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Ação dos EUA e do Irã torna a paz na Síria inviável

No submundo, governos enviam armas contrabandeadas para Assad e seus rivais e afastam cada vez mais a possibilidade de um acordo de paz

Imagem divulgada por opositores de Assad mostra grupo de militares que deserdaram e se juntaram aos rebeldes, em Idlib, no norte do país. Foto: Shaam News Network / AFP
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Em março de 2011, quando a crise na Síria teve início, um dos argumentos mais fortes contra uma intervenção internacional aos moldes da que houve na Líbia era a possibilidade de o conflito no país se tornar uma “guerra por procuração”. O medo era de que potências ocidentais e grupos e governos regionais interferissem na Síria fomentando uma guerra civil com potencial para espirrar para outros países da região. Como se sabe, não houve intervenção na Síria, mas nesta semana ficou claro que o país se tornou um campo de batalha mundial. Neste palco, disputam poder Estados Unidos, Irã, Turquia, países do Golfo Pérsico e outros grupos civis, como a Irmandade Muçulmana da Síria e, possivelmente, até a rede terrorista Al-Qaeda. Enquanto isso, as perspectivas de paz na Síria só fazem minguar e as de uma nova guerra civil no vizinho Líbano crescem.

A comprovação de que o governos dos Estados Unidos está tentando ajudar os rebeldes rivais ao ditador Bashar al-Assad surgiu em uma reportagem publicada pelo jornal The Washington Post na terça-feira 15. À publicação, um membro do Departamento de Estado americano afirmou que a Casa Branca está “aumentando a ajuda não-letal à oposição síria”. Essa ajuda inclui informações de inteligência sobre rebeldes sírios e também sobre infraestrutura de combate. Com esses dados, os países do Golfo Pérsico, especialmente Catar e Arábia Saudita, fazem chegar aos rebeldes sírios milhões de dólares em armas contrabandeadas. As duas principais rotas dos armamentos são o Líbano, um país também dividido entre setores pró e anti-Assad, e a Turquia, que fala abertamente em tirar Assad do poder. Os governos não são os únicos contrabandeando armas. A Irmandade Muçulmana da Síria (que nada tem a ver atualmente com a Irmandade Muçulmana no Egito) abriu também sua própria rota para abastecer os rebeldes.

Tão preocupante quanto a interferência externa na Síria é a possível entrada de militantes ligados, na prática ou ideologicamente, à Al-Qaeda. O atentado da semana passada em Damasco (uma dupla explosão de carro-bomba com 55 mortos) fez diversos especialistas crerem que a rede terrorista está tentando se instalar na Síria. Ironicamente, a Al-Qaeda e os Estados Unidos têm interessante coincidente por lá: derrubar Assad.

Do outro lado da briga, o comportamento é exatamente o mesmo. As suspeitas de que o governo do Irã está contrabandeando armas para o regime sírio ficaram mais fortes nesta semana. Na quarta-feira, um diplomata do Conselho de Segurança das Nações Unidas afirmou à agência Associated Press que um novo relatório da entidade descobriu pelo menos dois carregamentos ilegais de armas enviados pelo Irã à Síria. O Irã tem em Assad seu principal aliado regional e não quer perde-lo. Assim, não tem ajudado a Síria apenas com armas. Nesta quinta-feira, o jornal Financial Times afirma que a Síria está conseguindo romper o embargo a suas exportações de petróleo graças a um navio iraniano. A embarcação estaria usando diversas bandeiras e empresas diferentes para levar o petróleo sírio ao Irã.

O retrato é completado pelo drama do Líbano, um país muito influenciado pelo que ocorre na Síria. O Líbano tem comunidades sunitas, xiitas e alawitas que são fieis a seus correligionários na Síria. Nesta semana, a violência entre alawitas (como Assad) e sunitas (como os rebeldes sírios) deixou pelo menos oito mortos. O governo libanês tenta a todo custo abafar a crise antes que ela se agrave e abra as portas para uma guerra civil.

