Economia

‘Vamos ser ultrapassados pela Índia’

Brasil deve superar a França em 2012 e se tornar a quinta maior economia mundial, mas país asiático cresce mais rápido

Foto: 401K/Flickr
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Após ultrapassar o Reino Unido no último ano, o PIB do Brasil deve bater também a França em 2012 e transformar o País na quinta maior economia do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, China, Japão e Alemanha, segundo a consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU) ao jornal Folha de S. Paulo. Mas analistas alertam: é necessário cuidado para manter o espaço conquistado.  

O Brasil, que tem crescimento estimado pela EIU em 3,3% para 2012, deve continuar a frente do Reino Unido caso tenha avanço econômico maior que o de países da Zona do Euro, mas os resultados da Índia preocupam. O PIB do país asiático tem estimativa de avançar 7,2% em 2012 e 6,9% em 2013, contra “apenas” 5% do Brasil para o próximo ano. “A médio prazo, vamos ser ultrapassados pelos indianos”, prevê Antonio Carlos Alves dos Santos, doutor em economia e professor da PUC-SP.

Enquanto isso não acontece, Amir Khair, ex-secretário de Finanças em São Paulo e especialista em contas públicas, aponta que a tendência de estagnação da França e o real valorizado em relação ao dólar favorecem a “ultrapassagem” brasileira. “O País não passa o PIB francês se crescer novamente em torno de 2,7%.”

 

Como o cálculo do PIB é feito em dólar e a injeção de euros no sistema financeiro europeu causou a desvalorização da moeda única, a França deve ter perdas na conversão dos valores da produção total de sua economia em 2012. “O Brasil, por outro lado, enfrenta uma valorização do real, o que aumenta o seu PIB em dólar.”

O professor da PUC acredita, no entanto, que o Brasil pode ser ultapassado no próximo ano caso sua economia não mantenha um desempenho sólido, França e Reino Unido se recuperem e a tendência atual do câmbio se inverta. “Caso o dólar se desvalorize ante o euro, há uma possibilidade de equilíbrio neste cenário.”

Possibilidade considerada improvável por Khair, para quem China, Índia e Brasil possuem melhores condições de competitividade.

De acordo com a Economist Intelligence Unit, entre 2013 e 2014 o Brasil deve ter uma melhora em seu PIB devido ao aumento de investimentos no período eleitoral e à Copa do Mundo de futebol.

Para manter a quinta posição no ranking, o ex-secretário de Finanças defende o corte na taxa de juros ao consumidor a “começar pelo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, que praticam taxas semelhantes aos bancos privados, assim como ocorreu em 2009″. “Podem ser criados estímulos ou punições aos bancos em relação aos depósitos compulsórios, que seriam menores para aqueles com taxas de juros mais baixas para estimular empréstimos.”

Segundo o analista, as medidas adotadas pelo governo para movimentar a economia, como reduções de IPI e políticas para setores específicos, são “conta gotas” sem a liberação de crédito barato ao consumidor.

Para ele, o País não corre risco de enfrentar uma alta descontrolada da inflação com a medida, pois a maior proporção do índice é influenciada por fatores externos, como o preço das commodities, e outra parte pode ser controlada pelo governo federal. “O aumento do salário mínimo no primeiro semestre e consumo doméstico também devem ter grande responsabilidade no crescimento em 2012”, completa Souza.

Khair defende ainda uma medida polêmica: a monetização da economia, ou a injeção de reais para pagar déficit, juntamente com a emissão de títulos da dívida. “Isso ajudaria a conter o Tsunami monetário, segurar melhor o câmbio, reduzir as despesas do governo com juros e estimular o consumo. Por outro lado, a inflação estaria controlada porque a oferta externa é amplamente superior à demanda interna devido à crise internacional.”

“Não seria interessante, pois se Brasil emitir moeda, vai aumentar a liquidez sem bens ofertados e aumentar a inflação”, rebate Souza.

O professor defende, no entanto, que uma maneira mais eficiente de conter a valorização do real ante o dólar seria tentar identificar o capital a entrar no Brasil como investimento estrangeiro direto e que acaba sendo usado em especulação. “O governo está tentando criar um mecanismo para separar o ‘joio do trigo’, mas é difícil.”

Renda

Apesar de ter ultrapassado o PIB do Reino Unido em 2011 e das previsões para deixar a França para trás neste ano, a renda per capita brasileira ainda é bem inferior a dos dois países.

Segundo dados o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU de 2011, a França possui uma renda per capita anual de 30.462 dólares (cerca de 54 mil reais) e o Reino Unido tem 33.296 dólares (59 mil reais).

Khair acredita, porém, que tão importante quanto a renda per capita, é analisar o poder de compra de uma população. “Vamos demorar a atingir o nível desses países, mas o Brasil hoje custa muito caro.”

“Gastamos parte grande do salário com alimentos, água e transporte, por exemplo. Se o governo adotar políticas públicas para conseguir reduzir o valor destes itens, o que ainda é muito incipiente no Brasil, seria possível ter uma renda menor e poder de compra considerável”, completa.

