Economia

Somos todos iguais nesta noite

A Alemanha de Angela Merkel criou mais medidas protecionistas do que o Brasil de Dilma Rousseff

Dilma e Merkel em Hannover: governo alemão tem 82 medidas protecionistas adotadas desde 2008, segundo coletivo de economistas. Duas a mais que o Brasil no mesmo período
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Em Berlim, os termômetros indicavam que o dia seria frio, com máxima de 9 graus. E ao que tudo indica Dilma Rousseff não tinha a intenção de elevar a temperatura da sua visita protocolar à Alemanha, em seu discurso na feira de negócios Cebit.

A presidenta brasileira pretendeu, em sua fala oficial, principalmente vender a imagem de economia pujante que o Brasil estimaria ver consolidada mundo afora. Conforme recomendava o protocolo diplomático.

Foi por conta, aliás, das boas regras da diplomacia que Angela Merkel pôde acompanhar o discurso de Dilma na íntegra, antes de tomar o microfone – as visitas vêm primeiro. E quando o fez, Angela Merkel elevou o tom do debate, esbarrando nos recomendáveis bons modos com quem vem de fora. E partiu para o ataque: “Nós temos que confiar uns nos outros”, iniciou a chanceler alemã. “Hoje à noite teremos a oportunidade de falar sobre isso e certamente vamos falar sobre a crise e as preocupações com o que acontece nos Estados Unidos e na Europa”, acrescentou, em uma referência ao que seria discutido em algumas horas, segundo previa a agenda acertada previamente. “Por outro lado, nós nos perguntamos o que existe de protecionismo e medidas unilaterais. Acho que confiança é o caminho para sair dessa crise”, concluiu, antes de voltar ao protocolo e às questões ligadas ao ambiente de negócios entre os dois países, conforme exigia a circunstância.

Em questão de minutos, houve quem, do outro lado do Atlântico, vestisse a carapuça: a parcela mais vistosa da mídia nativa, que logo entendeu a mensagem de Angela Merkel, deixando de lado o contexto – e também a malandragem de Merkel.

Primeiro, o contexto. O embate retórico se deu menos de uma semana após a Alemanha ter orquestrado um empréstimo bilionário – e a custo baixíssimo, de 1% ao ano – para salvar a banca europeia. Na ponta do lápis, 529 bilhões de euros, a segunda parcela de uma bolada que entra na casa do trilhão.

Como sabem os economistas, uma parcela considerável desse dinheiro cruza o Atlântico em minutos, com o intuito de aproveitar as taxas de juros pagas pelos títulos brasileiros. De cada 100 milhões de euros que entrar, será possível tirar de lucro, livre de impostos, ao menos 5 milhões ao ano, limpinhos. Simples assim.

Pagos pela sociedade brasileira, naturalmente, que, mantidas as regras cambiais atuais, assistirá a mais uma dose de valorização do real, conforme frisou Dilma Rousseff ao se referir ao “tsnunami monetário” que aparentemente apoquentou o governo alemão. Criado pelo BCE e o seu equivalente norte-americano, o Federal Reserve, que antes dos europeus despejara outros tantos trilhões no sistema bancário dos EUA.

Mas, além do contexto, há a malandragem: Angela aponta o dedo acusador aos países que adotaram medidas para se proteger, mas deixa de mencionar que a Alemanha também meteu a mão nessa cumbuca. E foi, por sinal, mais fundo que o Brasil em matéria de protecionismo pós-crise.

Segundo informa o site Global Trade Alerts, a Alemanha adotou 82 medidas de defesa comercial desde setembro de 2008. O Brasil, no mesmo período, criou 80 normas e leis na mesma direção, ou seja, com vistas a proteger a indústria nacional.

Nesse debate, conforme explicita o site, mantido por um coletivo de economistas ligados a centros de pesquisas de vários países, não há quem possa atirar a primeira pedra. Os EUA, por exemplo, criaram 106 medidas. A China aparece na lista com 94; a Índia, com 101.

No site globaltradealert.org, é possível ver a ranking completo.

Em Berlim, os termômetros indicavam que o dia seria frio, com máxima de 9 graus. E ao que tudo indica Dilma Rousseff não tinha a intenção de elevar a temperatura da sua visita protocolar à Alemanha, em seu discurso na feira de negócios Cebit.

A presidenta brasileira pretendeu, em sua fala oficial, principalmente vender a imagem de economia pujante que o Brasil estimaria ver consolidada mundo afora. Conforme recomendava o protocolo diplomático.

Foi por conta, aliás, das boas regras da diplomacia que Angela Merkel pôde acompanhar o discurso de Dilma na íntegra, antes de tomar o microfone – as visitas vêm primeiro. E quando o fez, Angela Merkel elevou o tom do debate, esbarrando nos recomendáveis bons modos com quem vem de fora. E partiu para o ataque: “Nós temos que confiar uns nos outros”, iniciou a chanceler alemã. “Hoje à noite teremos a oportunidade de falar sobre isso e certamente vamos falar sobre a crise e as preocupações com o que acontece nos Estados Unidos e na Europa”, acrescentou, em uma referência ao que seria discutido em algumas horas, segundo previa a agenda acertada previamente. “Por outro lado, nós nos perguntamos o que existe de protecionismo e medidas unilaterais. Acho que confiança é o caminho para sair dessa crise”, concluiu, antes de voltar ao protocolo e às questões ligadas ao ambiente de negócios entre os dois países, conforme exigia a circunstância.

Em questão de minutos, houve quem, do outro lado do Atlântico, vestisse a carapuça: a parcela mais vistosa da mídia nativa, que logo entendeu a mensagem de Angela Merkel, deixando de lado o contexto – e também a malandragem de Merkel.

Primeiro, o contexto. O embate retórico se deu menos de uma semana após a Alemanha ter orquestrado um empréstimo bilionário – e a custo baixíssimo, de 1% ao ano – para salvar a banca europeia. Na ponta do lápis, 529 bilhões de euros, a segunda parcela de uma bolada que entra na casa do trilhão.

Como sabem os economistas, uma parcela considerável desse dinheiro cruza o Atlântico em minutos, com o intuito de aproveitar as taxas de juros pagas pelos títulos brasileiros. De cada 100 milhões de euros que entrar, será possível tirar de lucro, livre de impostos, ao menos 5 milhões ao ano, limpinhos. Simples assim.

Pagos pela sociedade brasileira, naturalmente, que, mantidas as regras cambiais atuais, assistirá a mais uma dose de valorização do real, conforme frisou Dilma Rousseff ao se referir ao “tsnunami monetário” que aparentemente apoquentou o governo alemão. Criado pelo BCE e o seu equivalente norte-americano, o Federal Reserve, que antes dos europeus despejara outros tantos trilhões no sistema bancário dos EUA.

Mas, além do contexto, há a malandragem: Angela aponta o dedo acusador aos países que adotaram medidas para se proteger, mas deixa de mencionar que a Alemanha também meteu a mão nessa cumbuca. E foi, por sinal, mais fundo que o Brasil em matéria de protecionismo pós-crise.

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