Cultura
Berlim!
Vinte e três anos depois, voltei à capital alemã e senti um leve gostinho de ‘Goodbye Lenin’ no ar
Pode parecer frescura mas confesso que fiquei intrigado com uma coisa em Berlim, vinte e três anos depois. Quem teria mandado pintar de cor de rosa os ganchos dos telefones públicos da cidade? Pouco importa mas que ficaram curiosas aquelas cabines completamente cinzas e os ganchos cor de rosa isso ficaram.
Fui a Berlim quando caiu o muro e voltei agora nesse verão de 2012. O muro! Desde pequeno ouço falar dele. Ainda menino de calças curtas lembro-me bem daquelas radiofotos publicadas pelo Diário de Minas de pessoas tentando pular, tentando atravessar, furar o cerco a qualquer preço. Os soldados armados, os pastores alemães rondando, os arames farpados, uma realidade concreta de tijolo com tijolo num desenho ilógico.
Quando ele caiu em 1989 era curiosa a diferença entre o lado oriental e o lado ocidental. As cores, os outdoors, os automóveis, os McDonald’s e a Coca-Cola de um lado só. Hoje Berlim é uma única cidade em todos os sentidos. Andamos de um lado para o outro, de um canto para o outro e o que vimos?
Vimos as bicicletas que tomaram conta da cidade como se fosse Amsterdã. Os motoristas que respeitam os ciclistas, os ciclistas que respeitam a ciclovia, os pedestres que respeitam os sinais e assim vai. Vimos do mais moderno ao mais tradicional. Jovens de cabelos coloridos e senhores de chapeuzinho, sandálias de couro e meia. Vimos também um velhinho que saboreava um delicioso currywurst num quiosque de rua bebendo uma Berliner Kindl Pils morna apesar do calor de 32 graus à sombra.
Foi na megaloja de departamento KaDeWe que vimos na vitrine um kit cachaça brasileira anunciando: Pitú, premium do Brasil! Foi andando pelas ruas que vimos os protestos em pequenos cartazes colados nos muros: “Walk like an Egyptian!” “Chemtrails? Nein Danke!” e “Free Palestine Arabic”. Foi num passeio ao bairro de Kreuzberg que vimos uma placa no muro – “No more Yuppies” – num quarteirão inteiro ocupado por velhos hippies, alguns tomando banho nus no rio, na boa.
Foi debaixo de um viaduto, num antigo banheiro público, que comemos o melhor hambúrguer do mundo acompanhado de uma Fritz-Kola bem, bem morninha. Voltei ao museu da DDR, a antiga Alemanha Oriental ,onde reencontramos uma enorme fotografia do então todo poderoso Mikhail Gorbachev beijando o líder alemão Erich Honecker, uma garrafinha de Vita Cola intacta e numa vitrine a Der Spiegel com a queda do muro na capa como se fosse uma peça de museu.
Fiz um passeio virtual de Trabant pelas ruas cinzentas de Berlim Oriental, assisti documentários comunistas em preto e branco mostrados numa TV valvulada e fiquei ali admirando a seleção da DDR que disputou a Copa do Mundo de 74. Lá estava de pé, impávido colosso, o craque Jürgen Sparwasser que naquele 22 de junho marcou o histórico gol da vitória sobre a Alemanha Ocidental.
Claro que fomos ao East Side Museum ver arte ao ar livre exposta a visitação publica no que restou do muro. Foi lá que pisamos na areia de uma praia artificial preparada para o verão dos alemães e vimos muita gente tomando sol e mojito como se estivéssemos num país tropical. Não deixamos de passar no Bauhaus Museum, de ver uma exposição de fotos da americana Diane Arbus no Martin-Gropius-Bau, de tomar um café da manhã no Balzac Coffee, de comer um yakisoba bem apimentado no Hackesche Market e de comprar um móbile dos músicos de Bremen na feira de antiguidades do Mauerpark.
Em poucos dias Berlim foi isso e muito mais. Deixamos pra trás uma cidade em obras, cheia de guindastes e que se moderniza a cada esquina. Deixamos pra trás coisas curiosas como um balão do jornal Die Welt sobrevoando a estação de metrô de Karlsplatz, uma senhora dando banho no cachorro numa fonte do parque Monbijou, um dálmata solto na Friedrichstrasse, um casal dançando tango no Gipsy Bar e um leve gostinho de Goodbye Lenin no ar.
