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A maré vermelha

A greve geral na Espanha tem ampla participação popular, mas os gritos não chegam a tempo de conter a reforma trabalhista

Manifestantes tomam as ruas da Espanha em protesto contra a reforma trabalhista. Foto: CRISTINA QUICLER / AFP
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Beatriz Borges, de Madri


 

Quatro meses após ganhar as eleições e devolver o poder ao conservador Partido Popular (PP), o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, enfrenta nesta semana o momento mais tenso de seu governo. Uma greve geral convocada para esta quinta-feira 29 levou milhares de manifestantes às ruas das maiores cidades do país. Valencia, Bilbao, Barcelona e a capital, Madri, estão tomadas por piquetes desde as oito da manhã.

 

As maiores passeatas estão previstas para acontecer ao longo da tarde, com bandeirolas, apitos e cartazes similares aos que tomaram as ruas durante os protestos de 15 de Maio, às vésperas da eleição. (Leia mais ) A diferença é que, desta vez, são os sindicatos de Comissões Obreiras e União Geral do Trabalhador (CC OO e UGT) que convocaram a greve, levando uma única cor única às passeatas: o vermelho.

A greve geral, que também está nas redes sociais com o tag #29MHuelgaGeneral, foi um chamado dos sindicatos para que os trabalhadores se manifestassem contra a reforma trabalhista do governo, que deve ser aprovada no próximo dia 9.

A reforma prevê o barateamento dos custos para demissões – e dá às empresas o direito de demitir por justa causa caso tenha prejuízos durante três meses consecutivos. A reforma possibilitará ainda a entrada em vigor de contratos precários e sem garantias, pelos quais é dispensado o aviso prévio no primeiro ano de trabalho.

Permitirá também que as empresas renovem contratos para estágio por dois anos consecutivos sem que se assuma o compromisso de contratar o funcionário até que este tenha 30 anos. Outra perda para os trabalhadores prevista na reforma é a possibilidade de a empresa negar o direito a férias de 30 dias dos próprios empregados.

A revolta dos sindicatos é que as mudanças serão feitas por meio de decreto-lei, sem que tenha sido negociada com representantes da sociedade civil.

Tensão. Pelas ruas de Madri, onde 20 mil pessoas se reuniam em protestos, era possível ver pela manhã jovens protestando ao lado dos “yayos flauta”, espécies de hippies velhinhos comparados aos “perros de flauta”, que costumam fazer barulho nessas mobilizações. Integrantes do governo chegaram a reclamar do cheiro das bombas jogadas pelos manifestantes às portas de quase todos os ministérios.

Entre os manifestantes estavam os “bicipiquetes”, que aproveitavam o protesto para pedir melhores condições para o uso das bicicletas na capital.

Ao menos 58 pessoas foram presas pela manhã por causa das ações. Os conflitos obrigaram a polícia de cada cidade a conter os manifestantes mais violentos, que incendiaram lixeiras e pneus, destruíram vitrines e ameaçaram trabalhadores que ameaçavam furar a greve.

Um dos momentos mais críticos foi quando os manifestantes impediram a entrada de trabalhadores nas empresas de transporte público, mercados e fábricas de automóveis.

Várias personalidades, entre eles Joaquín Sabina (assista AQUI)?feature=oembed" frameborder="0" allowfullscreen> e Manuel Serrat (vejo o vídeo AQUI),?feature=oembed" frameborder="0" allowfullscreen> conhecidos cantores espanhóis, declararam seu apoio à greve

Os sindicatos calculam que 77% dos trabalhadores faltaram ao trabalho – em setores-chave da cidade, como na área de transporte público e da construção civil, a paralisação atingiu mais de 50% da categoria e na indústria chegou a 97%, segundo os manifestantes.

Em um anúncio televisivo e sem direito a perguntas, a diretora-geral de Política Interior, Cristina Díaz, anunciou que a rotina seguia normalmente. Desde então, só houve pronunciamento da ministra de Emprego, Fátima Báñez. Ela adiantou que o texto da reforma trabalhista não se alterará e esquentou o clima de tensão.

