Cultura

O novo Lanterna Verde mira o preconceito contra muçulmanos nos EUA

A série terá como estrela, pela primeira vez, um árabe-americano. Ele vai mostrar as dificuldades dos muçulmanos nos EUA pós-11 de setembro

Um dos quadrinhos de Lanterna Verde com Simon Baz. Imagem: USTComics
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Um personagem de histórias em quadrinhos é capaz de conter uma rica e organizada campanha para marginalizar uma etnia e uma religião? A resposta para essa pergunta provavelmente é não, mas o escritor Geoff Johns e a DC Comics vão tentar fazer isso ao lançar nos Estados Unidos, nesta quarta-feira 5, a nova série do Lanterna Verde. Pela primeira vez nos Estados Unidos o protagonista da história será um árabe-americano, representante de um grupo que, desde os ataques de 11 de Setembro de 2001, passou a conviver com a hostilidade de boa parte da sociedade norte-americana.

O novo Lanterna Verde será Simon Baz. Como Johns, responsável pelo Lanterna Verde desde 2010, Baz é descendente de libaneses e cresceu em Detroit, uma das cidades americanas onde a presença de árabes e muçulmanos é mais antiga. A história começa com Baz vendo pela TV os ataques da Al-Qaeda e, depois, vivenciado o preconceito gerado pela reação de muitos americanos aos atentados. Baz, após roubar um carro, se torna suspeito de terrorismo e, quando vai ser preso, é convocado para se tornar um policial intergalático.

Baz não será o primeiro herói muçulmano. A própria DC Comics lançou Nightrunner, um francês-argelino que atua em parceria com o Batman, e a Marvel tem Dust, uma mutante afegã integrante da série X-Men. Há ainda a série The 99, de Naif Al-Mutawa, na qual as estrelas são heróis baseados na cultura muçulmana. A diferença de Simon Baz é sua origem miscigenada. Ele é um árabe-americano, o que consiste na grande novidade. À agência Associated Press, Geoff Johns disse ter escolhido um personagem com um perfil parecido com o seu para mostrar os efeitos do sentimento anti-árabe e anti-muçulmano sobre o garoto e também sobre sua família. A história de Baz pode ter um efeito interessante sobre parte dos leitores, mas dificilmente será capaz de romper o preconceito existente nos Estados Unidos.

Um relatório publicado em agosto passado pelo Centro para o Progresso Americano, um think tank de esquerda baseado em Washington, mostrou quão organizada é a campanha anti-árabe e anti-Islã nos Estados Unidos. Em 2001, quando a Al-Qaeda atacou, os órgãos de segurança norte-americanos se notabilizaram por seu ínfimo conhecimento a respeito da ameça do terror islâmico. Desde então, as autoridades desenvolveram uma eficiente rede de investigação contra esse tipo de terrorismo, e a mídia passou a dar ênfase a ele. Assim, diz o relatório, criou-se a falsa impressão de que o terror muçulmano é mais prevalente do que realmente é. Essas informações servem, prossegue o estudo, para abastecer e estimular uma rede de islamofobia que envolve organizações, blogueiros, militares, jornalistas e políticos cuja atuação acaba por ameaçar os conceitos de liberdade religiosa e respeito pela diversidade étnica nos Estados Unidos.

Por conta dessa campanha, imigrantes ou cidadãos americanos de origem árabe ou muçulmanos são representados de forma distorcida e, em muitos casos, “demonizados” pelo restante da sociedade. Pesquisas do instituto Pew indicam que os muçulmanos americanos têm hábitos e ideias muito semelhantes às do restante da população norte-americana, que a maioria (81%) rejeita o terrorismo como ferramenta política, mas mesmo assim 55% dizem que viver nos EUA ficou mais difícil depois do 11 de Setembro. Levantamentos mostram também que 28% dos muçulmanos americanos já se sentiram alvo de suspeitas infundadas, 22% foram xingados na rua e 21% foram alvo de preconceito em aeroportos. Neste ano, o blog Danger Room, da revista Wired, revelou que um professor de um colégio militar americano dava aulas a futuros recrutas a respeito de uma suposta “guerra total” contra o Islã, que incluiria até mesmo a destruição das cidades sagradas de Meca e Medina. O professor alertava que partes das aulas poderiam não ser consideradas “politicamente corretas” fora do ambiente militar.

Neste clima, teorias da conspiração como as que afirmam que Barack Obama é muçulmano e que há um plano para implementar a sharia, a lei islâmica, nos Estados Unidos, ganham força. Segundo o Pew, ainda hoje um em cada seis americanos acha que Obama é muçulmano. E até pré-candidatos à Presidência dos EUA, como Herman Cain e Newt Gingrich, ambos do Partido Republicano, aderiram à campanha contra o “perigo” da sharia. Romper a lógica da islamofobia nos EUA realmente parece um trabalho para um super-herói.

