Sustentabilidade

Antropólogo bolsonarista grava própria prisão após invadir terras indígenas

Edward Luz afirma que estava na região para cumprir uma decisão do Ministério do Meio Ambiente e confronta agentes do Ibama no vídeo

(Foto: Reprodução/Twitter)
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Um antropólogo e filho de um missionário evangélico em terras indígenas isoladas chamado Edward Luz foi preso no domingo 16 após invadir terras reservadas para demarcação e se recusar a sair da área. Ele gravou a própria prisão, que foi efetuada por agentes do Ibama que estavam no local.

Luz estava na Terra Indígena Ituna Itatá, localizada na cidade Senador José Porfírio, que, de acordo com a organização Imazon, foi o município da Amazônia com mais desmatamento registrado no mês de janeiro. No vídeo, Luz confronta os agentes do Ibama e diz que estava ali “para fazer cumprir a ordem ministerial do ministro Ricardo Salles”.

Nas redes sociais, Edward afirma que foi solto pouco tempo depois da apreensão e pede apoio dos setores conservadores para espalhar a notícia de que o Ibama é “terrorista”. Em declaração à Folha de S. Paulo, o ministro Ricardo Salles afirmou que não conhece Edward Luz à fundo, e disse que se encontrou com ele apenas na reunião com o MPF.

O Ibama respondeu, em nota, que “qualquer cidadão que dificultar ações de fiscalização ambiental poderá ser multado e conduzido à polícia”, além de especificar a portaria que determina a limitação no acesso à terra Ituna Itatá.

“A Terra Indígena (TI) Ituna/Itatá é região habitada por índios isolados, por isso, com restrição de acesso, locomoção e permanência de pessoas que não sejam agentes do Estado (Portaria Funai nº 17, de 9 de janeiro de 2019). Em função dos altos índices de desmatamento observados, a fiscalização atua constantemente na região com o objetivo de conter o desmatamento ilegal na TI.”, disse o órgão.

No dia 11 de fevereiro, Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, se reuniu com as Câmaras de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural (4CCR) e de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais (6CCR) para ouvir mais sobre ações de monitoramento na Terra Ituna Itatá, que não é demarcada, mas reservada – um processo anterior à demarcação de fato.

Em um comunicado, o Ministério Público Federal e o Ministério do Meio Ambiente declararam que “reafirmaram a legalidade de todas as operações de fiscalização conduzidas pelo Ibama, informando que há respaldo legal tanto para a retirada de pessoas quanto para a destruição de maquinário apreendido no local.”.

Seguindo um pedido do senador Zequinha Marinho (PSC-PA), foi estabelecido que “na área não reservada, ficarão suspensas por 30 dias apenas as atividades de remoção de quem está em situação de vulnerabilidade social”.

Sem apresentar provas de que o órgão estava retirando famílias em situação de vulnerabilidade da área não reservada, Luz confronta o agente do Ibama em vídeo, utilizando a reunião como justificativa para estar em área restritra. “Ficou acordado que nenhum patrimônio de população em situação de fragilidade será destruído. Eu fui claro?”, diz Luz ao agente do Ibama.

Quando o antropólogo se recusa a sair da área, é declarada sua prisão. O vídeo foi publicado nas redes sociais pela organização Observatório do Clima.

Edward Luz é um velho conhecido de entidades que lutam pelos direitos indígenas. O antropólogo é filho de um missionário da Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB) o pastor Edward Gomes da Luz, que defende a evangelização de indígenas isolados – algo proibido pela Constituição brasileira.

Edward foi desfiliado da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) após a associação do pai ter sido acusada de dizimar uma tribo indígena por doenças infeccionas transmitidas pelos missionários. Ele também foi expulso do núcleo de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), onde estudou no mestrado.

Para Felipe Milanez, professor na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e colunista de CartaCapital que acompanha assuntos ligados às temáticas indígenas, o grande problema nas ações do antropólogo é a tentativa de mudar a política de isolamento dos nativos isolados – o que acarretaria em um “genocídio ou etnocídio” em um curto prazo.

“Se antes a Funai (Fundação Nacional do Índio) já tinha problemas e dificuldade financeiras, alterar essas políticas é permitir um massacre”, afirma Milanez.

*Atualizada às 16h47 com a nota do Ibama 

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