Sociedade

Mulheres perderam mais empregos durante a pandemia, aponta estudo

Grupo foi o mais afetado com perda de vagas no mercado formal e mais sujeito à subocupação, dada as demandas domésticas e de cuidados

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Um estudo realizado pelo Centro de Estudos de Economia do IREE (Instituto para Reformas das Relações entre Estado e Empresa) mostra que a crise sanitária oriunda da pandemia do coronavírus impactou mais fortemente a realidade de trabalho das mulheres.

A pesquisa recorre a dados do PNAD Contínua do IBGE para mostrar que, só durante a pandemia, mais de 8 milhões de mulheres deixaram a força de trabalho brasileira. Dessas, 26% afirmaram não poderem trabalhar pelo fato de terem que cuidar dos afazeres domésticos, filhos ou outros parentes. Menos de 2% dos homens alegaram não procurarem trabalho pelo mesmo motivo.

Um acumulado que considera o quarto trimestre de 2019, e o primeiro, segundo e terceiro trimestre de 2020, evidencia que a variação de mulheres que deixaram a força de trabalho é de -14%; entre os homens a taxa é de -8%.

O estudo também mostra que a pandemia, acrescida de seus efeitos econômicos e à falta de políticas efetivas de trabalho e renda levou à menor participação de mulheres no mercado de trabalho dos últimos 30 anos. Entre as mulheres em idade ativa, apenas 38% estão ocupadas. Parte delas estão fora do trabalho e outras na fila do desemprego.

A taxa de desocupação delas passou de 13% para 17% durante a pandemia. As mulheres também são as que mais perderam empregos formais com a crise sanitária da Covid-19, e enfrentam mais dificuldades de serem recontratadas.

Ainda que sejam minoria historicamente no mercado formal de trabalho, as mulheres concentraram quase dois terços, 65,6%, da destruição das vagas líquidas (descontadas as admissões) de empregos celetistas durante a pandemia. Entre março e setembro, o saldo negativo de admitidos e demitidos foi de 897,2 mil vagas, das quais, 688,5 mil eram de mulheres.

Também é possível observar que os postos de trabalho mais comumente ocupados por mulheres foram os que mais sofreram com perda de mão de obra no momento em que a pandemia impõe restrições sanitárias.

O setor de alojamento e alimentação teve perda de postos líquidos de trabalho da ordem de 47%. No trabalho doméstica a perda ficou em 38%.

O estudo avalia que o cenário aparece como reflexo da forma com que os maiores volumes de crédito chegaram às micro e pequenas empresas, somado à ausência de medidas mais eficazes no que tange a redução de tarifas públicas e custos da folha salariam, levando muitas empresas ao colapso.

Também é possível observar que, no período, as mulheres alcançaram um nível maior de subocupação, situação comum aos trabalhadores que trabalham menos de 40 horas semanais e, ainda assim, ficam disponíveis para outros trabalhos. Essa relação, avaliam os pesquisadores do estudo, se dá porque as mulheres são as que mais se dividem entre tarefas remuneradas e os trabalho reprodutivos.

Em relação às mulheres que seguem ocupadas, 41% disseram estar trabalhando mais durante a pandemia.  40% delas também reconheceram que a pandemia e o distanciamento social colocaram o sustento de suas famílias em risco.

A maior parte das que tiveram essa percepção são mulheres negras (55%). As negras também são maioria (58%) entre as que já tiveram, antes do isolamento ou no início da pandemia, a condição de trabalho duramente afetada e agora estão desempregadas.

Os pesquisadores Juliane Furno, Daniel Fogo, Ligia Toneto, Matias Cardomingo e Tania Paes, responsávels pelo estudo, ainda reconhecem que o cenário pandêmico se assentou sobre um contexto anterior de crise política e econômica.

“A implementação de políticas de austeridade fiscal, desde 2015, vem agravando as condições de vida de grande parte da população a partir de um retrocesso econômico e social, principalmente sobre a vida e a independência financeira das mulheres, largando as desigualdades. Não só a pandemia intensificou o trabalho doméstico e de cuidado, também tiveram a sua parcela de contribuição as políticas de ajuste, o desemprego e aumento da pobreza. A redução do investimento público em saúde, assistência social e educação transfere custos para o ambiente doméstico, geralmente assumidos pelas mulheres, com seu trabalho”, observam.

Ainda de acordo com os pesquisadores, “o levantamento de dados sobre a vida e o trabalho das mulheres durante a pandemia precisa ter como consequência que tais dimensões sejam abordadas de forma articulada no
âmbito das propostas políticas”. “Ou seja, não considerar ‘econômico’ apenas o circuito mercantil, relegando as mulheres ao terreno do “social”, pois trata-se de um conflito distributivo que perpassa produção e reprodução”.

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