Economia

Pratos quebrados

Não vai sobrar nenhum dos poderes incumbentes que participaram do processo que produziu a crise europeia

Foto: Images_of_Money/Flickr
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Aparentemente é consenso que já não há mais pratos para quebrar, cessou a música e a definição da questão grega (ficar ou abandonar a Zona do Euro) está muito próxima. Vai depender do voto popular previsto para o mês de junho. Pesquisas, antes do fracasso do acordo político na segunda semana de maio, indicavam uma tênue possibilidade de o povo preferir o “fico”, mas o fato é que a evidência da falta de controle político conspira para favorecer o lance mais radical: pular fora do sistema, não importa o que os “outros” pensem.

Nos últimos dois meses, a instabilidade na economia mundial piorou, com a Europa entrando em um processo recessivo (apesar do crescimento alemão). A recuperação americana mostra um ritmo mais lento do que o esperado, com redução do crescimento asiático, mais visível na Índia, mas confirmando-se a desaceleração chinesa após o quinto mês consecutivo de queda nos ingressos de investimentos externos.

Nesse clima geral de desaceleração do crescimento, o Brasil continua numa situação relativamente melhor porque, durante a crise nos Estados Unidos e depois na Eurolândia, não perdeu o rumo do desenvolvimento, embora tendo de reduzir o ritmo de crescimento do PIB. Era previsível, desde o início da revelação das patifarias financeiras, que o Brasil não ficaria imune às suas consequências, pois somos parte de um mundo onde o nível da volatilidade aumentou sem poupar nenhum mercado.

Nos últimos dois meses, em parte por conta das expectativas com as eleições francesas, em parte com a indefinição da tragédia grega, a volatilidade ampliou-se para todos os mercados. Foi isso o que reconheceu na semana passada o presidente Alexandre Tombini, do Banco Central, quando afirmou que a situação externa está um pouco mais complicada do que a gente pensava, durante reunião no Rio de Janeiro.

A iniciativa de François Hollande de cooptar a chanceler Angela Merkel para trazer a Alemanha a um clima mais amigável, de forma a fazer um ajuste com crescimento, poderá dar algum refresco para acomodar a expansão europeia. A ideia de criar um título para financiar investimentos em infraestrutura está correta. Não se trata de fazer investimentos com novo endividamento dos Estados, mas emitir um novo papel europeu que vai ser vendido ao setor privado para promover obras. Se não houver a retomada do crescimento – por menor que seja – a situação política que já é instável vai piorar, com o aumento do desemprego, da revolta popular e da volatilidade que já contaminou todo o mundo.

Os países da comunidade europeia fizeram um grande esforço para conservar a Grécia na Zona do Euro. Ela vive uma situação extremamente delicada, tendo perdido 20% de seu PIB em apenas quatro anos. O desemprego produziu um estado de revolta na população. Se prevalecer na eleição, em junho, a proposta mais radical de abandonar o euro, a economia e o povo grego vão sofrer uma barbaridade.

Houve muitos equívocos na construção da moeda comum, principalmente na introdução da Grécia, quando visivelmente os dados sobre a economia eram falsos. Os líderes da comunidade sabiam, mas a força do desejo político de ampliar a área impôs a presença da Grécia. A questão hoje é que ela está em um beco sem saída, dentro da Zona do Euro ou fora dela. Para voltar ao equilíbrio dentro do euro, terá de fazer uma operação sem anestesia. Fora do Euro, vai fazer a mesma operação com anestesia, só que o fim político não vai ser o mesmo. Primeiro, vai ter uma desvalorização gigantesca do dracma. Com a falta de controle político, a economia provavelmente caminhará para a hiperinflação e os partidos que estiverem no comando do processo político vão passar a exigir “mais poder” para enfrentar os problemas que não vão resolver, até provavelmente terminar num regime autoritário que também não resolverá nada.

O risco político é absoluto. Na Alemanha haverá eleições gerais no início de 2013. Na semana passada acompanhamos a surra eleitoral que a chanceler Angela Merkel levou no maior länder do país, até então reduto forte de seu partido. Não vai sobrar nenhum dos poderes incumbentes que participaram desse processo que produziu a crise financeira.

