista Liddy — fizeram ativa campanha por seu pai, usando especialmente a mídia social. Todas são bonitas e gravaram vídeos zombando dos outros pré-candidatos. Estes incluíram uma caricatura de Herman Cain, em que elas desenharam bigodes em si mesmas para imitar o chefe da campanha de Cain e cantaram uma paródia de “SexyBack” de Justin Timberlake que sugeria os planos econômicos do candidato. No Twitter as meninas Huntsman reuniram mais de 20 mil seguidores, dando um raro destaque a uma campanha que antes lutava para atrair a atenção da mídia. Elas ganharam até um perfil na intelectualizada revista New Yorker e conduziram um bate-papo ao vivo na web com leitores do Boston Herald.

Mas é o clã Romney que realmente ganhou manchetes e usou seus filhos com o máximo de efeito. Enquanto seu pai fazia campanha em Iowa e New Hampshire, quatro dos rapazes Romney — Josh, Tagg, Matt e Craig — fizeram frequentes aparições em eventos e diante das câmeras de TV, ajudados pela boa aparência que compartilham com os pais.

É claro que, como as meninas Huntsman, é o visual coletivo de astros do cinema que se nota, especialmente por jornalistas que parecem fascinados. “Os filhos de Romney são muito bonitos. Estou só dizendo”, publicou recentemente no Twitter a produtora da CNN Danielle Dellorto. Scott Stossel, subeditor da revista Atlantic, foi um passo além e brincou em seu Twitter: “As filhas de Huntsman e os filhos de Romney deveriam se juntar e criar uma super-raça de mórmons incrivelmente belos.”

Em outra parte da corrida, a filha de Santorum, Elizabeth, trabalha na equipe de campanha de seu pai em tempo parcial. Vários filhos de Ron Paul atuam como “substitutos” na campanha, dando entrevistas à mídia em nome do pai. O mais proeminente é o senador Rand Paul, que é uma figura importante no poderoso movimento Tea Party.

Especialistas dizem que colocar membros da família sob o olhar do público, especialmente um grande número de filhos bem apessoados, envia uma clara mensagem política, especialmente para os republicanos. Faz uma promessa velada de que a vida privada feliz e fértil em exibição vai se traduzir em um período virtuoso no governo.

“É o tema das virtudes privadas que se tornam públicas. Eles estão enviando a mensagem de que a base do sistema político e da sociedade é um lar feliz”, disse Gronbeck. Com Romney, Huntsman e Santorum, também é uma firme expressão de suas convicções religiosas, pois todos são mórmons ou católicos devotos cuja fé dá ênfase às grandes famílias.

Salientar a existência de uma família feliz também marca ponto com um elemento chave da base republicana, os conservadores sociais, que muitas vezes foram deixados de fora da conversa política americana no rastro da Grande Recessão que começou em 2007. Como as questões econômicas dominaram o debate desde então, os chamados “eleitores de valores” às vezes se sentiram marginalizados. Mas cada campanha sabe que uma exibição pública da família por um candidato pode ajudar a conquistar um grupo que ainda é uma parte vital da base ativista do Partido Republicano.

“Você precisa ser visto participando de coisas relacionadas à família. É o lado de beijar bebês da campanha”, disse Gronbeck.

É claro que colocar os filhos na trilha de campanha também pode causar problemas, especialmente quando se usa a mídia social, que muitas vezes pode ser descuidada por assessores de campanha exaustos. As meninas Huntsman claramente têm um problema com bigodes. Elas teriam irritado membros da equipe do pai com algumas de suas mensagens no Twitter, incluindo uma que zombava do assessor de Obama David Axelrod por ter bigode. Outra caricaturava a falta de experiência em política externa de Romney, dizendo que comer no Panda Express — uma rede de fast food chinesa dos EUA — “não vale”.

Os filhos de Romney também mandaram mensagens indesejáveis, como quando fizeram uma piada ambígua sobre a veracidade da certidão de nascimento de Obama. Houve um rápido pedido de desculpas. Nesta corrida, os filhos também precisam ser politicamente perspicazes.

Dificuldades relativas

Enquanto os atuais republicanos se ocuparam exibindo um grande número de filhos na campanha, outros políticos acharam que a família pode ter suas desvantagens.

Roger Clinton

O presidente Bill Clinton teve problemas suficientes em seu mandato com suas próprias falhas morais. Mas seu meio-irmão, Roger Clinton, os aumentou como um músico de vida dura. Ele passou um ano na prisão por posse de cocaína, foi detido por beber embriagado e desafiar um porteiro de boate para uma briga.

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O clã Bush sempre foi muito consciente de sua imagem, produzindo dois presidentes chamados George e um governador da Flórida na forma de Jeb. Mas Neil, um irmão de George W. e Jeb, ganhou manchetes por seu divórcio. Em uma amarga disputa jurídica, surgiram detalhes de que Neil usou acompanhantes de luxo na Tailândia e em Hong Kong. Como poderia dizer Rick Perry: “Oops”.

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O irmão mais moço do presidente Jimmy Carter, Billy, era um pouco diferente de seu irmão humilde e devoto. Ele se comprazia com a imagem de um beberrão sulista e até promoveu uma marca de cerveja. Foi diagnosticado com câncer do pâncreas em 1987 e morreu um ano depois.

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