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As medidas da UE aprofundam a crise na Grécia

Analistas apontam que medidas impostas pela Alemanha afundam ainda mais a economia e degradam a sociedade gregas

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Trancados no Parlamento sob a proteção de cerca de 3 mil homens, os deputados gregos aprovaram no domingo 12, um novo pacote de medidas de austeridade. Do lado de fora, cerca de 80 mil pessoas protestavam nas ruas de Atenas contra o corte de 3,3 bilhões de euros em pensões, com redução de 22% dos salários, e flexibilização das leis trabalhistas para facilitar o corte de 15 mil funcionários públicos e liberar um resgate de 130 bilhões de euros ao país.

A Grécia precisou ceder novamente às exigências da União Europeia, Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE) para quitar até 20 de março 14,5 bilhões de euros em dividas com financiadores privados. Mas a política de aperto fiscal adotada não deve funcionar, aponta Antonio Carlos Alves dos Santos, doutor em economia e professor da PUC-SP. “Ao cortar gastos públicos em uma economia que não tem condições de exportar, a crise será aprofundada porque não há como manter o nível de emprego.”

Dados da Eurostat, órgão de estatísticas da União Europeia, indicam que a Grécia tem níveis de desemprego menores apenas que os da Espanha. Enquanto a média na região para dezembro foi de 10,4%, os gregos registraram 19,2%. Entre os jovens com até 25 anos, a situação é ainda pior: 47,2% estavam sem trabalho em outubro passado.

Elena Lazarou, doutora em estudos internacionais e especialista em Grécia, aponta que o desemprego é mais prejudicial no momento que a queda nos salários. “Quando há uma intervenção do FMI, essa é uma medida clássica. Mas o corte de postos de trabalho leva a problemas sociais, muda o comportamento da população e tem um peso grande para o Estado do Bem Estar Social.”

Silva, contudo, analisa que o rebaixamento dos salários não é aplicável por significar uma deflação. Mas na visão dos líderes europeus, a medida aumentaria a competitividade e poderia atrair investimentos, aumento de impostos e melhoria econômica. “Medidas como essa funcionaram na Irlanda, que tem condições de exportar, mas a Grécia depende basicamente de seu mercado doméstico.”

Por outro lado, o país precisa de reformas estruturais a fim de tornar-se mais competitivo em relação às outras economias da Zona do Euro. “Desde que entrou na União Europeia, a Grécia se acostumou a viver com a ajuda dos ‘primos ricos’, não se reestruturou”, diz Santos. E continua: “O país não possui dados confiáveis sobre gastos do setor público, logo, não se sabe se os acordos negociados foram aplicados. Além disso, a capacidade do Estado em coletar impostos é baixa.”

Mesmo assim, segundo a BBC, os impostos vão aumentar cerca de 3,4 bilhões de euros no próximo ano, após alta de 2,32 bilhões de euros em 2011.

Os novos cortes foram aprovados, mas a base governista estremeceu. Dos 236 integrantes da situação, apenas 199 votaram a favor do pacote de austeridade e dois partidos da coalizão, o PASOK (esquerda) e a Nova Democracia (conservador), expulsaram juntos mais de 40 deputados que se posicionaram contra a medida ou se abstiveram.

“Os dois maiores partidos do governo foram rígidos e vão usar esse meio não democrático [expulsão] para manter o consenso que desejam”, destaca Lazarou.

Para a especialista, as maiores legendas gregas foram pressionadas pela Comissão Europeia para garantir que o acordo seja cumprido mesmo em uma eventual mudança do governo do primeiro-ministro Lucas Papademos.

A sociedade está, no entanto, dividida em aceitar as condições de Berlim para o novo empréstimo – que viria com uma redução de 100 bilhões de euros na dívida com os investidores privados, em um déficit total de 360 bilhões de euros. “Parte da população acha que não há incentivos para o crescimento e outra e acredita que aceitar as imposições alemãs e receber os recursos, ao menos ajuda a pagar salários e gastos”, afirma Lazarou.

Com a aprovação dos cortes no parlamento, o país precisa ainda entregar um plano detalhando como vai poupar 325 milhões de euros. “Ambos os lados sabem que isto não é uma solução, mas a comunidade europeia, principalmente a Alemanha, não pode ajudar sem que o país faça alguma coisa”, diz Santos. “Além disso, é mais simples liberar o recurso e acalmar o mercado, mesmo sabendo que em poucos meses pode ser necessário uma nova negociação.”

Segundo ele, o novo pacote de ajuda à Grécia não vai ser suficiente, mas deixar o euro custaria muito para a economia grega.”Para a União Europeia é irrelelvante, porque ainda assim seria preciso salvar o país.”

Lazarou aponta que retornar a uma moeda desconhecida demandaria tempo, trabalho e dinheiro. Por outro lado, a Grécia atingirá um limite em que não conseguirá mais ceder às exigências de Berlim. “Pode haver uma revolução popular, ainda improvável mesmo com a manisfestação de domingo, pois não há como saber se o movimento é representativo.”

Um cenário mais provável, destaca, seria o recebimento dos recursos pela Grécia e a contestação da incapacidade do país em diminuir o gasto público e crescer. “Neste ponto um default precisaria ser declarado e a saída do euro passaria ser uma opção.”

