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A Síria pode ser a nova Iugoslávia?

Existe uma suspeita de que o ditador Al-Assad esteja promovendo uma limpeza étnica para criar uma ala alawita, sua vertente religiosa

Mapa dos massacres na Síria. Imagem: blog Philosophy and Law
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Nesta semana, em 16 meses de levante contra Bashar al-Assad, li o relato mais perturbador sobre o que o ditador poderia estar planejando na Síria. NoTelegraph, Michael Weiss, do think tank The Henry Jackson Society, cogitou a possibilidade de Assad estar realizando uma limpeza étnica contra sunitas ao longo de um corredor geográfico para criar um lar alawita (sua religião) na costa oeste da Síria. A bizarra possibilidade é reforçada por este mapa que mostra como os maiores massacres cometidos até agora ocorreram justamente no que seria a “fronteira” deste corredor.

Na Foreign Affairs, Katie Paul fez excelente reportagem mostrando que muitos alawitas, inclusive vários que não dão a mínima para o futuro de Assad, estão realmente migrando para e comprando imóveis neste corredor oeste, no qual as principais cidades são Latakia (de onde Assad nasceu) e Tartus (onde a Rússia tem uma base).

Weiss contou que os curdos sírios também estão cuidando de seu próprio território, no norte do país. Reportagem do site Rudaw mostrou que o Conselho Nacional Curdo (KNC) e a Assembleia Popular do Curdistão Ocidental realizaram um acordo de paz, na prática se unindo para proteger os curdos. O KNC é um grupo aliado ao Conselho Nacional Sírio, principal órgão civil de oposição a Assad, e a Assembleia é um braço do Partido União Nacional (PYD), ligado ao PKK, grupo considerado terrorista pela Turquia.

Nesta confusão étnica sobram os cristãos e a maioria sunita. Segundo reportagem da revista The Economist, os cristãos sírios estão cada vez mais distantes de Assad. A maioria sunita, que inclui a Irmandade Muçulmana, jura que pretende derrubar apenas o regime, mas as minorias têm dificuldade em acreditar. Temem se tornar alvo de massacres.

Robert Fisk no The Independent e Tony Karon na Time falam sobre a semelhança entre o que ocorre hoje na Síria e o que houve com a Iugoslávia nos anos 1990. O país europeu, secular, acabou dividido em inúmeros Estados cujas fronteiras seguiam linhas étnico-religiosas. Fisk nota o sectarismo da violência e Karon destaca que as potências criadoras da Síria (Ocidente) gostariam de preservá-la intacta, ao contrário do que houve com a Iugoslávia.

Há dúvidas sobre esse desfecho. A Turquia e o Iraque rejeitariam de imediato um Estado curdo, temendo a reação das minorias curdas em seus territórios. O Estado alawita também provavelmente teria grandes dificuldades para se sustentar, porque tem muitos sunitas e porque é economicamente dependente do resto da Síria.

A única coisa certa é que parece cada vez mais urgente uma política de contenção de danos por parte das potências do Conselho de Segurança que envolva ao menos buscar garantias de alguns desses grupos étnicos. As potências rejeitaram intervir no início do conflito, entre vários motivos por conta da possibilidade de a guerra se espalhar por todo o Oriente Médio. Agora esta alternativa parece ainda mais clara. Nesta sexta-feira 20, o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, afirmou que seu país pode intervir caso Assad tente repassar suas armas químicas para o grupo libanês Hezbollah, inimigo de Israel. Para piorar, o componente sectário está cada vez mais inflamado na Síria. A impressão hoje é que o desfecho será ainda mais terrível que o esperado pelos mais pessimistas quando a Primavera Árabe chegou à Síria. E ninguém está fazendo nada para evitar isso.

Nesta semana, em 16 meses de levante contra Bashar al-Assad, li o relato mais perturbador sobre o que o ditador poderia estar planejando na Síria. NoTelegraph, Michael Weiss, do think tank The Henry Jackson Society, cogitou a possibilidade de Assad estar realizando uma limpeza étnica contra sunitas ao longo de um corredor geográfico para criar um lar alawita (sua religião) na costa oeste da Síria. A bizarra possibilidade é reforçada por este mapa que mostra como os maiores massacres cometidos até agora ocorreram justamente no que seria a “fronteira” deste corredor.

Na Foreign Affairs, Katie Paul fez excelente reportagem mostrando que muitos alawitas, inclusive vários que não dão a mínima para o futuro de Assad, estão realmente migrando para e comprando imóveis neste corredor oeste, no qual as principais cidades são Latakia (de onde Assad nasceu) e Tartus (onde a Rússia tem uma base).

Weiss contou que os curdos sírios também estão cuidando de seu próprio território, no norte do país. Reportagem do site Rudaw mostrou que o Conselho Nacional Curdo (KNC) e a Assembleia Popular do Curdistão Ocidental realizaram um acordo de paz, na prática se unindo para proteger os curdos. O KNC é um grupo aliado ao Conselho Nacional Sírio, principal órgão civil de oposição a Assad, e a Assembleia é um braço do Partido União Nacional (PYD), ligado ao PKK, grupo considerado terrorista pela Turquia.

Nesta confusão étnica sobram os cristãos e a maioria sunita. Segundo reportagem da revista The Economist, os cristãos sírios estão cada vez mais distantes de Assad. A maioria sunita, que inclui a Irmandade Muçulmana, jura que pretende derrubar apenas o regime, mas as minorias têm dificuldade em acreditar. Temem se tornar alvo de massacres.

Robert Fisk no The Independent e Tony Karon na Time falam sobre a semelhança entre o que ocorre hoje na Síria e o que houve com a Iugoslávia nos anos 1990. O país europeu, secular, acabou dividido em inúmeros Estados cujas fronteiras seguiam linhas étnico-religiosas. Fisk nota o sectarismo da violência e Karon destaca que as potências criadoras da Síria (Ocidente) gostariam de preservá-la intacta, ao contrário do que houve com a Iugoslávia.

Há dúvidas sobre esse desfecho. A Turquia e o Iraque rejeitariam de imediato um Estado curdo, temendo a reação das minorias curdas em seus territórios. O Estado alawita também provavelmente teria grandes dificuldades para se sustentar, porque tem muitos sunitas e porque é economicamente dependente do resto da Síria.

A única coisa certa é que parece cada vez mais urgente uma política de contenção de danos por parte das potências do Conselho de Segurança que envolva ao menos buscar garantias de alguns desses grupos étnicos. As potências rejeitaram intervir no início do conflito, entre vários motivos por conta da possibilidade de a guerra se espalhar por todo o Oriente Médio. Agora esta alternativa parece ainda mais clara. Nesta sexta-feira 20, o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, afirmou que seu país pode intervir caso Assad tente repassar suas armas químicas para o grupo libanês Hezbollah, inimigo de Israel. Para piorar, o componente sectário está cada vez mais inflamado na Síria. A impressão hoje é que o desfecho será ainda mais terrível que o esperado pelos mais pessimistas quando a Primavera Árabe chegou à Síria. E ninguém está fazendo nada para evitar isso.

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