Sociedade
Papa condena hipocrisia de países que “falam de paz e vendem armas”
O pontífice disse temer os discursos de líderes populistas e que as mensagens de ódio o fazem lembrar do nazismo e do fascismo
O papa Francisco condenou neste domingo 23, durante um compromisso em Bari, no sul da Itália, a guerra que atormenta os países nas proximidades do Mediterrâneo e definiu como hipócritas aqueles que “falam de paz e vendem armas”. “A guerra é contrária à razão, é uma loucura e não faz sentido, e com a qual não podemos nunca nos acostumar”, acrescentou.
A crítica do papa foi feita durante uma rápida viagem de um dia a essa cidade na região de Apulia, onde participou do encontro “O Mediterrâneo, fronteira para a paz”, organizado pela conferência episcopal italiana junto a 59 bispos vindos de 20 países.
Em seu discurso, o papa aproveitou para fazer menção ao “grande pecado da hipocrisia”, já que muitos países “falam de paz e vendem armas aos que estão em guerra”, ressaltou.
O pontífice argentino reiterou ser contrário às guerras e mencionou “as divisões” e “as desigualdades” que afetam a região do Mediterrâneo, que definiu como “O Mare Nostrum, o lugar físico e espiritual no qual nossa civilização foi formada, como resultado do encontro de diferentes povos”, comentou.
Ao referir-se a essa área, com muitos focos de instabilidade e guerra, tanto no Oriente Médio quanto na África, Francisco comentou sobre o conflito entre Israel e os palestinos.
“Também não podemos esquecer o conflito, ainda sem resolução, entre israelenses e palestinos, que corre o perigo de ter soluções não equitativas e, portanto, pode gerar uma nova crise”, alertou.
O pontífice disse também ter medo dos discursos de líderes populistas, porque o fazem lembrar das “mensagens de ódio dos anos 1930 do último século”, em referência ao nazismo e ao fascismo.
Pela paz e contra o extremismo
Durante o compromisso na cidade italiana, o papa fez um dos discursos mais pacifistas já realizados por ele. “A guerra é uma verdadeira loucura, porque é irracional destruir casas, pontes, fábricas, hospitais, matar pessoas e aniquilar recursos em vez de construir relações humanas e econômicas”, ressaltou.
Na ocasião, o pontífice argentino também aproveitou para defender de novo os imigrantes, que são os que “mais sofrem na área do Mediterrâneo, os que fogem das guerras e deixam sua terra em busca de uma vida humana mais digna”, alertou Francisco.
As palavras do papa, pronunciadas diante do prelado de países com conflitos diferentes e complexos, resultam também em um chamado forte à paz e ao diálogo.
“Não há alternativa possível em relação à paz”, disse após convidar todos os membros da Igreja Católica a se comprometer a “desenvolver uma teologia da acolhida e do diálogo”. Para Francisco, “a retórica do choque de civilizações serve apenas para justificar a violência e alimentar o ódio”.
O pedido de paz do Papa foi direcionado principalmente à Síria. “Enquanto estamos reunidos aqui para rezar e refletir sobre a paz e o destino dos povos do Mediterrâneo, do outro lado deste mar, especialmente no noroeste da Síria, uma grande tragédia está acontecendo”, lamentou.
“Devemos silenciar o rugido das armas e ouvir os gritos das crianças e dos desamparados. Deixar de lado cálculos e interesses, e proteger a vida de civis e muitas crianças inocentes que sofrem as consequências”, ressaltou o pontífice.
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