Cultura

O imperador dos sentidos

Ao abandonar o Direito para se dedicar ao cinema, Nagisa Oshima se libertou da geração anterior e criou uma estética própria

O imperador dos sentidos
O imperador dos sentidos
Cena clássica de O Império dos Sentidos
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por José Geraldo Couto

Nagisa Oshima, que completa 80 anos no sábado 31, ficou indelevelmente associado ao escândalo a partir de 1976, quando apresentou ao mundo seu O Império dos Sentidos. Mas já fazia tempo que esse japonês nascido em Kyoto desafiava o establishment moral e político de seu país.

Órfão de pai desde os 6 anos, ao ingressar no cinema depois de cursar Direito na universidade, Oshima rompeu também com seus pais simbólicos, os grandes cineastas da geração anterior, Ozu, Mizoguchi e Kurosawa, cujo humanismo clássico ele considerava datado.

Primeiro dentro do estúdio Sochiku, depois em produções independentes, ele foi, ao lado de Yoshida e Shinoda, um dos artífices da “Nuberu Bagu”, a Nouvelle Vague japonesa. Seu segundo longa, Contos Cruéis da Juventude (1960), foi o cartão de visita internacional do movimento.

Com a atriz Akiko Koyama, sua mulher até hoje, criou a companhia independente Sozo-Sha e realizou nos anos 60 um punhado de filmes de impacto, em geral sobre sexo e crime, temas tabu no Japão moderno: Violência ao Meio-Dia, Um Trato em Canção Japonesa Pornô, Três Bêbados Ressuscitados e Morte por Enforcamento, uma das primeiras obras a tratar da discriminação dos coreanos no país.

Mas o grande impacto veio mesmo com O Império dos Sentidos, seguido do igualmente belo O Império da Paixão (1978). Em Furyo (1983), Oshima encenou uma relação ambígua entre um oficial japonês e um britânico. E em Tabu (1999) mexeu em outro vespeiro: o amor homossexual entre samurais.

Três derrames acabaram consumando o que a censura nipônica não conseguiu: silenciar Oshima.

DVDs

O Império dos Sentidos (1976)

Oshima inspirou-se num fato ocorrido em 1936 para fazer o primeiro filme japonês com cenas de sexo explícito. O romance obsessivo entre um senhor (Tatsuya Fuji) e uma criada (Eiko Matsuda), ex-prostituta, torna-se um drama erótico claustrofóbico e violento, que sofreu censuras e mutilações.

O Império da Paixão (1978)

Num vilarejo do Japão, em 1895, a mulher (Kazuko Yoshiyuki) de um carregador de liteira trama com o amante (Tatsuya Fuji) o assassinato do marido, que eles estrangulam e jogam num poço. Tragédia de crime e culpa com o mesmo tom obsessivo de O Império dos Sentidos, com menos sexo e mais apuro plástico.

Furyo – Em Nome da Honra (1983)

Em Java, em 1942, o comandante de um campo japonês de prisioneiros (Ryuichi Sakamoto) desenvolve uma relação de amor e ódio com um oficial britânico (David Bowie), mediada pelo capitão Lawrence (Tom Conti) e pelo sargento  Hara (Takeshi Kitano). A tensão homoerótica sustenta o drama.

por José Geraldo Couto

Nagisa Oshima, que completa 80 anos no sábado 31, ficou indelevelmente associado ao escândalo a partir de 1976, quando apresentou ao mundo seu O Império dos Sentidos. Mas já fazia tempo que esse japonês nascido em Kyoto desafiava o establishment moral e político de seu país.

Órfão de pai desde os 6 anos, ao ingressar no cinema depois de cursar Direito na universidade, Oshima rompeu também com seus pais simbólicos, os grandes cineastas da geração anterior, Ozu, Mizoguchi e Kurosawa, cujo humanismo clássico ele considerava datado.

Primeiro dentro do estúdio Sochiku, depois em produções independentes, ele foi, ao lado de Yoshida e Shinoda, um dos artífices da “Nuberu Bagu”, a Nouvelle Vague japonesa. Seu segundo longa, Contos Cruéis da Juventude (1960), foi o cartão de visita internacional do movimento.

Com a atriz Akiko Koyama, sua mulher até hoje, criou a companhia independente Sozo-Sha e realizou nos anos 60 um punhado de filmes de impacto, em geral sobre sexo e crime, temas tabu no Japão moderno: Violência ao Meio-Dia, Um Trato em Canção Japonesa Pornô, Três Bêbados Ressuscitados e Morte por Enforcamento, uma das primeiras obras a tratar da discriminação dos coreanos no país.

Mas o grande impacto veio mesmo com O Império dos Sentidos, seguido do igualmente belo O Império da Paixão (1978). Em Furyo (1983), Oshima encenou uma relação ambígua entre um oficial japonês e um britânico. E em Tabu (1999) mexeu em outro vespeiro: o amor homossexual entre samurais.

Três derrames acabaram consumando o que a censura nipônica não conseguiu: silenciar Oshima.

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O Império dos Sentidos (1976)

Oshima inspirou-se num fato ocorrido em 1936 para fazer o primeiro filme japonês com cenas de sexo explícito. O romance obsessivo entre um senhor (Tatsuya Fuji) e uma criada (Eiko Matsuda), ex-prostituta, torna-se um drama erótico claustrofóbico e violento, que sofreu censuras e mutilações.

O Império da Paixão (1978)

Num vilarejo do Japão, em 1895, a mulher (Kazuko Yoshiyuki) de um carregador de liteira trama com o amante (Tatsuya Fuji) o assassinato do marido, que eles estrangulam e jogam num poço. Tragédia de crime e culpa com o mesmo tom obsessivo de O Império dos Sentidos, com menos sexo e mais apuro plástico.

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Em Java, em 1942, o comandante de um campo japonês de prisioneiros (Ryuichi Sakamoto) desenvolve uma relação de amor e ódio com um oficial britânico (David Bowie), mediada pelo capitão Lawrence (Tom Conti) e pelo sargento  Hara (Takeshi Kitano). A tensão homoerótica sustenta o drama.

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