Sociedade
“O nu está em todos os museus do mundo e não deveria causar choque”, diz curador do MAM
Felipe Chaimovic rebate a acusação de pedofilia pela interação de uma criança com artista nu e sustenta que não havia conteúdo erótico na performance

Entre a noite de quinta-feira 28 e a manhã desta sexta-feira 29, a performance “La Bête”, do artista carioca Wagner Schwartz, se tornou alvo de protestos nas redes sociais. Em vídeos divulgados por setores conservadores, como o Movimento Brasil Livre (MBL) e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), o museu foi acusado de pedofilia pela interação de uma criança com o artista nu.
A performance, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), fez parte da 35º mostra Panorama de Arte Brasileira e foi apresentada na terça-feira 26. Em nota, o MAM afirmou que “La Bête” não possui conteúdo erótico e que a sala de realização estava sinalizada sobre o teor da apresentação, incluindo a nudez artística. A garota filmada interagindo com o coreógrafo Wagner Schwartz, diz o museu, estava acompanhada da mãe.
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A performance é uma leitura interpretativa da obra “Bicho”, de Lygia Clark, artista historicamente reconhecida por proposições artísticas interativas. Em entrevista a CartaCapital, Felipe Chaimovich, curador do MAM, reafirmou o teor da nota e lembrou que o nu integra a arte há tempos. “O nu está presente em todos os museus do mundo, é parte da história da arte. Faz parte do patrimônio mundial. Não deveria causar choque”, afirma Chaimovich.
“Os museus possuem uma função pedagógica, então é necessário esclarecer que isto faz parte da história da arte, faz parte do patrimônio mundial”, explica.
A obra de Lygia Clark é considerada uma “obra de virada” do século XX, o que significa que é completada mediante a participação do público. Na releitura de Schwartz, o artista manipula uma réplica de uma escultura da série “Bichos”, e se coloca nu diante do público, que tem permissão para tocá-lo.
Para Chaimovich, a interação na performance completa o sentido da obra. Questionado sobre a interação com crianças, o curador reafirmou que “a função do museu é esclarecer”.
“Le Betê” também foi apresentada no Instituto Goethe em Salvador, onde a interação também contou com a participação do público, entre eles crianças e adultos.
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