Assim, enquanto o enviado especial das Nações Unidas, Kofi Annan, tenta mediar a paz na Síria, diversos atores da comunidade internacional agem no submundo para tornar um acordo inviável. Somando-se a isso o comportamento assassino e insano de Bashar al-Assad, não é difícil perceber que a Síria caminha para um destino desolador.

Em março de 2011, quando a crise na Síria teve início, um dos argumentos mais fortes contra uma intervenção internacional aos moldes da que houve na Líbia era a possibilidade de o conflito no país se tornar uma “guerra por procuração”. O medo era de que potências ocidentais e grupos e governos regionais interferissem na Síria fomentando uma guerra civil com potencial para espirrar para outros países da região. Como se sabe, não houve intervenção na Síria, mas nesta semana ficou claro que o país se tornou um campo de batalha mundial. Neste palco, disputam poder Estados Unidos, Irã, Turquia, países do Golfo Pérsico e outros grupos civis, como a Irmandade Muçulmana da Síria e, possivelmente, até a rede terrorista Al-Qaeda. Enquanto isso, as perspectivas de paz na Síria só fazem minguar e as de uma nova guerra civil no vizinho Líbano crescem.

A comprovação de que o governos dos Estados Unidos está tentando ajudar os rebeldes rivais ao ditador Bashar al-Assad surgiu em uma reportagem publicada pelo jornal The Washington Post na terça-feira 15. À publicação, um membro do Departamento de Estado americano afirmou que a Casa Branca está “aumentando a ajuda não-letal à oposição síria”. Essa ajuda inclui informações de inteligência sobre rebeldes sírios e também sobre infraestrutura de combate. Com esses dados, os países do Golfo Pérsico, especialmente Catar e Arábia Saudita, fazem chegar aos rebeldes sírios milhões de dólares em armas contrabandeadas. As duas principais rotas dos armamentos são o Líbano, um país também dividido entre setores pró e anti-Assad, e a Turquia, que fala abertamente em tirar Assad do poder. Os governos não são os únicos contrabandeando armas. A Irmandade Muçulmana da Síria (que nada tem a ver atualmente com a Irmandade Muçulmana no Egito) abriu também sua própria rota para abastecer os rebeldes.

Tão preocupante quanto a interferência externa na Síria é a possível entrada de militantes ligados, na prática ou ideologicamente, à Al-Qaeda. O atentado da semana passada em Damasco (uma dupla explosão de carro-bomba com 55 mortos) fez diversos especialistas crerem que a rede terrorista está tentando se instalar na Síria. Ironicamente, a Al-Qaeda e os Estados Unidos têm interessante coincidente por lá: derrubar Assad.

Do outro lado da briga, o comportamento é exatamente o mesmo. As suspeitas de que o governo do Irã está contrabandeando armas para o regime sírio ficaram mais fortes nesta semana. Na quarta-feira, um diplomata do Conselho de Segurança das Nações Unidas afirmou à agência Associated Press que um novo relatório da entidade descobriu pelo menos dois carregamentos ilegais de armas enviados pelo Irã à Síria. O Irã tem em Assad seu principal aliado regional e não quer perde-lo. Assim, não tem ajudado a Síria apenas com armas. Nesta quinta-feira, o jornal Financial Times afirma que a Síria está conseguindo romper o embargo a suas exportações de petróleo graças a um navio iraniano. A embarcação estaria usando diversas bandeiras e empresas diferentes para levar o petróleo sírio ao Irã.

O retrato é completado pelo drama do Líbano, um país muito influenciado pelo que ocorre na Síria. O Líbano tem comunidades sunitas, xiitas e alawitas que são fieis a seus correligionários na Síria. Nesta semana, a violência entre alawitas (como Assad) e sunitas (como os rebeldes sírios) deixou pelo menos oito mortos. O governo libanês tenta a todo custo abafar a crise antes que ela se agrave e abra as portas para uma guerra civil.

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