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Os microplásticos têxteis no ambiente marinho

Fibras sintéticas poluem o meio ambiente. É hora de mudar esta realidade

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Há cerca de sete anos, foi publicado o primeiro artigo científico investigando lavagens domésticas como uma possível fonte de microplásticos têxteis ao ambiente marinho. Desde então, o tema ganhou crescente notoriedade, sendo alvo, atualmente, de diversas pesquisas e discussões, especialmente em âmbito internacional. Neste sentido, desde os anos 2000 já se sabe que fibras sintéticas – a exemplo do poliéster, poliamida e acrílico – poluem o meio ambiente.

Com origem nos polímeros sintéticos, e abrangendo formas além das fibras têxteis, microplásticos são catalogados como partículas ou fragmentos inferiores a cinco milímetros. Sendo um termo cunhado originalmente nas ciências ambientais, designam materiais responsáveis por um tipo de poluição que é mais comumente estudada no ambiente marinho. Neste contexto, incluem-se habitats sedimentares, a exemplo de praias e regiões costeiras, locais de superfície, coluna d’água e fundo do mar.

Ainda que no ambiente natural os plásticos possam ser fragmentados ou parcialmente degradados, a maioria é não biodegradável, ou seja, não mineraliza completamente. Isto equivale a dizer que existem poucas espécies microbiológicas disponíveis, especialmente no âmbito marinho, capazes de transformá-los em água, dióxido de carbono e outros compostos naturais simples. Desta forma, microplásticos ficam disponíveis à interação com diversas espécies, causando problemas de ordem ecológica e socioeconômica. Neste sentido, parte da periculosidade dos plásticos reside nas substâncias tóxicas que, seja dele constituintes (exemplo monômeros ou aditivos como corantes e plastificantes) ou absorvidas do meio (exemplo poluentes orgânicos persistentes), são liberadas a partir da interação com diversos organismos vivos. Considerando, por exemplo, a ventilação (respiração por brânquias) ou ingestão de microplásticos, animais como peixes, mexilhões e camarões apresentam problemas como desenvolvimento anômalo, dificuldades de reprodução, alimentação e até sobrevivência. Para os seres humanos, parte das consequências está atrelada a problemas de segurança alimentar e ingestão de água contendo estas partículas.

Lavagens domésticas

Desde o surgimento dos primeiros materiais sintéticos, o plástico e, por consequência, as fibras sintéticas, foram responsáveis por uma série de avanços importantes para a humanidade. Menor custo e propriedades de alto desempenho conduziram a um cenário vantajoso, por um lado, mas negligenciado, por outro.

Na poluição ambiental por microplásticos, diversas fontes são reconhecidas como importantes. No âmbito têxtil, lavagens domésticas de vestuário são apontadas como uma das principais. Neste sentido, em boa parte do globo, estima-se que essas atividades sejam executadas por cerca de 800 milhões de equipamentos, onde cada ciclo de lavagem emita entre milhares e milhões de fibras sintéticas. Uma vez degradadas por ações químicas e mecânicas, estas partículas são liberadas em cursos d’água, não sendo totalmente retidas pelos filtros das máquinas, tampouco nos sistemas de tratamento de esgoto, quando existentes. Para se ter uma ideia, estima-se que menos de 30% da população mundial tenha acesso a este tipo de tratamento, com piores índices em países economicamente menos desenvolvidos. Como consequência, estudos estimam milhares de toneladas de fibras no meio ambiente, permanentes por anos a fio.

 

Reflexões

Desde o primeiro estudo apontando fibras sintéticas como um tipo de microplástico, discute-se quais os fatores implicados neste tipo de poluição. Isto inclui, em uma perspectiva pontual, características têxteis e parâmetros de lavagem que, orquestrados por consumidores, influenciam em um maior ou menor desprendimento. Muito além dos indivíduos, amplia-se a responsabilidade para uma rede de atores que, frente a uma questão complexa, precisam de soluções integradas e interdisciplinares. Boas iniciativas, neste sentido, são representadas por novos tipos de filtro, sugestões de legislação para informação aos consumidores e ações de educação para redução nos hábitos de consumo e manutenção.

Frente a este cenário, ainda há muito o que avançar. Especialmente no contexto nacional, é preciso o envolvimento de gestores públicos, produtores de máquinas de lavar e indústria têxtil, que, balizados por pesquisas científicas robustas possam tomar ações assertivas. Nesta linha, nós indivíduos precisamos repensar nossas escolhas e hábitos de consumo. Sem esgotar o tema e propondo uma reflexão, precisamos de tudo o que temos? Nossos hábitos de lavagem refletem a necessidade de limpeza ou questões culturais? Quais opções temos ao nosso dispor para reduzir este tipo de poluição? Somos todos corresponsáveis e precisamos refletir uma postura consciente e empática com quem e o que nos cerca.

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