Para sexta-feira está previsto o anúncio sobre o orçamento anual do governo, já aprovado pelo Congresso, e sem possibilidade de alteração.

 

 

Beatriz Borges, de Madri


 

Quatro meses após ganhar as eleições e devolver o poder ao conservador Partido Popular (PP), o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, enfrenta nesta semana o momento mais tenso de seu governo. Uma greve geral convocada para esta quinta-feira 29 levou milhares de manifestantes às ruas das maiores cidades do país. Valencia, Bilbao, Barcelona e a capital, Madri, estão tomadas por piquetes desde as oito da manhã.

 

As maiores passeatas estão previstas para acontecer ao longo da tarde, com bandeirolas, apitos e cartazes similares aos que tomaram as ruas durante os protestos de 15 de Maio, às vésperas da eleição. (Leia mais ) A diferença é que, desta vez, são os sindicatos de Comissões Obreiras e União Geral do Trabalhador (CC OO e UGT) que convocaram a greve, levando uma única cor única às passeatas: o vermelho.

A greve geral, que também está nas redes sociais com o tag #29MHuelgaGeneral, foi um chamado dos sindicatos para que os trabalhadores se manifestassem contra a reforma trabalhista do governo, que deve ser aprovada no próximo dia 9.

A reforma prevê o barateamento dos custos para demissões – e dá às empresas o direito de demitir por justa causa caso tenha prejuízos durante três meses consecutivos. A reforma possibilitará ainda a entrada em vigor de contratos precários e sem garantias, pelos quais é dispensado o aviso prévio no primeiro ano de trabalho.

Permitirá também que as empresas renovem contratos para estágio por dois anos consecutivos sem que se assuma o compromisso de contratar o funcionário até que este tenha 30 anos. Outra perda para os trabalhadores prevista na reforma é a possibilidade de a empresa negar o direito a férias de 30 dias dos próprios empregados.

A revolta dos sindicatos é que as mudanças serão feitas por meio de decreto-lei, sem que tenha sido negociada com representantes da sociedade civil.

Tensão. Pelas ruas de Madri, onde 20 mil pessoas se reuniam em protestos, era possível ver pela manhã jovens protestando ao lado dos “yayos flauta”, espécies de hippies velhinhos comparados aos “perros de flauta”, que costumam fazer barulho nessas mobilizações. Integrantes do governo chegaram a reclamar do cheiro das bombas jogadas pelos manifestantes às portas de quase todos os ministérios.

Entre os manifestantes estavam os “bicipiquetes”, que aproveitavam o protesto para pedir melhores condições para o uso das bicicletas na capital.

Ao menos 58 pessoas foram presas pela manhã por causa das ações. Os conflitos obrigaram a polícia de cada cidade a conter os manifestantes mais violentos, que incendiaram lixeiras e pneus, destruíram vitrines e ameaçaram trabalhadores que ameaçavam furar a greve.

Um dos momentos mais críticos foi quando os manifestantes impediram a entrada de trabalhadores nas empresas de transporte público, mercados e fábricas de automóveis.

Várias personalidades, entre eles Joaquín Sabina (assista AQUI)?feature=oembed" frameborder="0" allowfullscreen> e Manuel Serrat (vejo o vídeo AQUI),?feature=oembed" frameborder="0" allowfullscreen> conhecidos cantores espanhóis, declararam seu apoio à greve

Os sindicatos calculam que 77% dos trabalhadores faltaram ao trabalho – em setores-chave da cidade, como na área de transporte público e da construção civil, a paralisação atingiu mais de 50% da categoria e na indústria chegou a 97%, segundo os manifestantes.

Em um anúncio televisivo e sem direito a perguntas, a diretora-geral de Política Interior, Cristina Díaz, anunciou que a rotina seguia normalmente. Desde então, só houve pronunciamento da ministra de Emprego, Fátima Báñez. Ela adiantou que o texto da reforma trabalhista não se alterará e esquentou o clima de tensão.

Para sexta-feira está previsto o anúncio sobre o orçamento anual do governo, já aprovado pelo Congresso, e sem possibilidade de alteração.

 

 

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