Sociedade

São Paulo precisa de uma nova política de segurança

Segurança pública não se faz só com mais policiais nas ruas. Se os crimes não forem investigados e esclarecidos, a impunidade continuará a reinar

Policiais militares atuam no centro de São Paulo. Foto: Marcelo Camargo/ABr
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por Ligia Rechenberg*

Os dados recém-divulgados pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo revelam um cenário preocupante, sobretudo na capital paulista. Entre julho e setembro, 360 pessoas morreram assassinadas na cidade, número que destoa do patamar verificado nos últimos dois anos – o único trimestre tão violento foi o primeiro de 2010, com 398 mortos.

No acumulado dos nove meses do ano o número de mortos por homicídio na capital já se aproxima do total de 2011 inteiro. Paradoxalmente, as autoridades insistem que a situação está sob controle, tratando com naturalidade o aumento das ocorrências e minimizando o fato de que entre as vítimas há muitos policiais, que foram atacados durante a folga.

O mais grave na postura daqueles que comandam a segurança pública é transferir para a Polícia Militar toda a responsabilidade por resolver a crise atual. Desde que os números começaram a subir – junho já havia registrado 134 pessoas assassinadas – o discurso oficial vem insistindo na mesma fórmula: colocar mais policiais na rua, intensificar as abordagens, apoiar uma atuação mais “enérgica” nos casos de confronto. Lembrando que quem faz o patrulhamento ostensivo, realiza abordagens e atende ocorrências é a Polícia Militar, fica claro que a estratégia está priorizando esta corporação.

Mas segurança pública não se faz só com mais policiais nas ruas e muito menos com atitudes que incentivam a retaliação aos “bandidos”. Valorização da inteligência e da investigação têm sido a chave em muitas experiências exitosas de redução de crimes, e é aí que entra (ou deveria entrar) a Polícia Civil, cuja atribuição é exatamente essa: investigar e esclarecer crimes. No caso de São Paulo não temos como avaliar como este trabalho vem sendo realizado. As estatísticas sobre a atividade policial, divulgadas juntamente com os registros de crimes, apontam apenas quantos inquéritos foram instaurados, sem informar quais nem quantos crimes foram esclarecidos.

Dos mais de 800 assassinatos cometidos em São Paulo desde janeiro, quantos foram investigados? Quantos tiveram o autor identificado? Quem são as pessoas e as motivações por trás das mortes de civis e dos atentados a policiais? Enquanto essas perguntas permanecerem sem resposta a impunidade será reforçada e o salve-se quem puder será o nosso lema.

Ligia Rechenberg é coordenadora do Núcleo de Análise de Dados do Instituto Sou da Paz

por Ligia Rechenberg*

Os dados recém-divulgados pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo revelam um cenário preocupante, sobretudo na capital paulista. Entre julho e setembro, 360 pessoas morreram assassinadas na cidade, número que destoa do patamar verificado nos últimos dois anos – o único trimestre tão violento foi o primeiro de 2010, com 398 mortos.

No acumulado dos nove meses do ano o número de mortos por homicídio na capital já se aproxima do total de 2011 inteiro. Paradoxalmente, as autoridades insistem que a situação está sob controle, tratando com naturalidade o aumento das ocorrências e minimizando o fato de que entre as vítimas há muitos policiais, que foram atacados durante a folga.

O mais grave na postura daqueles que comandam a segurança pública é transferir para a Polícia Militar toda a responsabilidade por resolver a crise atual. Desde que os números começaram a subir – junho já havia registrado 134 pessoas assassinadas – o discurso oficial vem insistindo na mesma fórmula: colocar mais policiais na rua, intensificar as abordagens, apoiar uma atuação mais “enérgica” nos casos de confronto. Lembrando que quem faz o patrulhamento ostensivo, realiza abordagens e atende ocorrências é a Polícia Militar, fica claro que a estratégia está priorizando esta corporação.

Mas segurança pública não se faz só com mais policiais nas ruas e muito menos com atitudes que incentivam a retaliação aos “bandidos”. Valorização da inteligência e da investigação têm sido a chave em muitas experiências exitosas de redução de crimes, e é aí que entra (ou deveria entrar) a Polícia Civil, cuja atribuição é exatamente essa: investigar e esclarecer crimes. No caso de São Paulo não temos como avaliar como este trabalho vem sendo realizado. As estatísticas sobre a atividade policial, divulgadas juntamente com os registros de crimes, apontam apenas quantos inquéritos foram instaurados, sem informar quais nem quantos crimes foram esclarecidos.

Dos mais de 800 assassinatos cometidos em São Paulo desde janeiro, quantos foram investigados? Quantos tiveram o autor identificado? Quem são as pessoas e as motivações por trás das mortes de civis e dos atentados a policiais? Enquanto essas perguntas permanecerem sem resposta a impunidade será reforçada e o salve-se quem puder será o nosso lema.

Ligia Rechenberg é coordenadora do Núcleo de Análise de Dados do Instituto Sou da Paz

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