Cultura

À sombra da oliveira

Encontro com um temor de batina pelos caminhos de São Francisco e Santa Rita

Árvore do martírio. Nela foi amarrado Santo Emiliano antes de ser decapitado há 1700 anos
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por Oliviero Pluviano

A oliveira da foto tem 1.700 anos e fica em Bovara, pequena aldeia perto de Trevi, na Úmbria, a região mais mística da Itália, onde nasceram São Francisco de Assis e Santa Rita de Cássia. A esta árvore, atualmente dividida em quatro troncos em um perímetro aproximado de 10 metros, foi amarrado Santo Emiliano, em 304 d.C., antes de ser decapitado, durante a perseguição implacável aos cristãos pelo imperador romano Diocleciano.

Desde aqueles tempos, a oliveira, talvez a mais longeva de toda a Itália, sempre produz muitas azeitonas, desafiando tempestades, frio polar e terremotos. Esta oliveira invencível é uma das muitas atrações do Girotondo de San Francesco (Ciranda de São Francisco), um trajeto circular de 777 quilômetros com 33 etapas a ser percorrido a pé, que começa e termina em Assis, atravessando Úmbria, Toscana e Lázio e conectando todos os principais lugares associados à passagem do santo da pobreza, adorado em todo o mundo. É uma rota que surgiu como alternativa italiana ao espanhol Caminho de Santiago, a mais famosa peregrinação europeia.

Em abril de 2009, fui chamado de volta a Roma, após 19 anos no Brasil, pela agência de notícias para a qual trabalhava como correspondente. O impacto dos primeiros dias foi péssimo, agravado também pelo terremoto altamente destrutivo que atingiu L’Aquila e que me acordou no meio da noite com o efeito devastador de uma tempestade em alto-mar. Mas no início da Primavera, graças também a um carro cedido por um amigo, comecei a percorrer a Úmbria e as coisas melhoraram muito com a descoberta dos milhares de maravilhas escondidos nessa região belíssima a poucos quilômetros de Roma.

Dormia no carro, algo que na Itália, à diferença do Brasil, é possível fazer com certa tranquilidade. Em uma noite particularmente fria estacionei em Greccio, vila famosa pelo mosteiro onde São Francisco inventou o Presépio, e ali fiquei a observar o Monte Terminillo coberto de neve e iluminado pela lua cheia em um céu repleto de estrelas. Foi nessa vigília que juntei no mapa todos os pontos franciscanos mais relevantes e observei que, surpreendentemente, formavam um trajeto circular passível de ser dividido em etapas, cada uma de um máximo de 30 quilômetros.

Nos oito meses transcorridos na Itália, percorri três vezes o caminho que me levava de Assis a Gubbio, ao santuário do Monte Alverne onde São Francisco recebeu os estigmatas. A Isola Maggiore do Lago Trasimeno, ao convento de Cetona, transformado em hotel de charme gerenciado por jovens ex-toxicômanos (o chef é Walter, nascido em São Paulo,  HYPERLINK “http://www.lafrateria.it/” \t “_blank” www.lafrateria.it). E a Narni, a antiga Nárnia romana, aos mosteiros da planície de Rieti, ao convento de Monteluco acima de Spoleto, a Montefalco, entre as vinhas do Sagrantino, até admirar os afrescos espetaculares de Pinturicchio em Spello. E ainda ao Eremo delle Carceri (Mosteiro das Prisões) no Monte Subasio, para finalmente retornar a Assis e concluir o girotondo na Porciúncula, a capela onde o santo morreu, incorporada sob as abóbadas do grande santuário de Santa Maria degli Angeli.

Na Porciúncula vive um franciscano que dará muito o que falar no futuro. Chama-se frei Alessandro, tem 34 anos e foi descoberto este ano por Mike Hedges, empresário do U2, sendo convidado a gravar o CD Voice from Assisi nos lendários estúdios dos Beatles em Abbey Road, em Londres. Alessandro revelou-se um grande tenor, comparável a Andrea Bocelli. No álbum lançado há um mês canta, entre outras,  em seu humilde hábito franciscano, peças famosas como Irmão Sol, Irmã Lua, do filme de Zeffirelli, a Ave Maria de Schubert, o Kyrie da Misa Criolla do argentino Ariel Ramírez (1964), até as Lodi di Dio Altissimo, baseadas em uma oração escrita pelo próprio São Francisco no século XIII.

