Economia

Vento de proa

Ultrapassamos a metade do segundo trimestre sem muita expectativa de crescer mais do que 0,5% nos primeiros seis meses do ano

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Não tenho o hábito de citar meus próprios escritos, mas na primeira semana de novembro de 2011 a Tribuna de Santos (creio que outros jornais em São Paulo) publicaram um comentário sob o título “Rendição dos governos”, em que eu dizia, entre outras coisas:

1. O que ameaça o futuro da economia mundial é a possibilidade de que a morna resposta das sociedades de maior consumo às políticas econômicas descoordenadas e sem eficiência (porque sem credibilidade!) reduza o crescimento durante muitos anos e impeça a solução do problema fiscal criado por elas mesmas. O remédio tecnocrático (despesas públicas e juro real negativo) esgotou sua potencialidade. Os balanços do Fed e do BCE estão em limites preocupantes. E os Tesouros dos EUA e dos países da Comunidade Europeia estão tão endividados que não se pode esperar deles muita coisa.

2. A continuidade de um ritmo de baixo crescimento da economia de nossos parceiros por todo o pós-crise já interfere negativamente na perspectiva de expansão da economia brasileira. Os fracos resultados dos programas de recuperação da economia americana (que mantém um desemprego de 9,2%) e, ainda pior, os 16,2 milhões de desempregados na Zona do Euro (mais de 10% em toda a área) mostram que não podemos contar mais com ventos externos favoráveis pelo tempo que se calculava.

No fim de 2011 e início de 2012, as perspectivas de “aterrissagem suave” da economia nos países emergentes, como Brasil e China, especialmente, já mudavam para um pouso com “vento de través”. Aqui, o indicador da variação do nível da atividade econômica do Banco Central, o IBC-BR, já apontava para crescimento de apenas 0,15% do PIB no primeiro trimestre. Deu 0,2%, o que não era algo inesperado, portanto. O elemento surpresa foi o prolongamento exagerado da seca no Sertão nordestino e no Rio Grande do Sul, que derrubaram fortemente o PIB agrícola, somado à queda da produção da indústria de transformação, que terminou 2011 com crescimento de mísero 0,1%.

Já ultrapassamos a metade do segundo trimestre, sem muita expectativa de crescer mais do que 0,5%, o que significará uma reação muito pequena em todo o semestre e tornará difícil para o Brasil repetir em 2012 o crescimento de 2,7% do ano passado. Para se aproximar desse resultado, será preciso uma grande mobilização do governo, facilitando os investimentos públicos, acelerando as concessões por meio de taxas de retorno palatáveis e estímulos às Parcerias Público-Privadas (PPP). São ações necessárias para reanimar os investimentos privados porque as medidas do governo estão na direção correta, mas não têm tido a capacidade de mobilizar a sociedade.

O governo não tem recursos suficientes para investir em tudo o que é necessário e urgente para conter o estrangulamento logístico que encarece a circulação de mercadorias e de pessoas nas áreas mais dinâmicas da produção agrícola e industrial. Precisa mais do que nunca cooptar o setor privado para acelerar os investimentos nos muitos projetos de boa qualidade disponíveis para execução. E tem de ir ao Congresso pedir algumas mudanças (no sistema tributário, especialmente) que criem um ambiente mais favorável aos negócios no Brasil, para que esses investimentos privados deslanchem com mais rapidez.

É preciso levar informação às pessoas para que não se deixem impressionar com a campanha de agrado do sistema financeiro dizendo que “o Brasil não é mais aquele, que abandonou a política monetária virtuosa”, só porque o governo, acertadamente, impõe aos bancos que trabalhem com taxas de juro civilizadas.

É preciso deixar a timidez de lado e mostrar aos brasileiros que trabalham o que está sendo realizado nos canteiros de obras, com todos os problemas, com todos os defeitos, explicando os atrasos e demoras que são justificáveis diante das dificuldades, mas mostrando que há trabalho sendo feito em todos os recantos do País, onde a imensa maioria vive do trabalho e quer ver os governos devolvendo com trabalho os impostos arrecadados.

