Sociedade

‘O governo deu crédito, mas não ensinou como usá-lo’

A socióloga Claudia Sciré diz que nos últimos doze anos houve um aumento de crédito para famílias de baixa renda, mas isso não foi acompanhado por políticas públicas e educação financeira

Segundo Sciré, o mercado de consumo chegou antes das políticas públicas do Estado nas favelas. Foto: Anthony_goto/Flickr
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Em menos de doze anos, o Brasil saiu do posto de 15ª maior economia do mundo para ocupar o sexto lugar. Este aumento de riqueza foi sentido em diversos setores sociais, inclusive entre os mais pobres. Entre 2000 e 2010, o salário mínimo no Brasil cresceu 9,7%, segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho). Neste mesmo período houve um empenho do governo federal em ampliar o acesso ao crédito para famílias de baixa renda, além do aumento do emprego formal e de políticas de combate à pobreza. Mas o crédito está sendo usado para melhorar as condições de vida da população?


A resposta para esta pergunta é: nem sempre. É neste contexto que se insere o livro Consumo Popular, Fluxos Globais, da socióloga da USP Cláudia Sciré, lançado na sexta-feira 1º em São Paulo. Em sua obra, Cláudia acompanhou vinte famílias do bairro Campo Limpo, no extremo sul de São Paulo, durante dois anos. A socióloga relata o aumento do consumo entre as famílias de baixa renda, assim como a expansão de shopping centers e supermercados nas periferias. “A abertura do crédito e o crescimento do salário criaram um mercado consumidor novo nas periferias. Isso gerou um deslocamento de lojas varejistas e shopping centers para esses bairros mais afastados”, diz.


Esse deslocamento contribuiu para aquecer a economia nas periferias. “Além de gerar empregos, os equipamentos de consumo fazem a riqueza circular dentro dos bairros”, afirma Cláudia. Para a socióloga, até o trânsito da cidade poderia ser beneficiado por essa descentralização de lojas. “Um shopping se instala na periferia altera a mobilidade urbana de consumo e de trabalho da região”, diz.


Há, no entanto, um problema grave envolvendo a oferta de crédito que exige muita atenção do governo brasileiro, especialmente porque a principal aposta do governo Dilma Rousseff para reaquecer a economia continua sendo a aposta no consumo. A socióloga defende que, isoladamente, a migração de lojas e shopping centers não resolve o problema. Segundo Cláudia, o que houve nos últimos anos foi uma ‘financeirização da periferia’, ou seja, apenas foi ofertado poder de consumo aos seus moradores. “Ainda faltam políticas públicas para desenvolver essas regiões carentes”, diz.


Cláudia diz que o aumento do acesso a bens de consumo não foi acompanhado pela expansão de bens culturais e políticas públicas educacionais do estado para os moradores da periferia. “Agora, as pessoas tem dinheiro e crédito para gastar, mas por não terem uma educação financeira acabam se endividando”, diz. Segundo ela, esse é o preço que se paga pelo mercado ter chegado nas periferias antes do Estado.

Em menos de doze anos, o Brasil saiu do posto de 15ª maior economia do mundo para ocupar o sexto lugar. Este aumento de riqueza foi sentido em diversos setores sociais, inclusive entre os mais pobres. Entre 2000 e 2010, o salário mínimo no Brasil cresceu 9,7%, segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho). Neste mesmo período houve um empenho do governo federal em ampliar o acesso ao crédito para famílias de baixa renda, além do aumento do emprego formal e de políticas de combate à pobreza. Mas o crédito está sendo usado para melhorar as condições de vida da população?


A resposta para esta pergunta é: nem sempre. É neste contexto que se insere o livro Consumo Popular, Fluxos Globais, da socióloga da USP Cláudia Sciré, lançado na sexta-feira 1º em São Paulo. Em sua obra, Cláudia acompanhou vinte famílias do bairro Campo Limpo, no extremo sul de São Paulo, durante dois anos. A socióloga relata o aumento do consumo entre as famílias de baixa renda, assim como a expansão de shopping centers e supermercados nas periferias. “A abertura do crédito e o crescimento do salário criaram um mercado consumidor novo nas periferias. Isso gerou um deslocamento de lojas varejistas e shopping centers para esses bairros mais afastados”, diz.


Esse deslocamento contribuiu para aquecer a economia nas periferias. “Além de gerar empregos, os equipamentos de consumo fazem a riqueza circular dentro dos bairros”, afirma Cláudia. Para a socióloga, até o trânsito da cidade poderia ser beneficiado por essa descentralização de lojas. “Um shopping se instala na periferia altera a mobilidade urbana de consumo e de trabalho da região”, diz.


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