Economia

Crescimento baixo da indústria de transformação preocupa, diz analista

Apesar de avançar 1,7% no primeiro trimestre deste ano, setor ficou estável na comparação com mesmo período de 2011

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Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que mostraram nesta sexta-feira 1º um crescimento de 0,2% do PIB nos primeiros três meses deste ano ante o último trimestre de 2011, sem influência sazonal, não surpreenderam o mercado. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, inclusive, afirmou que esse é o cenário de “um retrovisor”. Os analistas também esperavam um avanço modesto. Por outro lado, os resultados da indústria, apesar do crescimento de 1,7% no período, preocupam os especialistas ouvidos por CartaCapital. 

A principal fonte de apreensão é a indústria de transformação – como automobilística, calçados e roupas -, que teve crescimento de 1,9% no primeiro trimestre. O resultado positivo, quando comparado com mesmo período de 2011 se transforma em uma forte queda de 2,6%. “O setor vinha em tamanho declínio que qualquer movimento de reverção é bom, mas é preciso avaliar que esse crescimento ocorreu em uma base muito baixa”, diz Amir Khair, ex-secretário de Finanças em São Paulo e especialista em contas públicas. “Por isso, não é tão significativo.”

Outro problema enfrentado pelo setor, apesar do esforço do governo para elevar o valor do dólar e realizar a exoneração na folha de pagamento, é a dificuldade de venda de produtos no Mercosul, explica Manuel Enriquez Garcia, presidente do Conselho Regional de Economia-SP e da Ordem dos Economistas do Brasil. “A Argentina era uma grande compradora dos nossos produtos, mas a crise no país afeta o Brasil. Além disso, as medidas do governo são pontuais e não encontram uma resposta rápida como o incentivo ao consumo em 2010.”

Mesmo assim, Mantega destacou o crescimento do setor de transformação. “Considero isso uma boa notícia, depois de três trimestres negativos”, disse em São Paulo. No evento, ele afirmou acreditar que as medidas tomadas pelo governo têm surtido o efeito esperado e farão o setor alcançar melhores resultados em 2012.

O fraco resultado da indústria de transformação, segundo o IBGE, foi influenciado, principalmente, pela redução da produção da indústria automotiva, de máquinas e equipamentos, metalurgia, borracha e plástico, entre outros. Tudo isso enquanto havia crescimento da produção de eletrodomésticos das linhas branca e marrom.

Em meio a esse cenário, a indústria em geral – que vem em desaceleração desde o segundo trimestre de 2010 -, também não apresenta resultados consolidados, com crescimento de apenas 0,1% na comparação com o primeiro trimestre de 2011. Um dos motivos, argumenta Khair, é a taxa de câmbio com o real valorizado e o alcance limitado do governo para ajudar o setor. “O governo pode fazer pouco para ativar a indústria, como algumas medidas de empréstimo, mas precisa mesmo é mexer no câmbio”, explica. “O Custo Brasil também influencia, porém, leva mais tempo. Por isso, é preciso emitir moeda e aumentar a liquidez da economia e devolver a competitividade da indústria.” O governo, no entanto, teme que essa medida eleve a inflação.

Percebendo a necessidade de aquecer a indústria, o governo sinaliza um aprofundamento da aposta no mercado interno para impulsionar o consumo. Uma importância que pode ser vista na fala do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Ele comentou nesta sexta-feira, em nota, que a demanda doméstica é “o principal suporte da economia, com o consumo das famílias sendo estimulado pela expansão moderada do crédito, pela geração de empregos e de renda.” “Os sólidos fundamentos e um mercado interno robusto constituem um diferencial da economia brasileira. Dessa forma, mesmo diante do complexo ambiente internacional, as perspectivas apontam intensificação do ritmo de atividade ao longo deste ano”, diz no documento.

Neste contexto, o IBGE mostrou que a despesa de consumo das famílias apresentou crescimento de 2,5% em relação ao primeiro trimestre de 2011, a 34ª variação positiva consecutiva nessa base de comparação. Isso se deve à massa salarial real, que teve elevação de 6,5% no primeiro trimestre de 2012. Além do aumento de 16,1% no saldo de operações de crédito do sistema financeiro com recursos para as pessoas físicas no período. Por isso, Khair acredita que a esperança para garantir um crescimento maior do PIB recai sobre o consumo. “O governo buscou ativar o mercado interno com o salário mínimo e agora ataca a taxa de juros. Isso é importante porque melhora o poder aquisitivo da população”, explica. E vaticina: “Na medida em que o governo continuar com os cortes da Selic, impulsionar a queda dos juros bancários e atacar as tarifas dos bancos, vai conseguir reduzir inadimplência e aumentar o poder aquisitivo da população. Essa é a única forma para crescer [próximo a 3% em 2012].”

