Economia

Dívidas antigas, gastos novos

Com a liquidez do sistema bancário, leilões de bônus alcançam sucesso, mas especialistas alertam: os países podem não ter como pagá-los num futuro breve

Escreve Monbiot, do Guardian: “A crise demonstra que o pensamento neoliberal é uma fraude de alto a baixo”. Foto: Joel Saget/AFP
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A liberação, em dezembro, de quase 500 bilhões de euros pelo Banco Central Europeu (BCE) a instituições financeiras da região, com taxas de juros de 1% e três anos de prazo para pagamento, solucionou o problema de liquidez no continente e possibilitou que nas últimas semanas países europeus vendessem com sucesso títulos de suas dívidas públicas.

Nem mesmo o rebaixamento da nota de nove países do bloco, entre eles Espanha e França, pela agência de risco Standard & Poor’s, impediu os bons resultados. E a procura por títulos de dívida deve aumentar, pois há expectativa de que os bancos solicitem empréstimos de cerca de 1 trilhão para novos investimentos. “O mercado não está considerando mais um banco frágil por recorrer ao BC”, explica Antonio Carlos Alves dos Santos, doutor em economia.

Júlio Sérgio Gomes de Almeida, doutor em economia e consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), destaca que os bancos estão adquirindo estes papéis por não precisarem mais do financiamento do mercado. “Ou os bancos compram ou investidores compram.”

 

Os títulos se tornaram ainda mais atrativos porque os empréstimos custam pouco e há a possibilidade de lucrar com a diferença dos juros dos papéis da dívida de países da região. “Os bancos compram títulos de até três anos com taxas de retorno em torno de 6%”, aponta Santos.

Com o elevado interesse em investimentos de curto prazo, o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (Feef) captou 1,5 bilhão de euros em títulos de seis meses e 1,97 bilhão nos papéis de três meses em 17 de janeiro. Na mesma semana, a Espanha vendeu 4,88 bilhões de euros em títulos de 12 e 18 meses, com juros pouco acima de 2%, em queda. Um sinal de melhora na análise do mercado, pois quanto maior a taxa de retorno, menor a confiança de que o país possa arcar com suas contas.

Em meio à liquidez do sistema bancário, os países não enfrentam dificuldades para vender títulos de curto prazo a fim de financiar dívidas antigas. “A Itália, por exemplo, liquida papéis de três anos para captar recursos e honrar títulos de sete anos a vencer em 2012”, destaca Santos.

Em janeiro, o país vendeu 12 bilhões de euros em bônus de curto prazo com juros a 2,73%, contra os 5,95% registrados em leilão anterior. Portugal também recorreu ao mercado e captou 2,5 bilhões de euros em títulos de três e seis meses, a taxas de 4,3% e 4,7%, respectivamente.

Essa facilidade monetária criada pelo BC é, no entanto, transitória, e os países podem não conseguir arcar com seus compromissos. “Os Estados se endividaram excessivamente no passado e, aliado ao seu baixo crescimento econômico, talvez seja absolutamente necessário uma reestruturação da dívida”, vaticina Almeida.

Segundo o consultor do IEDI, a capitalização no mercado deu fôlego aos países europeus para pagar dívidas antigas, mas trouxe novos compromissos que dificilmente poderão ser quitados da mesma forma. “Os países vão conseguir pagar a sua capitalização caso cresçam e gerem maior arrecadação fiscal, além de tentarem prazos maiores e juros menores em dívidas velhas.”

Em um cenário no qual analistas preveem uma recuperação total da crise do endividamento público na Europa em cerca de cinco anos, os países que registrarem crescimento abaixo das expectativas somarão os títulos a um estoque de dívidas já elevado. Com isso, destaca Almeida, há a possibilidade destes não serem pagos uma vez que não haverá como captar recursos no mercado. “Esse risco ainda continua no horizonte, pois essa liquidez só ocorreu devido à ação do BCE.”

Santos aponta, no entanto, que as taxas de juros dos títulos de curta e longa duração estão caindo, o que diminui o valor a ser pago aos investidores no futuro. “Os países esperam que as reformas implementadas gerem resultados e crescimento”, afirma. E completa: “O foco é garantir a sobrevivência no curto prazo.”

Mas o economista não acredita na necessidade da reestruturação das dívidas de Itália, terceiro maior mercado de dívida pública do mundo, e França. Situação contrária a de Portugal, que vende seus títulos de duração de dez anos a taxas de juros acima de 17%. Um panorama no qual o mercado aposta cada vez mais na possibilidade de o país não pagar suas contas.