Um personagem de histórias em quadrinhos é capaz de conter uma rica e organizada campanha para marginalizar uma etnia e uma religião? A resposta para essa pergunta provavelmente é não, mas o escritor Geoff Johns e a DC Comics vão tentar fazer isso ao lançar nos Estados Unidos, nesta quarta-feira 5, a nova série do Lanterna Verde. Pela primeira vez nos Estados Unidos o protagonista da história será um árabe-americano, representante de um grupo que, desde os ataques de 11 de Setembro de 2001, passou a conviver com a hostilidade de boa parte da sociedade norte-americana.

O novo Lanterna Verde será Simon Baz. Como Johns, responsável pelo Lanterna Verde desde 2010, Baz é descendente de libaneses e cresceu em Detroit, uma das cidades americanas onde a presença de árabes e muçulmanos é mais antiga. A história começa com Baz vendo pela TV os ataques da Al-Qaeda e, depois, vivenciado o preconceito gerado pela reação de muitos americanos aos atentados. Baz, após roubar um carro, se torna suspeito de terrorismo e, quando vai ser preso, é convocado para se tornar um policial intergalático.

Baz não será o primeiro herói muçulmano. A própria DC Comics lançou Nightrunner, um francês-argelino que atua em parceria com o Batman, e a Marvel tem Dust, uma mutante afegã integrante da série X-Men. Há ainda a série The 99, de Naif Al-Mutawa, na qual as estrelas são heróis baseados na cultura muçulmana. A diferença de Simon Baz é sua origem miscigenada. Ele é um árabe-americano, o que consiste na grande novidade. À agência Associated Press, Geoff Johns disse ter escolhido um personagem com um perfil parecido com o seu para mostrar os efeitos do sentimento anti-árabe e anti-muçulmano sobre o garoto e também sobre sua família. A história de Baz pode ter um efeito interessante sobre parte dos leitores, mas dificilmente será capaz de romper o preconceito existente nos Estados Unidos.

Um relatório publicado em agosto passado pelo Centro para o Progresso Americano, um think tank de esquerda baseado em Washington, mostrou quão organizada é a campanha anti-árabe e anti-Islã nos Estados Unidos. Em 2001, quando a Al-Qaeda atacou, os órgãos de segurança norte-americanos se notabilizaram por seu ínfimo conhecimento a respeito da ameça do terror islâmico. Desde então, as autoridades desenvolveram uma eficiente rede de investigação contra esse tipo de terrorismo, e a mídia passou a dar ênfase a ele. Assim, diz o relatório, criou-se a falsa impressão de que o terror muçulmano é mais prevalente do que realmente é. Essas informações servem, prossegue o estudo, para abastecer e estimular uma rede de islamofobia que envolve organizações, blogueiros, militares, jornalistas e políticos cuja atuação acaba por ameaçar os conceitos de liberdade religiosa e respeito pela diversidade étnica nos Estados Unidos.

Por conta dessa campanha, imigrantes ou cidadãos americanos de origem árabe ou muçulmanos são representados de forma distorcida e, em muitos casos, “demonizados” pelo restante da sociedade. Pesquisas do instituto Pew indicam que os muçulmanos americanos têm hábitos e ideias muito semelhantes às do restante da população norte-americana, que a maioria (81%) rejeita o terrorismo como ferramenta política, mas mesmo assim 55% dizem que viver nos EUA ficou mais difícil depois do 11 de Setembro. Levantamentos mostram também que 28% dos muçulmanos americanos já se sentiram alvo de suspeitas infundadas, 22% foram xingados na rua e 21% foram alvo de preconceito em aeroportos. Neste ano, o blog Danger Room, da revista Wired, revelou que um professor de um colégio militar americano dava aulas a futuros recrutas a respeito de uma suposta “guerra total” contra o Islã, que incluiria até mesmo a destruição das cidades sagradas de Meca e Medina. O professor alertava que partes das aulas poderiam não ser consideradas “politicamente corretas” fora do ambiente militar.

Neste clima, teorias da conspiração como as que afirmam que Barack Obama é muçulmano e que há um plano para implementar a sharia, a lei islâmica, nos Estados Unidos, ganham força. Segundo o Pew, ainda hoje um em cada seis americanos acha que Obama é muçulmano. E até pré-candidatos à Presidência dos EUA, como Herman Cain e Newt Gingrich, ambos do Partido Republicano, aderiram à campanha contra o “perigo” da sharia. Romper a lógica da islamofobia nos EUA realmente parece um trabalho para um super-herói.

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