Mantega, porém, reconhece que os “financiamentos, que ainda estão precários no País”. “Nós ainda não conseguimos ter aumento do crédito e redução da taxa de juros suficientes para estimular a economia”.

Investimentos

O IBGE também identificou uma taxa de investimento no primeiro trimestre de 2012 de apenas 18,7% do PIB, menor que os 19,5% do mesmo período do ano anterior. Esse é o menor nível desde os três primeiros meses de 2009 (17%) e, em países com maior crescimento, a taxa chega a 25%. Um fator que pode ser explicado pela queda, em volume, da formação bruta de capital fixo, com a taxa de poupança em 15,7% no primeiro trimestre de 2012 (ante 17,0% no mesmo trimestre de 2011). “O quanto se gasta em investimento sinaliza a produção no futuro. Isso é mais preocupante porque os empresários não estão investindo com receio do que vai ocorrer no Brasil e na Europa em um período próximo”, explica Garcia.

Segundo Khair, o investimento do governo federal representa no máximo 20% do total, sendo o restante do setor privado. Este investe apenas se houver perspectiva de consumo do mercado interno. “É preciso haver consumo crescendo e cambio baixo para estimular o interesse em investir”, afirma. “Falta potencial de consumo, que o governo ataca, mas é preciso estimular a indústria em relação ao cambio, depreciando o real.”

O pior crescimento entre os Brics

O Brasil registrou o menor crescimento econômico entre os Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado.

O crescimento de 0,8% do Brasil foi menor que os 2,1% da África do Sul, os 4,9% da Rússia, os 5,3% da Índia e os 8,1% da China. As informações foram divulgadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com base em dados de institutos de estatística internacionais e do Banco Mundial.

Na comparação do primeiro trimestre deste ano com o último de 2011, o crescimento de 0,2% do Brasil foi melhor que os desempenhos da Itália (-0,8%), Holanda (-0,2%), Reino Unido (-0,3%), Espanha (-0,3%), Portugal (-0,1%) e França (0%). Mas foi pior que o de países como Chile (1,4%), México (1,3%), Japão (1,0%), Coreia do Sul (0,9%), Alemanha (0,5%) e Estados Unidos (0,5%).

*Com informações Agência Brasil.

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que mostraram nesta sexta-feira 1º um crescimento de 0,2% do PIB nos primeiros três meses deste ano ante o último trimestre de 2011, sem influência sazonal, não surpreenderam o mercado. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, inclusive, afirmou que esse é o cenário de “um retrovisor”. Os analistas também esperavam um avanço modesto. Por outro lado, os resultados da indústria, apesar do crescimento de 1,7% no período, preocupam os especialistas ouvidos por CartaCapital. 

A principal fonte de apreensão é a indústria de transformação – como automobilística, calçados e roupas -, que teve crescimento de 1,9% no primeiro trimestre. O resultado positivo, quando comparado com mesmo período de 2011 se transforma em uma forte queda de 2,6%. “O setor vinha em tamanho declínio que qualquer movimento de reverção é bom, mas é preciso avaliar que esse crescimento ocorreu em uma base muito baixa”, diz Amir Khair, ex-secretário de Finanças em São Paulo e especialista em contas públicas. “Por isso, não é tão significativo.”

Outro problema enfrentado pelo setor, apesar do esforço do governo para elevar o valor do dólar e realizar a exoneração na folha de pagamento, é a dificuldade de venda de produtos no Mercosul, explica Manuel Enriquez Garcia, presidente do Conselho Regional de Economia-SP e da Ordem dos Economistas do Brasil. “A Argentina era uma grande compradora dos nossos produtos, mas a crise no país afeta o Brasil. Além disso, as medidas do governo são pontuais e não encontram uma resposta rápida como o incentivo ao consumo em 2010.”

Mesmo assim, Mantega destacou o crescimento do setor de transformação. “Considero isso uma boa notícia, depois de três trimestres negativos”, disse em São Paulo. No evento, ele afirmou acreditar que as medidas tomadas pelo governo têm surtido o efeito esperado e farão o setor alcançar melhores resultados em 2012.

O fraco resultado da indústria de transformação, segundo o IBGE, foi influenciado, principalmente, pela redução da produção da indústria automotiva, de máquinas e equipamentos, metalurgia, borracha e plástico, entre outros. Tudo isso enquanto havia crescimento da produção de eletrodomésticos das linhas branca e marrom.