Há um temor dos empresários de que seus negócios sejam danificados pelos destroços da calamidade europeia, daí a enorme cautela com que estão cuidando dos novos investimentos. É por isso que o governo precisa mostrar que está vigilante e disposto a manter as vantagens pedidas para que não se retirem os estímulos ao consumo interno e não se perca a capacidade de competir no mercado europeu.

Não tenho o hábito de citar meus próprios escritos, mas na primeira semana de novembro de 2011 a Tribuna de Santos (creio que outros jornais em São Paulo) publicaram um comentário sob o título “Rendição dos governos”, em que eu dizia, entre outras coisas:

1. O que ameaça o futuro da economia mundial é a possibilidade de que a morna resposta das sociedades de maior consumo às políticas econômicas descoordenadas e sem eficiência (porque sem credibilidade!) reduza o crescimento durante muitos anos e impeça a solução do problema fiscal criado por elas mesmas. O remédio tecnocrático (despesas públicas e juro real negativo) esgotou sua potencialidade. Os balanços do Fed e do BCE estão em limites preocupantes. E os Tesouros dos EUA e dos países da Comunidade Europeia estão tão endividados que não se pode esperar deles muita coisa.

2. A continuidade de um ritmo de baixo crescimento da economia de nossos parceiros por todo o pós-crise já interfere negativamente na perspectiva de expansão da economia brasileira. Os fracos resultados dos programas de recuperação da economia americana (que mantém um desemprego de 9,2%) e, ainda pior, os 16,2 milhões de desempregados na Zona do Euro (mais de 10% em toda a área) mostram que não podemos contar mais com ventos externos favoráveis pelo tempo que se calculava.

No fim de 2011 e início de 2012, as perspectivas de “aterrissagem suave” da economia nos países emergentes, como Brasil e China, especialmente, já mudavam para um pouso com “vento de través”. Aqui, o indicador da variação do nível da atividade econômica do Banco Central, o IBC-BR, já apontava para crescimento de apenas 0,15% do PIB no primeiro trimestre. Deu 0,2%, o que não era algo inesperado, portanto. O elemento surpresa foi o prolongamento exagerado da seca no Sertão nordestino e no Rio Grande do Sul, que derrubaram fortemente o PIB agrícola, somado à queda da produção da indústria de transformação, que terminou 2011 com crescimento de mísero 0,1%.

Já ultrapassamos a metade do segundo trimestre, sem muita expectativa de crescer mais do que 0,5%, o que significará uma reação muito pequena em todo o semestre e tornará difícil para o Brasil repetir em 2012 o crescimento de 2,7% do ano passado. Para se aproximar desse resultado, será preciso uma grande mobilização do governo, facilitando os investimentos públicos, acelerando as concessões por meio de taxas de retorno palatáveis e estímulos às Parcerias Público-Privadas (PPP). São ações necessárias para reanimar os investimentos privados porque as medidas do governo estão na direção correta, mas não têm tido a capacidade de mobilizar a sociedade.

O governo não tem recursos suficientes para investir em tudo o que é necessário e urgente para conter o estrangulamento logístico que encarece a circulação de mercadorias e de pessoas nas áreas mais dinâmicas da produção agrícola e industrial. Precisa mais do que nunca cooptar o setor privado para acelerar os investimentos nos muitos projetos de boa qualidade disponíveis para execução. E tem de ir ao Congresso pedir algumas mudanças (no sistema tributário, especialmente) que criem um ambiente mais favorável aos negócios no Brasil, para que esses investimentos privados deslanchem com mais rapidez.

É preciso levar informação às pessoas para que não se deixem impressionar com a campanha de agrado do sistema financeiro dizendo que “o Brasil não é mais aquele, que abandonou a política monetária virtuosa”, só porque o governo, acertadamente, impõe aos bancos que trabalhem com taxas de juro civilizadas.

É preciso deixar a timidez de lado e mostrar aos brasileiros que trabalham o que está sendo realizado nos canteiros de obras, com todos os problemas, com todos os defeitos, explicando os atrasos e demoras que são justificáveis diante das dificuldades, mas mostrando que há trabalho sendo feito em todos os recantos do País, onde a imensa maioria vive do trabalho e quer ver os governos devolvendo com trabalho os impostos arrecadados.

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