Todos estão sendo substituídos por novos governos, na esperança de que os novos serão melhores do que os que partiram. Já se foram 11. Na França, François Hollande está correto quando diz que a Europa não vai resolver nenhum dos seus problemas sociais simplesmente reduzindo o crescimento econômico.

Aparentemente é consenso que já não há mais pratos para quebrar, cessou a música e a definição da questão grega (ficar ou abandonar a Zona do Euro) está muito próxima. Vai depender do voto popular previsto para o mês de junho. Pesquisas, antes do fracasso do acordo político na segunda semana de maio, indicavam uma tênue possibilidade de o povo preferir o “fico”, mas o fato é que a evidência da falta de controle político conspira para favorecer o lance mais radical: pular fora do sistema, não importa o que os “outros” pensem.

Nos últimos dois meses, a instabilidade na economia mundial piorou, com a Europa entrando em um processo recessivo (apesar do crescimento alemão). A recuperação americana mostra um ritmo mais lento do que o esperado, com redução do crescimento asiático, mais visível na Índia, mas confirmando-se a desaceleração chinesa após o quinto mês consecutivo de queda nos ingressos de investimentos externos.

Nesse clima geral de desaceleração do crescimento, o Brasil continua numa situação relativamente melhor porque, durante a crise nos Estados Unidos e depois na Eurolândia, não perdeu o rumo do desenvolvimento, embora tendo de reduzir o ritmo de crescimento do PIB. Era previsível, desde o início da revelação das patifarias financeiras, que o Brasil não ficaria imune às suas consequências, pois somos parte de um mundo onde o nível da volatilidade aumentou sem poupar nenhum mercado.

Nos últimos dois meses, em parte por conta das expectativas com as eleições francesas, em parte com a indefinição da tragédia grega, a volatilidade ampliou-se para todos os mercados. Foi isso o que reconheceu na semana passada o presidente Alexandre Tombini, do Banco Central, quando afirmou que a situação externa está um pouco mais complicada do que a gente pensava, durante reunião no Rio de Janeiro.

A iniciativa de François Hollande de cooptar a chanceler Angela Merkel para trazer a Alemanha a um clima mais amigável, de forma a fazer um ajuste com crescimento, poderá dar algum refresco para acomodar a expansão europeia. A ideia de criar um título para financiar investimentos em infraestrutura está correta. Não se trata de fazer investimentos com novo endividamento dos Estados, mas emitir um novo papel europeu que vai ser vendido ao setor privado para promover obras. Se não houver a retomada do crescimento – por menor que seja – a situação política que já é instável vai piorar, com o aumento do desemprego, da revolta popular e da volatilidade que já contaminou todo o mundo.

Os países da comunidade europeia fizeram um grande esforço para conservar a Grécia na Zona do Euro. Ela vive uma situação extremamente delicada, tendo perdido 20% de seu PIB em apenas quatro anos. O desemprego produziu um estado de revolta na população. Se prevalecer na eleição, em junho, a proposta mais radical de abandonar o euro, a economia e o povo grego vão sofrer uma barbaridade.

Houve muitos equívocos na construção da moeda comum, principalmente na introdução da Grécia, quando visivelmente os dados sobre a economia eram falsos. Os líderes da comunidade sabiam, mas a força do desejo político de ampliar a área impôs a presença da Grécia. A questão hoje é que ela está em um beco sem saída, dentro da Zona do Euro ou fora dela. Para voltar ao equilíbrio dentro do euro, terá de fazer uma operação sem anestesia. Fora do Euro, vai fazer a mesma operação com anestesia, só que o fim político não vai ser o mesmo. Primeiro, vai ter uma desvalorização gigantesca do dracma. Com a falta de controle político, a economia provavelmente caminhará para a hiperinflação e os partidos que estiverem no comando do processo político vão passar a exigir “mais poder” para enfrentar os problemas que não vão resolver, até provavelmente terminar num regime autoritário que também não resolverá nada.

O risco político é absoluto. Na Alemanha haverá eleições gerais no início de 2013. Na semana passada acompanhamos a surra eleitoral que a chanceler Angela Merkel levou no maior länder do país, até então reduto forte de seu partido. Não vai sobrar nenhum dos poderes incumbentes que participaram desse processo que produziu a crise financeira.

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