Em meio a esse cenário, a indústria em geral – que vem em desaceleração desde o segundo trimestre de 2010 -, também não apresenta resultados consolidados, com crescimento de apenas 0,1% na comparação com o primeiro trimestre de 2011. Um dos motivos, argumenta Khair, é a taxa de câmbio com o real valorizado e o alcance limitado do governo para ajudar o setor. “O governo pode fazer pouco para ativar a indústria, como algumas medidas de empréstimo, mas precisa mesmo é mexer no câmbio”, explica. “O Custo Brasil também influencia, porém, leva mais tempo. Por isso, é preciso emitir moeda e aumentar a liquidez da economia e devolver a competitividade da indústria.” O governo, no entanto, teme que essa medida eleve a inflação.

Percebendo a necessidade de aquecer a indústria, o governo sinaliza um aprofundamento da aposta no mercado interno para impulsionar o consumo. Uma importância que pode ser vista na fala do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Ele comentou nesta sexta-feira, em nota, que a demanda doméstica é “o principal suporte da economia, com o consumo das famílias sendo estimulado pela expansão moderada do crédito, pela geração de empregos e de renda.” “Os sólidos fundamentos e um mercado interno robusto constituem um diferencial da economia brasileira. Dessa forma, mesmo diante do complexo ambiente internacional, as perspectivas apontam intensificação do ritmo de atividade ao longo deste ano”, diz no documento.

Neste contexto, o IBGE mostrou que a despesa de consumo das famílias apresentou crescimento de 2,5% em relação ao primeiro trimestre de 2011, a 34ª variação positiva consecutiva nessa base de comparação. Isso se deve à massa salarial real, que teve elevação de 6,5% no primeiro trimestre de 2012. Além do aumento de 16,1% no saldo de operações de crédito do sistema financeiro com recursos para as pessoas físicas no período. Por isso, Khair acredita que a esperança para garantir um crescimento maior do PIB recai sobre o consumo. “O governo buscou ativar o mercado interno com o salário mínimo e agora ataca a taxa de juros. Isso é importante porque melhora o poder aquisitivo da população”, explica. E vaticina: “Na medida em que o governo continuar com os cortes da Selic, impulsionar a queda dos juros bancários e atacar as tarifas dos bancos, vai conseguir reduzir inadimplência e aumentar o poder aquisitivo da população. Essa é a única forma para crescer [próximo a 3% em 2012].”

Mantega, porém, reconhece que os “financiamentos, que ainda estão precários no País”. “Nós ainda não conseguimos ter aumento do crédito e redução da taxa de juros suficientes para estimular a economia”.

Investimentos

O IBGE também identificou uma taxa de investimento no primeiro trimestre de 2012 de apenas 18,7% do PIB, menor que os 19,5% do mesmo período do ano anterior. Esse é o menor nível desde os três primeiros meses de 2009 (17%) e, em países com maior crescimento, a taxa chega a 25%. Um fator que pode ser explicado pela queda, em volume, da formação bruta de capital fixo, com a taxa de poupança em 15,7% no primeiro trimestre de 2012 (ante 17,0% no mesmo trimestre de 2011). “O quanto se gasta em investimento sinaliza a produção no futuro. Isso é mais preocupante porque os empresários não estão investindo com receio do que vai ocorrer no Brasil e na Europa em um período próximo”, explica Garcia.

Segundo Khair, o investimento do governo federal representa no máximo 20% do total, sendo o restante do setor privado. Este investe apenas se houver perspectiva de consumo do mercado interno. “É preciso haver consumo crescendo e cambio baixo para estimular o interesse em investir”, afirma. “Falta potencial de consumo, que o governo ataca, mas é preciso estimular a indústria em relação ao cambio, depreciando o real.”

O pior crescimento entre os Brics

O Brasil registrou o menor crescimento econômico entre os Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado.

O crescimento de 0,8% do Brasil foi menor que os 2,1% da África do Sul, os 4,9% da Rússia, os 5,3% da Índia e os 8,1% da China. As informações foram divulgadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com base em dados de institutos de estatística internacionais e do Banco Mundial.

Na comparação do primeiro trimestre deste ano com o último de 2011, o crescimento de 0,2% do Brasil foi melhor que os desempenhos da Itália (-0,8%), Holanda (-0,2%), Reino Unido (-0,3%), Espanha (-0,3%), Portugal (-0,1%) e França (0%). Mas foi pior que o de países como Chile (1,4%), México (1,3%), Japão (1,0%), Coreia do Sul (0,9%), Alemanha (0,5%) e Estados Unidos (0,5%).

*Com informações Agência Brasil.

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