Mundo

Aumenta diferença de patrimônio entre ricos e pobres

Em 2008, apenas 10% dos domicílios alemães detinham 53% do total da riqueza do país, contra os 45% de dez anos antes

Foto: Images_of_Money/Flickr
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Da Deutsche Welle


A diferença de patrimônio entre os ricos e os pobres na Alemanha está aumentando. Dez por cento das famílias alemãs detêm mais da metade do patrimônio no país. Essas conclusões são uma prévia do Relatório da Pobreza e da Riqueza, organizado pelo governo. A oposição quer, por isso, a reintrodução da taxa sobre grandes fortunas e o aumento do imposto de renda para os mais ricos.

Com base em dados de 2008, o estudo elaborado pelo Ministério do Trabalho diz que 10% dos domicílios alemães detêm 53% do total da riqueza do país. Em 1998, essa proporção era de 45%.

Por outro lado, 50% dos domicílios alemães detêm apenas 1% da riqueza – há dez anos, eram 4%. De 2007 a 2012, mesmo com a crise financeira, o patrimônio privado aumentou em 1,4 trilhão de euros.

“Em geral, a situação da Alemanha melhorou”, disse a ministra alemã do Trabalho, Ursula von der Leyen. Segundo ela, “o desemprego diminuiu, há menos crianças recebendo ajuda social do Estado e o desemprego entre os jovens é o mais baixo da Europa”.

Ela admite, porém, que pessoas com remuneração mais alta têm se beneficiado mais do aumento da riqueza do que os de média remuneração. Ao mesmo tempo, defende que pessoas com baixos salários deveriam ter uma chance de ascensão através, por exemplo, de “salários justos”.

Os principais partidos de oposição exigem a reintrodução de uma taxação sobre a propriedade privada e impostos mais altos para quem ganha mais. A riqueza é medida pelos ativos líquidos, como bens imobiliários, investimentos em dinheiro, terrenos ou aposentadoria.

A secretária-geral do partido Social Democrata, Andrea Nahles, critica o que chama de “gigante redistribuição” a favor dos ricos e dos super-ricos.

   

Estado pobre, população rica

“Os orçamentos públicos perderam nas últimas duas décadas mais de 800 bilhões de euros em patrimônio”, diz o relatório do Ministério do Trabalho. Em entrevista à Deutsche Welle, Ralph Brügelmann, do Instituto da Economia Alemã, não se disse surpreso. “Os motivos são bem óbvios: o forte crescimento da dívida pública. Os ativos vinham crescendo até 2009, mas as dívidas também subiram rapidamente. Por isso houve perda de patrimônio.”

Já o contrário aconteceu no caso da propriedade privada. De acordo com o relatório, o patrimônio líquido dos alemães cresceu de 4,6 trilhões de euros em 1992 para cerca de 10 trilhões de euros até o início de 2012. Mesmo nos anos de crise, entre 2007 e 2012, ele cresceu em 1,4 trilhão de euros.

Brügelmann explica por que a alta dívida do governo e a riqueza privada não são contraditórias. “A atividade econômica na Alemanha está, basicamente, nas mãos de investidores privados. E os investimentos privados tendem a trazer o maior retorno”.

O professor de Sociologia da Universidade Técnica de Darmstadt, Michael Hartmann, frisa que a desigualdade traz riscos, também, para a economia. “Uma das razões para o desencadeamento das crises financeiras é sempre a extrema desigualdade, pois no alto da pirâmide há muito dinheiro, que não entra na cadeia de consumo, mas sim em investimentos especulativos”.

Na opinião de Hartmann, o Estado deveria, portanto, combater a desigualdade com impostos mais altos para as pessoas com maiores salários e com mais bens. “Se hoje tivéssemos as mesmas taxas de impostos que tínhamos em meados da década de 1990, isso significaria 40 a 50 bilhões de euros em impostos a mais no ano.”

Porém, isso não convence Christoph Brügelmann, do Instituto da Economia Alemã. “A conjuntura se aquece, mas não há crescimento. O que em curto prazo é bom para a conjuntura, é, em longo prazo, tóxico para novos investimentos.”

Essa é uma tese da qual Michael Hartmann discorda: “Esse é o mantra da política econômica: rendimentos mais elevados das camadas mais ricas garantem os investimentos, e investimentos garantem empregos. Este é o efeito trickle-down (teoria do fluxo contínuo), de que se fala há vários anos, mas não  aconteceu até hoje”.

Ricos ficam mais ricos, pobres continuam pobres

De fato, o estudo do governo, publicado a cada quatro anos, confirma uma tendência: a diferença de patrimônio entre pobres e ricos no país, ao longo dos anos, cresce. Em 1998, os mais ricos possuíam 45% do total de bens no país. Já em 2008, esse mesmo grupo detinha mais de 53%.

O Ministério do Trabalho constatou, também, que houve uma desigualdade no crescimento salarial: enquanto os vencimentos nos cargos mais altos aumentaram, nas categorias mais baixas, 40% dos trabalhadores em tempo integral sofreram cortes salariais.

Michael Hartmann chama a atenção para outros efeitos resultantes dessa desigualdade. “Isso mudou tão drasticamente em um período tão curto que a massa da população percebe e acha injusto”.

