Cultura
Mascate do cangaço
Livro traz anotações de Benjamin Abrahão sobre cotidiano de Lampião, a quem o sírio acompanhou com uma câmera nos anos 1930


Benjamin Abrahão – Entre Anjos e Cangaceiros
Frederico Pernambucano de Mello
Escrituras, 352 págs., R$45
Quando ao lado do herói de sua façanha, Benjamin Abrahão anotava atentamente as impressões numa caderneta. Em português titubeante, deixava as sentenças menos comprometedoras. Para as que pudessem condená-lo, recorria à língua materna. O sírio emigrado ao Brasil em 1915, que se embrenhou no Nordeste para se tornar dois anos depois comerciante, secretário direto do Padre Cícero e documentarista, era sábio o bastante para não incorrer em faltas com Lampião, a quem acompanhou com uma câmera nos anos 1930. Dessas imagens já se tinha conhecimento, inclusive pelo filme Baile Perfumado (1997), primeira iniciativa a apresentar a figura desse mascate do cinema. No registro literário, chega agora estudo mais completo.
Em Benjamin Abrahão – Entre anjos e cangaceiros, o historiador Frederico Pernambucano de Mello usa escritos pessoais do personagem, inclusive com a tradução de trechos em árabe. Consegue, dessa forma, expor um ponto de vista não só pontual e pessoal do protagonista sobre as atividades e o cotidiano dos bandoleiros, mas iluminar figuras e fatos essenciais. Recolhe, por exemplo, como Abrahão enumerou os ferimentos que o capitão recebeu na lida costumeira, tudo em bom português, enquanto prefere seu primeiro idioma ao confirmar uma queixa e um reconhecimento de força superior por parte de um major que o persegue. Misturará as duas línguas quando faz referências ao cotidiano dos acampamentos, como um Lampião flagrado na máquina de costura.
Assim como faltam páginas no diário de Abrahão, também sua trajetória pessoal tem lacunas. Do momento em que se estabelece em Juazeiro há sempre questões a serem esclarecidas. Nenhuma passagem é mais misteriosa do que sua morte por 42 punhaladas, aos 37 anos. De crime por vingança amorosa, a político, pela vítima saber das ligações entre Estado, rebeldes e fazendeiros ou por ofensa moral a um vendedor, há várias suspeitas. Um quadro para alimentar mitos em um fenômeno histórico que até hoje sobrevive deles.
Benjamin Abrahão – Entre Anjos e Cangaceiros
Frederico Pernambucano de Mello
Escrituras, 352 págs., R$45
Quando ao lado do herói de sua façanha, Benjamin Abrahão anotava atentamente as impressões numa caderneta. Em português titubeante, deixava as sentenças menos comprometedoras. Para as que pudessem condená-lo, recorria à língua materna. O sírio emigrado ao Brasil em 1915, que se embrenhou no Nordeste para se tornar dois anos depois comerciante, secretário direto do Padre Cícero e documentarista, era sábio o bastante para não incorrer em faltas com Lampião, a quem acompanhou com uma câmera nos anos 1930. Dessas imagens já se tinha conhecimento, inclusive pelo filme Baile Perfumado (1997), primeira iniciativa a apresentar a figura desse mascate do cinema. No registro literário, chega agora estudo mais completo.
Em Benjamin Abrahão – Entre anjos e cangaceiros, o historiador Frederico Pernambucano de Mello usa escritos pessoais do personagem, inclusive com a tradução de trechos em árabe. Consegue, dessa forma, expor um ponto de vista não só pontual e pessoal do protagonista sobre as atividades e o cotidiano dos bandoleiros, mas iluminar figuras e fatos essenciais. Recolhe, por exemplo, como Abrahão enumerou os ferimentos que o capitão recebeu na lida costumeira, tudo em bom português, enquanto prefere seu primeiro idioma ao confirmar uma queixa e um reconhecimento de força superior por parte de um major que o persegue. Misturará as duas línguas quando faz referências ao cotidiano dos acampamentos, como um Lampião flagrado na máquina de costura.
Assim como faltam páginas no diário de Abrahão, também sua trajetória pessoal tem lacunas. Do momento em que se estabelece em Juazeiro há sempre questões a serem esclarecidas. Nenhuma passagem é mais misteriosa do que sua morte por 42 punhaladas, aos 37 anos. De crime por vingança amorosa, a político, pela vítima saber das ligações entre Estado, rebeldes e fazendeiros ou por ofensa moral a um vendedor, há várias suspeitas. Um quadro para alimentar mitos em um fenômeno histórico que até hoje sobrevive deles.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.