Mas para resolver as injustiças sociais são necessárias ações políticas em médio e longo prazo, ressalta Souza. “Caso as políticas públicas dos últimos governos continuem, podemos ter um País mais justo em uma década.”

Após ultrapassar o Reino Unido no último ano, o PIB do Brasil deve bater também a França em 2012 e transformar o País na quinta maior economia do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, China, Japão e Alemanha, segundo a consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU) ao jornal Folha de S. Paulo. Mas analistas alertam: é necessário cuidado para manter o espaço conquistado.  

O Brasil, que tem crescimento estimado pela EIU em 3,3% para 2012, deve continuar a frente do Reino Unido caso tenha avanço econômico maior que o de países da Zona do Euro, mas os resultados da Índia preocupam. O PIB do país asiático tem estimativa de avançar 7,2% em 2012 e 6,9% em 2013, contra “apenas” 5% do Brasil para o próximo ano. “A médio prazo, vamos ser ultrapassados pelos indianos”, prevê Antonio Carlos Alves dos Santos, doutor em economia e professor da PUC-SP.

Enquanto isso não acontece, Amir Khair, ex-secretário de Finanças em São Paulo e especialista em contas públicas, aponta que a tendência de estagnação da França e o real valorizado em relação ao dólar favorecem a “ultrapassagem” brasileira. “O País não passa o PIB francês se crescer novamente em torno de 2,7%.”

 

Como o cálculo do PIB é feito em dólar e a injeção de euros no sistema financeiro europeu causou a desvalorização da moeda única, a França deve ter perdas na conversão dos valores da produção total de sua economia em 2012. “O Brasil, por outro lado, enfrenta uma valorização do real, o que aumenta o seu PIB em dólar.”

O professor da PUC acredita, no entanto, que o Brasil pode ser ultapassado no próximo ano caso sua economia não mantenha um desempenho sólido, França e Reino Unido se recuperem e a tendência atual do câmbio se inverta. “Caso o dólar se desvalorize ante o euro, há uma possibilidade de equilíbrio neste cenário.”

Possibilidade considerada improvável por Khair, para quem China, Índia e Brasil possuem melhores condições de competitividade.

De acordo com a Economist Intelligence Unit, entre 2013 e 2014 o Brasil deve ter uma melhora em seu PIB devido ao aumento de investimentos no período eleitoral e à Copa do Mundo de futebol.

Para manter a quinta posição no ranking, o ex-secretário de Finanças defende o corte na taxa de juros ao consumidor a “começar pelo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, que praticam taxas semelhantes aos bancos privados, assim como ocorreu em 2009″. “Podem ser criados estímulos ou punições aos bancos em relação aos depósitos compulsórios, que seriam menores para aqueles com taxas de juros mais baixas para estimular empréstimos.”

Segundo o analista, as medidas adotadas pelo governo para movimentar a economia, como reduções de IPI e políticas para setores específicos, são “conta gotas” sem a liberação de crédito barato ao consumidor.

Para ele, o País não corre risco de enfrentar uma alta descontrolada da inflação com a medida, pois a maior proporção do índice é influenciada por fatores externos, como o preço das commodities, e outra parte pode ser controlada pelo governo federal. “O aumento do salário mínimo no primeiro semestre e consumo doméstico também devem ter grande responsabilidade no crescimento em 2012”, completa Souza.

Khair defende ainda uma medida polêmica: a monetização da economia, ou a injeção de reais para pagar déficit, juntamente com a emissão de títulos da dívida. “Isso ajudaria a conter o Tsunami monetário, segurar melhor o câmbio, reduzir as despesas do governo com juros e estimular o consumo. Por outro lado, a inflação estaria controlada porque a oferta externa é amplamente superior à demanda interna devido à crise internacional.”

“Não seria interessante, pois se Brasil emitir moeda, vai aumentar a liquidez sem bens ofertados e aumentar a inflação”, rebate Souza.

O professor defende, no entanto, que uma maneira mais eficiente de conter a valorização do real ante o dólar seria tentar identificar o capital a entrar no Brasil como investimento estrangeiro direto e que acaba sendo usado em especulação. “O governo está tentando criar um mecanismo para separar o ‘joio do trigo’, mas é difícil.”

Renda

Apesar de ter ultrapassado o PIB do Reino Unido em 2011 e das previsões para deixar a França para trás neste ano, a renda per capita brasileira ainda é bem inferior a dos dois países.

Segundo dados o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU de 2011, a França possui uma renda per capita anual de 30.462 dólares (cerca de 54 mil reais) e o Reino Unido tem 33.296 dólares (59 mil reais).

Khair acredita, porém, que tão importante quanto a renda per capita, é analisar o poder de compra de uma população. “Vamos demorar a atingir o nível desses países, mas o Brasil hoje custa muito caro.”

“Gastamos parte grande do salário com alimentos, água e transporte, por exemplo. Se o governo adotar políticas públicas para conseguir reduzir o valor destes itens, o que ainda é muito incipiente no Brasil, seria possível ter uma renda menor e poder de compra considerável”, completa.

Mas para resolver as injustiças sociais são necessárias ações políticas em médio e longo prazo, ressalta Souza. “Caso as políticas públicas dos últimos governos continuem, podemos ter um País mais justo em uma década.”

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