“O socorro do FMI a Portugal tem como pressuposto que o país vai precisar levantar recursos privados e com esses juros isso não será possível”, diz Santos. Ele ainda destaca que quando a liquidez do mercado se esvair, caberá ao BCE encontrar outra forma de financiar as dívidas do continente.

A liberação, em dezembro, de quase 500 bilhões de euros pelo Banco Central Europeu (BCE) a instituições financeiras da região, com taxas de juros de 1% e três anos de prazo para pagamento, solucionou o problema de liquidez no continente e possibilitou que nas últimas semanas países europeus vendessem com sucesso títulos de suas dívidas públicas.

Nem mesmo o rebaixamento da nota de nove países do bloco, entre eles Espanha e França, pela agência de risco Standard & Poor’s, impediu os bons resultados. E a procura por títulos de dívida deve aumentar, pois há expectativa de que os bancos solicitem empréstimos de cerca de 1 trilhão para novos investimentos. “O mercado não está considerando mais um banco frágil por recorrer ao BC”, explica Antonio Carlos Alves dos Santos, doutor em economia.

Júlio Sérgio Gomes de Almeida, doutor em economia e consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), destaca que os bancos estão adquirindo estes papéis por não precisarem mais do financiamento do mercado. “Ou os bancos compram ou investidores compram.”

 

Os títulos se tornaram ainda mais atrativos porque os empréstimos custam pouco e há a possibilidade de lucrar com a diferença dos juros dos papéis da dívida de países da região. “Os bancos compram títulos de até três anos com taxas de retorno em torno de 6%”, aponta Santos.

Com o elevado interesse em investimentos de curto prazo, o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (Feef) captou 1,5 bilhão de euros em títulos de seis meses e 1,97 bilhão nos papéis de três meses em 17 de janeiro. Na mesma semana, a Espanha vendeu 4,88 bilhões de euros em títulos de 12 e 18 meses, com juros pouco acima de 2%, em queda. Um sinal de melhora na análise do mercado, pois quanto maior a taxa de retorno, menor a confiança de que o país possa arcar com suas contas.

Em meio à liquidez do sistema bancário, os países não enfrentam dificuldades para vender títulos de curto prazo a fim de financiar dívidas antigas. “A Itália, por exemplo, liquida papéis de três anos para captar recursos e honrar títulos de sete anos a vencer em 2012”, destaca Santos.

Em janeiro, o país vendeu 12 bilhões de euros em bônus de curto prazo com juros a 2,73%, contra os 5,95% registrados em leilão anterior. Portugal também recorreu ao mercado e captou 2,5 bilhões de euros em títulos de três e seis meses, a taxas de 4,3% e 4,7%, respectivamente.

Essa facilidade monetária criada pelo BC é, no entanto, transitória, e os países podem não conseguir arcar com seus compromissos. “Os Estados se endividaram excessivamente no passado e, aliado ao seu baixo crescimento econômico, talvez seja absolutamente necessário uma reestruturação da dívida”, vaticina Almeida.

Segundo o consultor do IEDI, a capitalização no mercado deu fôlego aos países europeus para pagar dívidas antigas, mas trouxe novos compromissos que dificilmente poderão ser quitados da mesma forma. “Os países vão conseguir pagar a sua capitalização caso cresçam e gerem maior arrecadação fiscal, além de tentarem prazos maiores e juros menores em dívidas velhas.”

Em um cenário no qual analistas preveem uma recuperação total da crise do endividamento público na Europa em cerca de cinco anos, os países que registrarem crescimento abaixo das expectativas somarão os títulos a um estoque de dívidas já elevado. Com isso, destaca Almeida, há a possibilidade destes não serem pagos uma vez que não haverá como captar recursos no mercado. “Esse risco ainda continua no horizonte, pois essa liquidez só ocorreu devido à ação do BCE.”

Santos aponta, no entanto, que as taxas de juros dos títulos de curta e longa duração estão caindo, o que diminui o valor a ser pago aos investidores no futuro. “Os países esperam que as reformas implementadas gerem resultados e crescimento”, afirma. E completa: “O foco é garantir a sobrevivência no curto prazo.”

Mas o economista não acredita na necessidade da reestruturação das dívidas de Itália, terceiro maior mercado de dívida pública do mundo, e França. Situação contrária a de Portugal, que vende seus títulos de duração de dez anos a taxas de juros acima de 17%. Um panorama no qual o mercado aposta cada vez mais na possibilidade de o país não pagar suas contas.

“O socorro do FMI a Portugal tem como pressuposto que o país vai precisar levantar recursos privados e com esses juros isso não será possível”, diz Santos. Ele ainda destaca que quando a liquidez do mercado se esvair, caberá ao BCE encontrar outra forma de financiar as dívidas do continente.

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