Pode parecer frescura mas confesso que fiquei intrigado com uma coisa em Berlim, vinte e três anos depois. Quem teria mandado pintar de cor de rosa os ganchos dos telefones públicos da cidade? Pouco importa mas que ficaram curiosas aquelas cabines completamente cinzas e os ganchos cor de rosa isso ficaram.
Fui a Berlim quando caiu o muro e voltei agora nesse verão de 2012. O muro! Desde pequeno ouço falar dele. Ainda menino de calças curtas lembro-me bem daquelas radiofotos publicadas pelo Diário de Minas de pessoas tentando pular, tentando atravessar, furar o cerco a qualquer preço. Os soldados armados, os pastores alemães rondando, os arames farpados, uma realidade concreta de tijolo com tijolo num desenho ilógico.
Quando ele caiu em 1989 era curiosa a diferença entre o lado oriental e o lado ocidental. As cores, os outdoors, os automóveis, os McDonald’s e a Coca-Cola de um lado só. Hoje Berlim é uma única cidade em todos os sentidos. Andamos de um lado para o outro, de um canto para o outro e o que vimos?
Vimos as bicicletas que tomaram conta da cidade como se fosse Amsterdã. Os motoristas que respeitam os ciclistas, os ciclistas que respeitam a ciclovia, os pedestres que respeitam os sinais e assim vai. Vimos do mais moderno ao mais tradicional. Jovens de cabelos coloridos e senhores de chapeuzinho, sandálias de couro e meia. Vimos também um velhinho que saboreava um delicioso currywurst num quiosque de rua bebendo uma Berliner Kindl Pils morna apesar do calor de 32 graus à sombra.
Foi na megaloja de departamento KaDeWe que vimos na vitrine um kit cachaça brasileira anunciando: Pitú, premium do Brasil! Foi andando pelas ruas que vimos os protestos em pequenos cartazes colados nos muros: “Walk like an Egyptian!” “Chemtrails? Nein Danke!” e “Free Palestine Arabic”. Foi num passeio ao bairro de Kreuzberg que vimos uma placa no muro – “No more Yuppies” – num quarteirão inteiro ocupado por velhos hippies, alguns tomando banho nus no rio, na boa.
Foi debaixo de um viaduto, num antigo banheiro público, que comemos o melhor hambúrguer do mundo acompanhado de uma Fritz-Kola bem, bem morninha. Voltei ao museu da DDR, a antiga Alemanha Oriental ,onde reencontramos uma enorme fotografia do então todo poderoso Mikhail Gorbachev beijando o líder alemão Erich Honecker, uma garrafinha de Vita Cola intacta e numa vitrine a Der Spiegel com a queda do muro na capa como se fosse uma peça de museu.
Fiz um passeio virtual de Trabant pelas ruas cinzentas de Berlim Oriental, assisti documentários comunistas em preto e branco mostrados numa TV valvulada e fiquei ali admirando a seleção da DDR que disputou a Copa do Mundo de 74. Lá estava de pé, impávido colosso, o craque Jürgen Sparwasser que naquele 22 de junho marcou o histórico gol da vitória sobre a Alemanha Ocidental.
Claro que fomos ao East Side Museum ver arte ao ar livre exposta a visitação publica no que restou do muro. Foi lá que pisamos na areia de uma praia artificial preparada para o verão dos alemães e vimos muita gente tomando sol e mojito como se estivéssemos num país tropical. Não deixamos de passar no Bauhaus Museum, de ver uma exposição de fotos da americana Diane Arbus no Martin-Gropius-Bau, de tomar um café da manhã no Balzac Coffee, de comer um yakisoba bem apimentado no Hackesche Market e de comprar um móbile dos músicos de Bremen na feira de antiguidades do Mauerpark.
Em poucos dias Berlim foi isso e muito mais. Deixamos pra trás uma cidade em obras, cheia de guindastes e que se moderniza a cada esquina. Deixamos pra trás coisas curiosas como um balão do jornal Die Welt sobrevoando a estação de metrô de Karlsplatz, uma senhora dando banho no cachorro numa fonte do parque Monbijou, um dálmata solto na Friedrichstrasse, um casal dançando tango no Gipsy Bar e um leve gostinho de Goodbye Lenin no ar.
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