Previsões da revista britânica Economist, mostram um cenário obscuro. A queda no PIB do país em 2011 foi estimada em 5,2%, 7,2% em 2012 e 1% em 2013.

Trancados no Parlamento sob a proteção de cerca de 3 mil homens, os deputados gregos aprovaram no domingo 12, um novo pacote de medidas de austeridade. Do lado de fora, cerca de 80 mil pessoas protestavam nas ruas de Atenas contra o corte de 3,3 bilhões de euros em pensões, com redução de 22% dos salários, e flexibilização das leis trabalhistas para facilitar o corte de 15 mil funcionários públicos e liberar um resgate de 130 bilhões de euros ao país.

A Grécia precisou ceder novamente às exigências da União Europeia, Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE) para quitar até 20 de março 14,5 bilhões de euros em dividas com financiadores privados. Mas a política de aperto fiscal adotada não deve funcionar, aponta Antonio Carlos Alves dos Santos, doutor em economia e professor da PUC-SP. “Ao cortar gastos públicos em uma economia que não tem condições de exportar, a crise será aprofundada porque não há como manter o nível de emprego.”

Dados da Eurostat, órgão de estatísticas da União Europeia, indicam que a Grécia tem níveis de desemprego menores apenas que os da Espanha. Enquanto a média na região para dezembro foi de 10,4%, os gregos registraram 19,2%. Entre os jovens com até 25 anos, a situação é ainda pior: 47,2% estavam sem trabalho em outubro passado.

Elena Lazarou, doutora em estudos internacionais e especialista em Grécia, aponta que o desemprego é mais prejudicial no momento que a queda nos salários. “Quando há uma intervenção do FMI, essa é uma medida clássica. Mas o corte de postos de trabalho leva a problemas sociais, muda o comportamento da população e tem um peso grande para o Estado do Bem Estar Social.”

Silva, contudo, analisa que o rebaixamento dos salários não é aplicável por significar uma deflação. Mas na visão dos líderes europeus, a medida aumentaria a competitividade e poderia atrair investimentos, aumento de impostos e melhoria econômica. “Medidas como essa funcionaram na Irlanda, que tem condições de exportar, mas a Grécia depende basicamente de seu mercado doméstico.”

Por outro lado, o país precisa de reformas estruturais a fim de tornar-se mais competitivo em relação às outras economias da Zona do Euro. “Desde que entrou na União Europeia, a Grécia se acostumou a viver com a ajuda dos ‘primos ricos’, não se reestruturou”, diz Santos. E continua: “O país não possui dados confiáveis sobre gastos do setor público, logo, não se sabe se os acordos negociados foram aplicados. Além disso, a capacidade do Estado em coletar impostos é baixa.”

Mesmo assim, segundo a BBC, os impostos vão aumentar cerca de 3,4 bilhões de euros no próximo ano, após alta de 2,32 bilhões de euros em 2011.

Os novos cortes foram aprovados, mas a base governista estremeceu. Dos 236 integrantes da situação, apenas 199 votaram a favor do pacote de austeridade e dois partidos da coalizão, o PASOK (esquerda) e a Nova Democracia (conservador), expulsaram juntos mais de 40 deputados que se posicionaram contra a medida ou se abstiveram.

“Os dois maiores partidos do governo foram rígidos e vão usar esse meio não democrático [expulsão] para manter o consenso que desejam”, destaca Lazarou.

Para a especialista, as maiores legendas gregas foram pressionadas pela Comissão Europeia para garantir que o acordo seja cumprido mesmo em uma eventual mudança do governo do primeiro-ministro Lucas Papademos.

A sociedade está, no entanto, dividida em aceitar as condições de Berlim para o novo empréstimo – que viria com uma redução de 100 bilhões de euros na dívida com os investidores privados, em um déficit total de 360 bilhões de euros. “Parte da população acha que não há incentivos para o crescimento e outra e acredita que aceitar as imposições alemãs e receber os recursos, ao menos ajuda a pagar salários e gastos”, afirma Lazarou.

Com a aprovação dos cortes no parlamento, o país precisa ainda entregar um plano detalhando como vai poupar 325 milhões de euros. “Ambos os lados sabem que isto não é uma solução, mas a comunidade europeia, principalmente a Alemanha, não pode ajudar sem que o país faça alguma coisa”, diz Santos. “Além disso, é mais simples liberar o recurso e acalmar o mercado, mesmo sabendo que em poucos meses pode ser necessário uma nova negociação.”

Segundo ele, o novo pacote de ajuda à Grécia não vai ser suficiente, mas deixar o euro custaria muito para a economia grega.”Para a União Europeia é irrelelvante, porque ainda assim seria preciso salvar o país.”

Lazarou aponta que retornar a uma moeda desconhecida demandaria tempo, trabalho e dinheiro. Por outro lado, a Grécia atingirá um limite em que não conseguirá mais ceder às exigências de Berlim. “Pode haver uma revolução popular, ainda improvável mesmo com a manisfestação de domingo, pois não há como saber se o movimento é representativo.”

Um cenário mais provável, destaca, seria o recebimento dos recursos pela Grécia e a contestação da incapacidade do país em diminuir o gasto público e crescer. “Neste ponto um default precisaria ser declarado e a saída do euro passaria ser uma opção.”

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