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Blog do Locke: divórcio anulado

Como pode, num estado laico, em pleno século XXI, a religião se tornar o tema central de uma eleição? Ou isso é um sintoma de regressão ou só Deus pode resolver os problemas de São Paulo

Sou um filósofo e ideólogo do liberalismo, principal representante do empirismo britânico. Cê tava pensando que eu era Locke, bicho? Sou malandro velho.
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Instalar uma ideia numa sociedade é algo complicado, demorado e que exige grande energia. Não é como baixar um aplicativo ou um plug-in que em poucos segundos se transfere para o seu aparelho e já sai funcionando. Nada disso. Algumas demoram séculos para serem incorporadas. Normalmente são aquelas que propõem novos arranjos sociais.

É o caso da ideia da separação Igreja-Estado. Essa doutrina, que estabelece que instituições religiosas e governos devem ser mantidas separadas e independentes, encontrou enorme resistência até ganhar impulso no século XIX e ser adotada por vários países.

Dei minha contribuição para tanto. Em meus escritos, fiz uma defesa veemente e embasada sobre a importância da liberdade religiosa para o bom funcionamento da democracia liberal. Não pensem que foi fácil. É preciso lembrar que, no mundo medieval, a Igreja controlava tudo, desde a forma de nascer e morrer, até a maneira de pensar. E você sabe, onde há concentração de poder e riqueza, há abusos.

Por isso, sustentei que todos os homens, ao nascer, deveriam ter direitos naturais: direito à vida, à liberdade e à propriedade (lembrando que na Idade Média a Igreja possuía quase dois terços das terras da Europa Ocidental). Os governos, na minha visão, foram criados justamente para garantir esses direitos naturais. Logo, Igreja e Estado, numa democracia, não podem viver juntinhos no mesmo teto. A ideia deste divórcio é hoje uma prática em uma boa parte do planeta por força da obstinação de alguns pensadores e homens públicos que se dispuseram a enfrentar as forças clericais e absolutistas. Eu mesmo tive que fugir por duas vezes da Inglaterra como exilado político.

Fiz este longo preambulo para dizer que a corrida eleitoral para prefeito da capital paulista me deixa perplexo. Como pode, num estado laico, em pleno século XXI, a religião se tornar o tema central de uma eleição? Será que a maior cidade da américa do sul já está com suas questões materiais resolvidas e, portanto, já pode sedar ao luxo de debater só os assuntos da alma? Essa interferência da religião na política ou é um sintoma evidente de regressão ou todos chegaram a constatação de que só Deus pode resolver os problemas de São Paulo.

Leia mais em Blogs do Além.

*Postado por John Locke às 8h45

Instalar uma ideia numa sociedade é algo complicado, demorado e que exige grande energia. Não é como baixar um aplicativo ou um plug-in que em poucos segundos se transfere para o seu aparelho e já sai funcionando. Nada disso. Algumas demoram séculos para serem incorporadas. Normalmente são aquelas que propõem novos arranjos sociais.

É o caso da ideia da separação Igreja-Estado. Essa doutrina, que estabelece que instituições religiosas e governos devem ser mantidas separadas e independentes, encontrou enorme resistência até ganhar impulso no século XIX e ser adotada por vários países.

Dei minha contribuição para tanto. Em meus escritos, fiz uma defesa veemente e embasada sobre a importância da liberdade religiosa para o bom funcionamento da democracia liberal. Não pensem que foi fácil. É preciso lembrar que, no mundo medieval, a Igreja controlava tudo, desde a forma de nascer e morrer, até a maneira de pensar. E você sabe, onde há concentração de poder e riqueza, há abusos.

Por isso, sustentei que todos os homens, ao nascer, deveriam ter direitos naturais: direito à vida, à liberdade e à propriedade (lembrando que na Idade Média a Igreja possuía quase dois terços das terras da Europa Ocidental). Os governos, na minha visão, foram criados justamente para garantir esses direitos naturais. Logo, Igreja e Estado, numa democracia, não podem viver juntinhos no mesmo teto. A ideia deste divórcio é hoje uma prática em uma boa parte do planeta por força da obstinação de alguns pensadores e homens públicos que se dispuseram a enfrentar as forças clericais e absolutistas. Eu mesmo tive que fugir por duas vezes da Inglaterra como exilado político.

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