O itinerário sugerido, que também tem uma versão de carro ou van de apenas dez dias, pode ser consultado no site HYPERLINK “http://www.girotondosanfrancesco.it/”www.girotondosanfrancesco.it, que muito em breve terá também uma tradução em português. No YouTube procurem na voz do “friar” Alessandro Brustenghi o Panis Angelicus (Pão dos Anjos), antigo hino católico dedicado à Eucaristia, e deliciem-se com sua voz e também com as imagens prodigiosas de Assis. Desejo a todos um Feliz Natal.

por Oliviero Pluviano

A oliveira da foto tem 1.700 anos e fica em Bovara, pequena aldeia perto de Trevi, na Úmbria, a região mais mística da Itália, onde nasceram São Francisco de Assis e Santa Rita de Cássia. A esta árvore, atualmente dividida em quatro troncos em um perímetro aproximado de 10 metros, foi amarrado Santo Emiliano, em 304 d.C., antes de ser decapitado, durante a perseguição implacável aos cristãos pelo imperador romano Diocleciano.

Desde aqueles tempos, a oliveira, talvez a mais longeva de toda a Itália, sempre produz muitas azeitonas, desafiando tempestades, frio polar e terremotos. Esta oliveira invencível é uma das muitas atrações do Girotondo de San Francesco (Ciranda de São Francisco), um trajeto circular de 777 quilômetros com 33 etapas a ser percorrido a pé, que começa e termina em Assis, atravessando Úmbria, Toscana e Lázio e conectando todos os principais lugares associados à passagem do santo da pobreza, adorado em todo o mundo. É uma rota que surgiu como alternativa italiana ao espanhol Caminho de Santiago, a mais famosa peregrinação europeia.

Em abril de 2009, fui chamado de volta a Roma, após 19 anos no Brasil, pela agência de notícias para a qual trabalhava como correspondente. O impacto dos primeiros dias foi péssimo, agravado também pelo terremoto altamente destrutivo que atingiu L’Aquila e que me acordou no meio da noite com o efeito devastador de uma tempestade em alto-mar. Mas no início da Primavera, graças também a um carro cedido por um amigo, comecei a percorrer a Úmbria e as coisas melhoraram muito com a descoberta dos milhares de maravilhas escondidos nessa região belíssima a poucos quilômetros de Roma.

Dormia no carro, algo que na Itália, à diferença do Brasil, é possível fazer com certa tranquilidade. Em uma noite particularmente fria estacionei em Greccio, vila famosa pelo mosteiro onde São Francisco inventou o Presépio, e ali fiquei a observar o Monte Terminillo coberto de neve e iluminado pela lua cheia em um céu repleto de estrelas. Foi nessa vigília que juntei no mapa todos os pontos franciscanos mais relevantes e observei que, surpreendentemente, formavam um trajeto circular passível de ser dividido em etapas, cada uma de um máximo de 30 quilômetros.

Nos oito meses transcorridos na Itália, percorri três vezes o caminho que me levava de Assis a Gubbio, ao santuário do Monte Alverne onde São Francisco recebeu os estigmatas. A Isola Maggiore do Lago Trasimeno, ao convento de Cetona, transformado em hotel de charme gerenciado por jovens ex-toxicômanos (o chef é Walter, nascido em São Paulo,  HYPERLINK “http://www.lafrateria.it/” \t “_blank” www.lafrateria.it). E a Narni, a antiga Nárnia romana, aos mosteiros da planície de Rieti, ao convento de Monteluco acima de Spoleto, a Montefalco, entre as vinhas do Sagrantino, até admirar os afrescos espetaculares de Pinturicchio em Spello. E ainda ao Eremo delle Carceri (Mosteiro das Prisões) no Monte Subasio, para finalmente retornar a Assis e concluir o girotondo na Porciúncula, a capela onde o santo morreu, incorporada sob as abóbadas do grande santuário de Santa Maria degli Angeli.

Na Porciúncula vive um franciscano que dará muito o que falar no futuro. Chama-se frei Alessandro, tem 34 anos e foi descoberto este ano por Mike Hedges, empresário do U2, sendo convidado a gravar o CD Voice from Assisi nos lendários estúdios dos Beatles em Abbey Road, em Londres. Alessandro revelou-se um grande tenor, comparável a Andrea Bocelli. No álbum lançado há um mês canta, entre outras,  em seu humilde hábito franciscano, peças famosas como Irmão Sol, Irmã Lua, do filme de Zeffirelli, a Ave Maria de Schubert, o Kyrie da Misa Criolla do argentino Ariel Ramírez (1964), até as Lodi di Dio Altissimo, baseadas em uma oração escrita pelo próprio São Francisco no século XIII.

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