Política

“Faça o governo cagar nas calças”, diz líder feminista do Pussy Riot

Essa é uma das regras do Guia para o Ativismo da banda punk feminista russa. Livro é da vocal Nadya Tolokonnikov, que ficou presa por 2 anos

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A certa altura, a Revolta da Vulva, vamos dizer assim, ameaçou derrubar Temer e impedir Bolsonaro. Nem uma coisa nem outra, no entanto. O desastre se consumou, e a despeito de milhares delas terem ido às ruas, as mulheres terminaram representadas no governo pela lamentável Damares, por esses dias dedicada a denunciar a orientação sexual de Bob Esponja.

Talvez seja o caso portanto de radicalizar a luta, ou pelo menos aperfeiçoar os instrumentos de combate. E por isso vem a calhar “Um guia PUSSY RIOT para o ativismo” (editora Ubu), livro de Nadya Tolokonnikova, a integrante da banda russa de punk rock que passou quase dois anos presa na Mordóvia.

Entre textos teóricos (longe de chatos) e exemplos práticos e inspiradores, a mais famosa das pussy riots sugere 10 regras básicas para tocar fogo no cabaré (no livro, cada qual é um capítulo). Ei-las:

Regra nº 1: Seja Pirata.

“Busque uma verdade que rompa com os limites e as definições já existentes.”

Regra nº 2: Faça você mesmo.

“Tente. Consiga. Fracasse. Não espere que alguém diga a você o que deve fazer.”

Regra nº 3: Recupere a alegria.

“Sorria como um ato de resistência. Ria na cara dos seus carcereiros. Convença seu carrasco a acreditar no que você acredita. Convença os policiais de que eles deveriam estar do seu lado. Quando o exército se recusa a atirar na multidão de manifestantes, a revolução vence.”

Regra nº 4: Faça o governo cagar nas calças.

“Aqueles que detêm o poder precisam viver com medo. Com medo do povo.”

Regra nº 5: Seja um delinquente artístico.

“A arte é uma máquina de fazer milagres. Cria realidades alternativas, e isso é extremamente útil quando temos uma crise e nos deparamos com a falta de imaginação política.”

Regra nº 6: Identifique os abusos de poder.

“Putin condenou o Pussy Riot por dançar em uma igreja e proteger os direitos das mulheres, prometendo salvar o cristianismo de bruxas diabólicas como nós.”

Regra nº 7: Não desista fácil. Resista. Organize-se.

“Encare as cicatrizes como medalhas de honra ao mérito.”

Regra nº 8: Escape da prisão.

“Se quisermos que as pessoas parem de ter medo da polícia, precisamos de um equilíbrio de direitos que permita que os cidadãos comuns também tenham a capacidade de prender policiais.”

Regra nº 9: Crie alternativas.

“Além de resistir, crie modelos, normas e instituições que não sejam convencionais nem ortodoxas. É preciso recuperar a capacidade de sonhar, de imaginar e de criar futuros alternativos.”

Regra nº 10: Sejamos pessoas.

“O feminismo é uma ferramenta libertadora que pode ser utilizada por homens, mulheres, pessoas trans, queer, agênero. O feminismo permite que eu diga: eu me comporto como prefiro e como me sinto, eu desconstruo papéis de gênero e brinco com eles, eu faço as misturas que quero. Os papéis de gênero são paletas de cores, não amarras.”

Pussy Riot é uma banda punk feminista criada na Rússia em 2011 por seis amigas. Ficou mundialmente conhecida ao improvisar um concerto-surpresa no interior da catedral da Igreja Ortodoxa Russa em Moscou.

“Virgem Maria, Mãe de Deus, leve Putin embora”, começaram a frenética cantoria, os rostos cobertos por meias de lã coloridas, uma marca do grupo. Não foi possível alcançar o trecho em que diziam “Merda, merda, santa merda, Virgem Maria, Mãe de Deus, vire feminista, vire feminista”. Tiveram de sair fora antes que a polícia as alcançasse.

“De acordo com o processo criminal”, escreve Nadya em seu Guia, “entramos na igreja e começamos a sacudir o corpo diabolicamente, pulando, chutando as pernas para o alto e sacudindo a cabeça”. À manjada dança dos punks dá-se o nome de pogo. Durou 40 segundos. E rendeu a Nadya, hoje com 30 anos, e sua colega de banda Maria Alyokhina um ano e nove meses de cadeia.

Nadya foi enviada a uma colônia penal na Mordóvia, “uma terra de pântanos e prisões, onde criam vacas e detentos. As vacas têm bezerros e dão leite, enquanto os presos costuram uniforme. (…) Trabalhávamos de dezesseis a dezessete horas por dia, das sete e meia da manhã à meia-noite e meia. Dormíamos quatro horas por noite. Tínhamos um dia de folga a cada mês e meio”.

Depois de deixar a cadeia, Nadya tornou-se uma militante na luta por melhores condições para os presos. “O sistema prisional moderno, na estrutura vigente na Rússia, nos Estados Unidos, na China, no Brasil, na Índia e em muitos lugares – como uma ilha onde a tortura é legalizada –, deve ser destruído. Ponto final.”

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