Sustentabilidade

Recuperação verde: o que dizem os defensores desse modelo de desenvolvimento?

Como setores-chave da economia brasileira têm olhado para espaços de crescimento na readaptação a um mundo cada vez mais quente?

Protesto em defesa da Amazônia em Manaus, 2019. (Foto: Alberto César Araújo_Amazônia Real)
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A recuperação econômica no pós-pandemia já é uma das grandes preocupações este ano, e continuará a ser nos próximos. O debate sobre a extensão dos danos causados pelo coronavírus – como se não bastasse a triste marca das mais de 125 mil mortes por Covid-19 registradas até agora no Brasil -, envolve temas como geração de emprego, renda, oportunidades e igualdade para um novo futuro. E sustentabilidade.

Propostas de “recuperação verde”, como foram nomeadas, põem em questão como os setores-chave da economia brasileira – tais quais a agricultura, a indústria energética, os serviços e a necessidade de atração de investimentos – têm olhado para os espaços de crescimento na readaptação a um mundo cada vez mais quente.

O pressuposto é que os governantes tenham em mente que as mudanças climáticas já alteram radicalmente o modus operandi da economia global. Entre os diversos exemplos, há o perigo de exposição a novos patógenos que poderiam desencadear outras pandemias no futuro, além de deslocamentos em massa e fome.

CartaCapital compilou algumas iniciativas que tratam do tema atualmente no Brasil, incluindo grupos de pesquisadores, organizações e uma mobilização de parlamentares que quer iniciar um diálogo mais profundo da sustentabilidade com os vizinhos latinos.

Retomada Verde Inclusiva

Instituto ClimaInfo, o Observatório do Clima e o GT Infraestrutura lançaram um relatório com oito setores-chave para a geração de emprego, crescimento econômico e qualidade de vida da população “com resultados já no curto prazo”.

Entre as iniciativas, diversas sugestões para uma pauta vista muitas vezes como “rival” da sustentabilidade: o agronegócio.

A proposta de recuperação de 6,5 milhões de hectares de pastagens degradadas no Cerrado é um exemplo. Projetos nesse sentido acrescentariam 3,4 bilhões de reais à economia local até 2030, estimam, e reduziriam a pressão para a abertura de novas áreas para o agronegócio – o que geraria um inevitável desmatamento.

Enfrentamos uma das crises mais importantes dos últimos 100 anos, e que está acompanhada por um problema de emergência climática [Rodrigo Echecopar, presidente do Revolución Democrática]

No campo climático, há a necessidade de compromisso com as metas estipuladas no Acordo de Paris, firmado em 2015, como ganhar 10% de eficiência energética no setor elétrico até 2030. Inevitavelmente, dizem eles, a medida geraria empregos.

“Ocorre que 3,4 mil empregos são criados para cada bilhão de reais investido em eficiência energética”, diz o texto. “Ou seja: se o Brasil cumprir o que prometeu no Acordo de Paris, gerará 408 mil empregos nos próximos dez anos.”.

No campo energético, a energia solar é uma opção que se tornou mais viável. Pesquisas indicam que o valor de painéis solares sofreu uma redução de 43% desde 2012, o que gerou maior competitividade no setor.

Com cerca de 1,05 milhão de reais em três meses, é possível instalar sistemas fotovoltaicos em mais de 260 mil residências de baixa renda. Nesse sentido, para além dos empregos gerados pelo incentivo à nova tecnologia, haveria também uma margem para economia nas contas de luz.

“Estima-se que cada consumidor obtém uma economia de 31 reais por mês por sistema. Como as placas têm uma vida útil de 25 anos, ao final da vida do sistema, o consumidor terá economizado quase 10 mil – uma poupança impressionante para as populações de baixa renda”, destacam.

União parlamentar latino-americana

O movimento Nossa América Verde (Nuestra America Verde, em espanhol) se propõe a conversar diretamente com os poderes legislativos dos países da América Latina sobre desenvolvimento sustentável, mesmo sabendo do contexto de governos com tendências negacionistas na região.

Pesquisas indicam que o valor de painéis solares sofreu uma redução de 43% desde 2012, o que gerou maior competitividade no setor

Lançado em julho, o grupo está em constante busca de parlamentares que se identifiquem com os ideais propostos e pressionem os poderes locais a buscarem alternativas que saiam do papel. Nos EUA e na Europa, crescem os movimentos por um Green Deal (ou Green New Deal), que também tem em comum o encontro da pauta social com a sustentabilidade.

“Nós enfrentamos uma das crises mais importantes dos últimos 100 anos, e que está acompanhada por um problema de emergência climática. E enfrentamos essas crises com poucas ferramentas, com uma América Latina desarticulada”, contou a CartaCapital um dos coordenadores do movimento, o chileno Rodrigo Echecopar, presidente do Revolución Democrática.

“Não é uma simples declaração de princípios: temos medidas concretas”, explica Echecopar. “Somos latino-americanistas desde a articulação até a cooperação entre os países da região – como a proposta de construção de um Banco de Desenvolvimento comum e o enfrentamento aos paraísos fiscais”.

No Brasil, são adeptos do grupo os deputados Rodrigo Agostinho (PSB-SP), Tabata Amaral (PDT-SP), Alessandro Molon (PSB-RJ), Áurea Carolina (PSOL-MG), Nilto Tatto (PT-SP), Tereza Nelma (PSDB-AL) e Túlio Gadelha (PDT,PE). O senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP) também integra a iniciativa, que tem todas as propostas detalhadas no site oficial.

Ex-ministros da Fazenda também sondaram debate

Seguindo a toada de pressão internacional para a melhoria da gestão ambiental no Brasil, ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central assinaram, em julho, uma carta-manifesto por uma recuperação econômica sustentável.

Dependendo do cenário climático que iremos encontrar, os custos de descuidar de eventos climáticos com repercussões sistêmicas poderão ser bem maiores do que os da atual pandemia [Carta-manifesto pela recuperação sustentável]

Assinam nomes como o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso e os ex-ministros Nelson Barbosa, Henrique Meirelles​, Joaquim Levy, Pedro Malan, Eduardo Guardia, Gustavo Krause, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Maílson da Nóbrega, Marcílio Marques Moreira, Rubens Ricupero e Zélia Cardoso de Mello.

Na proposta de baixo carbono, eles sugerem que investimentos públicos e privados apoiem “a transição da economia brasileira para um padrão de emissões líquidas de carbono zero, indispensável para estabilizar a temperatura média global”, o que contaria com uma eliminação gradual dos subsídios a combustíveis fósseis.

“A energia elétrica de origem eólica produzida no Nordeste, por exemplo, além de barata já equivale a quase 90% da energia consumida na região. Quase 20% da nossa produção de soja já é transformada em biodiesel, contribuindo para a prosperidade do produtor rural e redução das emissões de carbono. Há inúmeras outras oportunidades no setor de energia e em novos modelos de negócio de alto retorno e baixo impacto ambiental como os promovidos pela digitalização da economia.”, diz o texto.

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