Uma avaliação aparentemente compartilhada pelo Ministério alemão do Trabalho, que a respeito da evolução dos vencimentos observou: “Esse desenvolvimento salarial fere o senso de justiça da população.”

Da Deutsche Welle


A diferença de patrimônio entre os ricos e os pobres na Alemanha está aumentando. Dez por cento das famílias alemãs detêm mais da metade do patrimônio no país. Essas conclusões são uma prévia do Relatório da Pobreza e da Riqueza, organizado pelo governo. A oposição quer, por isso, a reintrodução da taxa sobre grandes fortunas e o aumento do imposto de renda para os mais ricos.

Com base em dados de 2008, o estudo elaborado pelo Ministério do Trabalho diz que 10% dos domicílios alemães detêm 53% do total da riqueza do país. Em 1998, essa proporção era de 45%.

Por outro lado, 50% dos domicílios alemães detêm apenas 1% da riqueza – há dez anos, eram 4%. De 2007 a 2012, mesmo com a crise financeira, o patrimônio privado aumentou em 1,4 trilhão de euros.

“Em geral, a situação da Alemanha melhorou”, disse a ministra alemã do Trabalho, Ursula von der Leyen. Segundo ela, “o desemprego diminuiu, há menos crianças recebendo ajuda social do Estado e o desemprego entre os jovens é o mais baixo da Europa”.

Ela admite, porém, que pessoas com remuneração mais alta têm se beneficiado mais do aumento da riqueza do que os de média remuneração. Ao mesmo tempo, defende que pessoas com baixos salários deveriam ter uma chance de ascensão através, por exemplo, de “salários justos”.

Os principais partidos de oposição exigem a reintrodução de uma taxação sobre a propriedade privada e impostos mais altos para quem ganha mais. A riqueza é medida pelos ativos líquidos, como bens imobiliários, investimentos em dinheiro, terrenos ou aposentadoria.

A secretária-geral do partido Social Democrata, Andrea Nahles, critica o que chama de “gigante redistribuição” a favor dos ricos e dos super-ricos.

   

Estado pobre, população rica

“Os orçamentos públicos perderam nas últimas duas décadas mais de 800 bilhões de euros em patrimônio”, diz o relatório do Ministério do Trabalho. Em entrevista à Deutsche Welle, Ralph Brügelmann, do Instituto da Economia Alemã, não se disse surpreso. “Os motivos são bem óbvios: o forte crescimento da dívida pública. Os ativos vinham crescendo até 2009, mas as dívidas também subiram rapidamente. Por isso houve perda de patrimônio.”

Já o contrário aconteceu no caso da propriedade privada. De acordo com o relatório, o patrimônio líquido dos alemães cresceu de 4,6 trilhões de euros em 1992 para cerca de 10 trilhões de euros até o início de 2012. Mesmo nos anos de crise, entre 2007 e 2012, ele cresceu em 1,4 trilhão de euros.

Brügelmann explica por que a alta dívida do governo e a riqueza privada não são contraditórias. “A atividade econômica na Alemanha está, basicamente, nas mãos de investidores privados. E os investimentos privados tendem a trazer o maior retorno”.

O professor de Sociologia da Universidade Técnica de Darmstadt, Michael Hartmann, frisa que a desigualdade traz riscos, também, para a economia. “Uma das razões para o desencadeamento das crises financeiras é sempre a extrema desigualdade, pois no alto da pirâmide há muito dinheiro, que não entra na cadeia de consumo, mas sim em investimentos especulativos”.

Na opinião de Hartmann, o Estado deveria, portanto, combater a desigualdade com impostos mais altos para as pessoas com maiores salários e com mais bens. “Se hoje tivéssemos as mesmas taxas de impostos que tínhamos em meados da década de 1990, isso significaria 40 a 50 bilhões de euros em impostos a mais no ano.”

Porém, isso não convence Christoph Brügelmann, do Instituto da Economia Alemã. “A conjuntura se aquece, mas não há crescimento. O que em curto prazo é bom para a conjuntura, é, em longo prazo, tóxico para novos investimentos.”

Essa é uma tese da qual Michael Hartmann discorda: “Esse é o mantra da política econômica: rendimentos mais elevados das camadas mais ricas garantem os investimentos, e investimentos garantem empregos. Este é o efeito trickle-down (teoria do fluxo contínuo), de que se fala há vários anos, mas não  aconteceu até hoje”.

Ricos ficam mais ricos, pobres continuam pobres

De fato, o estudo do governo, publicado a cada quatro anos, confirma uma tendência: a diferença de patrimônio entre pobres e ricos no país, ao longo dos anos, cresce. Em 1998, os mais ricos possuíam 45% do total de bens no país. Já em 2008, esse mesmo grupo detinha mais de 53%.

O Ministério do Trabalho constatou, também, que houve uma desigualdade no crescimento salarial: enquanto os vencimentos nos cargos mais altos aumentaram, nas categorias mais baixas, 40% dos trabalhadores em tempo integral sofreram cortes salariais.

Michael Hartmann chama a atenção para outros efeitos resultantes dessa desigualdade. “Isso mudou tão drasticamente em um período tão curto que a massa da população percebe e acha injusto”.

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